sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Dando um tempo



Vou ter que ficar de fora da jogada por um tempo. Meus textos não estão ajudando muito as pessoas. Meus textos estão me matando lentamente. As pessoas estão me matando lentamente. As pessoas não estão valendo nada. Eu não confio mais nelas. Vou ter que sair de casa, aceitar o fato de que não posso viver somente da escrita. Eu estou destinado a ter um emprego que me pague o necessário pra bancar minhas contas. Ter uma vida miserável, somente isso, somente miséria. Beber quando eu tiver o mínimo de dinheiro pra isso. Passar fins de semana preso num quarto, degustando meu fracasso. Não quero ser dramático, o que quero dizer é que me cansei de tudo. Não quero ser nada, nem fazer nada, nem conversar sobre nada.

Algum dia eu posso voltar, mas no momento eu preciso desse espaço.

Zaratustra

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Leituras Ruins



Andei buscando por novas leituras. Precisava variar um pouco. Lia Bukowski em excesso, eu li 2 livros dele em 4 dias. Isso não é mérito nenhum. Isso é somente uma tentativa de fuga misturada com meu prazer por ler realidades. Mas todos os outros são muito chatos. Eu não consigo ler nada que preste hoje em dia. Me revolta aqueles intelectuais que lêem aqueles livros grossos de 500 páginas, que falam sobre heróis, rainhas, fadas, reis e o caralho todo. Não! Não viva a fantasia. Viva o real. Você acha que Kerouac era um gênio porque ele ficou em casa fumando cigarros e tendo papinhos cults de filmes da moda. Não! Muita gente da geração beat se tornou isso, como o próprio filho da puta do Ginsberg, que enchia folhas e mais folhas de poemas rebuscados e fantasiosos. Kerouac foi pra estrada, ele fodeo, se apaixonou, bebeu, se drogou, morou na rua, dormiu em sarjetas muitas vezes, tomou um fora, bebeu por causa desse fora. Ele viveu! Ele diz a realidade! Fantasia é só um monte de mentira pra tentar te animar. Não existe príncipe encantado! Você vai morrer sozinho! Ninguém se importa mais com você do que se importa consigo mesmo! Balela. Gente burra, hipócrita, nadam num mar de ignorância e se acham inteligentes. Inteligência não é assistir filme estrangeiro e se apaixonar pelo protagonista. Inteligência não é ouvir Los Hermanos e tomar um café no Starbucks da Paulista enquanto mexe no seu Iphone 5 e posta fotos no Instagram. O "ser cult" é a nova praga social. Ter estilo é uma merda! São uns filhinhos de papai do caralho, fantasiosos. Se entupiram de Harry Potter na adolescência e acham que agora é possível conseguir jogar quadribol. E Harry Potter é outra bosta de livro! Augusto dos Anjos foi outro merda. Textos enfadonhos. Enrolam pra não falarem nada. Falta realidade, nos textos e nas pessoas! Não é possível que somente eu cuspa as palavras, não é possível que somente eu não me preocupe com porra de métrica, ou com a porra do assunto do meu texto. Tem que ter mais gente por aí, sei que tem ainda mais alguns vivos, pessoas que vêem as coisas e não tem medo de retratar elas como são, sem pensar em beleza, fama ou quantos likes suas fotos vão ter no FaceBook e no Instagram. A realidade é simplesmente mais fácil de ser absorvida, e muito mais fácil de ser comprovada. Levantem o cu da cadeira, não escrevam poemas bonitos e nem fantasiosos. Cuspam as coisas, sejam mais dignos.

Zaratustra

Vou ficar deitado até a morte chegar



Vou ficar deitado até a morte chegar. Vou esperar ela chegar, deitado na minha cama, ouvindo péssimas músicas e nos dias bons, tomarei um porre de vodka barata com água.

Vou ficar deitado até a morte chegar. Se vierem me visitar, gentilmente eu vou oferecer uma dose de vodka, bateremos um papo e eu voltarei á cama.

