quinta-feira, 23 de maio de 2013

2 caras fodem 1 mina na rua



Estava no emprego novo faziam cerca de umas três semanas. Era uma merda. Odiava tudo naquele emprego, eu estava lá simplesmente pro dinheiro poder cair na conta e eu poder beber em paz. Chegava todos os dias em casa, bebia, acordava de ressaca, ia pro trabalho, vomitava no trem, chegava no trabalho, saia pra ir no banheiro ao menos umas 10 vezes por dia, não pra mijar, muito menos pra cagar, mas pra lavar o rosto e pensar "Deus, me livre dessa ressaca!". Jogava água no rosto e implorava pra dar a hora de ir embora. Insatisfação somada com alcool é igual a ressaca, e isso me perseguia naquele novo emprego, que na verdade estava bem pensando em mandar o chefe SE FODER, largar tudo e voltar pra casa, beber e ver se o mundo acabava logo.

Apesar de toda essa irritação, um alcoolatra sempre encontra outro alcoolatra, independente do lugar que eles estejam. E sim, lá eu tinha um amigo alcoolatra. Seu nome era Eduardo, mas preferiamos usar o termo "Edu", assim como todos usam. Edu era realmente muito parecido comigo. Havia acabado de se separar, estava fodido de grana, bebia feito uma esponja, e ele ainda tinha a pensão do filho pra pagar, isso com malditos 21 anos de idade. Conversávamos bastante desde o primeiro dia de trabalho, ele era um cara bem bacana. Saíamos do trampo e, às vezes, passavamos no boteco do lado da empresa, bebiamos maria-mole até o fim do dia. Mal conseguiamos andar depois disso, mas nos sentiamos um pouco mais aliviados com as nossas vidas fracassadas, trabalhando malditas 8h por dia pra ganhar uma miséria.

Era uma sexta- feira. Estavam todos empolgados com o final de semana. Eu, na verdade, não estava nada empolgado, porque em todos os fins de semana eu bebia em casa, e eu bebia em casa durante a semana, então não mudaria nada na minha medíocre existência. Edu estava empolgado, estava louco pra fazer um rolê, beber e arrumar uma foda.

- Vamos lá Carlos! Vamos fazer um rolê!
- Sei lá mano, sei lá... Sabe como prefiro beber sozinho - eu dizia, cochichando, porque ainda estavamos na empresa.
- Olha, tem um pagodão ali na Sete de Abril, do lado do metrô Anhangabau. Lá é do caralho! Só mulher bonita.
- Pagode!? - perguntei espantado - Cê sabe que nem gosto dessa merda né?
- Eu sei! Mas é mais pelo rolê e pelas minas. Fiquei sabendo que a Aninha e a Pri vão com a gente...
- Elas que se fodam. Uma é casada e a outra é feia.
- A Pri, por ser casada é mais difícil mesmo... Mas a Aninha fica gatinha depois de umas doses hahaha
- Você é um canalha filho da puta hahaha - ri um pouco alto, mas sem problemas.
- E aí? Vamos? Se tiver ruim você pode vazar. Palavra de honra!
- Hmmm... Sei lá man. Nunca fui em pagodes. Só de pensar me arrepia.
- Vai ser legal, você vai ver! - ele disse entusiasmado.
- Ok - cai no entusiasmo dele - Vamos ver como que é essa merda. Agita as minas aí e pode contar comigo.
- Assim que se fala porra! Pode deixar que vou agitar elas sim.

O relógio parecia que nunca ia chegar nas 18h. O dia não passava, e quanto mais sóbrio eu ia ficando, mais eu pensava em pegar uma maldita arma, matar todo mundo e depois me matar. Mas eram pensamentos impossíveis, por isso desencanei e ia no banheiro lavar o rosto pro dia passar mais depressa. Graças aos bons Deuses, o relógio marcou 18h, enfim me vi livre do inferno por mais um dia.

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Saímos do trabalho e fomos para o centro da cidade mais suja do universo, SP. Chegamos até que rápido. Sim, estavamos nós quatro somente: eu, Edu, Aninha e Pri. Eu estava bem cético, estava quase desistindo de ir para aquele rolê de merda. Mas já estava no meio do caminho, não iria desistir assim tão fácil. Só pensava na minha cama e na minha garrafa de vodka, só isso.

Chegamos no tal pagodão. De fora já me arrependi. Paguei cinco contos pra entrar. O local era medonho. Um calor dos infernos, homens feios usavam roupas de funkeiros. Mulheres feias usavam mini vestidos e mostravam o corpo em busca de, sei lá, aceitação social. Me espantei com as pessoas do lugar. Caralhos! Não tinha uma que eu havia simpatizado no local inteiro. A música? O que dizer da música. Era um lixo. Barulhos repetitivos, letras enfadonhas e nenhuma atitude de palco. "Cometi um erro terrível" pensei. Bom, já que estava lá, resolvi beber. Pri e Edu ficaram nas brejinhas. Aninha pediu uma taça de vinho. Eu pedi duas doses de vodka pura.

