segunda-feira, 29 de julho de 2013

Isso faz alguma diferença?



- Veja bem chuchu - eu disse tentando apontar pra ela, apoiando o braço no apoio (redundante?) da minha poltrona de couro, meio desequilibrado - você não sabe nada da vida!
- Acho que você bebeu demais Carlos. Você bebe muito, vai morrer cedo. - ela me disse, ainda sóbria.
- Eu sei chuchu, sei bem - eu disse já virando mais uma dose de cachaça barata - mas aprendi com o maior gênio da literatura: encontre o que você ama e deixe isso te matar. E é exatamente o que estou fazendo - e dei outro gole na cachaça.
- Sei disso Carlos, eu sei disso, mas me preocupo sei lá...
- Relaxa chuchu, morrer seria fácil demais pra mim, acho que não quero isso, aliás, é certeza que não quero isso. Quero viver, porque quanto mais eu vivo mais eu posso beber, e isso é muito bom.
- Promete que você não morre? - ela perguntou e me olhou com aqueles olhos enormes, que aliás eram castanhos.
- Prometo sim chuchu - sorri levemente e entornei mais cachaça ainda.

Naquele dia nada estava ruim, parecia que eu estava no paraíso, onde as flores me acariciavam com suas pétalas e toda a minha melosidade poderia ser justificada. Inclusive essa garota, chamada Fê, mas que eu chamava de chuchu mesmo sem comer ela, inclusive ela estava bem, e ambos estavamos bem e conversavamos trivialidades enquanto assistiamos as tragédias no programa do Marcelo Rezende (acho que o nome dele é com "z" mesmo... Isso faz alguma diferença?) e eu bebia, ela não, mas ela ria das minhas piadas e das tragédias e das crianças que eram arrastadas pelos cintos dos carros, e dos padrastos que violentavam garotinhas de 11 anos que nem tinham a buceta completamente formada. Isso soa meio doente, mas a vida é amarga demais pra ficar se preocupando com o que te faz bem, simplesmente faça e pronto!

- Bom, eu tenho que ir embora Carlos - ela me disse, já levantando da poltrona
- Isso, faça como as outras, simplesmente se vá chuchu - eu disse, já completamente bêbado
- Estou com seu cheiro hihihi - ela disse enquanto passava a mão no cabelo.
- Isso faz alguma diferença?
- Nossa, como você é grosso! Vou embora.
- Vai lá, vai lá - eu disse já assentindo com a cabeça em direção à porta.

Ela saiu, me deixou lá, bêbado. Pensei que a presença dela era bacana, mas em seguida repensei comigo mesmo (redundante de novo?) "Isso faz alguma diferença?" A presença dela não me fez diferença alguma e o mundo prosseguiu girando numa espiral sem fim enquanto eu chegava ao fim daquela garrafa de cachaça.

Zaratustra

domingo, 28 de julho de 2013

Pra que um título?



Amaciei o fígado com as brejas. Me preparei pra vodka. Aliás, me preparava, me desculpa pelo erro de português, honestamente nem sei escrever, eu não sou escritor, só escrevo e penso demais e acabo jogando tudo nas palavras, ou no alcool, mas isso faz diferença pra quem lê? Acho que não e eu também nem ligo pra isso. Só me importava se a cerveja estava acabando, e isso, naquela altura ainda estava longe, pois eu havia comprado um fardo cheio faziam algumas poucas horas. Era bem leal ao meu alcoolismo, apesar de que todos me criticavam, mas eu não me importava tanto. Aprendi com a minha CupCake, ou melhor, a Carlinha, sim, ainda a Carlinha. Aprendi que não posso, por mais que eu mude, eu não posso mudar pelos outros, nem beber menos, nem beber mais, nem nada disso... Tenho que ser eu, fazer o que eu curto e aprender a viver sozinho, nada além disso. E sim, ia aprender a superar as coisas e a beber menos algum dia, mas ainda não era a hora. Tudo tem seu tempo. Ser promovido teria seu tempo, ganhar dinheiro e ficar bem, teria seu tempo, arrumar uma boa namorada teria seu tempo e isso me deixava tranquilo naquele domingo frio em que eu ouvia Los Hermanos. Fodam-se as coisas, iria me focar nos estudos e na minha carreira profissional e pessoal.

Meu fígado estava bem macio, já havia entornado um monte de brejas, estava na hora da vodka. Acendi um cigarro. Sempre que bebo vodka me dá vontade de duas coisas: cigarros e cocaína. Como eu não tinha cocaína, fiquei nos cigarros, e claro, na vodka. A vodka descia enquanto eu ainda pensava na vida e nas mulheres. Mas ali, somente naquele momento me senti muito bem mesmo, e explanava isso para todos. Foda-se. Vodka, cigarros e brejas, eu estava no céu.

Zaratustra

Sendo assim eu volto a beber! (Parte 2)



Ontem eu sai de casa
Fomos num barzinho
Misturei de tudo
De cerveja à tequila
passei pelo Campari
e pelo St. Remy
e pela Jurupinga também
e um pouco de conhaque
e ainda
Vodka
Bebi demais, acho
e o cheiro de alcool
se confundia com o cheiro da garota
que rocei a noite toda

E no dia seguinte
nada de ressaca
nem desconforto estomacal
nem nada
E menos ainda
Dor de cabeça
Foda-se
Sendo assim eu volto a beber!

Zaratustra

sábado, 27 de julho de 2013

Conhaque e cigarros



Aí que ela veio na minha direção com um copo cheio de conhaque, enquanto ela acendia um cigarro daqueles de menta, que eu particularmente odeio. Mas ela curtia, e eu acendi um Marlboro vermelho, e ela me sorriu com os dentes esfumaçados, eu também, fazendo descer na sequência o conhaque, do copo que estava cheio restou apenas a lembrança.

- Você é diferente. - ela me disse
- Sou sim amor, sou o cara mais foda que você já ficou na vida, sei disso - respondi com um ar de macho alpha.
- Hihihi seu bobo - ela me olhou mais alguns instantes - Sério, você me faz muito bem - ela me disse, seriamente, enquanto afundava o nariz no meu cangote, com sua respiração funda.
- Também te curto flor... Também te curto - eu disse acariciando o cabelo longo dela, que aliás estava pintado de vermelho.

Ela apoiou o copo em cima da mesinha de centro, o conhaque era lembrança, e também colocou os maços de cigarro, ao lado do copo. Me beijou de forma fulgaz, dizem que os que beijam bem são aqueles que realmente expressam desejo, e isso ela tinha e eu também, de sobra. Estavámos apaixonados, isso era muito bom. Dizem que é por isso que quando um relacionamento termina nos sentimos no inferno. Porque quando ele começa nos sentimos no paraíso. Desencanei de mais conhaque e mais cigarros naquela noite. Eu tinha ela. Eu tinha tudo.

Zaratustra

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Joy



O show nem estava tão bom quando eu comecei a beber destilado e deixei as brejas de lado, ao menos por aquela noite. Só naquela noite eu iria beber pesadamente. Pois bem, peguei um copo de felicidade (vodka) e voltei a assistir o show, que agora mudava de perspectiva, era uma outra banda, com somente mulheres. Uma delas, a cantora, era sensacional, Oriental, pequena, meio redonda, belos olhos, bela bundinha meio quadrada, cabelos longos e bem lisos, sim, ahh sim, e ainda tinha peitos razoáveis, e caralhos, eu sempre tive uma queda por asiáticas, e com ela não era diferente. Precisava conhecer ela urgentemente, e fiz o melhor que pude. O "roadie" assistia a tudo de fora do palco. Na completa cara de pau lhe perguntei o nome dela.

- Essa é a Joy... Na verdade o apelido dela é Joy - ele me disse desinteressado, já acendendo um cigarro.
- Preciso falar com ela cara, me ajuda. Estou apaixonado.
- Você e todo mundo seu fodido! Agora sai da minha frente! - ele esbravejou.

Sai da vista dele, como um cão arrependido, desfalecido e em frangalhos. Voltei ao show, assistia a ela cantar, tentei de todas as formas chamar a sua atenção. Ela me olhou nos olhos, fixamente, eu retribui e percebi que ela seria minha naquela noite, custe o que custar!