Vou ficar deitado até a morte chegar. Sem comer, sem dormir, sem pensar. Quanto mais eu faço isso, pior me sinto. Precisava dar um basta. Como um vegetal. Pensar é pros idiotas

Vou ficar deitado até a morte chegar. E se eu ouvir garotinhos na rua jogando bola, rindo, sendo felizes, vou me lembrar da minha infância, da parte boa dela, e darei um sorrisinho leve de satisfação.

Vou ficar deitado até a morte chegar. E quando ela chegar, vamos bater um papo, tomar uma dose e ela vai me levar.

Zaratustra

Olhos perdidos



Os anos estavam se passando mais rápido do que o normal. Eu não sabia exatamente como explicar isso. Não sou físico, não tenho provas disso, mas eu sentia que a minha infância havia durado muito, a adolescência também. A juventude estava voando depressa, como um carro numa estrada em que não existe limite de velocidade. Droga, eu joguei uma boa parte desse tempo no lixo, e não me devia sentir mal com isso, afinal, anos são como água escorrendo pelo ralo. Anos nunca voltam, falar que "desperdiçamos" tempo é uma completa babaquice. Tudo é desperdício. Fazer a barba é desperdício de tempo. Pensar no futuro é desperdício de tempo. Assistir seriado, comer, cagar, foder, rezar, beber, mijar, rir, ver peças de teatro... Escrever é desperdício de tempo. A vida é somente uma sucessão de desperdícios, é um atrás do outro. O que tentamos fazer é não sentirmos esse desperdício, é pensar que estamos nos divertindo, ou construindo algo. Balela. No fim, somos bostas de cachorros enterradas e com uma boa sorte, vamos ter uma lápide com uma frase de efeito. Na minha estará "Mais vodka, por favor". Acho que eu não vou ter uma lápide mesmo... Esse papo de desperdício me fez colocar a mão na cabeça e perceber que não serei jovem pra sempre. Eu precisava "viver" mais a minha vida. Me dedicar um pouco menos. Pensar menos, sentir mais. Mas como? Todos temos necessidades, eu tenho que comer, cagar, beber... principalmente escrever. Escrever era melhor que foder. Ao menos quando eu escrevia eu podia escolher exatamente como as coisas seriam. E em qual posição eu estaria. Chega. Estava me deprimindo demais com esse assunto.

Me levantei. Estava deitado fazia uma hora pensando nisso, sem propósito algum. Havia desperdiçado mais tempo. Sem sono, fui na cozinha, peguei um copo de água. Sem camisa, me olhei no espelho. Barrigudo, olhos perdidos, barba mal feita, dentes rotos e amarelos. Eu estava um caco, e quanto mais tempo fosse escoado pelo ralo, pior ficaria. Deus, como é possível alguém querer viver mais do que trinta anos!? Merda. É tempo demais na Terra, quanto mais ficamos aqui, mais tempo desperdiçamos. Porra. Acho que seria melhor eu perder mais oito horas da minha vida e fui dormir.

Zaratustra

sábado, 4 de janeiro de 2014

Garotinhas attwhores



Ela tirou uma foto selfie no espelho
esperou meu like
Eu não dei
ela queria meu like, mas eu
não dei
Eu não ligo a mínima e eu sei
(sei que ela é gostosa)
Mas eu quero que ela se FODA
Quantos likes são necessários
pra alimentar essa garota ao dia?
Eu, sinceramente, não sei
Sei que quero q se foda
minha vodka merece mais likes

Mas é mais engraçado ainda
quando os babacas dão like
like na foto
E acham que assim vão comer elas
HAHAHAHAHAHAH
Babacas!
Morram ai, se matem na punheta
Isso é utopia
vocês vão virar no máximo amiguinhos delas
e enquanto isso
um cara como eu (não eu, mas como eu)
Machista, grosseiro e rude
Vai comer ela
e ela vai gozar pra caralho na pica dele
e vocês? e vocês?
Só na punheta!
Deprimente, deprimente!

Zaratustra

Me assassinando



O assassino atira na minha cabeça
naquela tarde de
sol
Eu caio pra trás
como um saco de bosta
Mas a bebida não me ajudou
a ficar mais estável
Minha garota tinha que me amar
utopia
O tiro atravessa minha têmpora
esvazia meu crânio
Faz miolos se esparramarem

Engraçado
eu senti o impacto disso tudo
e ri
E acho que no fim das contas
foi indiferente

O assassino riu também
ele se sentiu feliz
o dinheiro iria cair na conta
E ele ficou de boa com isso
ele teria dinheiro,
por matar um ser humano
É pedir demais!? Isso sim
é pra mim um trabalho digno

Me atiraram um osso enquanto o caixão descia...

