terça-feira, 28 de maio de 2013

Too drunk to fuck! (a brochada)



Uma sucessão de fracassos pedia medidas drásticas. Porra, eu tinha tudo, tinha um trabalho muito foda, um casamento muito bacana, amigos, perspectiva de sucesso. Mas isso foi desmoronando aos poucos, bem aos poucos. Começou pelo casamento, ruiu de uma forma bem traumática pra ambos. Enfim, ainda tinha um bom emprego, e estava solteiro. Apareceram mulheres, não digo que foram muitas, mas estava longe de serem poucas. Bebíamos, transavamos, mas eram sempre as mulheres erradas, mulheres que eu jamais namoraria, e fazia questão de deixar isso claro pra elas. Era explícito. Quando saia a primeira vez, apenas ficavámos mesmo, às vezes rolava sexo, às vezes não, isso era relativo. Pois bem, era no segundo encontro que eu jogava as cartas na mesa. Dizia, exatamente com essas palavras: "Nunca, jamais, em hipótese alguma nós iremos namorar. Nunca mesmo, não espere que isso vire um namoro, ok?" As reações eram bem divergentes. Algumas mulheres ficavam nervosas, outras eram indiferentes, outras diziam "eu também nunca vou namorar você, relaxa." Eu, na verdade nem me preocupava com isso. Se elas não gostassem, que me dessem logo um chute no rabo! Enfim, aproveitei bem essa fase canalha. Dinheiro, mulheres e amigos, eu não precisava de nada além disso.

Foi quando eu perdi o emprego que o mundo desmorou. Sem dinheiro, sem festas, sem mulheres, sem amigos. Estava sozinho. Mentira, ainda tinha um amigo, somente um, o Luis. Saiamos pra beber às vezes, e era bem divertido. Mas mulheres, essas todas sumiram. Me afundei mais ainda em alcool, pois repito, uma sucessão de fracassos pedia medidas drásticas.

Pois bem, foi numa quarta-feira que sai pra beber com Luis. Como ambos estavamos duros, passamos no mercado, pegamos uma garrafa de um litro de cerveja por 3 reais. Eram 15h. Do lado do mercado tinha uma pracinha. Sentamos por ali mesmo, abrimos a garrafa e iniciamos nossa bebedeira do dia.

- Caralho mano... Tô bem macambúzio. Não consigo arrumar emprego nenhum cara - eu disse, desolado.
- É foda mesmo man. Alguma hora tem que aparecer alguma coisa ué. Não estressa com isso não brother.
- Eu sei, mas é uma merda ficar em casa, e outra merda não ter dinheiro, e uma merda maior ainda não ter mais mulheres.
- E a Gabi? Como andam as coisas com ela? - ele deu uma grande golada na garrafa.
- Aff velho, nem me fala. Passa a garrafa - ele me deu, dei uma golada maior do que a dele - Eu tento, tento, tento e nada. É uma merda cara.
- Mas ela tinha dito que gostava de você. Porque ela não quer nada?
- Segundo ela "não está pronta pra namorar" Papinho foda né mano? Respeito a ideia dela, mas eu preferia ter ouvido que eu era feio e pobre, por isso que não namoraria comigo - dei uma golada fatal na cerveja - Agora me elogia pra cacete, diz que sou bonito, legal e inteligente pra me dar fora? É osso brother, é osso!
- Caralhos... Lógica feminina: quem as entende? hahaha
- Exatamente hahaha Aliás, estamos sem breja. Vamos lá no mercado de novo.

Fomos ao mercado, pegamos mais uma garrafa. Não compravamos um monte porque senão elas ficariam quentes. Passamos no caixa, Luis pagou dessa vez.

- Quanto cê tem de grana ainda mano? - ele me perguntou
- Tenho 300 conto no banco que tem que durar até eu arrumar um emprego. Fora um monte de conta pra pagar, faturas de cartão de crédito que estão atrasadas... Uff, não gosto nem de lembrar mano.
- Relaxa, perguntei só pra saber mesmo hahaha.

Voltamos para a pracinha e prosseguiamos com a nossa bebedeira. Conversavamos de tudo um pouco. Mulheres, filosofia, tecnologia, cinema e afins, e nossas vidas desgraçadas pareciam um pouco melhores. Parecia que a vida ainda valia a pena, valia a pena estar vivo, só pra beber e dar umas risadas, mesmo duros, desempregados e sem mulheres. Porra, ainda conseguiamos ficar bêbados, e isso era um grande alívio.

Foi por volta das 20h que o tempo começou a fechar. Não que tivesse começado a chover, mas estavamos muito bêbados. Lembro que subi no banco da praça, comecei a declamar Augusto dos Anjos.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Por Deus, eu estava mesmo bêbado! Luis apenas observava a tudo e dava muita risada. Ele bebia mais devagar do que eu, logo estava mais sóbrio. As pessoas da praça observavam também. Alguns riam, outros eram simplesmente indiferentes. Eu honestamente não me preocupava com as pessoas. Aquilo havia vindo do íntimo, havia sido de alguma forma, uma espécie de desabafo. Algo que eu precisava tirar do fundo da alma, um misto de revolta e frustração por estar quase no fundo do poço. E parecia que tudo tendia a piorar.

Continuamos bebendo feito esponjas que secam balcões com bebidas esparramadas. Acho que já estavamos na décima garrafa de litrão. Eu havia bebido no mínimo seis litros de cerveja, e Luis os outros quatro. Estavamos estragados. Bêbados demais. Aí tive uma das minhas grandes ideias.

- EU VOU LIGAR PRA GABI! FODA-SE! - gritei com Luis.
- Velho, vai dar merda hahaha Mas liga! Foda-se!

