sexta-feira, 31 de maio de 2013

Dano cerebral



Frio, chuva, morbidez
Ainda assim bebo
Ainda assim olho
Coisas que não poderia ver
Fazem mal
Ou fazem bem
Foda-se o que fazem
A viagem nunca acaba
Só e interrompida
Nunca é tarde demais
Pra beber e olhar

O alcool destrói
O cérebro
Mesmo assim
Ele me abre
As portas da percepção
E enxergo tudo mais fácil
E reclamo
Esperneio
Mas nada muda
Nada nunca muda
Nada nunca vai mudar
Pessoas mudam
Atitudes não

O cérebro morre
Os danos são permanentes
Por mim ok
Lido bem com isso
Ainda assim bebo
Ainda assim olho
Ainda assim vivo

Zaratustra

quinta-feira, 30 de maio de 2013

O mundo? Errado? Nada, nada... Só bebemos demais!



Eu ainda ouvia o fim daquele album do Led Zeppelin, acho que era o Led Zeppelin IV, mas na verdade nem curtia muito o som dos caras. Estava com a Luiza, e ela gostava muito. Nada contra os caras, assumo que eles são muito bons, mas não fazem muito meu estilo manja? Curtia algo um pouco mais agitado, ou um pouco mais calmo do que aquilo... Mas foda-se! Merda, sempre disperso... Falava de Luiza. Eu estava na casa dela a tarde toda, somente nós dois. Acho que se fosse pra eu comer ela, eu já teria comido, pois ela estava bêbada, eu também. Estavamos no seu sofá. Abraçados. Eu havia tentado beijar ela, mas fui recusado como um leproso pra uma vaga de abraços. Pois bem, ela não queria nada comigo, mas considerando o traste que eu era, valia a pena ficar ali. Haviam bebidas grátis, ouvia um som agradável, e pasmem, ainda olhava as coxas dela de forma fácil, e com sorte via um pouco dos seios. Por um milésimo de segundo, vi o mamilo esquerdo. Era do jeito que eu gostava. Papo doentil, mas foda-se, era isso ou beber sozinho em casa enquanto tentava me masturbar pra qualquer merda. Olhava as pernas dela enquanto ela falava.

- Sei lá Carlos... Odeio tudo.
- Como assim linda? Como assim odeia tudo?
- Os sonhos, o whisky, as bombas atômicas, os terremotos, o transporte público, a verba para a copa do mundo, a corrupção, a ganância, as pessoas, as vagabundas, os cheiradores de cola, os limpadores de vidro, os bancários, o responsável pelo aumento do pãozinho francês... Aff, não consigo nem falar.
- Isso porque você nem citou as pessoas...
- Eu citei as pessoas caralhos!

Acho que eu havia perdido o fio da meada olhando pras coxas dela, e tentando olhar para os seios... Merda, isso é o que eu chamo de "dar sopa pro azar", certamente pensaria que eu era um maníaco e tarado sexual.

- Ah sim. Desculpe. Pois é, tem as pessoas, e elas são geralmente um saco.
- Exato! Olha, não me surpreenda que você beba como uma esponja... É impossível aguentar o mundo sóbrio.
- Sim! - levantei o copo, num falso brinde - Me dê motivos pra beber que ficarei feliz... Sempre preciso de argumentos para falar pras pessoas que sou alcoolátra.
- Te compreendo... O mundo tá todo errado, e eu fico bem puta com isso tudo.
- Eu já desisti manja? O alcool não é o mundo, por isso que ele é bem bacana. Se eu não fosse alcoolatra, provavelmente estaria morto uma hora dessas, ou ainda, chorando, ou ainda, reclamando de tudo, como você está fazendo. Beba mais Luiza!

Ela bebia pouco, ao menos era bem pouco se comparada comigo, que bebia pra caralho, mas ainda tinha forças pra fazer contas. Eu bebia uma garrafa de vinho por hora, e ela bebia meia garrafa por hora. Ou seja, eu estava o dobro de bêbado dela, ou seja, ela estava muito sóbria e por isso enchia meu saco reclamando do mundo enquanto eu olhava seu belo par de coxas.

- Ok Carlos, vou fazer o que tu manda... Você parece um cara bem bacana, apesar de beber muito.
- Sei lá. Isso é relativo. Agora bebe logo porra!

Ela virou o resto da sua garrafa de vinho como se bebesse água potável, nem da torneira era, era daquelas águas que tem vitaminas e nutrientes manja? B2, zinco, calcio e ferro. Mas não, era somente o vinho mais barato que haviamos encontrado, e que detalhe, ela havia pago. Depois que desceu pela goela dela, tudo pareceu um pouco mais fácil.

- Já sei! Vamos jogar cartas! - ela me disse, entusiasmada
- Prefiro beber...
- Dominó?
- Prefiro beber...
- Foder!?
- Hmmm... Prefiro beber, até porque sei que tô muito bêbado e vou meter como um elefante velho.
- Bebemos demais - ela disse
- EU bebo demais. Você está começando a beber.
- E o mundo Carlos? O que faremos com ele?
- Continue bebendo Luiza. Eu bebo também. Se tivermos uma ideia, escrevemos no papel e achamos a paz mundial, ok?
- Ok

Ela sorriu, deitou no sofá com a garrafa na mão e adormeceu depois de 30 minutos.

Zaratustra

Soltar a corda e ver que merda acontece!



Eu estava bem cômodo naquela situação, naquele ponto da minha vida. Havia passado por maus bocados de verdade, meu emocional estava um lixo. Quando não bebia, chorava, quando chorava, às vezes bebia, e tudo prosseguia como um holocausto, como nuvens negras que me arrebatavam no céu, que me impediam de voar, cortavam minhas asas e olhavam como idiotas, rindo. Deus! Terminar um relacionamento era uma merda, até esses de 3 meses, terminar eles sempre fodem os dois lados, um mais, outro menos, mas ambos se fodem. Terminar um casamento era ainda pior, era ainda mais traumático. Era uma maldita viagem degradativa, em que você é dilacerado dia após dia que você tem que ver a cara daquela pessoa na sua frente... Doia demais, e por isso que esse divórcio havia me fodido. Pois bem, após isso estava bem cômodo, vivendo como um solteirão convicto. Transava com mulheres por puro interesse carnal. A grande maioria eu via como pedaços de carne, carnes gordas ou carnes magras, eram carnes, e me satisfaziam. No dia seguinte saia de fininho, deixava um dinheiro pelo motel e nunca mais olhava a carne na cara. Mas existiam aquelas, sim, as especiais, que me conquistavam com um bom papo e um bom drink. Eram abraços efusivos, conversas ao pé do ouvido, carícias, carinhos, beijos que transmitiam algo mais profundo. Essas eu costumava sair mais algumas vezes depois da primeira vez. Geralmente nos dávamos muito bem mesmo, sempre nos vendo pelo tempo de cerca de um mês, mais ou menos isso, sim, um mês saindo com aquela garota especial. Mas quando eu percebia a verdade, sentia que eu estava gostando dela, eu simplesmente puxava a corda, não me entregava. Ainda tinha pequenos resquícios da minha ex, que me fodeu, que me deixou somente com algumas roupas e 20% do meu amor próprio. Sim, eu era somente um medroso, não me entregava de jeito nenhum, por medo de que algo desse errado, que eu me fodesse como me fodi, que ela andasse em cima dos meus destroços num futuro próximo.

Estava a cerca de dois anos solteiro, dois longos anos, sem me aproximar de ninguém, sem dar chance pra ninguém, somente na minha rotina maluca de alcool, noitadas e fodas esporádicas. Não me orgulhava tanto disso quanto me orgulhava quando estava um ano solteiro. Quando se fica dois anos solteiro, se reflete muito, e eu via que essa solidão na noitada não estava me levando a lugar algum, a não ser mais e mais noitadas e transas vazias. Pode soar muito gay falar isso, mas é verdade. Tudo acaba perdendo o sentido. Precisava tentar criar raízes de novo, me estabelecer com alguém, voltar a fazer planos, pensar em dia dos namorados, chocolate, perfumes, flores e todas essas coisas que são gays pra caralho, mas que as garotas curtem a beça. Sair de fim de semana, ir ao shopping, cinema, comer um lanche e dar algumas risadas... Às vezes poderia rolar uma balada, mas coisa leve, bem de leve mesmo, sei lá, um barzinho. Algo sério me assustava, ouvia a palavra "namoro" e sentia um medo que subia pela espinha, vontade de correr, suor frio e tudo mais, "casamento" então, nem se fala, "filhos" nem fodendo mesmo, enfim, eram palavras que me assustavam, mas que, ao menos com a primeira delas eu precisava me defrontar. Querer? Até queria, mas era mais uma necessidade de provar pra mim mesmo que posso sair do lugar, posso não ser somente um alcoolátra inconsequente que fode todas as coisas que coloca a mão. Estava saindo com aquela garota fazia pouco menos de um mês. Tinhamos uma conexão, tinhamos algo, de verdade. Nos davamos bem na cama, no papo e na bebedeira. Liamos coisas semelhantes, tinhamos a mesma visão de mundo. Resolvi que com ela eu iria largar a maldita corda, sem pensar muito nas consequências. Se desse tudo certo, maravilha. Se desse tudo errado, teria que lidar com isso. E se não desse em nada, ué, não deu em nada e bola pra frente, como dizem, "bola pra frente", isso me ajudaria. Fazia frio, chovia. Soltei a corda e sentei na cadeira dos réus, aguardando o veredito.

Zaratustra

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fracassados



É curioso. Quando saio na rua, olho bem as pessoas. Observo elas, as analiso, entendo seus movimentos, seus detalhes, trejeitos. Andam curvadas, apáticas, sem vontade alguma. Estão mortos e ainda não sabem. Seria melhor estarem mortas, ao menos não vagariam pelas ruas com suas caras tristes e decepcionadas. Falta paixão nas pessoas, vontade, fazer o que realmente querem. Não se sujeitarem a um emprego que não gostem, um emprego que rouba valiosas 8h da vida desse individuo, e que só serve para pagar as contas. Comprar coisas que não querem, pra agradar quem não gostam. Merda! Isso é viver? Isso é estar vivo? Pra mim isso se chama fracasso! O ser humano em geral é um fracasso. Enquanto leio o velho safado, olho de sosleio as pessoas. É triste pensar que 90% da população mundial é composta por fracassados. É muito ruim pensar nisso, é ruim pensar que posso estar nesses 90%, ou, se ainda não estou, posso cair na armadilha a qualquer momento. Merda! Tenho que manter o brilho nos olhos e me sentir vivo, independente da forma utilizada pra isso!

Zaratustra

terça-feira, 28 de maio de 2013

Too drunk to fuck! (a brochada)



Uma sucessão de fracassos pedia medidas drásticas. Porra, eu tinha tudo, tinha um trabalho muito foda, um casamento muito bacana, amigos, perspectiva de sucesso. Mas isso foi desmoronando aos poucos, bem aos poucos. Começou pelo casamento, ruiu de uma forma bem traumática pra ambos. Enfim, ainda tinha um bom emprego, e estava solteiro. Apareceram mulheres, não digo que foram muitas, mas estava longe de serem poucas. Bebíamos, transavamos, mas eram sempre as mulheres erradas, mulheres que eu jamais namoraria, e fazia questão de deixar isso claro pra elas. Era explícito. Quando saia a primeira vez, apenas ficavámos mesmo, às vezes rolava sexo, às vezes não, isso era relativo. Pois bem, era no segundo encontro que eu jogava as cartas na mesa. Dizia, exatamente com essas palavras: "Nunca, jamais, em hipótese alguma nós iremos namorar. Nunca mesmo, não espere que isso vire um namoro, ok?" As reações eram bem divergentes. Algumas mulheres ficavam nervosas, outras eram indiferentes, outras diziam "eu também nunca vou namorar você, relaxa." Eu, na verdade nem me preocupava com isso. Se elas não gostassem, que me dessem logo um chute no rabo! Enfim, aproveitei bem essa fase canalha. Dinheiro, mulheres e amigos, eu não precisava de nada além disso.

Foi quando eu perdi o emprego que o mundo desmorou. Sem dinheiro, sem festas, sem mulheres, sem amigos. Estava sozinho. Mentira, ainda tinha um amigo, somente um, o Luis. Saiamos pra beber às vezes, e era bem divertido. Mas mulheres, essas todas sumiram. Me afundei mais ainda em alcool, pois repito, uma sucessão de fracassos pedia medidas drásticas.

Pois bem, foi numa quarta-feira que sai pra beber com Luis. Como ambos estavamos duros, passamos no mercado, pegamos uma garrafa de um litro de cerveja por 3 reais. Eram 15h. Do lado do mercado tinha uma pracinha. Sentamos por ali mesmo, abrimos a garrafa e iniciamos nossa bebedeira do dia.

