sexta-feira, 3 de maio de 2013

Aplausos, repetições e finalmente ficar sóbrio!



Meu cu ainda coçava da merda que eu caguei no dia anterior. Eu olhava minhas folhas, meus textos e ficava muito puto, muito puto mesmo. Eu preferia que um jegue me fodesse no meu cu (que provavelmente coçaria ainda mais), do que ler aquilo mais uma vez. Tudo estava escrito de uma forma monótona e repetitiva, e isso me roia os culhões! "Ahhh que merda, por Deus, nem escrever mais eu consigo, se foder! SE FODER!" Gritava sozinho no meu cubiculo, conhecido como quarto também. Eu precisava de novas histórias, mas o que, o que meu Deus!? Desisti, sentei no sofá, liguei a TV, estava passando uma daquelas novelas mexicanas do SBT. Eu olhava aqueles casais hispânicos se beijarem, e aquilo me dava mais raiva "Maldito amor, maldito!" Eu estava sendo repetitivo de novo, e já que estamos sendo repetitivos, resolvi abrir mais uma garrafa, figurinha repetida em casa, claro, sempre bebia ela: Natasha! Era a terceira garrafa em cinco dias, estava bebendo pouco naquela semana, e já que era sexta, resolvi beber um pouco mais né, isso que os alcoolatras fazem caralhos! Mesmo que seja uma repetição do dia anterior, tomar um porre é o que me parecia mais sensato naquele dia cinza, em que eu xingava meus textos e tinha vontade de cuspir em cima deles!

Meu cu já coçava menos, não sei ao certo o porque, mas enfim "Uma notícia boa... Deus é mais!" Acho que ser ateu estava sendo repetitivo também, estava fingindo acreditar em Deus, dizendo seu nome "Quem sabe engano aquele velho filho da puta e ele me tira desse inferno! E me dá ideia para bons textos por favor!" Enfim, o dia parecia melhor, eu bebia minha vodka pura, acho que na terceira dose já e prosseguia seguindo a novela mexicana do SBT, que aliás, era repetida também. A campainha tocou, achei estranho, a campainha nunca toca em casa, no máximo o telefone, com suas ligações repetidas me cobrando a fatura do cartão de crédito, ou minha mãe, repetindo sempre pra eu parar de beber. O toque da campainha era algo novo. Olhei pros céus "obrigado Deus, que não seja alguém chato e repetitivo!" Atendi apreensivo.

- Fala aí Carlos! Beleza? - ele me deu um abraço efusivo.
- Porra Felipe! Quanto tempo cara! - retribui efusivamente o abraço.
- É mano... Anos e anos ein hahaha...
- Entra ai velho, e não repara a bagunça. Essa espelunca é assim mesmo hahaha - fiz aquele gesto com o braço, convidando ele pra entrar no covil infernal e "cubiculal" do meu quarto.

Felipe entrou, parecia estar bem a vontade... Sentou no sofá sem pedir, deu uma boa respirada e olhou pra mim com cara de um bom amigo.

- E aí mano, cê bebe o que? - perguntei solicito
- Qualquer coisa não alcoolica, por favor.
- Putz... Só tenho água que não tem alcool ein hahaha. Mas tenho vinho, tequila, conhaque, vodka e cachaça! - eu disse de forma extasiada.
- Hahaha beleza, pode me trazer água, valeu...

Peguei a água dele, levei pra sala. Ele bebia a água dele de forma bem tranquila, parecia que ele bebia vodka barata. Eu bebia vodka barata bem rápido, parecia que eu bebia água. Nos olhamos. Por Deus, faziam anos que não nos víamos, ele estava bem mudado, parecia estar com a saúde boa. Eu, parecia ser ao menos uns 10 anos mais velho do que minha real idade, estava um caco, destruído mesmo. Alcool, drogas e noitadas haviam me fodido mesmo!

