sexta-feira, 24 de maio de 2013

Corpos, somente corpos



Da sacada daquele quarto imundo, em que me faziam compania as baratas e os ratos, sim, eu conversava às vezes com eles, eram bons amigos. Pois bem, eu observava da sacada as pessoas perfiladas, cerca de 6h da manhã. Caras destroçadas, desanimadas, a apatia em forma de gente. Tomando friagem, levantaram cedo, com certeza haviam reclamado de terem levantado da cama quente. Pra sair do banho, outro caos, outro inferno. "Nessa merda de emprego pra ganhar 600 conto por mês... Droga!" Certamente pensavam isso. Eu olhava eles, um atrás do outro, rastejando quando o ônibus chegava. Quantas vezes, esses corpos acordavam pela manhã, manhãs frias, claro, e pensavam em mandar tudo se foder, virarem hippies, irem pra outro estado, virarem rockstar ou escritores, pra poderem acordar ao meio-dia e estarem sempre bêbados? Com certeza no mínimo um zilhão de vezes. Mas o ser humano tem medo, medo do desconhecido, medo do que possa dar errado, medo de ficar sozinho e não ter um celular da última geração, ou uma TV de plasma, ou ainda, medo de passar fome, se viciar em crack e morar nas ruas. São filas de corpos medrosos e consumistas, somente isso. A mídia amedontra e alimenta o consumismo. E os corpos, perfilados, enquanto entram no ônibus, acham que tudo está muito bom... Fazem churrascos aos fins de semana e a vida está perfeita.

Ouço uma batida na porta. Vejo uma sulfite escorregar por baixo da porta. Me agacho com dificuldade, ainda bêbado e sem dormir de madrugada. "Merda, vão dedetizar o prédio!" pensei em solidariedade aos ratos e às baratas. Sim, a câmara de gás ainda existia e fazia suas vítimas, mesmo depois do Nazismo.

Zaratustra

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