- Caralho mano... Tô bem macambúzio. Não consigo arrumar emprego nenhum cara - eu disse, desolado.
- É foda mesmo man. Alguma hora tem que aparecer alguma coisa ué. Não estressa com isso não brother.
- Eu sei, mas é uma merda ficar em casa, e outra merda não ter dinheiro, e uma merda maior ainda não ter mais mulheres.
- E a Gabi? Como andam as coisas com ela? - ele deu uma grande golada na garrafa.
- Aff velho, nem me fala. Passa a garrafa - ele me deu, dei uma golada maior do que a dele - Eu tento, tento, tento e nada. É uma merda cara.
- Mas ela tinha dito que gostava de você. Porque ela não quer nada?
- Segundo ela "não está pronta pra namorar" Papinho foda né mano? Respeito a ideia dela, mas eu preferia ter ouvido que eu era feio e pobre, por isso que não namoraria comigo - dei uma golada fatal na cerveja - Agora me elogia pra cacete, diz que sou bonito, legal e inteligente pra me dar fora? É osso brother, é osso!
- Caralhos... Lógica feminina: quem as entende? hahaha
- Exatamente hahaha Aliás, estamos sem breja. Vamos lá no mercado de novo.

Fomos ao mercado, pegamos mais uma garrafa. Não compravamos um monte porque senão elas ficariam quentes. Passamos no caixa, Luis pagou dessa vez.

- Quanto cê tem de grana ainda mano? - ele me perguntou
- Tenho 300 conto no banco que tem que durar até eu arrumar um emprego. Fora um monte de conta pra pagar, faturas de cartão de crédito que estão atrasadas... Uff, não gosto nem de lembrar mano.
- Relaxa, perguntei só pra saber mesmo hahaha.

Voltamos para a pracinha e prosseguiamos com a nossa bebedeira. Conversavamos de tudo um pouco. Mulheres, filosofia, tecnologia, cinema e afins, e nossas vidas desgraçadas pareciam um pouco melhores. Parecia que a vida ainda valia a pena, valia a pena estar vivo, só pra beber e dar umas risadas, mesmo duros, desempregados e sem mulheres. Porra, ainda conseguiamos ficar bêbados, e isso era um grande alívio.

Foi por volta das 20h que o tempo começou a fechar. Não que tivesse começado a chover, mas estavamos muito bêbados. Lembro que subi no banco da praça, comecei a declamar Augusto dos Anjos.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa ainda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


Por Deus, eu estava mesmo bêbado! Luis apenas observava a tudo e dava muita risada. Ele bebia mais devagar do que eu, logo estava mais sóbrio. As pessoas da praça observavam também. Alguns riam, outros eram simplesmente indiferentes. Eu honestamente não me preocupava com as pessoas. Aquilo havia vindo do íntimo, havia sido de alguma forma, uma espécie de desabafo. Algo que eu precisava tirar do fundo da alma, um misto de revolta e frustração por estar quase no fundo do poço. E parecia que tudo tendia a piorar.

Continuamos bebendo feito esponjas que secam balcões com bebidas esparramadas. Acho que já estavamos na décima garrafa de litrão. Eu havia bebido no mínimo seis litros de cerveja, e Luis os outros quatro. Estavamos estragados. Bêbados demais. Aí tive uma das minhas grandes ideias.

- EU VOU LIGAR PRA GABI! FODA-SE! - gritei com Luis.
- Velho, vai dar merda hahaha Mas liga! Foda-se!

Telefonei pra ela. Não lembro exatamente o que eu disse, em detalhes, sei que ficava falando "eu te amo de verdade!" "porque a gente não tá junto?" E outros rebaixamentos do gênero. Claro que ela não ficava comigo. Claro! Eu havia fodido tudo já. Com essas ligações bêbadas, essas humilhações, esses rebaixamentos. Nunca eu iria ficar com ela, nunca mesmo! Seria melhor ter desistido de uma vez, mas sabem como é um coração apaixonado. Ele sempre fode as coisas.

Tomei mais um fora de Gabi. Fiquei um pouco revoltado. Matamos a décima primeira garrafa e tive mais uma ideia de gênio. Merda! Porque eu insistia em continuar bebendo, se eu sempre me fodia quando tava bêbado, eu sempre fazia tudo errado, tomava as piores decisões... Enfim, ainda bem que isso é passado, ainda bem que é uma história do passado!

- Vamos num puteiro? - eu disse, sem gritar dessa vez
- O QUÊ!!?? - Luis estava espantado.
- Ahh agora quero comer alguém... Tô mal pelo fora da Gabi.
- Velho, a gente tá bêbado e duro! Não dá pra ir em puteiro hahahaha. E outra: eu não sei onde tem puteiro aqui, e você também não sabe!
- Quem tem boca vai à Roma! - eu disse, levantando os braços de excitação - E outra, eu tenho dinheiro, pago a sua puta. Fica de boa! Dinheiro tem que gastar mesmo!
- Cê vai se arrepender Carlos... - Luis alertou, muito sabiamente.
- É melhor se arrepender do que fez do que se arrepender do que não fez - eu disse, com ar de sabichão e filósofo barato.

Pois bem, era melhor ter seguido o conselho do Luis. Mas não, eu nunca faço isso quando bebo. Simplesmente mando todos se foderem e faço o que eu bem entendo. Merda! Merda, merda, merda, mil vezes merda! Dois bêbados andando pelas ruas procurando um puteiro. Eu tinha culhões de parar e perguntar nas portas das baladas, pros seguranças, aonda tinha um puteiro. E acreditem, apesar de estarmos bêbados como gambás, conseguimos chegar num lugar bem mequetrefe. Era tipo uma casa, com uma garagem com uma luz vermelha. Entrei lá e só via machos, sentados nas mesas e bebendo cervejas. Cheguei no balcão, bati com força nele.

- Cadê as putas!? - perguntei pro rapaz que atendia ali.
- Tá por aí mano, tão circulando - ele me respondeu de forma bem displicente.

Dei outra volta pelo local e nada, nada de mulheres. Somente os mesmos machos, bem feios aliás, bebendo suas cervejas e conversando. Voltei ao balcão, bati novamente nele.

- Cadê as putas!?

Nisso, parece que eu as invoquei do inferno com aquele meu gesto. Juro, no mesmo segundo que bati no balcão e perguntei onde as putas estavam, apareceram duas mulheres sensacionais. Corpos lindos e rostos angelicais. Minto. Eram duas mulheres com caras bem sofridas, acho que elas tinham tido uns 4 filhos cada, de tão acabadas que estavam. Uma era bem gorda, e um pouco menos feia. A outra era mais feia e um pouco menos gorda. Enfim, as duas eram trastes, trastes mesmo.

- Oiiii hihihi Meu nome é Marlene - a mais feia e menos gorda disse.
- E eu sou a Fernanda hihihi - a mais gorda e menos feia disse.

Olhei pras duas. Escolhi a Marlene. Peguei a Fernanda pelo braço e joguei ela em cima do meu amigo, que abraçou ela. Ainda tive tempo de trocar meia dúzia de groselhas com a Marlene. Enquanto isso, Luis e Fernanda já foram indo pro quarto.

- E aí Marlene? Que que você faz? - perguntei com ar de garanhão
- Faço tudo, menos anal.
- Hmmm, beleza... Não quero comer um cu hoje mesmo. Por mim fechou. Vamos pro quarto?
- Vamos sim hihihi São 80 reais e você tem que pagar agora.
- Ok, eu vou pagar a do meu amigo também.

Passei no balcão, pedi pra passar o cartão de débito. Por Deus, 160 reais naquilo!? Merda! Boas escolhas, sempre com as ideias de gênio! Enfim, estava ali, havia pago. Fomos para o quarto. Que fique claro, LUIS e FERNANDA estavam em UM quarto e EU e MARLENE estavamos em OUTRO quarto. Cada um na sua foda particular. Deitei na cama, tirei a camiseta. Ela tirou minha calça e tirou a roupa. Caralhos... E eu achando que não tinha como ficar pior! Se com roupa aquilo era um lixo, imagina sem! Ela veio com aquelas mentiras de putas, me disse que eu era pauzudo e gostoso. Eu, na verdade ignorei toda aquela groselha. Ainda estava muito bêbado. Ela colocou a camisinha, tentou me chupar e nada, nada de subir. Ela ficou uns bons 10 minutos tentando fazer subir e nada! Havia bebido demais para foder. Não subia de jeito algum! Desisti. Achei melhor ir embora. Brochar naquela idade era vergonhoso, e espero que isso tenha acontecido por eu estar bêbado demais, ou por ela ser feia demais.

Coloquei minhas roupas e sai daquele quarto sujo. Luis veio alguns instantes depois. Estavamos voltando pra casa, ainda bem bêbados.

- Cê conseguiu gozar? - perguntei
- Não. E você?
- Nada! - retruquei

Rimos o caminho inteiro pelo fato de nenhum dos dois ter aproveitado ao menos um pouco o investimento de 160 reais em duas putas feias pra caralho! A vida iria continuar, e eu sabia que no dia seguinte, ao olhar minha conta bancária, eu cairia em prantos. Foda-se.

Zaratustra

domingo, 26 de maio de 2013

Cineminha



- Vem logo,vem logo amor! - eu dizia com o rosto brilhante
- Tô indo, tô indo!!! Só estou passando maquiagem!
- Pra ficar em casa? Venha logo amor!

Ela correu como uma tigresa. Se sentou no sofá da sala, observou a grande TV de plasma recém comprada de 42 polegadas. Meu Deus, isso sim era um bom cinema! Bebericou a minha cerveja, comeu um pouco da pipoca. Olhou pra mim e sorriu. Estava realizado por alguns segundos.

- Pra que você pediu pra eu correr amor? - ela disse.
- Logo logo apago pelas brejas! Te amo! - retruquei entornando mais e mais cerveja.

Zaratustra

A Rede Social



Tudo começou como um erro. Entrei no Facebook umas 9h da manhã. Todos estavam online. Minha namorada estava online, no bate-papo. Ela estava grávida, cerca de cinco meses. Merda! Tudo começou como um erro. Via nas redes sociais mulheres lindas e gostosas. Postavam fotos de biquini, sendo lambidas por mais de 200 likes. Merda! E eu com uma grávida. Estavam todas online, todas mesmo, até as gostosas. Bastaria um "oi" e tudo ficaria um pouco mais fácil, eu foderia uma boa boceta, mamaria em boas tetas, ainda não caídas e daria uns beijos. Mas eu namorava, e isso era ilegal, perante a moral dos homens, claro. Pois bem, estava conectado o dia todo, à disposição para uma boa conversa, mesmo com  alguém que eu mal falasse. O dia passava, ninguém puxou assunto comigo. Merda, minha vida era somente um erro. As redes sociais amaciavam toda essa merda. Postei a foto do Corsa 96' que eu havia comprado. Atualizei como foto de capa e me senti um pouco mais homem e digno. Compartilhava fotos de carros, me sentia bem. As vadias me chupavam, digo, pela internet, claro. Elas me adoravarm, eu adorava elas. Minha vida fazia algum sentido pelas malditas redes socias. Mas sim, tudo começou como um erro, e eu sabia disso. Merda! Mulher grávida, sem esperanças, fodido e traumatizado. Melhor arrumar um carro ao menos 2005 e torcer pra ser mais feliz.

Zaratustra

O que ela via em mim?



Olhava pro teto, ainda bêbado da noite anterior... Que noite boa! Carlinha havia dormido comigo. Fato muito raro, eu diria rarissímo! Porra, eu era somente um bêbado, inconsequente, sem visão de futuro, um verdadeiro traste. e estava acabado fisicamente pra minha idade, estava um caco. Eu era somente um lixo mesmo. Carlinha podia foder qualquer um daquela sala, mas me escolheu. Porque? Porque ela me escolheu? Eu, nem pauzudo era. Gostava de beber, e nisso se resumiam minhas ideias. Por Deus, ela era uma garota foda e eu era somente mais um dos lixos que estavam na rua ensacados e bêbados. Minha cara vivia cheia! Cheia de alcool e traumas. Grande garota, ela tentava gostar de mim mesmo bêbado... Às vezes eu era bonito. Vai ver que eu era legal. Vai ver que era boa praça. Foda-se. Carlinha era a mulher do momento!

Zaratustra

Cupcake!



O nome dela era Cupcake! Linda, linda mesmo. Boceta apertada, belas pernas, bebia feito louca, e tinha belos seios, redondos e firmes, mas não muito grandes. Caralhos, Cupcake era linda! Naquela festa, que ocasionamente ocorreu na minha casa, havia ficado com ela. Sim, ela era cheia de frescurinhas, mas por Deus, valia bem a pena! Fim da festa, levei ela pra casa, de carro. Beijo no rosto, abraço mais ou menos efusivo e ela estava entregue. Ainda alterada pela vodka, me disse que apareceria em casa, pra, quem sabe, beber as brejas que ainda restavam. Fui pra casa, crendo nisso. Dormi algumas horas, acordei, abri uma latinha de cerveja. Cupcake viria! A casa estava uma zona! Lavei a pia e o escorredor de louças. Lavei a louça, enxugando o que estava pra secar. Lavei minhas roupas, pendurei elas no varal, com muita calma. O chão estava um lixo. Passei pano por exatas quatro vezes naquele chão encardido. Arrumei a mesa. Preparei a comida, macarrão com alcatra. Limpei o quarto. Passei pano no chão, limpei o pó na mesa. Tirei os cabelos longos do travesseiro, aguardava ela, sim, a Cupcake! Ela não apareceu por 3 dias e 3 noites. Quando ela voltou, a casa estava uma bagunça. "Foda-se Cupcake!" Pensei, acendi um cigarro e entornei ainda mais vinho pela goela.