Zaratustra

O assassinato



Ela me conheceu na época em que eu jogava muito poker, muito mais do que agora. Seu nome era Letícia. Letícia não era nenhuma garota acima da média. Na época, seios fartos, nádegas pequenas e bem desenhadas, coxas torneadas, uma barriga meio de "bosta parada na água", mas que eu apertaria fácil enquanto metesse nela. Belos pés (eu não reparo nos pés de uma mulher sempre, mas os delas eram mesmo bem bonitos), ao contrário das mãos, sofridas, de quem lavava louça pra caralho todos os dias. Um rosto bem comum, com dentes comuns, e todo o mais comum. Mas bonito. Enfim, eu tinha 25 anos, era jogador profissional de poker, ela tinha acabado de fazer 18, estava na flor da idade. Eu nunca fui um grande jogador, eu ganhava o suficiente em alguns torneios pra pagar a minha bebida e minhas contas, mas coisa de leve, nada de muito exagero, nada de casas na praia e Iphones de última moda. Mas ainda assim eu estava muito bem pra um garoto da minha idade. Sempre jogava valendo dinheiro. Haviam meses em que eu ganhava muito dinheiro, outros nem tanto, mas a vida ia seguindo de forma honesta. Letícia. Sim, eu fiquei um bom tempo com ela, chegamos a cogitar um namoro, ela era boa de cama. Me lembro da nossa primeira conversa como se fosse hoje, estávamos ambos numa festa, na casa da minha ex-ficante (que havia se tornado amiga), a Carlinha (sim, acabei virando amigo dela... Deprimente, mas a gente não controla isso). Ela estava meio bêbada de St. Remy, eu bebia vodka com Coca. Ela me abordou, na verdade.

- Oiiiii... Você que é o Carlos? - ela me disse, cambaleando.
- Depende. Posso ser como posso não ser. Porque?
- Nada, só te achei gatinho e perguntei sobre você pra Carlinha. Ela me disse que você chamava Carlos.
- Bom, nesse caso sou sim - eu disse, abrindo um sincero sorriso - Desculpe, minha fama não é muito boa, sabe como é hahahah
- Sim, eu sei que tua reputação É UM LIXO, e que você BEBE, FUMA E JOGA PRA CARALHO, mas eu não ligo. Te achei gatinho, isso que importa.
- Hahahaha, saquei - eu cocei as costas da cabeça, demonstrando claro desconforto com o elogio dela (não costumo receber elogios, fico mesmo tímido quando isso acontece) - mas e aí, o que você faz aqui?

