terça-feira, 7 de maio de 2013

Qual é o preço da sua vida?



- Qual é o preço da sua vida? - Helena me perguntou, atenta.
- Hmmm, não sei... Defina vida. Ou melhor, defina preço e defina vida. - respondi impaciente, mexendo bem a perna, parecia que queria mijar, mas não, só estava agitado mesmo.
- Quanto custa pra você viver bem? Quais são seus planos e expectativas?
- Hmmm, olha, honestamente - eu ainda bebia aquela vodka barata direto da garrafa, mas ainda não estava muito bêbado. Dei uma golada - não sei... - interrompi pra tossir, aquela vodka havia me fodido - desculpa. Então não sei. Minha vida parece boa. Não sou rico, não tenho carro, moro de aluguel, ganho o suficiente pra bancar isso. Pago algumas continhas. O que sobra gasto tudo em alcool, mas me sinto bem assim. - encerrei, bebi mais, mas agora não tossi, fui macho!

Ela me olhou bem. Ficou quieta alguns instantes. Aproveitei pra beber.

- Isso é deprimente Carlos. Como você pode viver sem ter planos? Sem querer ter família, carro, uma boa casa. Deixar uma herança pra alguém, construir algo. A bebida não constrói nada, e você é inteligente pra perceber isso né? - ela parecia um pouco irritada, mas coisa pouca.
- Hmmm, te entendo - eu golava a vodka bem mais fácil agora, estava conseguindo ficar bêbado - mas veja meu lado. Tenho 32 anos, ainda não encontrei nenhuma mulher que me convença a casar. Filhos eu não quero de jeito algum, acho que o mundo está bem cheio já. E sobre não ter planos, sim, não tenho, mas gosto de viver! O que faz eu gostar de viver é o alcool, não posso perder isso... né? - retruquei a pergunta, dando mais uma grande talagada.
- Sim sim, mas todo mundo tem que ter uma família! Caralhos, é a base do ser humano!
- Tenho amigos - minha perna já nem mexia mais, estava tranquilo - É melhor do que família: você os escolhe, e estão sempre lá. E se alguém te foder, é só cortar relações. Meus amigos são minha família.- entornei mais vodka.
- Pois é, mas eu fiquei sabendo que você mal sai de casa... Só bebe! - a irritação dela estava crescendo.
- Ahhh sei lá... Tenho aversão a fazer reuniões, ver pessoas, todos muito irritados, enchem o saco, roem os culhões - bebi mais um pouco - sempre reclamando, tenho aversão, juro que é mais fácil fazer tudo sozinho... E mais interessante também.

Porra, o olhar dela era penetrante. Eu não podia encarar a verdade assim, tão de perto. Ela nem era minha terapeuta, não era nada. Ela era uma amiga de longa data que me chamou pra sair depois que meus amigos haviam falado pra ela do meu estilo de vida, digamos "alternativo" regado à muito alcool, mas que eu havia convencido a colar no meu apartamento. "Lá os drinks são mais baratos" pensei.

Enfim, eu ainda bebia muito bem, obrigado, e ela me olhava sempre séria e com um olhar penetrante que me roia os culhões.

- Carlos, eu quero muito te ajudar, mas você precisa de uma reação... Não dá pra te forçar a nada entende? - ela parecia um pouco mais carinhosa agora.
- Obrigado Helena, obrigado mesmo. Mas no momento estou bem assim. Porra, se eu quissesse me matar eu me preocuparia, mas vivo bem, não estou triste por não ter planos, ou não ter família, ou não querer ir viajar no feriado com os amigos. Ouço boa música, bebo bastante, pago minhas continhas e minha vida vai muito bem, obrigado. - entornei mais um pouco da vodka, a garrafa já estava um pouco abaixo da metade.
- Tudo bem, acho que não adianta mesmo eu ficar enchendo o saco. Bom, acho que vou embora, mas se precisar de alguma coisa, promete que me liga? - ela disse bem solicita.
- Claro Helena muito obrigado mesmo. - levantei a sobrancelha em forma de carinho e conduzi ela pra porta.

Depois que ela saiu voltei ao meu sofá. Continuei entornando a vodka "por Deus! Sossego, alcool e meus pensamentos... Puta merda, sou um cara feliz!" pensei e continuei bebendo até acabar com a garrafa e pegar no sono.

Zaratustra

Nenhum comentário:

Postar um comentário