Zaratustra

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Corpos, somente corpos



Da sacada daquele quarto imundo, em que me faziam compania as baratas e os ratos, sim, eu conversava às vezes com eles, eram bons amigos. Pois bem, eu observava da sacada as pessoas perfiladas, cerca de 6h da manhã. Caras destroçadas, desanimadas, a apatia em forma de gente. Tomando friagem, levantaram cedo, com certeza haviam reclamado de terem levantado da cama quente. Pra sair do banho, outro caos, outro inferno. "Nessa merda de emprego pra ganhar 600 conto por mês... Droga!" Certamente pensavam isso. Eu olhava eles, um atrás do outro, rastejando quando o ônibus chegava. Quantas vezes, esses corpos acordavam pela manhã, manhãs frias, claro, e pensavam em mandar tudo se foder, virarem hippies, irem pra outro estado, virarem rockstar ou escritores, pra poderem acordar ao meio-dia e estarem sempre bêbados? Com certeza no mínimo um zilhão de vezes. Mas o ser humano tem medo, medo do desconhecido, medo do que possa dar errado, medo de ficar sozinho e não ter um celular da última geração, ou uma TV de plasma, ou ainda, medo de passar fome, se viciar em crack e morar nas ruas. São filas de corpos medrosos e consumistas, somente isso. A mídia amedontra e alimenta o consumismo. E os corpos, perfilados, enquanto entram no ônibus, acham que tudo está muito bom... Fazem churrascos aos fins de semana e a vida está perfeita.

Ouço uma batida na porta. Vejo uma sulfite escorregar por baixo da porta. Me agacho com dificuldade, ainda bêbado e sem dormir de madrugada. "Merda, vão dedetizar o prédio!" pensei em solidariedade aos ratos e às baratas. Sim, a câmara de gás ainda existia e fazia suas vítimas, mesmo depois do Nazismo.

Zaratustra

quinta-feira, 23 de maio de 2013

2 caras fodem 1 mina na rua



Estava no emprego novo faziam cerca de umas três semanas. Era uma merda. Odiava tudo naquele emprego, eu estava lá simplesmente pro dinheiro poder cair na conta e eu poder beber em paz. Chegava todos os dias em casa, bebia, acordava de ressaca, ia pro trabalho, vomitava no trem, chegava no trabalho, saia pra ir no banheiro ao menos umas 10 vezes por dia, não pra mijar, muito menos pra cagar, mas pra lavar o rosto e pensar "Deus, me livre dessa ressaca!". Jogava água no rosto e implorava pra dar a hora de ir embora. Insatisfação somada com alcool é igual a ressaca, e isso me perseguia naquele novo emprego, que na verdade estava bem pensando em mandar o chefe SE FODER, largar tudo e voltar pra casa, beber e ver se o mundo acabava logo.

Apesar de toda essa irritação, um alcoolatra sempre encontra outro alcoolatra, independente do lugar que eles estejam. E sim, lá eu tinha um amigo alcoolatra. Seu nome era Eduardo, mas preferiamos usar o termo "Edu", assim como todos usam. Edu era realmente muito parecido comigo. Havia acabado de se separar, estava fodido de grana, bebia feito uma esponja, e ele ainda tinha a pensão do filho pra pagar, isso com malditos 21 anos de idade. Conversávamos bastante desde o primeiro dia de trabalho, ele era um cara bem bacana. Saíamos do trampo e, às vezes, passavamos no boteco do lado da empresa, bebiamos maria-mole até o fim do dia. Mal conseguiamos andar depois disso, mas nos sentiamos um pouco mais aliviados com as nossas vidas fracassadas, trabalhando malditas 8h por dia pra ganhar uma miséria.

Era uma sexta- feira. Estavam todos empolgados com o final de semana. Eu, na verdade, não estava nada empolgado, porque em todos os fins de semana eu bebia em casa, e eu bebia em casa durante a semana, então não mudaria nada na minha medíocre existência. Edu estava empolgado, estava louco pra fazer um rolê, beber e arrumar uma foda.

- Vamos lá Carlos! Vamos fazer um rolê!
- Sei lá mano, sei lá... Sabe como prefiro beber sozinho - eu dizia, cochichando, porque ainda estavamos na empresa.
- Olha, tem um pagodão ali na Sete de Abril, do lado do metrô Anhangabau. Lá é do caralho! Só mulher bonita.
- Pagode!? - perguntei espantado - Cê sabe que nem gosto dessa merda né?
- Eu sei! Mas é mais pelo rolê e pelas minas. Fiquei sabendo que a Aninha e a Pri vão com a gente...
- Elas que se fodam. Uma é casada e a outra é feia.
- A Pri, por ser casada é mais difícil mesmo... Mas a Aninha fica gatinha depois de umas doses hahaha
- Você é um canalha filho da puta hahaha - ri um pouco alto, mas sem problemas.
- E aí? Vamos? Se tiver ruim você pode vazar. Palavra de honra!
- Hmmm... Sei lá man. Nunca fui em pagodes. Só de pensar me arrepia.
- Vai ser legal, você vai ver! - ele disse entusiasmado.
- Ok - cai no entusiasmo dele - Vamos ver como que é essa merda. Agita as minas aí e pode contar comigo.
- Assim que se fala porra! Pode deixar que vou agitar elas sim.

O relógio parecia que nunca ia chegar nas 18h. O dia não passava, e quanto mais sóbrio eu ia ficando, mais eu pensava em pegar uma maldita arma, matar todo mundo e depois me matar. Mas eram pensamentos impossíveis, por isso desencanei e ia no banheiro lavar o rosto pro dia passar mais depressa. Graças aos bons Deuses, o relógio marcou 18h, enfim me vi livre do inferno por mais um dia.

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Saímos do trabalho e fomos para o centro da cidade mais suja do universo, SP. Chegamos até que rápido. Sim, estavamos nós quatro somente: eu, Edu, Aninha e Pri. Eu estava bem cético, estava quase desistindo de ir para aquele rolê de merda. Mas já estava no meio do caminho, não iria desistir assim tão fácil. Só pensava na minha cama e na minha garrafa de vodka, só isso.

Chegamos no tal pagodão. De fora já me arrependi. Paguei cinco contos pra entrar. O local era medonho. Um calor dos infernos, homens feios usavam roupas de funkeiros. Mulheres feias usavam mini vestidos e mostravam o corpo em busca de, sei lá, aceitação social. Me espantei com as pessoas do lugar. Caralhos! Não tinha uma que eu havia simpatizado no local inteiro. A música? O que dizer da música. Era um lixo. Barulhos repetitivos, letras enfadonhas e nenhuma atitude de palco. "Cometi um erro terrível" pensei. Bom, já que estava lá, resolvi beber. Pri e Edu ficaram nas brejinhas. Aninha pediu uma taça de vinho. Eu pedi duas doses de vodka pura.

O tempo foi passando, meus colegas foram ficando altos. Edu e Pri até se levantaram, foram dançar. Aninha, sentada, às vezes saia pra fumar cigarros. Eu simplesmente olhava pros meus copos de vodka e torcia pra acabar aquilo logo. Por Deus, como era possível um rolê ser tão ruim assim? Eu reclamava, mas Aninha também reclamava

- Cê viu o preço da taça de vinho aqui? Cinco reais! - ela esbravejava com os braços pra cima.
- Caro pra cacete ein. Mas é esse o preço mesmo Aninha.
- Eles que se fodam. Vou sair e comprar vinho. Colocamos na sua mochila e servimos a taça na muquia. Pode ser?
- Só se eu fizer a mesma coisa com a vodka hahaha
- Beleza. Vamos dar o fora dessa merda.

Deixamos nossas comandas e saímos. Falamos que íamos buscar um amigo nosso.

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Eu e Aninha até que conversavamos bem de boa. Ela tinha 19 anos e um filho de 2. Sua vida estava destinada ao fracasso. Costumava se drogar antes, mas agora ela dizia estar regenerada. Aceitei isso sem querer debater, mesmo parecendo que ela ainda era uma usuária. Passamos no primeiro mercado que tinha. Ela comprou um bom vinho por 10 reais, e eu paguei o mesmo valor por uma vodka barata. Passamos no caixa, pagamos, escondemos o lance na mochila. Voltamos ao pagode. Falamos que nosso amigo "havia furado", mesmo sabendo que nunca haviamos ido buscar ninguém.

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Pri e Edu ainda bebiam suas brejinhas e dançavam. Eu e Aninha estavamos nos dedicando a beber como esponjas. Pegavamos com muito cuidado as garrafas na mochila, e sem que ninguem visse, enchiamos nossos copos e bebiamos. Os garçons por certo já estranhavam toda a situação, mas o que eles falariam? Um argumento só é válido com provas, e isso eles não tinham. Com exceção de nos pegarem em flagrante, eles não podiam fazer nada. Aninha saiu pra fumar mais uma vez. Fiquei bebendo, sempre olhando pro copo e torcendo pro mundo acabar ali mesmo. Edu e Pri haviam cansado de dançar e se sentaram.

- Vamo dançar velho! - Edu me disse.
- Hmmm... Não, valeu. Nem fodendo. - retruquei
- Vai lá Carlos! Tenta pelo menos! - Pri insistiu.
- Valeu Pri, mas minha vodka está mais interessante.

Logo em seguida, o telefone de Pri tocou. Era seu marido. Ela não havia avisado ele que ia no pagode, decerto estava bem fodida, estava fodida quando chegasse em casa, fora a DR que haveria pelo telefone. Aninha havia acabado de fumar seu cigarro. Voltou pra mesa e nem sentou.

- Carlos, vamos lá fumar um cigarro comigo?
- Cê acabou de voltar e eu não fumo - retruquei
- CAR-LOS VA-MOS FU-MAR UM CI-GAR-RO CO-MI-GO? - ela perguntou pausadamente e piscou o olho esquerdo.
- Beleza, tô indo.

Me levantei, saimos do local. Ela acendeu um cigarro e me disse.

- Chama o Edu. Quero que ele fume com a gente.
- Que? Tá doida né?
- Tô nada. Ou os dois fumam, ou ninguém fuma.

Caralhos. Eu estava muito alterado pela vodka. Foda-se. Chamei o Edu.

- Edu, vem aqui fora fumar um cigarro.
- Mas eu não fumo mano.
- VEM A-QUI FU-MAR UM CI-GAR-RO - pisquei com o olho esquerdo.

Edu se levantou. Estavamos nós três do lado de fora. Resolvemos vagar pelas ruas do centro, um homem de cada lado abraçado em Aninha.

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Chegamos num beco. Cheirava a mijo. Eu via vômito nas paredes, pixações, sacos de lixo. Que lugar mais romântico que haviamos encontrado! Sim, Aninha queria dar pra nós dois. Isso estava óbvio desde o cigarro. É lógico que pedi pra ir primeiro. Encostei ela na parede, abaixei minha calça e a dela na altura dos joelhos. Transei como um bêbado, não fazia nada certo. Logo após que eu terminei, Edu veio e repetiu o processo. Ela até que curtiu no fim das contas. Assim que haviamos os três terminado, voltamos para o tal pagode.

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Ao chegar no local, Pri ainda discutia com seu namorado. Pagamos nossas comandas e fomos embora. Cheguei em casa e dormi como um bêbado. Claro que na segunda-feira não se comentou sobre o assunto, mas nos três sabíamos que, a experiência havia sido diferente. Eu sabia que pagode era um lixo, sabia que nunca mais voltaria a pisar em um local que tocasse isso, mas ao menos havia arrumado uma foda, e sim, naquela época transas bêbadas valiam bem a pena.

Zaratustra

Não dormir a noite



Não durmo durante as noites. Às vezes nem de dia. Às vezes fico acordado direto por dias e dias, pensando e pensando. Dormir? Dormir é para aqueles que estão com os corpos cansados e os espíritos intactos. Sim, os sujeitos que tem a barriga cheia de comida, a vida cheia de conquistas e o sangue escasso de alcool. Pra eles é bem mais fácil. É mais fácil dormir na vitória do que na derrota. Muito mais fácil. Os dêmonios não te cercam, não te arrastam. Seu rosto não é dilacerado pelo chão. Você consegue ir dormir às 22h e acordar às 6h, sentar na cama, colocar os sapatos e olhar pra cima, agradecendo Deus por mais um dia de trabalho. Eu? Não me resta muito. A barriga vazia, a vida como um fracasso e o alcool no sangue. Ainda assim tenho meus luxos, mas não durmo a noite. Quando pego no sono é porque desmaiei pelo alcool, e nada mais me resta além disso. Ao menos durmo algumas vezes. Ao menos sonho algumas vezes.