Daquela pergunta se desenrolou um bom papo, ela era uma grande garota. Acho que, até aquele momento, só havia ficado com grandes garotas. Eu sempre fui um traste, mas sempre dei sorte com as mulheres. Sempre de uma boa aparência, e de uma inteligência acima da média. Letícia era assim. Na época, eu escrevia muita coisa, além de jogar poker, e quando mostrei meus textos pra ela, ela adorou, me chamou de gênio e tudo mais, o que eu nunca cheguei a ser. Tivemos um caso de cerca de uns 7 meses, mas nunca assumimos um namoro, mais por ela do que por mim, eu fui apaixonado por ela (como pela maioria das mulheres, eu me apaixonava muito fácil nessa época da minha vida, eu era jovem e carente... droga), mas ela nunca foi por mim. Quando terminamos meu mundo caiu, perdi muito mais dinheiro no poker, me faltava concentração pra jogar, e meus textos pareciam calcinhas de seda com freadas de bicicleta, eram ao mesmo tempo emotivos e sujos. Foi uma péssima fase da minha vida, mas como tudo, como tudo, acabaria por passar. E passou.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Quinze anos se passaram desde que estive com Letícia. Eu já tinha 40 anos. Ainda jogava poker, mas ganhava bem menos dinheiro, eu ganhava mais com meus textos, eu havia finalmente me tornado um escritor "razoável", e vendia meus textos pra algumas revistas marginais, que somente os jovens liam, jovens que cheiravam cocaína e bebiam pra caralho, e se achavam donos do mundo. Tsc tsc tsc, mal sabiam eles o que a vida lhes reservava, eu já sabia. Eu jurava que eu ia morrer antes dos 30, não consegui, depois jurei que ia morrer antes dos 40, também não consegui. Eu era somente mais um daqueles tiozinhos de boteco, que bebem todos os dias, mas ficam lá, firmes e fortes. A diferença é que eu não era um tiozinho de boteco, eu bebia sozinho em casa enquanto batia no computador alguns poemas (e com sorte alguns contos) marginais. E se você acha que eu bebia com estilo, vai se foder! Eu bebia a vodka mais barata do mercado, nessa altura nem Balalaika era, ela se chamava Komaroff e tinha gosto de limão com alcool Zulu. Enfim, minha vida parecia estagnada, eu não construi nada nesses anos, e nem tinha o plano de construir, eu nunca pensei em filhos, casamento e nem nada. Morava num quarto pequeno, mas perto do centro, pagava barato, bebia meu dinheiro, escrevia bêbado. Às sextas e sábados a noite eu jogava poker, às vezes ganhava um dinheiro, às vezes não, mas meus amigos de poker sempre estavam por ali. Minha vidinha seguia de forma bem honesta desse jeito, e eu não tinha nada pra reclamar dela.

Foi naquela tarde em que eu bebia e lia um pouco de Kerouac que a campainha tocou. Me levantei, coloquei meu copo na mesinha de centro, meu cigarro no cinzeiro entrou em repouso também, atendi de forma despretensiosa.

- Letícia!? É você? - eu disse da forma mais clichê possível, mas foi inevitável.
- Sim Carlos, sou eu. Como vai você?
- Bem bem... Entre. - eu disse, ainda embasbacado

Ela entrou, se sentou no sofá. Ela estava mais velha, sim, mas ainda estava linda. Ainda era a mulher que veio me xavecar numa festa a anos atrás. Olhei ela de cima a baixo, e instantaneamente me apaixonei de novo. Servi uma dose de vodka com suco de limão pra ela, que foi aceita de bom grado. Ela colocou o copo em cima da mesinha de centro, me sentei numa cadeira de frente pra ela, enquanto ela estava no sofá.

- Carlos, vim aqui por um motivo específico - ela disse, entrelaçando os dedos.
- Pois então fale mulher! - eu disse, atônito, e já entornando mais vodka pela garganta.
- Não sei como dizer isso, mas... Eu preciso que você mate meu marido! - ela disse, e virou seu drink também (mas só até a metade do copo).
- Oi!!!!???? - agora eu estava ainda mais espantado.
- Sim, é isso. Não curto rodeios, você sabe que não curto. Preciso que você faça isso pra mim.
- Mas cara... Porque isso!? - eu entornei mais vodka, isso pra mim era pesado demais.
- Ele me bate, e bate na minha filha. Não aguento mais...
- Ok, mas e o divórcio? Deve haver uma forma de resolver isso, não é possível!
- Ele disse que se eu me separar dele, ele me mata, e mata minha filha... Estou sem escapatória - ela bebeu mais do drink, e já dava sinais de tremedeira.
- Ok, mas e a polícia? - eu tentava ser sensato.
- Ele me disse que se eu me meter com a polícia, ele me mata também... E minha filha. Porra Carlos, você não acha que eu pensei em todas as possibilidades!? Realmente não tenho escapatória!
- Entendi. Mas porque eu, porque não um matador de aluguel, ou algo do tipo!? Cê sabe que eu nunca tive talento pra essas porras, eu não mato nem mosca, sou um covarde filho de uma puta!
- Você sempre foi o cara mais porra louca que eu conheci. Nesses quinze anos em que estivemos separados, não conheci ninguém tão louco como você - eu não sabia se me sentia lisonjeado ou ofendido nessa hora - e por isso que vim atrás de você. E também sei que, você mesmo sendo essa MERDA que é, é ainda um bom sujeito, que sempre vai querer o bem das pessoas...
- Não exagere chuchu, não exagere... - interrompi.
- Ok, mas ao menos o meu bem você quer, né seu puto!?