Término do show, encontro com ela, do lado de fora dos bastidores, ela possivelmente a caminho de casa. Vou em sua direção, ainda olhando nos seus olhos com um furor adolescente. Ela retribuiu agora. Cheguei bem perto do seu rosto.

- Hey, belo show... - eu disse quando ela me interrompeu.
- Não precisa falar nada, achei você gatinho - ela disse já me beijando

Estive no paraíso por alguns instantes, ela mexia a lingua de forma feroz e isso me fazia muito bem naquela altura da minha vida, uma boa lingua asiática é tudo do que eu precisava. Ficamos ainda nos pegando por mais alguns instantes. Ela foi embora e nunca mais a vi. Perdia outra mulher, ganhava outra experiência. Esse é o resumo da minha vida.

Zaratustra

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cupcake! (Parte 2)



Estavamos ali, abraçados, juntos naquela cama enorme, com duas cobertas, colados corpo a corpo e ainda assim tremendo de frio. Roçava gentilmente meus pés nos dela, claro que ambos estavamos de meias, mas o gesto de carinho aquecia o pé dela naquela tarde em que o termômetro marcava 7 graus. Beijei sua testa levemente, acariciando seu cabelo. Ela olhou pra mim e sorriu. Retribui o gesto.

- Você me odeia né? - eu disse, ainda com o sorriso suave nos lábios.
- Como assim amor? - ela soava desentendida
- Oras, eu me entrego a você, luto por nós dois. Tudo o que você faz é me maltratar. Me dá patadas, sai de casa e volta três dias depois. Você compreende que sempre que ouço barulhos lá fora penso que é sua volta? Porra, você me odeia!
- Não é assim amor. Curto minha liberdade, mas curto você também - ela disse enquanto me acariciava no tórax levemente - Por isso que acabo voltando...
- É, você acaba voltando, eu acabo me fodendo e te odeio por alguns dias... Mas nunca resisto a você Cupcake. Casa comigo?
- Acho melhor não - ela disse, já bocejando na sequência.

Fiz carinho no rosto dela, me senti mal por não ter ela como eu queria ter, mas feliz em saber que ela ainda corria atrás de mim quando necessário. Dormimos abraçados, como manda a etiqueta do inverno.

Zaratustra

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Olhos cansados



Olhos cansados
Dentes doloridos
A garrafa só esvazia
Mais, e mais, e mais
e ainda mais
E torno a esvaziá-la
A música toca
Mas a sinfonia se repete
Uma garrafa do lado
das frustrações
e dos problemas
e de tudo mais

Parei com o alcoolismo público
Levei isso pro íntimo
É como uma droga
Faço sozinho, sem que vejam
Às 10h, às 15h ou às 2h
Não tem hora pro alcool
O que importa é o sigilo
E os olhos cansados
Abatidos, com olheiras
Só tenho eles me acompanhando nisso

A melodia é só uma melodia
A morte é mais fácil
do que a vida
Flautas rompem o ambiente
E tudo o que sinto é torpor
Martir?
Jamais
Tudo reverbera para o nada
E o concreto se torna abstrato
Genial é aquele que tem sentido na fala
Eu só bebo

Os olhos se fecham
Sim, os olhos cansados
Se fecham
Dormi e não acordei mais
A morte é mais fácil do que a vida

Zaratustra

terça-feira, 23 de julho de 2013

Velhos erros e novas perspectivas



Ok. A poeira já estava mais baixa.
O fim do relacionamento com Carlinha não havia sido nada fácil, nada mesmo. Sofri uns dias, coisa leve, mas fiquei pensativo e introspectivo, e digamos que "mal" com a situação. Mas quando as coisas dão uma esfriada, aliás, quando deram uma esfriada, consegui pensar melhor sobre onde errei e como errei.

Lembro do ínicio das coisas. Do flerte. Eu não era um displicente completo, mas ela que geralmente corria atrás de mim, me ligava, perguntava se eu queria sair. Eu ia indo na maré dela, nem me preocupava muito, se saissemos ok, caso contrário ok também. Já no fim do relacionamento, eu fiquei em cima, ligava todos os dias, perguntava se ela estava bem, e acho que esse foi um erro gravíssimo. Sempre acontece isso, sempre faço isso, acho que os homens em geral pecam demais nesse aspecto. Todo o empenho que elas tem no começo, pra nos conquistar, é revertido para nós, os homens, mas isso só gera repulsa e cansaço nelas. Errei por tentar demais. De novo. Tenho que trabalhar isso, me esforçar pra mudar isso, pra não tentar demais, nem de menos, simplesmente deixar as coisas serem levadas de uma forma tranquila.

O otimismo me acompanha nas novas perspectivas!

Zaratustra

sábado, 20 de julho de 2013

O término com Carlinha



Foi quando eu e Carlinha terminamos que eu me senti mal.
Sim, tínhamos o nosso prazo de validade, sim, eu não estava nada bem, sim, eu ainda gostava bem dela. E ela via o meu drama, a minha dor, e ela se sentia mal por isso. Eu também não estava muito bem, e vi que a tristeza dela era mais em solidariedade a mim do que por qualquer outra coisa.

- Você está bem? - ela disse
- Honestamente Carlinha, não, não estou muito bem. Tinha planos com você manja?
- Sei sei, mas eu lhe avisei que nem te gostava, que você era passageiro - ela disse meio complacente
- Ok. - eu lhe disse e me virei

Fui pra casa, coloquei no som Los Hermanos, o album "4", e as músicas melosas nem ajudavam muito, mas foda-se. Porra, eu havia suportado um divórcio, eu conseguiria superar aquele pequeno "trauma romântico" com Carlinha. Sim, eu superaria, mas não seria nada fácil. Me deitei ao lado da vodka e dormi.

Zaratustra

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Eu as enlouqueço, e não o contrário



Estou errado.
Nasci para a solidão e nada mais do que isso. Para os porres solitários, para ficar sem família, para o alcoolismo e para a falta de vida social. Sem muita verborragia, eu sei que eu que as enlouqueço, eu faço elas perderem as estribeiras, e quererem se matar, e sei que faço isso. Meto filosofia e criticismo goela abaixo e espero um sorriso e inocência. Melhor que eu espere isso sentado, eu as fodo, com meu pau e minhas ideias, e espero que elas continuem bem, e sorrindo, e olhando as amoras nas árvores e ainda assim felizes? Não, estou errado nessa, eu estou errado pra caralho! Deixá-las a sós talvez seja a melhor opção, aliás, é a melhor opção. Eu não quero enlouquecer elas. Deus, me mantenha solteiro até o fim dos meus dias, me faça um morto sozinho e maluco. Peidei, arrotei e virei mais um pouco da garrafa de vodka que bebia sozinho no quarto bege.

Zaratustra

Uma ressaca e uma sirene



Morava do lado de uma grande e movimentada avenida no centro de São Paulo. Sempre bebia demais, sempre existiam excessos, e eu ia dormir geralmente por volta das 8h da manhã e acordava com aquele barulho chato de sirenes UUUUUUIIIIIAAAAAAAAIIIIIIIIIIIUUUUMMMM...... UUUUUUIIIIIIIIIAAAAAAIIIIIIIIIIIIIIIUUUUUMMMM.... e também tinha a sirene da policia, que era algo como UIUIUIUIUIUIUIUI.... UIUIUIUIUIUIUIUIUI..... e era repetitivo pra cacete, e sempre tinham pessoas morrendo (ai vinham as ambulâncias), e tinham as pessoas matando (ai vinham as viaturas policiais) e todo aquele barulho era duas, três vezes maior do que o normal, quando se está numa privada vomitando a vida, como uma grande mangueira de bombeiro, que bombeia água pra cacete, é um CHUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ fodido, ou ainda, um daqueles pintos que ficam muito tempo sem transar ou bater punheta, que faz um SPLOFT imenso. Enfim, tudo parecia ser pior. "Tomara que morram logo, ou sejam presos logo, e me deixem aqui sozinho com minha ressaca... PORRA!!!!"