Zaratustra

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Esperança



A esperança insiste em bater as asas sobre a minha cabeça, circulando de forma bem perspicaz, me fitando com aqueles olhos de lince, aguardando alguma reação positiva. A olho, de uma certa forma me sinto incomodado, aprisionado, obrigado a me mexer de alguma maneira que não seja retrógrada, que não seja tão infame como eu venho fazendo ultimamente. O sol ainda está de rachar, sigo em direção ao boteco, a esperança me segue. Meus trocados sempre são convertidos em bebidas, bebo tudo o que tenho e tudo o que tenho é a bebida. Como se eu fosse um criminoso pelo fato de ser tão niilista, sou olhado de forma repulsiva pelos olhos de lince, ainda esperançosos, enquanto tomo outra dose de conhaque por um real. A esperança busca contaminar um corpo já infestado, já empestiado por tudo o que se pode julgar como "errado" e "imoral". Saio do boteco, com passos vacilantes, tento chegar em algum lugar. Não consigo. Me deito e aguardo a esperança sair do meu raio de alcance, antes que eu comece a atirar pedras contra ela. Mas ela não sai. Permanece ali no alto, em contraste com o sol de rachar e aguardando a minha reação. Foda-se.

Zaratustra

terça-feira, 21 de maio de 2013

Ódio



Abraço o ódio como se conhecesse ele a muitos anos. Na verdade não, na verdade conheço ele desde nascença. O trato como um amigo, como alguém a quem eu possa recorrer nas horas difíceis. Pessoas, pessoas. Odeio muitas pessoas. Elas se vendem, elas se fodem, elas mentem entre si. O ódio percorre meus pulmões, de uma maneira quase intragável. Mas ainda assim ele anda, ele perambula pelo meu interior. Assisto ele fazer seu trabalho, dou risada, xingo sozinho, bebo... Mas só tenho isso, nada mais. Não mudarei nada e as pessoas não mudarão. Ignorância, apareça por favor e me faça sentir menos mal!

Zaratustra

O Inferno



Eu durmo e respiro apertado entre as paredes fedidas do inferno, procurando algum trocado pra beber com dignidade, mesmo que eu caia na sarjeta pela manhã. As cortinas que eu tinha foram sujas com vinho barato, ou ainda, vodka que parece alcool puro, ou ainda, aroma de charutos finos, ou ainda, gorfos de remédios pra insônia. Não me resta opções. Eu nado no inferno, rastejo, sinto seu aroma, converso com seus habitantes, e me espremo pra me adequar, pra não ser mais espremido ainda. Através de cigarros paraguaios e cachaças puras, sinto uma pequena dor no peito, mas ainda assim vivo, vivo e respiro. A dor na garganta, as paredes vermelhas que eu manchei, o sentimento de claustrofobia, nada está resolvido. Nada nunca se resolve, apenas tenho pequenos respiros, pequenas esperanças que o inferno insiste em esmagar e eu insisto em fazê-las nascerem. Enquanto houverem agentes que me façam criar esperanças no inferno, manterei minha sanidade ainda intacta. Por mais que as paredes estejam sujas, essas paredes vermelhas que me espremem, que me fodem. Deus! Espero que a morte seja mais suave do que isso. Que a morte chegue quando eu estiver dormindo, porque sei que acordado o inferno vai me espremer até que eu não respire mais.

Zaratustra

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A garota com quem conversei mais do que 5 minutos



A insônia me fodia faziam algumas longas semanas. Dormia no máximo umas 4h por dia, e isso estava me irritando progressivamente mais e mais e mais. Havia ido dormir na quinta por volta das 6h da manhã de sexta. Acordei umas 9h, com uma daquelas ressacas fodidas de sempre. Me levantei e fui no banheiro. Estava gorfando todos os dias quando me levantava e, detalhe, me levantava sempre bêbado da noite anterior. Dei a descarga, limpei minha boca com as costas da mão. Ia escovar os dentes, desisti. Fui na cozinha, esperando achar alguma bebida na geladeira. Não havia nada. Olhei os armários. Ainda assim nada de alcool. Pela primeira vez em meses minha casa não tinha nada de alcool, e isso me estressava a beça.

- Merda! Devo ter tomado tudo ontem. Merda!

Andei como um zumbi pela sala. Achei a garrafa de vodka vazia e em cacos atrás do sofá.

- Porra, ainda por cima atirei a garrafa com violência no chão... Porra, caralho, buceta!

Eu devo ter tido um ataque de fúria. Sim, andava meio pra baixo, talvez isso explicasse a insônia. Tava me sentindo cansado de tudo da vida, das pessoas, dos papos, dos sims e nãos que a vida nos oferece. Tudo em geral me parecia demasiado enfadonho. Tinha vontade de mandar todos se foderem, comprar meus 3 metros de corda e fugir de vez daqui. Mas me faltavam culhões. Fugia através do alcool, e no momento era o que eu tinha. O alcool e nada mais.

- Buceta! Merda nas bucetas alheias, se foderem. Preciso sair pra comprar alcool às 9h da manhã de sexta. Que a morte seja melhor do que isso...

Banho? Nem pensar. Fui como estava mesmo, com a roupa do dia anterior, o bafo mais fedorento do que um cu de mendigo a vagar pelos esgotos. Sai do meu ap, morava ali na Brigadeiro, do lado do Extra 24h, ainda tinha meus pequenos luxos. Na verdade o ap foi escolhido estrategicamente por isso. Enfim, meus passos arrastados ainda tinham forças para me conduzir ao mercado. Cheguei e fui passeando pela sessão de bebidas. Falava sozinho:

- Hmmm... Uma garrafa de vodka são 10 reais. Vem um litro. Uma de cachaça são 5 reais, também com um litro. Posso comprar dois litros de alcool ruim por 10 reais, ou um litro de alcool bom pelo mesmo valor. O que fazer?

Cocei a barba, mas nem pensei muito. Peguei duas garrafas de cachaça mesmo, foda-se, eu ficaria bêbado da mesma forma, só precisaria ter mais culhões pra beber aquela porra. Mas depois das duas primeiras doses imaginei que ficaria mais fácil. Fui em direção ao caixa. Ela me olhou com uma cara de reprovação, repulsa e pena, sim, tudo isso ao mesmo tempo.

- Cê vai querer nota paulista? - ela perguntou
- Não precisa, brigado.

Passei minhas compras e me arrastei de novo, meus passos estavam arrastados pelo fato de eu estar bem macumbúzio, não era problema com as minhas pernas. Cheguei no ap, coloquei as bebidas no congelador. Tirei a roupa, fiquei de cuecas e descalço. Sentei no sofá, acendi um cigarro. Jogava a fumaça pro alto e pensava na vida. Pensar na vida só me irritava ainda mais, mas caralhos, já que não conseguia dormir seria melhor me manter pensando. Ou não? Na verdade não, e por isso me levantei e fui pegar a garrafa de cachaça no congelador, mesmo que ainda não estivesse gelada. Voltei ao sofá, continuei fumando. Dei a primeira golada, desceu rasgando. Lógico que fiz careta, lógico que pensei uns 7 palavrões diferentes. Na segunda golada, senti um engasgo na garganta, como um gorfo ou algo do tipo, mas os bons Deuses do alcool fizeram ele descer de novo. A terceira golada foi ruim, ainda fiz careta, mas agora só pensei em 4 palavrões. Do quarto gole em diante foi tudo mais suave, e parecia que eu bebia caipirinha, daquelas feitas em Copacabana, bem decentes. Passei a tarde no sofá me embebedando e fumando cigarros e mais cigarros. Não lembro a hora, mas consegui pegar no sono, no sofá mesmo.

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TRIM... TRIM... TRIM... Acordei com o toque infernal do meu celular.

- Merda... Quem será que me fode uma hora dessas.

Olhei a garrafa de cachaça na minha mão, estava com pouco mais da metade do seu conteúdo. Sorri, ainda tinha alcool. Atendi o telefone completamente irritado.

- Alô.
- Carlos! Como cê tá?
- Quem diabos é nesse caralho de telefone?
- Porra, não tem meu numero salvo hahaha Sou eu, o André!
- Hã? - respondi ainda macambuzio
- Porra mano! André, seu amigo?
- Ahh sim, lembrei. Que que você quer?
- Isso é jeito de falar com seu brother?
- Cê me responde uma pergunta com outra... Se foder velho.
- Tá bom foda-se... Você me parece irritado.
- Faz diferença?
- Claro que faz man! Faz dois fins de semana que você não sai de casa!
- E?
- E que você precisa sociabilizar, ou vai enlouquecer, ou já enlouqueceu.
- Estou bem acompanhado.
- Ahh, então arrumou uma vadia e tá metendo pra caralho! Não esquece dos amigos ein hahaha
- Não tem vadia. A melhor compania que eu posso ter sou eu mesmo.
- Ok, você enlouqueceu mesmo. Mas escuta, hoje vamos sair. Baladinha, na Augusta. Qual é, você sempre adorou isso porra! Mudou de uma hora pra outra.
- E?
- E o que caralho?
- E que diferença isso faz?
- Nada. Só quero o melhor pra você, só isso.

Eu ainda tinha alguma consideração com o ser humano, sim, ainda tinha. Resolvi hastear a bandeira de paz.

- Ok André. Agradeço seu convite, mas não posso ir.
- Porque não?
- Tenho outros planos.
- Que planos?
- Faz diferença?
- Faz?
- Que diferença?
- A diferença é que acho que você vai ficar ai sozinho, provavelmente bebendo.
- Tem problema?
- Claro que tem porra!
- Bom, mas esses são meus planos. Como lhe disse a melhor compania que existe sou eu mesmo.
- Vamos lá! Olha, faz assim, como sou seu amigo eu te banco no rolê, só porque tô com medo de você enlouquecer.

Hmmmm, drinks grátis. Porra, eu estava duro, estava bebendo cachaça. Pensei um pouco.

- Sei lá mano.
- Mano, isso porque sei que você bebe como uma esponja! Sei que sua comanda pode dar uns 600 contos. Eu pago. Além do que acabei de ganhar bonificação no trampo.
- Hmmm, beleza, mas eu escolho os drinks.
- Fechou! E me agradeça depois por eu ter te salvo do manicômio hahaha
- Tá bom tá bom... Te encontro aonde?
- 22h metrô consolação bele?
- Ok, estarei lá. Abraços.

Desliguei o telefone e pensei "Merda, quando consigo dormir me acordam! Porra do caralho!" Enfim, iria beber uns drinks grátis, isso talvez valesse a pena. Coloquei a garrafa na geladeira e tirei a outra do congelador. Fui no banheiro, tirei minha cueca, dei uma cagada que cheirava a enxofre, aliás, era pior que enxofre. O Diabo cagava mais cheiroso do que aquilo. Limpei meu rabo, entrei no chuveiro. Parei o banho, voltei pro vaso fedido e gorfei. Acho que o cheiro do vaso triplicou meu gorfo, originalmente incitado pelo alcool. Voltei ao banho. Escovei os dentes enquanto a água escorria pelo meu corpo. Limpei as bolas, o pau, as costas e o resto do corpo. Sai do banho, me enxuguei. Fui no quarto, me vesti com a primeira jeans que achei e também a primeira camiseta. Decidi que ia a pé até o metrô Consolação, a noite estava agradável pra se andar na Augusta...

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A Avenida Paulista a noite parece a Babilônia. A gente vê todo tipo de gente, fazendo todo tipo de coisa, fodendo, andando de skate, se drogando, tocando violão, ou simplesmente pessoas passeando. Cheguei no local no horário. Encontrei André. Ele me cumprimentou efusivamente, me dando um abraço.

- Grande Carlos! Bom que você veio cara!
- É
- E aí, vamos lá? Cê vai ver, mó rolê foda mesmo.
- Sim. Bacana.

Dei um oi geral pros amigos do André, que eu, na verdade não conhecia um, e de novo na verdade, naquela época estava tão irritado que nem pretendia conhecer. Fomos a pé descendo a Augusta. André ia me fazendo perguntas, que eu respondia monossilabicamente. Por fim chegamos em um lugar, uma balada que eu nem conhecia. Dizia André que havia sido aberta à pouco tempo. Era sertanejo que tocava lá. Pensei "Ótimo! A noite não pode ficar pior do que isso!". Entramos, peguei minha comanda. André pediu pra que eu ficasse com a comanda, usasse, e no fim ele pagava. Aceitei a proposta, imaginei que ele tinha boas intenções, acho que ele não gostaria de me embebedar pra me foder no cu depois.