Aquela pergunta me fodeo, porque sim, eu queria o bem dela... Porra, eu havia me apaixonado por ela de novo. Se eu fosse o herói dela, havia a possibilidade dela voltar comigo, sei lá, e eu pensar em ter uma família, ao menos a filha ela já tinha, mas eu tomaria como minha, me dedicaria mais aos textos e menos ao alcool, e seria um bom chefe de família. Era loucura demais, era sim, matar outra pessoa, isso sim seria muita loucura. Nunca havia passado pela minha cabeça uma coisa dessas (apesar de eu sempre expressar meu desejo pelas pessoas mortas, o que era verdade, mas matar alguém, isso sim era algo treta pra caralho), mas pesando na balança... Eu não sabia! Precisava pesar as coisas, organizar as ideias. Caralho!

- Beleza, mas como eu mataria ele? - perguntei, entornando mais vodka.
- Eu tenho o plano todo, relaxa, você só precisa ter coragem pra colocar ele em prática.
- Ok Letícia, ok... - eu disse, preocupado, mas apaixonado.

------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Me encontrei com Letícia eram 19h em frente à sua casa. Ela estava até que bem tranquila. Eu? Eu estava preocupado pra caralho, só isso. Ela veio com aquele balançar de corpo lindo (que ela sempre teve).

- Carlos, seguinte. Espere meu sinal do outro lado da rua. Fique sentado ali na sarjeta, sei que essa é sua especialidade (sim, era verdade, já dormi mais nas sarjetas do que nas camas). A hora em que eu te der o sinal, você entra. Beleza?
- Beleza - eu disse, já tomando vodka, eu nem sabia que porra eu ia fazer, era melhor estar bêbado no processo.

Aguardei cerca de 40 minutos, quando vi um belo carro chegar em casa. Era um daqueles importados SUV, daqueles caras que tem os carros grandes por terem os pintos pequenos, acho que o marido de Letícia tinha o pinto pequeno, aliás, certeza que ele tinha o pinto pequeno, vai ver que por isso que ela queria ele morto. Um homem com um bom porte entrou pela porta da frente. Assisti a um belo jantar pelas largas janelas da cozinha, me pareciam uma família feliz, era aquela coisa que eu nunca tive. Isso sim era o tipo de coisa que eu nunca tive, e que eu achei que nunca teria, afinal, eu estava velho demais pra coisa toda. E cansado demais pra casar com essas garotinhas do mundo, que mal sabem porra nenhuma da vida. A comida servida quente no prato, todos sentados à mesa "e eu numa sarjeta, bebendo vodka hahahha" eu entornei mais vodka enquanto pensava na minha desgraça.

O jantar acabou, eles foram todos à sala. Dei um tempo na vodka. Eram cerca de 21h25 quando Letícia apareceu de novo na janela da cozinha, sinalizando pra que eu fosse na casa, pra que eu entrasse. Me levantei, entrei pela porta da frente. Encontrei o marido dela caído no sofá, desmaiado.

- Que porra que você deu pra esse cara!? - eu perguntei, atônito.
- Nada, ele só bebeu até desmaiar... Como faz na maioria dos dias.
- Saquei, saquei... Bom, e aí, o que fazemos?
- Preciso que você amarre ele nessa corda, e que puxe ele... Vai parecer um suícidio, ele vai se enforcar. 
- Caralho! Como você é doente! - eu disse, e agora eu entornava vodka de novo, FODA-SE.
- Oras, é o plano perfeito... Nem todo suicida anuncia sua morte.
- É verdade, quem anuncia geralmente arrega...
- Pois é. Agora pegue aquela corda, amarre naquela viga e coloque ele lá. - ela me disse, apontando pra uma viga na cozinha, que sim, parecia ser bem resistente, e pra uma corda em cima da mesa de jantar, que sim, parecia ser bem resistente também.