Telefonei pra ela. Não lembro exatamente o que eu disse, em detalhes, sei que ficava falando "eu te amo de verdade!" "porque a gente não tá junto?" E outros rebaixamentos do gênero. Claro que ela não ficava comigo. Claro! Eu havia fodido tudo já. Com essas ligações bêbadas, essas humilhações, esses rebaixamentos. Nunca eu iria ficar com ela, nunca mesmo! Seria melhor ter desistido de uma vez, mas sabem como é um coração apaixonado. Ele sempre fode as coisas.

Tomei mais um fora de Gabi. Fiquei um pouco revoltado. Matamos a décima primeira garrafa e tive mais uma ideia de gênio. Merda! Porque eu insistia em continuar bebendo, se eu sempre me fodia quando tava bêbado, eu sempre fazia tudo errado, tomava as piores decisões... Enfim, ainda bem que isso é passado, ainda bem que é uma história do passado!

- Vamos num puteiro? - eu disse, sem gritar dessa vez
- O QUÊ!!?? - Luis estava espantado.
- Ahh agora quero comer alguém... Tô mal pelo fora da Gabi.
- Velho, a gente tá bêbado e duro! Não dá pra ir em puteiro hahahaha. E outra: eu não sei onde tem puteiro aqui, e você também não sabe!
- Quem tem boca vai à Roma! - eu disse, levantando os braços de excitação - E outra, eu tenho dinheiro, pago a sua puta. Fica de boa! Dinheiro tem que gastar mesmo!
- Cê vai se arrepender Carlos... - Luis alertou, muito sabiamente.
- É melhor se arrepender do que fez do que se arrepender do que não fez - eu disse, com ar de sabichão e filósofo barato.

Pois bem, era melhor ter seguido o conselho do Luis. Mas não, eu nunca faço isso quando bebo. Simplesmente mando todos se foderem e faço o que eu bem entendo. Merda! Merda, merda, merda, mil vezes merda! Dois bêbados andando pelas ruas procurando um puteiro. Eu tinha culhões de parar e perguntar nas portas das baladas, pros seguranças, aonda tinha um puteiro. E acreditem, apesar de estarmos bêbados como gambás, conseguimos chegar num lugar bem mequetrefe. Era tipo uma casa, com uma garagem com uma luz vermelha. Entrei lá e só via machos, sentados nas mesas e bebendo cervejas. Cheguei no balcão, bati com força nele.

- Cadê as putas!? - perguntei pro rapaz que atendia ali.
- Tá por aí mano, tão circulando - ele me respondeu de forma bem displicente.

Dei outra volta pelo local e nada, nada de mulheres. Somente os mesmos machos, bem feios aliás, bebendo suas cervejas e conversando. Voltei ao balcão, bati novamente nele.

- Cadê as putas!?

Nisso, parece que eu as invoquei do inferno com aquele meu gesto. Juro, no mesmo segundo que bati no balcão e perguntei onde as putas estavam, apareceram duas mulheres sensacionais. Corpos lindos e rostos angelicais. Minto. Eram duas mulheres com caras bem sofridas, acho que elas tinham tido uns 4 filhos cada, de tão acabadas que estavam. Uma era bem gorda, e um pouco menos feia. A outra era mais feia e um pouco menos gorda. Enfim, as duas eram trastes, trastes mesmo.

- Oiiii hihihi Meu nome é Marlene - a mais feia e menos gorda disse.
- E eu sou a Fernanda hihihi - a mais gorda e menos feia disse.

Olhei pras duas. Escolhi a Marlene. Peguei a Fernanda pelo braço e joguei ela em cima do meu amigo, que abraçou ela. Ainda tive tempo de trocar meia dúzia de groselhas com a Marlene. Enquanto isso, Luis e Fernanda já foram indo pro quarto.

- E aí Marlene? Que que você faz? - perguntei com ar de garanhão
- Faço tudo, menos anal.
- Hmmm, beleza... Não quero comer um cu hoje mesmo. Por mim fechou. Vamos pro quarto?
- Vamos sim hihihi São 80 reais e você tem que pagar agora.
- Ok, eu vou pagar a do meu amigo também.

Passei no balcão, pedi pra passar o cartão de débito. Por Deus, 160 reais naquilo!? Merda! Boas escolhas, sempre com as ideias de gênio! Enfim, estava ali, havia pago. Fomos para o quarto. Que fique claro, LUIS e FERNANDA estavam em UM quarto e EU e MARLENE estavamos em OUTRO quarto. Cada um na sua foda particular. Deitei na cama, tirei a camiseta. Ela tirou minha calça e tirou a roupa. Caralhos... E eu achando que não tinha como ficar pior! Se com roupa aquilo era um lixo, imagina sem! Ela veio com aquelas mentiras de putas, me disse que eu era pauzudo e gostoso. Eu, na verdade ignorei toda aquela groselha. Ainda estava muito bêbado. Ela colocou a camisinha, tentou me chupar e nada, nada de subir. Ela ficou uns bons 10 minutos tentando fazer subir e nada! Havia bebido demais para foder. Não subia de jeito algum! Desisti. Achei melhor ir embora. Brochar naquela idade era vergonhoso, e espero que isso tenha acontecido por eu estar bêbado demais, ou por ela ser feia demais.

Coloquei minhas roupas e sai daquele quarto sujo. Luis veio alguns instantes depois. Estavamos voltando pra casa, ainda bem bêbados.

- Cê conseguiu gozar? - perguntei
- Não. E você?
- Nada! - retruquei

Rimos o caminho inteiro pelo fato de nenhum dos dois ter aproveitado ao menos um pouco o investimento de 160 reais em duas putas feias pra caralho! A vida iria continuar, e eu sabia que no dia seguinte, ao olhar minha conta bancária, eu cairia em prantos. Foda-se.

Zaratustra

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