Fui direto ao bar, enquanto o resto do pessoal ainda olhava o local. Pensei em pedir um whisky 12 anos, mas repito, acho que as intenções dele eram boas, e repito de novo, eu ainda tinha alguma consideração pelo ser humano. Resolvi que ia beber só Red Label a noite toda. Peguei minha dose. Olhei a balada no geral. A banda ainda montava seus instrumentos. Por Deus, o que eu estava fazendo ali!? Pessoas que ostentavam a beleza, que sorriam forçadamente, que conversavam entre si demonstrando interesse... Rapazes em cima de garotas, mentindo pra fodê-las, e elas na maior naturalidade, achando legal isso, legal eles ficarem babando o ovo delas. No fim das contas elas eram todas carentes e mimadas, mal-criadas pelos pais, com pais ausentes. Elas viam nesses homens, de uma certa forma, uma figura masculina que durante toda a sua infância havia sido ausente. Ouvir um elogio desses fodelões faziam elas sentirem que seus pais estavam elogiando. "Que nojo, que nojo" Entornei com tudo a primeira dose e disse "Amém". Sim, ainda tentava enganar Deus hahaha. Pedi a segunda dose e ainda olhava a multidão, bem desinteressado mesmo. André chegou com os amigos dele.

- E aí Carlos!? Já bebendo? Hahaha típico seu, esse negócio de queimar largada.
- É
- E aí, bebendo o que?
- Whisky.
- Caralho hahaha eu não tenho fígado pra aguentar essa merda não. Vou de brejinhas mesmo.
- Legal

Ele pediu sua breja, serviu seu copo e continuou.

- E aí, o que você achou daqui velho?
- Legal.
- Só legal?
- Bom, o whisky é legal. O lugar é indiferente.
- Por Deus! Você tá parecendo um velho chato, pelamor!
- Pois é.
- Como você consegue ser tão amargo?
- Sei lá.
- Cara você é a apatia em pessoa.
- Talvez.

Acho que André havia se cansado de tentar puxar assunto comigo. Estava meio caladão ultimamente. Conversava comigo mesmo, e isso me parecia bem legal mesmo. Envolto nos meus pensamentos eu evitava os dos outros.

A banda resolveu começar a tocar. Porra, até que o ritmo sertanejo é bem bacaninha, o violão, com a guitarra e a bateria. Mas o que me incomodava eram as letras. Todas diziam a mesma coisa de formas diferentes. Não existia enredo, muito menos sentido. Eles não usavam tanto a palavra "sexo" como usavam a palavra "amor". Mas eu sabia que esses astros sertanejos usam a palavra "amor" querendo na verdade "sexo" Para eles, as mulheres são simples máquinas de foder, nada além disso. Puta merda, eles mentiam pra conseguir uma foda. Diziam que era "amor", mas na verdade era "sexo" Como eles eram baixos! Puta merda! Nada me fode mais do que mentir pra conseguir meter com alguém. E eles faziam isso descaradamente. E pior: as garotinhas, sim, as mimadas com pais ausentes, caiam no conto do vigário deles. Por Deus, o mundo estava desmoronando e parece que somente eu via. Já estava na quarta dose e isso ainda me incomodava. Mesmo bêbado eu via a verdade que eles sóbrios negavam.

Havia um grupo de garotas, um pouco mais a frente de mim. Percebi que elas me olhavam e davam risada. "Merda!" Pensei, sabendo que coisa boa não era. Um grupo de garotas bem bonitas, mas uma delas era mais feia. Aliás, essas riquinhas não conseguem serem feias, elas nasceram em berço de ouro, comeram leite ninho quando crianças, ficaram fortes, sempre usaram os melhores produtos de beleza e estudaram nos melhores colégios. Seus pais pagavam suas faculdades e o futuro delas estava garantido, de carro importado e baladas sertanejas todos os fins de semana. Seus problemas eram totalmente efêmeros, e mesmo assim choravam desenfreadamente. Ela era gorda, o fato era isso. Enfim, ela veio em minha direção.

- Meu nome é Ana hihihi
- Foda-se

Ela me olhou espantada.

- Como assim foda-se?
- Cê sabe o que significa?
- Sim.
- Então cê entendeu.

Ele me olhou de novo, ainda mais espantada.

- Qual é o seu problema? Seu grosso.
- Pode ser.
- Pode ser o que?
- Pode ser que eu seja grosso
- E pra você é normal tratar pessoas assim?
- A maioria sim.
- Ninguém me trata assim.
- Eu sou ninguém então.
- Cê me acha feia?
- Hã?
- Me acha feia?
- Isso faz diferença?
- Pra mim faz.
- Pra mim não.
- Então eu sou feia?
- Cê é reporter?
- Não. Na verdade faço facul de...
- Então não me faz perguntas e me deixa beber a vontade - interrompi, virando pro balcão e pedindo outra dose.

Ela ficou quieta um instante. Parece que quanto mais você espanta uma mulher, mais ela quer alguma coisa com você.

- Olha aqui, como você pode agir assim com uma mulher? - ela me virou pelo braço.
- Sei lá.
- Cê me acha gorda então! Certeza!

Fiquei quieto.

- Me responde!
- Cê não me perguntou nada
- VOCÊ ME ACHA GORDA? Tá claro agora?
- Isso pra mim não importa nada, tanto que nem merece resposta.
- Você é gay?
- Não.
- Então porque age assim comigo? Só pode ser gay!
- Se eu falar que sou gay cê vai embora e me deixa beber em paz?
- Sim.
- Então sou gay.
- Não senti sinceridade.
- Então só vá! Pelamor de Deus!

Ela ficou quieta. Parecia meio abalada, acho que estava pegando muito pesado com aquela vadia mimada.

- Você ficaria com aquela garota lá - apontou pra mais bonita do grupo.
- Não.

Ela olhou, ainda mais espantada do que antes.

- Mas como assim!? Porque não?
- Porque ela é igual a você.

Ela não havia entendido.

- Você é doente, foda-se! - saiu xingando sozinha.

Por Deus! Um pouco de paz. Parece que quanto mais as pessoas vão bebendo nas baladas, pior vai ficando. As cenas eram cada vez mais grotescas. Enfim, estava na minha oitava dose, bem tranquilo pelo fato de que não iria pagar. Desisti de ver a merda do show, só rezava pra acabar logo, mas eu sabia que, assim como o inferno, aquilo duraria uma eternidade.

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Por volta da minha dose de número 10, André veio em minha direção, já alterado pelas brejas. Me virou do balcão.

- Cara, cê tá muito fechado aí no canto.
- Estou bem. O whisky daqui é ótimo.
- Vamos, te arrumei uma foda!
- Não, valeu.
- É uma garota meio emburradinha de um grupo de garotas que estavamos conversando. Achamos que vocês tem a ver hahaha
- Ótimo. Valeu, mas não quero.
- Se você não sentar lá do lado dela, você paga sua comanda.
- Seu filho da puta! Chantagista do caralho! Filho da puta!
- Sinto muito cara, mas você precisa sociabilizar um pouco.

Merda! Eu estava encurralado. Precisava sentar ao lado dela pelo menos. Mas porra, as mulheres tinham papinhos muito chatos, certamente devia ser outra muito chata, daquelas que eu não consigo conversar mais do que cinco minutos. Porra! Não tinha outra opção.

- Ok, eu me sento ao lado dela.
- Maravilha! Ela está ali ó - ele apontou pra uma garota solitária no balcão.

Fui em direção a ela e me sentei do seu lado direito.

- E aí? - eu disse.
- E aí?

Ficamos quietos por um tempo.

- Eles ameaçaram não pagar sua comanda também? - ela perguntou.
- Sim
- Uma merda
- É

Ficamos quietos por mais um tempo. Ela bebia vodka pra caralho.

- Cê bebe legal - eu disse.
- É você também.
- É.

O silêncio era constrangedor, mas não podiamos sair dali. Estavamos ambos encurralados. Merda!

- Acho que eles querem que você me coma - ela disse.
- Também acho.
- Cê quer me comer?
- Não sei.
- Beleza.

Ficamos quietos mais um tempo. Olhavamos nossos drinks e iámos bebendo, torcendo pro tempo passar mais rápido.

- Somos meio quietos - eu disse
- Não gosto de pessoas
- Eu também não
- Dizem que sou maluca.
- Talvez seja.
- Talvez você também seja - ela retrucou
- Sim, somos loucos.

Ela estava me parecendo uma garota bem legal até. Alias, não queria nada além de beber sua vodka.

- Bukowski diz que não gostava das pessoas - eu disse.
- Bukowski é legal.
- Também curto. Leio qualquer coisa dele e acho bem legal
- Eu também. E tudo que seja marginal.
- Adoro os marginais também.
- Eles são bem legais mesmo.

Pela primeira vez havia conversado mais de cinco minutos com uma garota sem ter mandado ela se foder, ou tomar no cu, ou ainda, me deixar em paz.

- Eu moro aqui perto. Vamos sair dessa merda? - eu disse
- Cê vai me comer?
- Não sei. Só quero ir embora.
- Me parece legal ir embora. Vamos sim.

Entreguei minha comanda pro André. Havia tomado 14 whiskys, ele estava fodido naquela noite. Ela entregou a comanda pra amiga dela e saímos. Pegamos o metrô e fomos pra casa.

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Chegamos no meu ap. Entramos. Nos olhamos e quase que mutuamente fomos um em direção ao outro e nos beijamos violentamente. Nos pegavamos como dois animais no cio, puta merda, ela me arranhava nas costas como se não houvesse amanhã. Enquanto tirávamos nossa roupa, perguntei:

- Qual é seu nome?
- Faz diferença?
- Não.

Continuamos a nos pegar violentamente. Levei ela pra cama. Meu Deus, ela fodia como uma leoa, demonstrava raiva através de sexo. Gozamos juntos e dormimos com sorrisos nos nossos rostos. Não sabia seu nome, nem se eu a veria de novo, mas a noite, enfim, havia valido a pena.

Zaratustra


quinta-feira, 16 de maio de 2013

Mundo perfeito



No mundo perfeito as pessoas seriam críticas e não apáticas. Beberiam às 7h da manhã e não seriam julgadas. Tirariam a roupa e ninguém ficaria espantado. Xingariam uns aos outros de filhos das putas e correria tudo bem. Usariam drogas quando quissessem e ninguém falaria nada. Escreveriam as coisas de forma correta, seriam permitidos erros mínimos apenas. Exalariam alcool no trabalho, aliás, beberiam no trabalho, e tudo seria bem comum. Desistiriam de correr. Não tentariam ficarem bonitas. Se foderiam sem compromisso, todos se foderiam sem compromisso. Não existiria religião, muito menos Deus. Todos seriam ateus ou agnósticos. Teriam alguns animais, sim, animais são bacanas. Não seriam fechadas e nem se isolariam. Não tentariam se matar. A ganância seria crime, assim como o egoísmo e o amor. Não se casariam, muito menos poderiam ter famílias. Filhos? Não não, nosso mundo não iria se procriar. Duraria apenas uma geração mesmo. Não escreveriam em guardanapos em botecos. Organizariam leitura de textos de todos os tipos, e todos deveriam ser respeitados, mesmo que desagradassem. Ouviriam música com algum sentindo. Não mentiriam só pra dar uma trepada. Seriam honestos e diretos uns com uns outros, mesmo que isso fosse foder o próximo. Não cortariam os pulsos com navalhas em banheiros. Dormiriam quando bem entendessem. Jamais teria horário comercial. Acordaríamos ao meio-dia todos os dias. Comprimidos contra ressaca seriam distribuídos gratuitamente pelo governo. Não seria obrigado a ser feliz. Não seria obrigado a ser triste.

Zaratustra

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Público-alvo



Eu escrevo para os degenerados
Os alcoolátras e drogados
Sem futuro e abandonados
Triste e solitários

Eu escrevo para os barbados
Feios e enrugados
Caminhando por aí, largados
Loucos e retartados

Os que leem o que escrevo
Correm sério risco de se matar
Portanto cuidado!
Não saia da realidade
Não tente saber demais
Isso pode custar caro
Pode custar sua vida
Você pode pegar uma maldita arma
Colocar na cabeça e atirar

Não escrevo aos bonitos
Aos belos, aos ricos
Que se vendem
E se rendem

Não escrevo aos inteligentes
Que pegam grandes livros pra lerem
E que saem aos domingos
E fazem piqueniques

Não não, eu escrevo pra parte escrota
Pros que desistiram de tentar
Pros que cospem no chão
E andam com garrafas na mão

Zaratustra

Completamente louco e a tentativa de ir pra outra dimensão



- Merda! Merda, merda, merda!

Sempre quis começar um texto com muita merda. Mas era verdade, eu gritava isso como uma criança grita com os pais por querer um sorvete e eles não darem. Por Deus, aquele isqueiro queimava muito meus dedos, Doiam pra caralho. Não pra caralho, e sim PRA CARALHO! Acho que agora está mais claro. Perdi com certeza ao menos umas 3 impressões digitais, mas nem me preocupava muito com isso, nem com as bolhas no dia seguinte. Acho que o pior das bolhas é que não conseguiria digitar muito bem, ou seja, escreveria com bastante dificuldade. Mas tudo bem, ainda teria muitos dias para escrever mesmo. E escrita muitas vezes me enchia mesmo, era uma atividade enfadonha, mas que me ajudava a ficar bem entretido naquela tarde de sábado.