Zaratustra

Jogar, jogar e jogar



A vida não passa de um jogo
O mundo como vontade e representação
Não existe melhor livro
Schopenhauer
Realmente acertou nessa
Apesar das crises de pânico e da depressão dele
Nisso ele acertou

As pessoas jogam o tempo todo
Manipulam uns aos outros
Tentam ter os outros nas mãos
Como mestres de marionetes
Controlam a tudo
O que podem
E tentam não se deixar controlar
As relações humanas
Não passam de mentiras
E vontades
E representações

Zaratustra

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A gostosa impegável



O nome dela era Amandinha. Linda, corpo escultural. Loira, não era loira natural, mas uma boa tintura, mal víamos as raízes mais escuras, num tom castanho pro preto. Sorriso perfeito, dentes alinhados e bem brancos, assim como os olhos (não pela parte do branco, aliás eram verdes, mas digo que eles eram bem alinhados também), e um bom nariz, o nariz era até que bem comum, mas por vezes o comum é bem agradável. E nela era assim. Cintura desenhada, seios fartos, coxas fenomenais, que vestiam muito bem naquele jeans azul surrado. Uma bunda deliciosa e sensacional, o mínimo que um homem queria ao ver aquela bunda era comer ela. E estavámos lá, eu, Beto, Raul e Pedro, quando Luis nos apresentou sua namorada.

- Essa aqui é a Amandinha - ele disse, pomposamente, assim como um vendedor apresenta sua mercadoria, ou um pai mostra o filho que tirou 10 em matemática.

Eu e os caras olhamos os dois. Porra, o Luis não era quase nada mais do que eu e os caras. E acho que ele nem era pauzudo, nem bom de cama, e nem bonito, e nem rico e nem com uma carreira de sucesso, e ainda por cima bebia pra caralho, afinal, ele andava com os bêbados (eu, o Beto, o Raul e o Pedro), e ainda por cima era daqueles bêbados chatos e fracassados e lixudos, e que dormiam em sarjetas. Como um cara daqueles pegava uma garota daquelas? "No mínimo essa garota devia ser louca!" Eu pensei, analisando por experiência própria. Já peguei uma mulher impegável, e ela era maluca, e tentou me matar e se matar e era tretada com a família, mas isso era outra história, que somente resumia uma das maiores verdades universais: Um cara zuado pra pegar uma garota top, ou ele deve ser rico, ou ela deve ser louca. Fato. Sei que eu babava pra cima dela como um cachorro que olha frango na padaria, e ela me ignorava. Ela saiu da sala do ap de Luís.

- Vou ali no quarto, pegar uma roupa e tomar um banho chuchu hihihi - até a risada dela era gostosa - mas volto logo ein.
- Ok chuchu, sentirei saudades - ele disse, piscando o olho esquerdo pra ela.

Ela foi pro quarto, que aliás era uma suíte, o que nos deu mais chance para falarmos dela. Fomos todos pra cima de Luis, curiosos, mas eu tomei a palavra, eu era o melhor orador pra situação toda.

- Cara!? Que porra é essa!? - perguntei, apontando pro quarto
- Minha namorada man... Estamos saindo faz um tempo já - ele disse, degustando sua superioridade.
- Mas cara... Como, me diga como você conseguiu uma mulher dessas! Preciso saber meeeesmo! - eu disse, já olhando quase rindo pros outros caras.
- Ahhh meu, sem segredos. Conheci ela por uma amiga de uma amiga, ela bateu o olho, eu falei meia dúzia de merda pra ela e estamos saindo desde então... Ela me disse que cansou dos bombados e certinhos.
- Caralho! Cara de sorte... Mas ela deve ser louca, só pode ser louca - eu apontava o dedo em riste pra ele, quase ensandecido com tanta loucura.
- Calma ai man! Sim, ela é louca...
- Sabia! - interrompi de forma abrupta
- Mas e daí? Ela é gostosa, honestamente nem é tão boa de cama, mas é gostosa, por onde ando sou respeitado, e isso me faz bem. Pra que acabar com tudo agora? Eu quero mais é que se foda, vou meter nessa vadia até meu pai criar feridas! - ele disse, irritado.
- Beleza, beleza, já tirei minha dúvida... - eu disse, cauteloso - Mas e aí, vamos beber hoje? Tô precisando beber...

Nesse momento, Amandinha saiu do chuveiro, enrolada numa toalha, os cabelos loiros por sobre os ombros, uma cara de safada irremedíavel, a mordidinha clássica nos lábios.

- Chuchu, vamos pra cama? Quero ficar com você mô mô!
- Ok, chuchu, estou indo - ele disse, gesticulando com a mão, pedindo calma pra ela

Nisso ele se virou pra nós, abriu um sorriso largo no rosto, e nos olhou como quem diz "Um convite desses não dá pra recusar, vou ter que ir lá comer ela" Ele nem precisou dizer mais nada. Nem nos despedimos. Demos meia-volta e saímos pela porta da frente.

Zaratustra

terça-feira, 16 de julho de 2013

O silêncio, sempre ele!



Precisava de um pouco mais de nada e um pouco menos de tudo. Naquele momento eu saquei que por mais que eu tentasse sair do inferno e melhorar e beber menos e não perder pessoas, eu precisaria de um tempo para mim, para a minha reflexão, e somente isso. Este era um dos problemas que eu tinha bêbado, eu falava demais, sendo que o silêncio é sempre a melhor resposta. Essa verborragia que eu tinha, essa vontade de falar, e quando falava só saia merda, e depois eu tentava explicar as merdas, e tudo acabava virando uma grande bola de merda, devastadora, estraçalhadora e belicosa. Era um ato falho sem fim, muito menos começo, uma vez que as ressacas se confundiam com o começo das bebedeiras. Precisava resolver meus problemas de outra forma, que não fosse beber e falar. O silêncio era primordial, era sempre a melhor resposta. Prometi pra mim mesmo naquele dia, após um dia fodido de trabalho, que minhas respostas seriam bem monossilábicas a cada decepção, a cada tristeza, eu agiria com um regular "ok", e veria a coisa ruir sem abrir a boca. Se eu precisasse desabafar, teria que reaprender a chorar um pouco, coisa que não fazia há tempos. Que o silêncio seja melhor do que o inferno, caso contrário prefiro a morte.

Zaratustra

segunda-feira, 15 de julho de 2013

E lá vamos nós de novo...



"É uma luta injusta, mas só sairei daqui morto!" Eu pensei naquele dia em que nada estava muito bem. A ressaca estava brava, dores no corpo e o caralho a quatro. Era isso, estava de novo tentando parar de beber, ou diminuir com a bebida, fazer menos merdas por causa dela. Porra, é uma luta que travo há anos e que nunca venci, nunca dei sinal de que vencerei. A vontade de beber sempre supera a vontade de ficar sóbrio, mas a questão é que estava perdendo coisa demais da minha vida, tempo demais, pessoas, estava perdendo pessoas e isso me irritava.

"Foda-se, é minha última tentativa... Se eu não parar dessa vez, tomarei medidas drásticas!" Eu ainda pensava e a ressaca ainda batia. Existia uma droga no mercado que fazia a gente parar de beber, basicamente ela deixava o gosto da bebida pior no seu estômago, por isso você não tinha vontade de beber. Era como se a pessoa "comesse algo que não gosta". Possivelmente tinha contra-indicações, pode ser que me viciasse como o alcool fez, mas eu já não temia mais essas coisas. O fundo do poço só parecia ficar mais fundo a cada dia, e eu estava determinado em dessa vez resolver essa merda. Suportaria as tremedeiras e a sudorese, as dores de estômago (sim, meu estômago reclamava da FALTA de alcool, e não da PRESENÇA dele), os desvios de atenção, os estresses, os problemas e tudo mais.