- E aí, como que cê tá mano? - Felipe perguntou, agora ele foi o solicito.
- Ahh cara, tenho um emprego que me paga as contas, bebo feito uma esponja e ainda não encontrei o verdadeiro amor hahaha... E você?
- Caralho velho, ainda o mesmo Carlos de antes ein hahaha. Porra mano, então parei de beber fazem uns dois anos, tô bem no meu emprego, se pá serei promovido, e estou noivo!
- Putz mano, parabéns! - eu parabenizei somente por educação, porque casamento é foda demais né!?
- Valeu valeu hahaha... É por isso que vim aqui na verdade. Porra mano, a gente é amigo de infância, crescemos juntos, e mesmo que não tenhamos nos falado nesses últimos 5 anos, eu queria que você fosse meu padrinho de casamento.
- Porra mano, claro, seria um prazer!

Caralhos, fiquei feliz em ser o escolhido para algo diferente. Ao menos seria algo novo, sem ser repetitivo, algo que eu nunca tinha feito, afinal, ninguém escolhe um traste degenerado pra ser padrinho do seu casamento. Me senti honrado com o convite, e aceitei de forma sincera. Felipe olhou ao redor do quarto e viu meus textos no chão.

- Cê ainda escreve? - ele me perguntou, um pouco espantado.
- Ahh eu tento... Mas não está muito bom na real.

Ele pegou um dos textos mais curtos, deu uma lida rápida. Olhava intrigado pro papel, parecia concentrado. Olhou pra mim, começou a aplaudir.

- Você escreve bem pra caralho! - ele disse entusiasmado - Tá ainda melhor do que antes.
- Hahaha valeu mano, valeu - eu dei um sorrisinho meio forçado.

Os aplausos dele haviam tornado aqueles lixos em algo ao menos "decente" digamos assim. Parecia que eu só precisava de bons aplausos pra ver que eu ainda tinha fôlego pra escrever por mais alguns anos, ainda que os textos fossem repetitivos. Com muita sorte e fé em Deus "Hahaha tô enganando você velho!" eu viajava em pensamentos... Enfim, com muita sorte eu poderia ter boas ideias algum dia, mas tinha que continuar me exercitando pra não perder a prática da literatura. E Felipe me incentivou isso, com seus aplausos contidos, tudo parecia ser um pouco menos doloroso.

Ele jogou a folha no chão e me olhava entornar aquela que era no mínimo a sexta dose de vodka pura do dia.

- Velho, cê tá um lixo ein! - agora ele não havia sido nada educado.
- Que nada, tô bonitão hahaha - dei uma voltinha sarcasticamente.
- Sério. Tá foda ein Carlos - ele me olhou com cara de reprovação - Acho que cê bebe muito...
- Ihhhh caralho, baixou minha mãe no rolê hahaha Calma bonitão, o fígado tá ótimo - bati com força no fígado, novamente sendo sarcástico.
- Porra mano, sonho em algum dia te ver completamente sóbrio! Você tem um potencial da porra, acho que seria o melhor pra você.

Eu percebi que o assunto estava ficando chato e repetitivo, assim como meus textos (sim, comecei a achar eles repetitivos de novo do nada), e vi que era hora de cessar. Disse pra ele que eu tinha um compromisso, mas que eu ligaria, marcariamos algo, e beberiamos, quer dizer, eu sim e ele não né.

Assim que ele saiu do quarto, me sentei, dei mais uma golada na vodka e vi que sim, apesar dele ser repetitivo, e de todos serem sempre repetitivos, a verdade é que estavam certos. Quando eu finalmente estivesse completamente sóbrio eu atingiria o máximo do meu potencial, afinal, inteligência não me faltava, mesmo escrevendo textos repetitivos. Enfim, desisti da ideia de sobriedade, na verdade adiei ela por mais uma sexta. Com a garrafa na mão direita continuei assistindo os programas que passavam todos os dias até pegar no sono.

Zaratustra

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