Meus pensamentos me deixaram acordados por 35h seguidas. E, caralhos, eram pensamentos tão intímos e particulares, que não conseguia juntar palavras para explicá-los. Eu não via palavras nos meus pensamentos, muito menos sentido. Eram imagens, de uma certa forma aleatórias. Não havia um nexo, mas eu as degustava com muito prazer e entendia o que elas queriam me dizer. Entendia de uma forma como se eu fosse um maldito gênio, alguém que via além da vida, que via outro ângulo. Mas eu bebia muito pra ser gênio. Era só um completo louco! Somente isso. As pessoas me falavam quando me ouviam "Carlos, você está enlouquecendo... Procure se tratar, procure um médico, sei lá" Mas em contraponto eu pensava: "Peraí. Se eu estou louco, e me trato, ai volto a pensar como eles. Como todos os que me consideram louco... Mas o que é o certo? O que é o errado? É possível eu estar certo, e eles errados? É realmente isso possível?" Pensei que eu não deveria abandonar minha loucura. Nietzsche já nos disse no seu "Genealogia da Moral" que o que define um homem virtuoso de um homem vicioso não pode ser explicado de forma tão direta como é. Os próprios sãos e intelectuais dizem que "Sua palavra e seu poder de decisão é o que você tem de mais importante" Vou largar o que eu tenho de mais importante? Não. Se acham que eu sou louco, que represento perigo para mim mesmo ou para a sociedade, que me internem num maldito manicômio. E podem ter certeza, que ainda lá eu ficaria num canto, com os olhos arregalados e escrevendo em folhas de rascunho toda a minha loucura. Cuspiria os remédios. E foda-se, que me dessem choques então! Jim Morrison era louco? Friedrich Nietzsche era louco? Arthur Schoppenhauer era louco? Arthur Rimbaud era louco? Honestamente, pra todos sim, menos pra mim, e mais alguns outros caras e minas que são completamente malucos e afetados.

Não queria mais ficar desse lado da vida. Estava cansado. Era tudo sem graça, e tudo fácil demais. Se quer uma mulher, vai-se num puteiro. Um bom emprego, é só entrar numa boa faculdade. Amigos são consequências do sistema de ensino, ou da sociabilidade inevitável. Ter carros, casa, filhos, esposa? Isso tudo pra mim soava muito sem graça, mesmo não sendo fácil. Muito chato. Cair nessa rotina. Eu precisava alcançar outra coisa. Eu sabia que a vida tinha mais a oferecer do que isso. Tentei alcool, sem sucesso. Drogas, sem sucesso. Eu somente bebia ainda, com as drogas estava devagar. Pensava nesse outro lado "Será a morte? Será a maldita morte esse outro lado?" Às vezes por isso queimava os dedos. Tentava sentir menos dor, tentava chegar mais perto da morte, sentir seu cheiro, brincar com ela, conversar. Queria saber se ela tinha algo pra me oferecer que a vida não estava conseguindo. Mas sei lá, isso ainda era pouca coisa. Precisava brincar mais, chegar mais longe, morrer por cinco minutos e voltar, assim como naqueles casos paranormais. Mas isso não acontecia e eu permanecia nessa dimensão ainda.

Zaratustra

terça-feira, 14 de maio de 2013

Um pouco de dor



Dor!
No fígado
rins
e costas

Talvez seja necessário
sentirmos um pouco de dor
às vezes
Estar tudo bem
tudo certo
É honestamente
muito chato

"Limpar o gorfo na parede?"
Me perguntei
mas a dor
não me deixava
fazer porra nenhuma
naquela manhã cinza
Depois de uma noite
alcoolatra e insone

Estava no fim
da minha garrafa
A janela fechada
e o sol raiando
e as pessoas
indo ao trabalho
deveriam reclamar
do ônibus lotado
Ou do trem
que ficava parando
e as velhinhas
Que não fazem nada
o dia inteiro
e marcam suas consultas
com médicos pomposos
Exatamente
às 9h da manhã
E do calor
e das pessoas
e do funk no celular

Precisava me levantar
pegar outra garrafa
Mas eu estava
Fodido
"Vou morrer nessa cadeira
foda-se nao saio daqui nunca mais"
Precisava dormir
Talvez um gato
com manchas cinzas
no rosto
Ou talvez
ter alguém em casa
pra me trazer as garrafas
Ou ainda
que a maldita dor
fosse embora!
Isso me animaria
a beber ainda mais
e deixar o gorfo
na parede por mais
Poucos dias

Talvez morresse
ainda hoje
Na cadeira
Ataque cardíaco
ou ainda
Coma alcoolico
"Ao menos a dor
iria embora"

Me sentei na cadeira
Fumava cigarros
Bebi o resto
da minha garrafa
com vodka
Bem barata
O tempo precisava passar
eu precisava envelhecer
Ou ainda
Poderia morrer
jovem
E ser poupado
Desse mundo restrito
realidade que te fode
que tira sua liberdade
As pessoas eram
todas cegas, todas elas
Achavam que
por ter uma casa
com dois carros
E os filhos
em boas escolas
Elas tinham tudo
Não somos nem dez por cento
de tudo que podemos ser
Talvez eu quissesse
me libertar de algo
algo sairia
do meu peito
E a dor talvez
passaria

Fiquei na cadeira por mais
5 horas
Me levantei
Deitei
Me levantei de novo
peguei outra garrafa
e com as goladas
Fui liberto
e saiu algo do meu peito
E foi correndo
para o ralo
Do banheiro
Entrou lá
sumiu
Me senti vivo!

Zaratustra

A morte cheirava à whisky



Ernesto estava bebendo todos os dias já faziam 135 dias. Um cara meio fechado, sem muitos amigos, sem festas, sem sociabilidade. Sua vida se resumia em beber todas as noites quando chegava do seu emprego, que aliás, ele detestava, então melhor nem falar disso. Durante a semana bebia somente de noite, aos finais de semana costumava começar a beber logo pela manhã, e ficava assim, bebia e se dedicava a beber.

Seu corpo porém não queria muito lhe ajudar, e no dia número 136 teve um colapso. Seus vizinhos ouviram ele gritando de dor, acharam estranho, invadiram o apartamento dele e o levaram ao hospital o mais rápido possível enquanto ele gorfava mais sangue do que um ser humano possa imaginar que tenha dentro de si. Ficou em repouso no hospital, desmaiado por 4 dias. No quinto ele acordou, e viu o médico vindo em sua direção, com um conjunto de papéis na mão.

- Vou ser direto Ernesto. Seu fígado está um lixo! Acho que é o pior que já passou por aqui - o médico disse, balançando a cabeça negativamente.
- Quem diabos é você? - Ernesto questionou ainda com os olhos meio fechados.
- Ahhh sim, desculpe. Sou o doutor André, médico responsável por você... Muito prazer! - André esticou a mão.
- Tá tá tá bom - Ernesto bateu na mão de André sem o cumprimentar - cadê meu drink?
- Por Deus! Você não me ouviu!? Seu fígado está completamente fo-di-do!
- E daí? Vou embora dessa merda! Tô ótimo e não tô bebendo aqui, melhor ir embora - Ernesto foi se levantando da cama.

André tentava impedir Ernesto de colocar suas roupas e pegar suas coisas, mas em vão. Ernesto assinou a papelada pra sair de lá quando André tentava impedir de novo que ele se fosse.

- ME ESCUTA ERNESTO! - Ele gritou atônito.

Bem tranquilo, Ernesto parou na frente de toda a pomposidade daquele médico. Olhou ele nos olhos e disse:

- Tá bom... Que que você quer me falar?
- É sério! Se você beber qualquer coisa, mas qualquer coisa, você morre! É verdade!
- Hmmm... Até whisky? Morreria se eu bebesse whisky? Não posso mais beber pro resto da vida?
- Sim! Nunca mais você pode beber! - Andre disse apreensivo.

Ernesto olhou pro chão, reflexivo... Ainda bem tranquilo disse:

- Bom, se eu não posso mais beber o resto da minha vida, aí sim, tenho um bom motivo pra beber. Tchau doutor. Abraços!

Ernesto foi saindo e deu leves tapinhas nas costas de André.

- Tá bom, só não diga que não avisei! Seu louco! - André saiu, jogando o conjunto de papéis pro alto.

Saindo do hospital, Ernesto passou num belo bar, localizado ali na alameda Lorena, especializado em bebidas caras. Sentou no balcão, acendeu um belo charuto, que havia comprado há umas 3 quadras atrás. Chamou o garçom.

- Escute aqui... Qual é o whisky mais caro que você tem?
- Temos um whisky Chivas de 68 anos de idade.
- Hmmm... Mais velho do que eu. Ok, me traga uma dose por favor... Mas eu pago só depois de beber né?
- Sim. O senhor pode tomar a dose e pagar na saída.
- Perfeito! Pode trazer então!

O whisky foi trazido pelo garçom rapidamente, não deu tempo de Ernesto pensar muito. Quando o copo chegou, foi olhado cuidadosamente. Olhou o líquido no copo, o admirou bastante. "A morte cheira a whisky agora..." Ele pensou e deu uma risadinha. Virou a bebida goela adentro numa única talagada. Colocou o copo na mesa. Sim, era o melhor whisky da vida dele, nunca bebia coisa cara, só cachaça Corote e Bavárias. Não, ele não morreu. "Droga! Vou ter que pagar a bebida!" Apesar de irritado, saiu de lá feliz e fumando seu charuto. Pagou a conta, parcelou em algumas vezes no cartão de crédito. Foi pra casa, bebeu mais um pouco e dormiu como um anjo, feliz por saber que ainda poderia beber pro resto da vida.

Zaratustra

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Um ar meio melancólico



Precisava arrumar meu quarto depois daquela farra. Mas desisti. Resolvi que ia beber mais um pouco e pegar o caderno pra escrever algo. Exageros? Todos temos, todos temos formas de externar algo que não sabemos exatamente o que é. O fato é que fazemos coisas que queremos, que gostamos, mas na verdade a gente poucas vezes sabe o motivo de porque fazemos. Existe algo maior, muito maior por trás de todas as bebedeiras, por trás de todos esses malditos exageros. Preenchemos algum vazio e tentamos externar algo. Caralho, eu bebia pra caralho faziam cerca de dois anos, justo depois do meu divórcio. Será que eu bebia pra tentar preencher o espaço dela? Porque não havia arrumado uma namorada decente em dois anos? Sim, eu tinha algumas propostas, mas recusei todas. Meu caso era simples: medo de me entregar a algo, medo de me dedicar, medo de ter que agradar alguém, medo de sorrir quando ela contasse algo engraçado do trabalho dela. Era isso. Eu não queria compromisso, mas ao mesmo tempo eu tinha que preencher um vazio. Meu corpo pedia, minha mente também, que eu tivesse um relacionamento, que eu namorasse alguém, pensasse no futuro, fizesse planos e comprasse um carro. Era bem legal isso, mas e se desse errado? E se eu fracasasse de novo? Assim como destrui meu casamento, eu poderia destruir de novo. Ainda não tinha culhões pra recomeçar tudo. Bebia, fugia e a vida andava. Resolvi que era melhor parar de pensar na vida. Tava com um ar meio melancólico. Bebi mais uma lata de cerveja, comi um pão com queijo, peidei e tentei dormir de novo.

Zaratustra

domingo, 12 de maio de 2013

No bar (parte 2)



Ela lambia os lábios como uma vaca. Sim, ela era uma vaca das bem sujas. Eu só bebia e via o cruzar de pernas dela. Tava triste, "todos só fodem e chupam e gostam disso" Me senti meio mal. Mas aceitei que as mulheres são todas putas, e que isso faz parte. Foda-se elas. Eu bebia e isso era bem legal. Ninguém metia no meu cu, sei lá, parecia legal manter o cu intacto. Solteiro, sem foder, só bebendo. As pessoas me falavam pra parar de beber. Eu bebia pouco! Queria mais. Queria vomitar minha vida. Talvez chorasse, ou não. Tava destinado a ser solteiro, bêbado e drogado.

Zaratustra

No bar (parte 1)



Eu realmente não entendia porque eu bebia naquele bar sujo e fétido. Estava irritado sem motivo. As pessoas fodem e transam e se amam. Porque? Pra que tudo isso? Senti saudades da minha vodka, do meu quarto. Da minha vida fora dali. Caralhos, todos se pegavam e eu somente bebia. Porra, me senti bem mal mesmo. Eu bebia muito? Me drogava muito? Sei lá. Ouvia a banda tocar e me sentia triste. Por Deus! Eu ia ser solteiro pra sempre. Deus me dê uma boceta! Merda! Deus nem existia, eu bebia e escrevia em guardanapos. Bêbado? Claro. Triste? Acho que sim, pelas vacas que comiam os caras, eram todas vacas! Olhava a loira do lado do balcão. Fumava cigarros e tinha belas coxas. Eu a foderia fácil. Mas ela provavelmente gostava dos playboys, peitos depilados e casas de veraneio. Acho que tô ficando chato. Me aplaudam, me beijem. Eu nem ligava pra nada. Bebia. Meus amigos fodiam. Eu bebia. Destinado a isso? Acho que sim. A cara pesava. Chorar? Não, valeu. Ainda bebia muito e o tempo passava. Chega! Nada mais de sair de casa e ver pessoas fodendo pessoas. Ia ficar trancado. Meu quarto era meu templo. Beberia e bateria umas 4 punhetas ao dia. Valeria a pena.