Pois bem, a vida estava boa, havia voltado a falar com meu pai, nos dávamos melhor, não digo bem, mas ao menos melhor do que sempre nos demos. Sobre mulheres prefiro não comentar muita coisa, eu tinha uma "amiga colorida", nos encontravamos, bebiamos, transavamos e conversavamos sobre diversas coisas. No trabalho eu era adorado pelos meus superiores, sempre muito elogiado, sempre a referência no que eu fazia. Caralhos, era mesmo necessário ser alcoolátra, era mesmo necessário beber sozinho no quarto, ouvindo péssimas músicas? Era mesmo necessário tudo isso? Creio que não, creio que eu buscava isso, eu buscava a tristeza, sempre busquei e ela também sempre me buscou. Precisava me desvencilhar dela, mas como, como sair do poço e parar de beber?

Zaratustra

sábado, 13 de julho de 2013

Por um momento, o sóbrio!



Coçava o rosto
Gorfei minha vida,
amei ela
Ela ainda me amou
o fim estava próximo
Ela queria conversar
eu só queria ela
Morreria naquela noite

Tinha que me manter sóbrio
Ao menos aquela noite
ao menos aquele dia
E ela me maltratava
Meu fígado chorava
mas eu chorava mais
o fim estava próximo
Menos pra ela
e sim pra mim
Amor, coisa maldita
Não se ama, não se tem ciúmes, mas eu tinha
ela não
E tudo prosseguia
Até ela querer falar comigo
e terminar tudo
Eu não era o esperto
eu me ACHAVA o esperto
mas eu somente bebia sozinho
e isso era coisa de alcoolatra
Nada além disso

Ela disse que ia me ver em casa
Arrumei tudo
e pior
Me mantive sóbrio algumas horas
somente algumas horas,
somente pra ela
Apesar de saber do fim
me mantive bem sóbrio
Por um momento fui um homem sóbrio
e ela só riu
e eu ri, não sabia o que falar
e ambos rimos
e ela vinha em casa
Eu tinha uma surpresa pra ela
Foda-se a surpresa!
Ela terminou comigo naquela tarde de
sábado
Eu ouvi The Doors e bebi
Que a morte seja melhor do que isso

Zaratustra

Não me salve do inferno, me deixe lá que lá é meu lugar!



Ela me beijou com aqueles lábios molhados, tive esperanças ao menos um dia, eu estava amando ela, ela nem me amava, eu bebia demais, ela nem bebia tanto, éramos um casal que curtia e isso era tudo, tínhamos prazo de validade, ela estava cansada de mim, o fim parecia bem próximo, ela me salvava do inferno e dizia que eu era um fofo, e por ela eu bebia menos, e por ela eu diminiu com os excessos e por ela a vida parecia fazer um pouco mais de sentido, e por ela, caralho, meu gorfo de Cuba Libre pela manhã parecia só uma coisa de adolescente. Eu bebia demais, eu bebia demais e bebia demais mesmo, e ela queria que eu parasse um pouco com os excessos, mas aprendi que tudo era passageiro menos o alcool, ela era passageira, o alcool não. Linda. Ela era linda, e queria me tirar do inferno, mas eu estava bem lá, conversava com o Diabo e tudo prosseguia muito bem, tirando os gorfos e a raiva do meu pai. Pois bem, minha ressaca gritava, eu nem ligava, ela sim, eu não, mas enfim, eu tinha mais alguns anos pra viver e ela viveria até os 80! Gorfava sempre, às vezes eu chorava, ela não e a vida ia bem até pra duas pessoas que não ligavam pra outras coisas. Me deixe no inferno, me deixe no inferno, me deixe lá e veremos o que acontece!

Zaratustra

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sendo assim, volto a beber!



Tinha marcado de ir jogar video-game na casa de uma amigo. Eu havia bebido durante o dia todo, havia falado com meu pai, porra, não era fácil ver meu pai, eu precisava beber, o mínimo era isso, beber, e por isso eu tinha bebido durante o dia todo, e por isso eu havia sobrevivido à ele. Esse meu amigo (o do game, meu pai não era meu amigo haha), me disse "Pare de beber, preciso de você num estado no mínimo conversável", e por isso fui dormir, a bebedeira passaria. Acordei no horário, com o ânimo de falar com ele e jogar o game e tentar ser feliz, ao menos dessa vez. Por fim, ele que pegou no sono, eu sóbrio e acordado e frustrado sem ter o que fazer. Sendo assim, volto a beber!

Zaratustra

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Quem mata mais rápido uma garrafa de vodka?



Eu e Luis estavamos mesmo bem entediados com aquilo tudo, eu com a minha vida, ele com a dele, quando nos reunimos no meu apartamento, achei que iriamos bater figurinhas, mas dois marmanjos de 23 anos não podiam comprar figurinhas nas bancas, seria ao menos esquisito. Pensei em enfiar o dedo no cu dele, ele enfiar no meu cu e um masturbar ao outro, mas isso, além de doentio, era contra nossa ideologia de fodermos mulheres. Nada de ideias, quando percebi que eu tinha duas garrafas lacradas de vodka, acho que era Raskov, aliás, era Zamiroff, russa ela não era, é como aqueles brasileiros que tem o nome estilo "Maicon", fazendo alusão a "Michael", ou ainda "Jônatas", fazendo alusão à "Jonathan", e o meu favorito que é um que vi outro dia, que escreviam "Jorge Rarisson", que fazia alusão ao famoso Beatle "George Harrison". Russa esta porra não era, não mesmo!

- Vamos beber! - Luis me disse
- Sei lá mano, precisamos botar mais graça nesse lance de beber... É sempre a mesma coisa, sempre gorfos iguais, sempre do mesmo jeito.
- A graça de beber é ficar bêbado. Porra Carlos, cê sempre disse isso, tá virando bicha é? Quer que eu enfie o dedo NO TEU RABO!? CHUCHU!
- Para com essa merda mano - eu disse - Só quero deixar as coisas mais divertidas.

Peguei um lençol que estava no sofá, subi na mesa de jantar, amarrei o lençol em volta do pescoço, agora eu fazia alusão à um super herói, mas super eu não era, herói muito menos! Coloquei o indicador direito em riste para o alto, olhei pomposamente para o teto e exclamei

- Façamos um jogo!

Luis me olhou lá de baixo, me senti superior a ele, isso era bem até que bem legal, pude sentir o cuzinho dele fechar de medo. Mesmo assim ele me afrontou

- Que mané porra de jogo mano! Cê sempre foi contra essas merdas de drinking games, sempre quis beber pra cacete e estourar e foda-se a porra toda... Cê tá virando bicha, tá virando uma baitolinha de merda. QUER QUE EU ENFIE O DEDO NO TEU CU, SUA VIRGEM DE MERDA!?

Aquele tom me irritava, mas eu sabia que Luis era um falastrão, e seus xingamentos eram somente o reflexo de sua frustração, do seu ódio pelas mulheres que lhe chutaram as bolas e pelos empregos perdidos, e digo mais, pelos fracassos em geral, ele era um fracasso e descarregava escárnio e xingamentos pra se sentir melhor. Ainda assim ele era um cara bacana...

- Este jogo será diferente! - eu ainda estava lá em cima da mesa, todo pomposo e com o dedo em riste e falando com uma voz mais firme do que uma buceta de uma garota de 14 anos semi-virgem - Uma garrafa pra cada. Quem matar primeiro sua garrafa vence. São permitidos gorfos, choros, apagões e tudo mais. A única regra é que não podemos beber mais de um shot a cada minuto!

Tínhamos o costume de beber uns dois ou três shots seguidos, e isso sempre acabava com a bebedeira rápido demais. Aquela bebedeira entediada, em específico aquela bebedeira, eu queria curtir um pouco mais, por isso que somente um shot por minuto.

- Tá bom Carlos, foda-se. Desce dessa merda de mesa e vamos beber logo que estou com sede e frustrado, e por isso preciso beber - Luis me disse, tentando me puxar pelo pé.

Eu chutei a mão dele de leve, pra me desgarrar daquele puxão, desci da mesa num pulo, tirei o lençol que estava em volta do pescoço. Peguei as garrafas, nos sentamos na mesa, peguei os copos de shot. Olhei pra ele com uma seriedade judaica.

- Que os jogos comecem! - eu disse e tomamos o primeiro shot.