O tempo foi passando, meus colegas foram ficando altos. Edu e Pri até se levantaram, foram dançar. Aninha, sentada, às vezes saia pra fumar cigarros. Eu simplesmente olhava pros meus copos de vodka e torcia pra acabar aquilo logo. Por Deus, como era possível um rolê ser tão ruim assim? Eu reclamava, mas Aninha também reclamava

- Cê viu o preço da taça de vinho aqui? Cinco reais! - ela esbravejava com os braços pra cima.
- Caro pra cacete ein. Mas é esse o preço mesmo Aninha.
- Eles que se fodam. Vou sair e comprar vinho. Colocamos na sua mochila e servimos a taça na muquia. Pode ser?
- Só se eu fizer a mesma coisa com a vodka hahaha
- Beleza. Vamos dar o fora dessa merda.

Deixamos nossas comandas e saímos. Falamos que íamos buscar um amigo nosso.

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Eu e Aninha até que conversavamos bem de boa. Ela tinha 19 anos e um filho de 2. Sua vida estava destinada ao fracasso. Costumava se drogar antes, mas agora ela dizia estar regenerada. Aceitei isso sem querer debater, mesmo parecendo que ela ainda era uma usuária. Passamos no primeiro mercado que tinha. Ela comprou um bom vinho por 10 reais, e eu paguei o mesmo valor por uma vodka barata. Passamos no caixa, pagamos, escondemos o lance na mochila. Voltamos ao pagode. Falamos que nosso amigo "havia furado", mesmo sabendo que nunca haviamos ido buscar ninguém.

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Pri e Edu ainda bebiam suas brejinhas e dançavam. Eu e Aninha estavamos nos dedicando a beber como esponjas. Pegavamos com muito cuidado as garrafas na mochila, e sem que ninguem visse, enchiamos nossos copos e bebiamos. Os garçons por certo já estranhavam toda a situação, mas o que eles falariam? Um argumento só é válido com provas, e isso eles não tinham. Com exceção de nos pegarem em flagrante, eles não podiam fazer nada. Aninha saiu pra fumar mais uma vez. Fiquei bebendo, sempre olhando pro copo e torcendo pro mundo acabar ali mesmo. Edu e Pri haviam cansado de dançar e se sentaram.

- Vamo dançar velho! - Edu me disse.
- Hmmm... Não, valeu. Nem fodendo. - retruquei
- Vai lá Carlos! Tenta pelo menos! - Pri insistiu.
- Valeu Pri, mas minha vodka está mais interessante.

Logo em seguida, o telefone de Pri tocou. Era seu marido. Ela não havia avisado ele que ia no pagode, decerto estava bem fodida, estava fodida quando chegasse em casa, fora a DR que haveria pelo telefone. Aninha havia acabado de fumar seu cigarro. Voltou pra mesa e nem sentou.

- Carlos, vamos lá fumar um cigarro comigo?
- Cê acabou de voltar e eu não fumo - retruquei
- CAR-LOS VA-MOS FU-MAR UM CI-GAR-RO CO-MI-GO? - ela perguntou pausadamente e piscou o olho esquerdo.
- Beleza, tô indo.

Me levantei, saimos do local. Ela acendeu um cigarro e me disse.

- Chama o Edu. Quero que ele fume com a gente.
- Que? Tá doida né?
- Tô nada. Ou os dois fumam, ou ninguém fuma.

Caralhos. Eu estava muito alterado pela vodka. Foda-se. Chamei o Edu.

- Edu, vem aqui fora fumar um cigarro.
- Mas eu não fumo mano.
- VEM A-QUI FU-MAR UM CI-GAR-RO - pisquei com o olho esquerdo.

Edu se levantou. Estavamos nós três do lado de fora. Resolvemos vagar pelas ruas do centro, um homem de cada lado abraçado em Aninha.

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Chegamos num beco. Cheirava a mijo. Eu via vômito nas paredes, pixações, sacos de lixo. Que lugar mais romântico que haviamos encontrado! Sim, Aninha queria dar pra nós dois. Isso estava óbvio desde o cigarro. É lógico que pedi pra ir primeiro. Encostei ela na parede, abaixei minha calça e a dela na altura dos joelhos. Transei como um bêbado, não fazia nada certo. Logo após que eu terminei, Edu veio e repetiu o processo. Ela até que curtiu no fim das contas. Assim que haviamos os três terminado, voltamos para o tal pagode.

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Ao chegar no local, Pri ainda discutia com seu namorado. Pagamos nossas comandas e fomos embora. Cheguei em casa e dormi como um bêbado. Claro que na segunda-feira não se comentou sobre o assunto, mas nos três sabíamos que, a experiência havia sido diferente. Eu sabia que pagode era um lixo, sabia que nunca mais voltaria a pisar em um local que tocasse isso, mas ao menos havia arrumado uma foda, e sim, naquela época transas bêbadas valiam bem a pena.

Zaratustra

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