Zaratustra

sábado, 11 de maio de 2013

Sair de casa!



Eu precisava tomar um banho. Escovar bem os dentes. Pentear a barba, mas não o cabelo. Colocar uma roupa bonita. Pegar o ônibus, chegar ao destino. Ver pessoas. Rir. Beber. Comer alguma coisa. Me relacionar com elas, perguntar se estavam bem no trabalho. Saber se suas famílias ainda faziam aquele almoço de domingo a tarde, com macarrão ao molho com azeitonas. Ver se elas ainda namoravam, fazer uma piadinha suja sobre elas transando com seus parceiros. Rir mais um pouco. Ouvir uma boa música no bar. Beber? Claro, beber mais um pouco. Não vomitar na minha camiseta. Mijar algumas vezes o que eu tinha bebido. Perguntar mais pras pessoas se estava tudo bem. Sociabilizar. Essa era a palavra. Talvez ainda tivesse com fome, talvez ainda pedisse outra porção de fritas e duas cervejas pra quatro copos. Ficar bêbado. Ver os outros ficarem bêbados. Rir do fato de todos estarem bêbados. Chamar a garçonete de chuchu. Ela riria, eu também, e todos também. Me levantar da mesa, e levantar a minha calça. Estava meio magro. Pagar a conta, no débito. Digitar a senha. Pegar a comanda, dessa vez carimbado em letras garrafais "PAGO". Entregar ao segurança na porta. Andar com meu passo vacilante ao ponto de ônibus. Talvez eu bebesse uma brejinha ainda, em algum boteco sujo, que tinha na frente do ponto. Pegar o ônibus. Chegar em casa. Abrir a porta. Entrar. Tirar as calças, e os tênis. Rir mais um pouco sozinho. Pegar no sono e dormir.

Zaratustra

Mulheres que se rebaixam



Eu assistia a aquele video porno, concentrado na minha punheta, mas me peguei pensando "caralhos, como essas mulheres se humilham!" sim, é vergonhoso ficar de 4, com um cara em cima de você, socando na sua buceta uma grande jiromba, socando com força, não pra você gozar, e sim pra ele. Ele tá só usando a buceta da mulher pra masturbar o pau dele, não o contrário. Humilhante! Mas mais humilhante ainda era eu batendo punheta pra tudo isso. Fechei o video, decidi que ia beber, era mais honrado do que me masturbar pras mulheres submissas.

Zaratustra

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Porque eu bebia tanto?



Puta merda... Nem entrava mais cocaína no meu nariz. Eu já nem cheirava mais tanto "Havia perdido a graça" Eu pensava. Se era mentira eu não sei, mas me parecia bem mais fácil beber e não cheirar. Enfim, minha vida seguia muito bem ainda. As pessoas me chamavam pros rolês, às vezes eu ia, às vezes não. Houveram dias em que preferi ficar em casa. Lia Bukowski desenfreadamente, ouvia Alice in Chains e Nirvana e bebia como uma esponja. Bem legal isso, de ficar em casa e beber sozinho. Gostava mesmo, e fazia isso bastante. Chorei naquela tarde de sexta-feira, mas juro, não sabia o porque. O telefone insistia em tocar, me ligavam, me chamavam, insistiam em me chamar pros rolês. Eu era, naquela altura, o Carlos Louco! Me adoravam, sim, todos me adoravam. Gostavam da forma como eu me drogava. Viam aquilo e pensavam "Bom, eu tô de bouas perto desse degenerado!" Acho que era por isso que me adoravam... Mas naquela noite de sexta eu já havia bebido tanto, mas tanto, que nem sentia meu rosto mais. Tava tudo anestesiado. Por Deus, eu era um completo degenerado, nem andar mais eu conseguia. Chamei a Carlinha pra sair no sábado, sim, estava me dedicando a uma mulher, mesmo ainda com medo de me apaixonar (porra! eu estava apaixonado???) Jesus, me ajude! Porque eu bebia tanto, porque? Queria só saber o motivo, só isso! Estava preso no alcoolismo, sem ao menos saber o porque. Porque eu bebia? Eu nem sabia na realidade. Mas enfim, a vida seguia e as coisas andavam e isso que importa né?

Zaratustra

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Medo de se apaixonar?



Estava mesmo começando a gostar da Carlinha, e porra, isso realmente me preocupava. "Por Deus, eu estava bem, bem mesmo, adorava minha vida, estava feliz e tranquilo, porque aparece uma mulher agora, porque???" Eu me questionava sem esperar uma resposta enquanto bebia conhaque com contini, a tradicional maria-mole. E sim, minha vida estava bem foda. Havia sido promovido no meu trabalho, bebia bem, as vezes rolava uma droga, mas estava na maciota, essa era a palavra: maciota. Nem pensava em mulher, pensava em transar bastante, foder o maior número de fêmeas, e só isso. Me apaixonar? Nem fodendo, nem fodendo mesmo!

Me levantei do sofá e fui na sacada do meu apartamento. Acendi aquele Marlboro vermelho que queimava bem na minha garganta. Bebia a maria-mole pra ajudar a amaciar a fumaça do cigarro que entrava no meu pulmão. Senti um catarro, catarrei com força no ralinho da sacada, vi algo meio marrom "caralhos, estou cagando pela boca agora?" Pensei, sabendo que eu falo muita merda, mas imaginei que era sangue esquisito e só isso. Enfim, havia desviado meus pensamentos da Carlinha pra pensar no catarro "Talvez eu nem esteja tão apaixonado hahaha" Ri bem alto.

A Carlinha era o tipo de mulher que não se acha fácil. Haviamos saído três vezes. Tentei foder ela nas três, mas sem sucesso. Lembro principalmente da segunda vez. Nos beijavamos loucamente no sofá do meu apartamento, fui descendo levemente com a mão em direção a sua calça jeans, bem surrado alias, mas que vestiam bem naquela bunda maravilhosa. Consegui abrir o botão, quando tava no ziper ela puxou minha mão gentilmente e a colocou no seu rosto. Tentei de novo, ela me mordeu nos lábios, cessou por um instante os beijos e disse "Nananina não mocinho hihihi" Nem respondi nada, aceitei, fazia parte, mas estava determinado a fode-la algum dia. Ela lia Bukowski, Nietzsche, Schoppenhauer, Thompson, Ginsberg, Kerouac entre outros escritores marginais. Gostava de ouvir grunge, MPB, as vezes um metal. Nos dávamos muito bem mesmo! E era bem desenhada. Nada no estilo modelete, não tinha um corpaço, mas seu corpo era interessante. De brinde ainda dizia que eu era pauzudo, mesmo sem nunca ter visto. Segundo ela "seu pau faz um bom volume nas calças... Deve ser grande!" o que de fato era mentira, meu pau certamente era menor do que minha inteligência e meu alcoolismo!

Enfim, eu bebia mais e mais maria-mole, tentado a ligar pra ela, pra conversar mais sobre a literatura marginal, sobre os grandes filmes que gostavamos, mas eu sabia, eu sabia que não poderia me apaixonar nessa altura da minha vida. "Pra que namorar, pra que? A vida está boa sem relacionamentos sérios. Mantenha-se assim Carlos, mantenha-se!" Pensava enquanto tragava mais um Marlboro e via as pessoas como formigas do alto do meu prédio. Resolvi naquela tarde que não iria prosseguir com aquilo. Ela ainda me chamou algumas outras vezes, mas eu sabia que não valia a pena se apaixonar enquanto tentava foder ela. Menos uma buceta, mas apareceriam mais, e tudo prosseguiria como deve ser. Sem Carlinha, somente com o alcool e meus textos enfadonhos.

Zaratustra

quarta-feira, 8 de maio de 2013

A primeira pergunta



Sempre que ligam pra mim, a primeira pergunta é: "Você está sóbrio?". Engraçado, geralmente perguntam pras pessoas "Aonde você está?" "E aí, tudo bem?", mas comigo tinha que ser diferente... Sim, fama de alcoolátra. Mesmo que eu fique sóbrio, isso ainda vai continuar por anos!

Zaratustra

Alimentação saudável



Café da manhã: Pastéis e cerveja
Almoço: Dois pães com mortadela e vodka com água
Jantar: Pipoca na manteiga e cerveja

Sim, estava bem saudável mesmo!

Zaratustra

Papo de mulher - blablabla - papo de mulher!



Por Deus! - eu estava usando muito o nome de Deus hahaha - Sim, eu somente bebia, e não me preocupava com muita coisa. Tomava aquela vodka barata como água, e me parecia interessante.

- Pois é hihihihi estou fazendo facul de hihihihihi *bla bla bla* algo relacionado com RH. E sim, estou a procura do namorado perfeito. Alguém que *bla bla bla* e seja decente, e que me ame, e que goste das minhas *bla bla bla* e que minha familia conheça e eles se deem *bla bla bla* e que me ame pelo que realmente eu sou!

Eu ria daquilo, mais pelo fato de que eu nem prestava atenção, na verdade olhava somente para suas coxas volumosas e isso me parecia mais interessante no momento. Tudo pra mim era um grande *bla bla bla* e me sentia bem por isso. Eu só olhava, sorria e bebia, e deixava aquela puta falar. Caralhos, eu estava bem bêbado naquela altura.

- Sim, porque *bla bla bla* e ter algo no futuro! Nem só de trabalho vive alguém *bla bla bla* e por isso que me esforço! Quero ser *bla bla bla* sem ser essas vadias por ai! Além do mais *bla bla bla* e mereço o mínimo de respeito!

- Claro Flor, claro! - eu concordava, já pensando no meio das pernas dela! Eu queria era foder, o resto a gente aguentava e a vida seguia bem assim. Ouvir? bem pouco, mas funcionava com as vadias, e tudo seguia bem.

Lembro que consegui comer aquela vagabunda naquela noite. Ela insistia em falar "Meu Deus, porque essa porra não cala a boca e chupa o meu pau na maciota?" Pensei, mas ela insistia em falar! Empurrava a garganta dela contra meu pau, e fingia não escutar, na verdade eu nem escutava mesmo:

- Ainda bem que você me *bla bla bla* e a gente tem uma conexão né? Odeio me sentir *bla bla bla* e solitária num *bla bla bla* sem ter ninguém. Te *bla bla bla* mas só você, sem putice!

Depois que eu gozei na boca dela, dormi feito um anjo, e sim, o dia foi um dos melhores de toda a história do machismo! Caralhos, eu era um doente, mas foda-se, me divertia e isso que estava valendo porra!

Zaratustra

terça-feira, 7 de maio de 2013

O bilhete da vodka Natasha



Acordei fodido. Não lembrava de nada na noite anterior. Corri para o banheiro, gorfei minha vida ali naquele vaso. Na verdade era só água, estava comendo pouco por causa da cocaína. Havia emagrecido uns quilos, mas isso não é assunto pra esse texto. Enfim, gorfei bem mesmo, o vaso ficou fedido pra cacete. Fui na sala, encontrei um bilhetinho. Poderia ser um bilhete de amor, mas não era. Ele dizia:

- Não escovei seus dentes. Não coloquei teu pijama. Liguei pro seu amigo Luis. Falamos groselhas, sobre você querer foder uma caixa de som e sobre como os unicórnios são seres injustiçados pela ditadura. Ahhh, e liguei pra Lisa, eu disse que ainda amo ela, mesmo ela estando com aquele filho da puta do Pedro. Postei no FaceBook que você é um fracasso, e que gosta da "noite e do alcool". Sim, entre parenteses mesmo. Fiquei com dó de dizer que você cheirava, quem sabe na próxima... Outra coisa, estava meio carente, resolvi que ia dormir abraçadinha com você. Claro que coloquei você pra dormir na escada, adoro essa dor nas costas que te estressa. Você fica tão lindo irritado! Bjsss

Ass: VODKA NATASHA

Caralhos, eu estava com muito azar. Maldita vodka, havia me fodido no rolê! E sim, eu havia dormido abraçado com ela. Sim, havia dormido na escada, e sim de novo, estava com uma dor nas costas dos infernos. Sei que é deprimente, mas foda-se, o bilhete havia sido bem melhor do que tudo o que a vodka havia me feito fazer na noite anterior. Resolvi voltar a dormir, dessa vez na cama mesmo, e pra não perder o costume, dormi abraçado com a vodka Natasha.

Zaratustra

Bêbado com duas doses!