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No início tudo parecia muito fácil e imbecil. Afinal, tudo na vida era assim, sempre muito fácil e imbecil no começo, sempre muito simples e sem dificuldades e sem problemas. Era tudo uma questão da repetição, sempre me fodia pelas repetições e por ser repetitivo. Parecia que esse lance de beber um shot por minuto era bem simples, e honestamente, era sim. Tomavamos nosso shot, ficavamos quietos, olhando um para o outro, olhando no relógio, aguardando o próximo shot. Bebiamos e repetiamos o processo. Achei que seria assim a noite toda, ledo engano, ahhhh ledo engano da minha parte. Não serei mentiroso, nem vou pagar de forte, nem pauzudo eu era, poderia ser honesto com os drinks. Os primeiros cinco shots desceram suaves. Meu sexto eu esperei um pouco mais, enquanto Luis tomou no tempo.

- Hahahaha seu merda, vou ganhar de você, sua bicha do caralho, chupador de pintos doentes! - ele gargalhava com suas palavras, eu só assistia com cara de bêbado.

Os drinks prosseguiam, ele tinha uns dois drinks na minha frente. Começamos a divagar.

- Não sei o que há de errado com meu pai - eu disse
- O problema foi você ter nascido - ele disse
- Tenho que morrer? - perguntei, virando outro shot
- Não, isso geraria mais problemas - ele disse, mas sem virar outro shot

Após essa leve divagação, ele tomou mais uma dose. Gorfou na sequência, acho que ele nem chegou a engolir essa dose. Eu vi seu gorfo no chão, era quase tudo líquido, quase tudo. Comíamos pouco nessa altura de nossas vidas.

- Olha ali Carlos! - ele disse enquanto apontava pro chão - O miojo que comi ontem! Ainda está ali, isso não é lindo?
- Sim, é muito lindo... Tá de boas pra beber ainda?
- Claro que sim - ele disse, limpando a boca com as costas da mão e mandando outro shot pela goela, dessa vez sem vomitar.

A melancolia assolava meu corpo, eu havia me tornado o pior tipo de bêbado, o depressivo. Nada de baladas, conversas chatas, abraços, risos, pulos de alegria e diversão. Somente a letargia do fracasso, a apatia do silêncio e a certeza que a morte era melhor do que aquilo. Um fracassado. Eu era o fracasso, Luis era um fracasso, a presidente Dilma era um fracasso, o povo que achava que o FaceBook seria pago era um fracasso. Merda, o que estava acontecendo!?

Eu já não sentia minha face quando olhei que a garrafa passara um pouco abaixo da metade, estavamos praticamente empatados. Os shots eram praticamente de 3 em 3 ou de 4 em 4 minutos. Tudo parecia girar, meu fígado resistia bravamente ainda, sem gorfos. "Parabéns bravo cavalheiro, parabéns!" Eu elogiava meu fígado em pensamento, prometia pra ele brejinhas quando tudo aquilo acabasse, ele sempre adorava brejinhas, eu nem tanto, mas ele curtia o lúpulo e o malte pra cacete.

- Preciso de um lugar pra me esconder. - Luis, agora ele divagava
- Um santuário! - eu disse
- Sim, preciso me sentir seguro, preciso de segurança
- Vamos virar monges, ou hippies, ou qualquer merda que fuja dessa sociedade... Eu não aguento mais Luis, nada mais faz sentido. Precisamos de um esconderijo, e dos bons! - eu disse, coloquei de novo o indicador em riste, agora sem a mesma força, por causa do alcool
- Vamos beber e beber. Alguma hora todo o mundo fará sentido, não é possível.
- Pois é... Vamos mudar o mundo? Certeza que não. Somos só o resto do lixo dos anos 80 man. - eu já divagava ainda mais, mas foda-se.
- Com certeza. Pais drogados e gravidez indesejada. Somos somente isso. O que esperar do amanhã além de uma linha de coca e uma garrafa na mão!?
- Isso merece um brinde - levantamos nossos copos de shot, brindamos, viramos, e agora eu gorfei.

Aquele vômito estava bem em cima da mesa. Esqueci que poderia ter qualquer tipo de pudor, passei o braço esquerdo por completo em cima da mesa, joguei o excesso do vômito no chão, o que ficou no meu braço foi lambido por eu mesmo. Na sequência virei outro shot de vodka e tudo voltou ao normal. Luis? Ele só ria, o filho da puta só ria da cena toda.

A coceira na minha barba só aumentava quando olhei pra garrafa. Ela ainda estava longe do fim, e o mais inacreditável foi o fato de que ainda não tinha apagado. Luis eu não sei, mas eu ainda lembrava de tudo. Achei que poderia matar tudo e lembrar de tudo e acordar sem ressaca no dia seguinte. Ledo engano, ledo engano. Quando percebi que Luis havia deitado em cima da mesa, achei que ele dormia, e pareceu ser isso mesmo. Ele tinha uma garrafa mais vazia do que a minha. Quebrei as regras, afinal, um pouco de trapaça sempre ajudou a sociedade a ser o que ela é hoje. Virei a garrafa em várias goladas e nem lembro da garrafa saindo da minha boca quando apaguei.

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No dia seguinte o cenário era catastrófico. Vômito. O apartamento cheirava a vômito e nada mais, ahhh sim, e a melancolia e frustração, mas esses cheiros não estão ainda "catalogados" pela sociedade, portanto fiquemos com vômito mesmo. E a dor nas costas era infernal, a de cabeça era uma merda, e a do fígado, pra mim, sempre foi a pior, e nesse caso era sim a pior. Luis ainda dormia em cima da mesa quando acordei. Olhei as garrafas, havia vencido ele por muito pouco. Deixei ele dormir, me levantei, fui na geladeira, peguei uma breja, virei metade dela numa única talagada, senti que meu fígado agradeceu, eu lhe disse "não há de que", e voltei pra sala. Sentei no sofá, passava desenhos pela manhã no SBT. Fiquei ali, assistindo, bebendo brejas, bem na maciota, sabendo que eu tinha ganho o jogo da noite anterior, mas sabendo ainda mais que nesse jogo eram todos fracassados.

Zaratustra

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A insegurança e as mulheres



Não se tratava simplesmente de um relacionamento. Para as mulheres tudo não passava de um objetivo e de um senso comum, e do fato de elas acharem que todos os homens são iguais, e por isso pensam de forma igual, nem digo semelhante, digo igual mesmo, e ainda assim elas darem pra vários caras, mesmo eles sendo tão iguais. Naquela altura da minha vida, eu continuava minha pesquisa sobre as mulheres, e continuava bebendo e fazendo tudo aquilo que é reprovado por toda uma sociedade hipócrita. A idade ia me ensinando ainda mais sobre as mulheres. Não se tratava de foder o maior número de fêmeas, e sim em foder o maior número de fêmeas DIFERENTES entre si. Aprender com os vários tipos de mulheres, analisar as suas características peculiares, seus pequenos diferenciais, entre sorrisos e personalidades explosivas ou mais tranquilas e tímidas, tudo servia como base pra algo muito maior. Compreendia que as relações nascem já com o objetivo de acabarem, e que eu poderia ser chutado a qualquer momento, mas isso era inevitável desde o tempo de Adão e Eva, e Cleoprata que chutava todos os seus amantes. Mas fiquei mesmo extasiado em compreender que não existe uma fórmula específica para pegar mulheres, e sim uma mudança de personalidade, ou ideologia, ou ainda, visão das coisas.

Tudo o que era vulgarmente colocado e falado pela sociedade que era necessário para se pegar uma mulher, convergiam em segurança. Segurança! Essa era a palavra, isso era o que elas queriam, somente isso e nada mais. Um homem que tem muito dinheiro, carro, poder, casas de veraneio e tudo mais, transparece segurança. Um homem carinhoso, que não tem atitude de chegar na mulher de uma forma mais sexual, ou seja, o tradicional cara que é taxado de "mole", demonstrava de uma certa forma uma insegurança muito grande, pois ela entendia isso como um medo. Quantas mulheres eu vi com os caras bons, os de barba feita e cabelo com gel, e de bom emprego e carro e familia estruturada e tudo mais, quantas mulheres eu vi chutarem caras assim e ficarem com os viciados, os sem futuro, os que não tem perspectiva de vida alguma, os alcoolatras e degenerados. Várias! Eu vi várias fazerem isso! Não é questão das mulheres se apaixonarem pelos canalhas, é a questão da segurança que eles passam e da insegurança que os bons moços não passam. Caralho, tudo parecia fazer mais sentido agora... Era tudo uma questão de saber entrar no jogo delas, de ser racional e frio, ao mesmo tempo ter pequenos espamos de bom moço. A fórmula era simples, a questão era colocar ela em prática, ai que está o problema manja?

Nós, os homens, somos os que se apaixonam de verdade, os que não manipulam, os que raramente amam mesmo, mas quando amam ficam cegos, se perdem, caem nas lágrimas e bebem. As mulheres jogam, elas jogam e riem quando veem um homem numa sarjeta chorando por uma mulher com uma garrafa de pinga na mão. Elas são as seguras. Elas sabem que podem conseguir o homem que quiser na hora em que quiser. Nós? Nós somos apenas crianças, inocentes, ingênuos, tentando sermos maduros e seguros, mas com a secreta confissão interna de que seremos sempre os mais prejudicados em qualquer tipo de relacionamento.

Zaratustra

terça-feira, 9 de julho de 2013

Se afundar, se afundar em trabalho



Cheguei no quarto, olhei as paredes beges, me deitei na cama, liguei o som do celular, tocava Floyd. Olhei pro teto e pensei "Deus, o que vem agora?" Aquele grito em silêncio, após 11 horas de trabalho queria me dizer algo que eu ainda, ainda não sabia. Me revirei na cama, inquieto, pensativo, preocupado e tudo mais. Foi um marco. Um dia ruim, uma semana ruim, um mês, ou ainda, um semestre no lixo pode te empurrar pra algo bom, "Quem diria ein hahaha" Pensei, rindo sozinho.

Decidi que daquele momento em diante me dedicaria ao trabalho, me entregaria a ele, trabalharia 11, 12, 14 ou ainda 16 horas seguidas, se necessário. Foda-se. Eu não tinha mais nada, nada mais para lutar. Perdi amigos, família, mulheres, vida social, beleza e até mesmo a vontade de beber estava diminuindo. Eu não era nada, nada além do meu trabalho, além das 11 horas que eu dedicava a ele. Jurei ser o melhor, melhor em tudo o que eu fazia, em tudo o que eu podia fazer, seria promovido com méritos, e seria melhor também no cargo acima. Ia me afundar nisso, dia e noite, afundado, o céu era meu limite, queria ser o melhor, e ganhar muito mais do que ganhava, pelo simples prazer de acumular dinheiro e ter um bom cargo, e trabalhar mais ainda. Lidaria muito bem com a pressão dos meus superiores, mostraria para eles que eu poderia ser o melhor, que eu JÁ ERA o MELHOR. Me abracei nisso, chegava em casa, jantava uma salada com um frango grelhado, lia alguma coisa e dormia, para trabalhar no dia seguinte. Amigos? Não. Rolês? Também não. Família? Não, não e isso eu já nem tinha fazia muito tempo. Respirava trabalho, e se fosse pra morrer de algo, morreria disso.

Zaratustra

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Drinking Game



O pessoal esboçava o que fazer naquele sábado a noite. Queriam fazer um drinking game, algo do tipo. Eu nem ligava muito pra lance de drinking game, eles sugeriam coisas pra cacete, eu nem ligava. Após horas e horas de sugestões, me pediram a minha ideia. Eu nem queria falar, mas já que insistiram...

- Sou a favor de um novo drinking game. É simples. Compramos garrafas e mais garrafas ao dia, bebemos e bebemos e bebemos todos os dias, sempre sozinhos. E ficamos bêbados, e destruimos relacionamentos e pessoas e nossas familias e trabalhos. E por mais que o fígado doa, ou ainda, que gorfemos sangue, ou que caguemos sangue, e por mais que tentemos parar e sermos melhores, temos que continuar bebendo, e tornar isso um vício maldito. Ok?

Ninguém respondeu. Foda-se, esse era um jogo de um jogador só, e esse jogador era eu.

Zaratustra

Mais bebedeira, ateísmo e liberdade



Havia planejado beber até morrer naquela maldita noite.
Não estava bem, não me sentia feliz e nem realizado. Me sentia sozinho e irritado e estressado, e perdendo minha vida, e por isso que planejava beber até morrer. Pois bem, eu tinha um litro e meio de vodka em casa, eu não morreria, talvez gorfasse, com muita sorte, muita sorte mesmo, eu teria um coma alcoolico, entraria numa daquelas ambulâncias do SUS, prosseguiria pra emergência, ficaria uma noite e um dia sendo abastecido de soro, glicose e tudo mais, e se eu gorfasse muito sangue, ou ainda, cagasse muito sangue, eu teria que fazer uma transfusão, o que pra mim é tranquilo, uma vez que meu sangue é aquele tipo compatível com todos os outros (esqueci o nome dele, acho que é "AB"), enfim, eu beberia muito naquela noite. O trabalho havia me sugado mais um pouco da minha vida, que era lentamente morta por mim, e eu seguia em direção à minha casa, quando o telefone tocou:

- Carlos? É o Edu mano. Beleza?
- Sim, sim, tudo certo...
- Saindo do trampo agora?
- É sim mano - eu disse - aquela porra me sugou mais umas 11 horas hoje, tô de saco cheio daquela merda.
- Vem aqui em casa, vamos beber e vou chamar uns amigos pra conversar. Traga aquela sua garrafa de vodka que eu sei que você tem em casa e pare de beber como um alcoolátra.
- Mas alcoolismo é bom, alcoolismo é liberdade... Quando estamos sem esperanças é quando somos mais livres man! - eu disse, esboçando o filósofo logo cedo.
- Para com isso - ele disse com ar de reprovação - esse lance de alcoolátra solitário é uma merda. Logo logo cê tá chorando pelos cantos e abraçado numa garrafa.
- Foda-se mano, me sinto bem assim, e assim prosseguirei. Estarei em casa, beberei sozinho. Se quiserem me acompanhar, venham até minha casa e serão meus convidados para partilhar da minha frustração.
- Beleza, iremos lá então. Contaremos com você ein! Não apague antes de chegarmos.
- Ok, tanto faz - e desliguei o telefone.

Pareço uma menina mimada olhando assim, uma daquelas criadas com o pai em cima, e que depilam a buceta loira desde novas, e que ficavam com os garotinhos bombadinhos de cabelo arrepiado e de familia estruturada. Sei lá, podia até ser, mas parece que quanto mais eu fugia das pessoas, mais elas apareciam, e eu nada podia fazer em relação a isso. A displicência é somente mais um mecanismo pra conquistar as pessoas, quanto mais maltratadas e rejeitadas e xingadas e criticadas e odiadas as pessoas são, mais elas correrão atrás de você, isso era um fato, e entendia agora porque sempre perdia as mulheres, porque eu queria ser o bom rapaz, e isso definitivamente é algo que elas não querem. Isso cansa. Isso deixa elas entediadas. Perdi muito por causa disso. Enfim, chega de divagações bêbadas! Estava finalmente em casa! Tirei as calças, a camiseta, o tênis, me mantive somente de cuecas e meias, joguei tudo no chão do quarto. Fui na cozinha, peguei a garrafa de vodka barata, acho que era uma que comprara recentemente, seu nome era Raskov, era uma dessas "falsas russas", mas que custavam pouco, cheiravam a alcool Zulu e te apagavam, e eu nem precisava de mais do que isso pra me sentir, não digo melhor, mas digo menos frustrado com as coisas e as pessoas e os textos e as leituras e os gênios da literatura e o vinagre e os protestos e a PEC e tudo mais, e o Resende nas tragédias também! Pois bem, eu somente bebia, deitado no sofá. Com muito esforço me levantei, busquei algo bom pra tocar, passei pelos gênios Anathema, Alice in Chains, Cazuza e resolvi parar em Los Hermanos e Little Joy. Sempre me sentia melhor ouvindo estes caras barbudos, com suas músicas que falavam de amor e da vida e da porra toda. Coloquei o album Ventura pra tocar, logo seguido do album 4 e do album do Little Joy, que honestamente não me lembro o nome, mas ainda assim era muito bom. Coloquei tudo no repeat, ou seja, tocaria até a hora que eu apagasse, ou ainda, até a hora em que eu acordasse. Quando me deitei no sofá, abraçado à minha garrafa de Raskov, a campainha tocou. Praguejei, me levantei, cocei o cu e tomei coragem. Fui atender a porta.