Bebi pouco
Juro que bebi pouco
Duas doses, nada mais
Vodka pura, duas doses
Me senti fraco
Me senti mole
Me senti embriagado

Por Deus!
Eu estava ficando fraco
pro alcool
Precisava parar
Tinha medo de beber mais
E fazer merda
"Ligar pra Lisa
Abrir o jogo
Assumir a cocaína"
Não podia
Mas eu queria ainda
beber mais
do que poucas
duas doses

Coloquei na minha mente
"Não falar nada
Não dizer nada
para ninguém"
E mantive isso
até que bem
Na maciota
Sem dizer nada

Sim, estava bêbado
Com meras duas doses
Mas fui empurrando
o alcool
Goela abaixo
E ele foi indo
E eu sem ver direito
Quando me dei conta
Havia tomado mais
de onze doses
Por Deus!
Estava bêbado

Escrevi
Não gostei
Apaguei tudo
Desisti
Bebi mais
Desmaiei
Dormi
O dia nasceu
Eu também
O gorfo no chão
Limpei
E tudo prosseguiu
normalmente
E por mais que
Eu ficasse bêbado
com meras duas doses
Eu empurrava mais
e a vida seguia

Precisava
de um tempo
do alcool
Mas esse tempo
ele não me dava
Ao menos ainda bebia
E pensava
e escrevia
Quando conseguia
E tudo ia
na maior conformidade
Deitei
Dormi
Nasci
E assim fui
Prossegui
Com a rota perdida
Destruindo minha vida

Zaratustra

Qual é o preço da sua vida?



- Qual é o preço da sua vida? - Helena me perguntou, atenta.
- Hmmm, não sei... Defina vida. Ou melhor, defina preço e defina vida. - respondi impaciente, mexendo bem a perna, parecia que queria mijar, mas não, só estava agitado mesmo.
- Quanto custa pra você viver bem? Quais são seus planos e expectativas?
- Hmmm, olha, honestamente - eu ainda bebia aquela vodka barata direto da garrafa, mas ainda não estava muito bêbado. Dei uma golada - não sei... - interrompi pra tossir, aquela vodka havia me fodido - desculpa. Então não sei. Minha vida parece boa. Não sou rico, não tenho carro, moro de aluguel, ganho o suficiente pra bancar isso. Pago algumas continhas. O que sobra gasto tudo em alcool, mas me sinto bem assim. - encerrei, bebi mais, mas agora não tossi, fui macho!

Ela me olhou bem. Ficou quieta alguns instantes. Aproveitei pra beber.

- Isso é deprimente Carlos. Como você pode viver sem ter planos? Sem querer ter família, carro, uma boa casa. Deixar uma herança pra alguém, construir algo. A bebida não constrói nada, e você é inteligente pra perceber isso né? - ela parecia um pouco irritada, mas coisa pouca.
- Hmmm, te entendo - eu golava a vodka bem mais fácil agora, estava conseguindo ficar bêbado - mas veja meu lado. Tenho 32 anos, ainda não encontrei nenhuma mulher que me convença a casar. Filhos eu não quero de jeito algum, acho que o mundo está bem cheio já. E sobre não ter planos, sim, não tenho, mas gosto de viver! O que faz eu gostar de viver é o alcool, não posso perder isso... né? - retruquei a pergunta, dando mais uma grande talagada.
- Sim sim, mas todo mundo tem que ter uma família! Caralhos, é a base do ser humano!
- Tenho amigos - minha perna já nem mexia mais, estava tranquilo - É melhor do que família: você os escolhe, e estão sempre lá. E se alguém te foder, é só cortar relações. Meus amigos são minha família.- entornei mais vodka.
- Pois é, mas eu fiquei sabendo que você mal sai de casa... Só bebe! - a irritação dela estava crescendo.
- Ahhh sei lá... Tenho aversão a fazer reuniões, ver pessoas, todos muito irritados, enchem o saco, roem os culhões - bebi mais um pouco - sempre reclamando, tenho aversão, juro que é mais fácil fazer tudo sozinho... E mais interessante também.

Porra, o olhar dela era penetrante. Eu não podia encarar a verdade assim, tão de perto. Ela nem era minha terapeuta, não era nada. Ela era uma amiga de longa data que me chamou pra sair depois que meus amigos haviam falado pra ela do meu estilo de vida, digamos "alternativo" regado à muito alcool, mas que eu havia convencido a colar no meu apartamento. "Lá os drinks são mais baratos" pensei.

Enfim, eu ainda bebia muito bem, obrigado, e ela me olhava sempre séria e com um olhar penetrante que me roia os culhões.

- Carlos, eu quero muito te ajudar, mas você precisa de uma reação... Não dá pra te forçar a nada entende? - ela parecia um pouco mais carinhosa agora.
- Obrigado Helena, obrigado mesmo. Mas no momento estou bem assim. Porra, se eu quissesse me matar eu me preocuparia, mas vivo bem, não estou triste por não ter planos, ou não ter família, ou não querer ir viajar no feriado com os amigos. Ouço boa música, bebo bastante, pago minhas continhas e minha vida vai muito bem, obrigado. - entornei mais um pouco da vodka, a garrafa já estava um pouco abaixo da metade.
- Tudo bem, acho que não adianta mesmo eu ficar enchendo o saco. Bom, acho que vou embora, mas se precisar de alguma coisa, promete que me liga? - ela disse bem solicita.
- Claro Helena muito obrigado mesmo. - levantei a sobrancelha em forma de carinho e conduzi ela pra porta.

Depois que ela saiu voltei ao meu sofá. Continuei entornando a vodka "por Deus! Sossego, alcool e meus pensamentos... Puta merda, sou um cara feliz!" pensei e continuei bebendo até acabar com a garrafa e pegar no sono.

Zaratustra

Nada além de um canalha



Quando eu acordei, abri os olhos com muito cuidado. Ela ainda dormia, com o corpo coberto levemente só pelo lençol. Me levantei com muito cuidado, peguei minhas roupas que estavam esparramadas pelo chão, desviando das latas e garrafas que atrapalhavam meu caminho. Caralhos, o quarto estava uma zona! Os sapatos levei carregado nas mãos, e segui nas pontas dos pés em direção ao banheiro. Tive culhões para escovar os dentes, mas nem tanto pra tomar banho, só dei uma lavadinha básica no pau e estava tudo certo. Eu havia me tornado somente mais um canalha, mais uma transa que as mulheres se arrependem e choram depois. Um cara que as mulheres usavam pra mostrar pros seus pais "viu, viu como odeio vocês! hoje sou só uma vadia que transa com bêbados e degenerados, como o Carlos!"... Fiquei um pouco abatido, mas depois pensei "bom, ao menos tenho sexo né?" Enfim, era melhor eu ir embora.

Fui na cozinha e tive culhões de pegar a última cerveja que tinha na geladeira, restos da noite anterior. Comecei a escrever um bilhete:

"A NOITE PASSADA FOI FODA... MUITO BOA! EU TE LIGO EIN?"

- Que mané bilhete hahahaha. Foda-se essa merda...

Amassei o papel, guardei no bolso. Nem valia a pena ficar de declarações falsas. Seria melhor escrever algo do tipo "Até nunca mais, valeu a buceta ein!" Mas isso soaria um pouco grosseiro... Enfim, abri a porta com todo cuidado, calcei os sapatos. Saí de lá me sentindo um preso que pega liberdade condicional, estava muito bem. Abri a cerveja, acendi um cigarro e ainda tinha fôlego pra ir pra outro boteco tentar repetir o processo. Me sentia vivo!

Zaratustra

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O jeito errado de levar a vida bem!



Caralho, eu estava me sentindo muito bem mesmo. Total oposto do moço triste que se escondia pelos cantos dos comodos, tentando não ser visto, lendo muita filosofia deprimente e xingando o mundo. Nem chorava mais, estava vivendo tranquilo. A palavra do momento era "maciota", sempre estava na maciota, sempre mesmo. Nada de reclamações, se eu pegava uma fila grande no caixa, ficava de boa. Pagava as contas tranquilo, sem chororo, fazia parte, tinha que manter meus pequenos luxos. Se dava alguma merda, eu ficava tranquilo, "Maciota, essa é a palavra... Maciota!" Pensava nisso como um mantra, e estava de boa. Mulheres, nem pensar ficar mal por mulheres, alguma hora apareceria a mina certa, não valia a pena chorar por uma ou outra que chutou meu rabo. Ocasionalmente aparecia uma boa foda, mas era coisa rara, e eu nem me preocupava também, tentava curtir quando tinha e levava minha vidinha de solteiro de forma bem honesta.

Pode parecer errado, mas ainda curtia minhas droguinhas e bebia feito uma esponja. Sei que está errado, assumo que isso vai me foder, mas eu nem ligava, precisava ficar tranquilo, e o alcool e as drogas me ajudavam a passar muito bem meus dias. Entornava os copos de vodka pela goela e me sentia anestesiado, estava feliz, ouvia uma boa música, tomava meus porres e conclui: "Esse é o jeito errado de levar a vida certa... Foda-se."

Zaratustra

O gorfo



Eu lembro do vômito no chão! Caralhos, como eu forçava aquilo a sair de mim. Eu gritava, abria a garganta de forma bem violenta, ele até saia, mas estava me fodendo bastante. Porque, porque eu havia bebido tanto!? "Caralhos Deus, cê tá aí? Deus, você existe? Me ajude agora, por favor, estou morrendo aqui e você nada faz!" Eu choramingava feito uma menina de 11 anos que é estuprada por usar um vestido curto demais, ou seja, estava sem razão pra chorar assim. O gorfo ainda saia, caralhos, eu estava bem fodido, gorfava só líquido, não tinha comido nada, eu gorfava só o alcool. Aquele gorfo saia rasgando as ventas, eu chorava, porque, porque eu chorava? Não sabia ao certo. Sei que eu estava no inferno, bebia e gorfava e minha vida seguia de forma bem honesta naquela altura! Virei pro lado, gorfei no balde, chorei mais e mais e de novo, e meu fígado doia ainda mais, mas foda-se, aprendi que gorfo, como tudo na vida, é passageiro... Gorfei mais um pouco, chorei mais um pouco, desmaiei no sofá da sala e tudo voltou ao normal!

Zaratustra

Beber ou não beber?



Estava bêbado há
cinco dias
Olhei pro relógio e ele apontava
cinco horas da manhã

Meu fígado chorava
Pensei
"Beber ou não beber?"
Tava meio cedo pra beber

Minha cara estava pesada de bêbado
Lembro que eu ouvia Alice in Chains
Precisava beber
Mas estava meio cedo

Desisto
Peguei a dose de vodka com água
Entornei tudo numa talagada
Por Deus!
Eu era um doente
Alcoolatra
e degenerado!

Zaratustra

Feliz aniversário e a decadência!



Foi naquele dia cinza de maio que me bateu uma depressão. Afinal, Paulinho tinha exatos 22 anos, na verdade comemorava 22 anos, e eu tinha, naquela altura da minha vida, também 22 anos. E eu estava destruído, estava acabado mesmo, e ele estava bem, estava bonito na verdade, e foda-se, eu falo que um homem é bonito quando ele realmente é, e Paulinho estava muito bem mesmo, e eu um traste. Fiquei triste, mas a vida é isso. O alcool e as drogas haviam me destruído, e ele se cuidava, ou seja, eu estava fadado a estar fodido, ele não.

O caos já havia se instalado em mim, não me sentia muito bem. Eu vivia e fazia meu próprio inferno, meu próprio caos. Era alcool em cima de alcool, bebia demais mesmo naquela altura da minha vida, 22 anos e alcoolatra, excelente, excelente mesmo! Todos, sem exceção, me pediam pra parar, pra largar o alcool e as drogas, mas eu gostava, era dificil. A cocaína tinha me pego de jeito, eu não largava ela por porra nenhuma. O alcool também, meu fígado estava bem fodido já. Lembro que eu cagava mole dias e dias seguidos, maldito, maldito seja o alcool! Eu sabia que dentro de alguns anos eu estaria fodido, não precisava que as pessoas lembrassem que eu entraria num caos maior, numa decadência monstra... Lidava bem com o fato de morrer cedo, ou fazer hemodialise, me parecia algo sensato.

Enfim, esse espiral de pensamentos me perseguia naquele aniversário, em que aliás, eu bebia absinto, estava tentando ver a maldita fada verde! Todos na maciota, meus amigos eram bem na maciota se comparados comigo, eu estava estourando. Paulinho bebericava brejas, todos na brejinha na verdade, bem tranquilos, e eu no absinto. Meu fígado chorava, mas as pessoas se divertiam comigo bêbado, ou seja, foda-se, ia me manter bêbado naquele aniversário. Bebi como uma esponja, deitei na calçada, nem sei quanto deu a porra da conta, e as pessoas insistiam em me falar para parar de beber, eu, deitado na calçada, ouvindo coisas do tipo "cê tem que parar com isso, vai se foder..." "larga essa vida de alcool, isso nunca leva a nada" "cê viu o que aconteceu com o Fulano que bebia pra caralho, teve que se internar" Eu na verdade ouvia aquilo tudo com muita compaixão, gostava do carinho e da atenção do pessoal, sabia que eles queriam o meu melhor, mas largar, affff, ainda não né? Estava preso ao alcool e às drogas. Destinado a decadência? Talvez, mas nem valia a pena pensar muito nisso... Meu fígado morria e eu vivia, e as coisas seguiam de forma bem honesta!

Zaratustra