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Era Edu e um outro povo. Não tinhamos mulheres, ou seja, não espere uma daquelas minhas histórias em que eu sou chupado, ou que eu fodo uma mina bêbada e feia, ou que pago por sexo, ou todas aquelas loucuras que sempre relato. Nem espere um caso homossexual também, estava muito macambúzio pra dar ou comer ou beijar outro cara. Por fim, a noite se resumiria em chatices e mais chatices, ao menos com um bom alcool no sangue e só!

- E aí Carlos! Trouxemos drinks! - Edu me disse entusiasmado, como se eu ligasse pra drinks, pufff, eu não dava a mínima, eu montava vodka com água quando queria drinks, mas estava conseguindo beber bem vodka pura mesmo.
- Ok, coloque as coisas na cozinha.
- Valeu valeu... Esses são meus amigos, que disse que traria.

Eu só via um monte de macho, com cara de hipster e de intelectual de merda, que liam Normam Mailer e Dostoievski e Rimbaud e o próprio Augusto dos Anjos, e nem entendiam o que esses caras falavam, cuidavam de reciclagem, eram vegetarianos, moravam na Bela Cintra e cheiravam cocaína o dia todo e pagavam de inteligentes. Acho que está claro que não fui com a cara dos sujeitos. Entraram todos, se acomodando no sofá (rasgado, sem querer numa pira de alcool, mas isso é outra história), sentaram e esperaram brotarem brejas em suas mãos. Eu simplesmente me sentei na minha poltrona reclinável, que usava pra pensar, abraçado da minha garrafa.

Edu voltou com brejas nas mãos, e pra ele um drink leve de St. Remy com refrigerante de guaraná. Só eu bebia pesado, eu não ligava pras consequencias pro figado e talz, eles sim, cheiradores de merda hahaha pagando de ativistas. Aposto que eles estavam na Paulista a favor da legalização da maconha hahahahahaha. Eu ria sem parar por dentro, "como deixei entrar pessoas assim na minha casa?" Eu pensava e ria, mas enfim, não colocaria os caras pra fora com vassouradas né!? Bebiamos bem de boa, eles falavam dos assuntos deles, sem muita variação, sabecomoé, papo de ambientalismo, e musicas Indie e as baladas novas ali da Augusta e da Brigadeiro e da Frei Caneca, até da Alameda Lorena. Eu só olhava, mas os caras querem me foder, só pode, só querem me foder, falando de religião e talz. Tinha um dos caras, não sei o nome e nem quero saber, que dizia acreditar em Deus e talz, e frequentava a igreja e tudo mais e eu só olhava, mas ele queria me foder e me envolveu na conversa.

- E você Carlos, acredita em Deus? - ele disse, tragando aquele maldito cigarro de menta.
- Putz, certeza que querem ouvir minha opinião? - eu disse ainda tentando salvar as coisas.
- Claro - ele disse - É sempre bom ouvir opiniões novas - e tragou de novo o cigarro de menta.
- Deus está morto. Se existisse um Deus, ao menos pra mim, esse seria o alcool, uma vez que é nele que me apoio. Todo o resto é balela, masturbação pro ego. Foda-se o que você pensa, jamais concordarei contigo. Ateísmo é liberdade, alcoolismo é liberdade... Agora com licença, vou pro quarto terminar de matar minha garrafa de vodka, antes que eu mande vocês todos tomarem no cu.

E sai da sala sem despedidas. Só queria me deitar, beber e dormir e com sorte morrer, ou ainda, o sonhado coma alcoolico, e esquecer da minha vida. Que a morte seja mais suave do que isso.

Zaratustra

domingo, 7 de julho de 2013

Sanidade e Insanidade



O que separa um homem da sanidade da insanidade, por vezes é muito pouco. Pode ser uma música no rádio, um carro do ano, ou usado, um fio de cabelo ou uma garrafa de vinho, claro que cheia. É separado por apenas um fraguemento minúsculo, coisa pequena, quase nada. A insanidade e a sanidade acabam sendo a mesma coisa nos fins das contas. Ser louco é ser são e ser são acaba sendo louco.

Zaratustra

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Fracasso e impotência



Eu tinha 25 anos! Não tinha emprego fixo, rodava em cargos que me pagavam extremamente mal, constantemente dormia em bancos de praças por não ter dinheiro pra bancar um quarto, mesmo pequeno, mesmo grande, sem dinheiro sem quarto. Estava bem acabado pra minha idade, bebia muito, eu parecia ter uns 35 anos, ou mais... Rugas eram o de menos, eu estava um caco! Não tinha carro, nem roupas de marca ou da moda, ou sapatos bonitos, ou ternos e pompa de empresário. Nada, nada, nada disso, eu era um fracasso. Mulheres, mulheres muito menos! Como um homem fracassado, financeiramente, e ainda acabado e ainda com problemas de alcoolismo (isso pesava bem com as mulheres), poderia arrumar uma foda? Impossível, era mesmo quase impossível. Eu estava um lixo, e nada mudaria isso e o fracasso era uma compania até que bem legal, e às vezes eu e o fracasso bebíamos conhaque umas 7 da manhã de terça, e conversávamos, eu na cama e ele no sofá, que fique claro. Compartilhávamos segredos, aahhhhhh eu e meu fracasso ainda nos dávamos muito bem.

Pode parecer mentira, acreditem se quiser, mas arrumei uma garota, isso já na quarta. Era ruiva, com uns 27 anos, cara de acabada também, ela gostava de tomar pílulas, remédios controlados, aqueles tarja pretas que causavam letargia e talz. Não era minha praia, mas ok, cada um com seu vício. Pois bem, ela era maluca, mas ainda assim era bem gostosa, tinha umas belas tatuagens pelo corpo, e isso fazia nossa vida menos triste naquela altura. Levei ela pro quarto de um amigo do bar, que sempre estava bêbado e às vezes me dava a chave do seu apartamento, isso quando ele estava muito louco. Joguei ela na cama, rasguei a sua roupa ferozmente, eu bêbado, ela chapada, mas ainda eu estava melhor do que ela, ela parecia estar morta, eu estava ao menos "consciente dos meus atos", ela eu não sei, mas tanto faz mesmo. Por mais que eu beijasse, ou roçasse, ou pegasse, meu pau não subia, não subia por nada, nada mesmo. Ela chupou e chupou e chupou, sem sucesso. Merda! Deus, eu tinha 25 anos, tinha que ficar duro como uma maldita rocha! Acho que o alcool estava me destruindo até na ereção, isso que eu transava pouco, usava pouco meu pau pra foder! Sempre ouvi falar que vodka deixava impotente, achei que era utopia, mas não era. Ela acabou desmaiando, eu também dormi. Sem problemas, no dia seguinte bateria uma punheta e o mundo continuaria girando.

Zaratustra

Últimos trocados e nada mais



Chão
Vômito, frio e cansaço
Deitado eternamente em berço esplêndido
No chão, na rua, entre os ratos
Frio e fome
E sede e ressaca
Dor de cabeça e tremedeiras
Vodka pura
Nunca me bate bem

O lixo que está do meu lado, na calçada
E as tiazinhas que limpam às 6 da manhã
Tudo parece incômodo
Tudo parece atormentador e infernal
Tosse com sabor de alcool Zulu
Vômito nas narinas
Lágrimas?
Não, ainda não

É díficil ser alcoolatra
Temos que ter classe
E abrir mão das coisas boas
E das mulheres bonitas e da felicidade
E do amor e da família
Abraçados à solidão
Nada mais
Solidão

Meus últimos trocados
Foram gastos em alcool
Preciso ir pra casa
Não tenho casa, nem quarto, nem mãe, nem pai
Amigos, alguns
Garrafas, vazias
E ainda assim olho
As pessoas às 6 da manhã
Trabalhando
E festejando
Pois sim, hoje é sexta
Dia de comemorar
Merda
O tempo está passando e eu estou morrendo dia após dia
Merda
A morte é menos fria que o chão
Menos solitária
Menos ruim, menos bêbada
Menos alcoolatra

Preciso de uma garrafa
Mas gastei meus últimos trocados
Não tenho mais nada
Nem ninguém,
nem vida
Que a morte seja melhor do que isso

Zaratustra

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Um pouco de sono, um pouco de alcool e... Bom, a mesma ladainha de sempre!



Eu era uma maldita aberração! Claro, claro que eu era, como a metamorfose do Kafka, o Godzilla que curtia subir nos prédios pra pegar vadias loiras, ou ainda, os X-Men, que eram excluídos por serem diferentes. "Sem drama Carlos, sem drama" havia voltado a fumar faziam uns 2 dias, acho que pelo tédio, e pela vontade de ir morrendo devagar. Quanto mais eu fumava, mais cedo eu morreria, ou poderia morrer. E isso parecia uma forma de suícidio até que bem legal, até que bem bacana mesmo.. Acendi um Marlboro vermelho, puxei com tudo, traguei e soltei o restinho da fumaça numa linha bem firme e uniforme de fumaça azulada no ar. Quanto ao alcool, até que eu estava tranquilo, bebia brejinhas, sim!, sempre as brejinhas que sempre me ajudam a fazer tudo melhor, é como a minha água, me hidrata e me deixa feliz e me faz mijar e eliminar toxinas e talz, e cagava fedido, mas era bem aliviador e, porra, essa era uma das alegrias de um alcoolatra: cagar as brejas!, isso claro, além de dormir no chão e acordar de ressaca né?... Enfim, lembro que meu passatempo era assistir o Marcelo Resende falando das tragédias, eram 3 horas por dia de um programa só com tragédias, e dava uma audiência da porra e todos viam, e eu queria ser como todos, e por isso eu via... Eram sobrinhas violentadas por tios, filhos usuários de drogas que batiam nas mães, garotos da Bolívia que morriam por chorarem num assalto, além dos protestos, e das reformas políticas, a cura gay, a PEC, a Dilma, o vinagre (que andava meio esquecido, ali no armário), ainda importante. Isso me enchia o saco, estava cansado do mundo, e principalmente das pessoas, e das pessoas amando pessoas e de mimimis e escrevendo "Amorzinho" na agenda do telefone pra falar pelo Whatsapp. Porra! Parece que tem 15 anos! "Amorzinho" é o caralho, coloca nome e sobrenome nessa merda e age como um adulto, cheio de pelos na cara e com a dignidade necessária. Deus, eu estava revoltado, e prosseguia bebendo brejas e fumando cigarros e todo aquele suícidio que eu sempre falo mil vezes e que é redundante, mas que eu penso "Foda-se, vou escrever 589 textos iguais e ainda assim me chamarão de gênio!", eu poderia estar certo, mas acho que tinha mais chances de estar muito, mas muito errado mesmo. Gênio não, alcoolatra sim.

As brejinhas estavam me dando sono, e ainda faltava uma hora pro programa do Marcelo Resende acabar, o Cidade Alerta, e as sirenes dos PMs ainda ecoavam no meu quarto, ouvia a TV no máximo, e foda-se os especialistas em saúde dos ouvidos, e os ossos internos, o tal do osso do martelo e talz, foda-se, eu nem de biológicas era, e honestamente já nem sabia o que era um citoplasma, ou um zigoto ou todos aqueles nomes difíceis de biológicas e tudo o mais. Onde parei, onde parei, sempre divago, sempre divago, merda! AHHH SIIIMM! No sono, parei no sono, estava com sono, e o sofá estava bem aconchegante... Brejas de merda, haviam me fodido, queria ver todo o programa do Marcelo Resende. Me levantei, peguei a vodka, na garrafa mesmo, no gargalo, puro e quente, e aquilo descia como lava na floresta, queimou os olhos, os rins, o esôfago, o intestino delgado, o intestino grosso, O FÍGADO, jamais poderia esquecer dele, e os bronquios e tudo mais (até que manjo bem de biológicas). Adormeci com as sirenes tocando, e sabia o fim da reportagem. "Garoto de 11 anos é preso por fumar crack."

Zaratustra

terça-feira, 2 de julho de 2013

Este é o problema!



Este é o problema com a bebida, pensei, levantando a garrafa num falso brinde... Quando estou sóbrio, não quero escrever. Quando estou levemente bêbado, prefiro continuar me embebedando, e quando estou muito bêbado, ou apago ou não consigo escrever!

Zaratustra

E tudo parecia ainda mais simples do que realmente era



As meias que estavam jogadas pelo chão, a cama desarrumada e fora do lugar, meio torta pra esquerda, ou pra direita, nem sei ao certo. Num quarto com pouco mais de vinte metros quadrados, a geladeira, mini geladeira, ainda tinha comida estragada, acho que eram frios, presunto, queijo e mortadela, que eu achei que comeria. As roupas estavam em todos os cantos, nas janelas, em cima da mesa, em cima da cama e da máquina de escrever. Nao via futuro ali, não via nada a não ser o caos. O banheiro estava um nojo, o vômito de semanas ainda estava respingado no vaso, na privada. Sem chuveiro, com as roupas sujas, vestido aos trapos eu insistia em pensar que meu mundo não estava ssim tão ruim, apesar da solidão e do alcoolismo. Essa ideia de beber todos os dias estava me fodendo. Ensanguentei uma velha blusa com o que engoli do veneno. Dormi em encostos das cadeiras, em cima da mesa e inclusive, em cima da máquina de escrever. O fracasso ainda era mais digno do que aquilo que eu, somente eu, sabia e enfrentava. Não tinha rotinas, não tinha amigos, nem dinheiro, nem sucesso, nem futuro, nem esposa, nem filhos, nem conta no banco, nem titulo de eleitor, ou ainda, a reservista do exercito. Perante a sociedade eu não era nem um número. O sorriso, apesar de tudo, mesmo com as garrafas entornadas, e a solidão, e as meias jogadas, e as roupas sujas, e o cheiro de mofo e bolor da geladeira, mesmo com isso tudo, o sorriso por vezes insistia em me dizer um leve "olá!" Eu o agraciava, gracejava ele, o sentia, e sim, o sentia com intensidade. E tudo parecia ainda mais simples do que realmente era.

Zaratustra

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Era demais, e demais sempre é demais!



Via que as pessoas tinham mania de se animarem, de otimismo, de "pra cima", de alegria e felicidade, isso ao sentirem o cheirinho de pão pela manhã da segunda feira. Nem sombra do domingo, em que ouviam a musiquinha do Fantástico e já batia o desespero, o chororô e os mimimis. Depois que o despertador tocava cedo, as pessoas calçavam seus sapatos, passavam água no rosto e se metiam nas conduções lotadas, parecia que o trabalho seria fácil, e que o dia seria bom, e que o pior já havia passado. Mas era otimismo demais, felicidade demais e tudo demais e demais de demais e mais. Exageros sempre fodem tudo, sempre fodem todos, e muito otimismo, para mim, poderia me levar à fraqueza. Sempre pensava no pior, isso fazia com que eu me frustrasse menos e menos e "demenos" acaba se tornando melhor do que demais. Sem otimismos, sim, mesmo na segunda em que todos postavam nas redes sociais um "bom dia", com uma frase bonita e algumas hashtags. Para mim era mais um dia comum, em que eu tentava me manter bêbado o bastante para não sentir meu rosto. Foda-se, eu virei ainda mais e mais vodka, bateu no fígado, deu uma azia, praguejei, mas parei com os mimimis. Vodka nunca era demais!

Zaratustra