Amarrei a corda na viga, por um momento me senti mal, eu estava matando um alcoólatra, estava matando alguém da minha "espécie", é como se um suricato matasse outro suricato, ou um orangotango matasse outro orangotango. Mas as mulheres nos cegam muitas vezes. E outra, ela arquitetou tudo, só precisava de alguém com culhões pra puxar a corda, e com um pouco de força. E pra isso, eu era perfeito, eu estava tão bêbado que enfiaria uma gaita no cu de um elefante sem esperar uma música pra isso. Amarrei o coitado lá, puxei a corda, vi ele subir. Nisso ele acordou, gritou um pouco. Ahhh sim, a filha estava dormindo, ela não ouviu nada, e se ouviu não acordou. Mas não teve muita resistência. Nem olhei nos olhos dele nessa hora, seria doentio demais. Pronto, ele estava morto.

- Muito obrigada Carlos! Você foi mesmo um grande AMIGO - Letícia me soltou.
- Ok ok... Talvez possamos sair qualquer dia pra tomar um café, sei lá - eu disse, esperançoso pra caralho, eu era o herói dela.
- Hahahaha não Carlos, valeu, mas te vejo como um AMIGO, e somente isso.
- Ok - de cabeça baixa, sai pela porta da frente.

Eu havia sido jogado pra zona da amizade mesmo após ter matado o marido dela. Merda. Todo esse esforço pra PORRA NENHUMA! Me senti um lixo. Pensei em entregar ela, mas eu iria de cúmplice, o que seria melhor era aceitar a derrota e chorar. E voltar ao poker e aos textos marginais, e ao meu quarto pequeno no centro. No fim das contas, todos os sonhos não passam de utopias.

Zaratustra


sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Pessimismo e morte



Não pense que tudo vai ser melhor, não pense que você vai mudar, e digo, se mudar, vai retroceder de novo, seu corpo vai se contorcer pra caralho de dor, você sempre vai sofrer, e chorar, sempre sozinho, você sempre vai estar sozinho quando for chorar. As pessoas estão atrás de você somente nas horas boas, nas ruins, esquece, sim, esquece, eles vão te chutar como a gente chuta uma latinha na rua, sem a menor compaixão e com uma indiferença fodida, sabendo que tanto faz o que vai acontecer com aquela porra daquela latinha. Você é uma porra de um banco, você não passa de um banco pras pessoas, elas te vem como uma porra de um cifrão. Não seja feliz, você sabe que isso é utopia, você sabe que é impossível. O amor sempre foi considerado mentira, a felicidade também não deixa de ser uma porra de uma mentira. Uma utopia. Só isso.

A morte é muitas vezes considerada uma coisa ruim, mas sabem como é, é aquele lance de experimentar o que você não conhece, de explorar o desconhecido, é como os ricos fazem, eles viajam pra lugares que eles nunca viram, eles não sabem o que vai acontecer, ou o que pode ter de ruim no lugar. Eles simplesmente vão pra lá, sem pensarem. A morte é mais ou menos isso, é visitar o desconhecido, é explorar um lugar habitado, mas cujos moradores você não conhece. O grande problema é que não nos matamos pois temos medo do desconhecido, só isso. Conhecemos a vida, mas é fato, fomos jogados aqui. A morte é uma opção. Uma bela opção.

Zaratustra

Tragédias e castelos de areia



Atendi o telefone
Era engano
"engano é meio nome do meio"
pensei
Voltei ao sofá
Assisti tragédias
na Record
tragédias

Assassinatos
Estupros e latrocínios
e isso me inspira
a escrever mais alguma bobagem
E sim, é verão
as praias estão cheias
Pessoas se aglomeram
em busca de sol e tranquilidade
Mas tranquilidade não se acha
Sol? Quente demais
as crianças correm
e montam castelos de areia
E os adolescentes chutam os castelos
Arruinam os planos
e se embriagam
e no fim das contas
a vida não passa de um monte de
Castelos de areia

Acho que vou voltar pras tragédias
isso me soa digno
Mais do que a praia

Zaratustra

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A mulher que eu não quis comer



O sentimento era deveras bucólico, é isso, e se você não sabe o que é bucólico, amigo, joga no google, eu cansei de ensinar as pessoas, cansei de ser o responsável por tudo, então foda-se. Eu estava mesmo irritado, não sei ao certo os motivos. Onde eu estava? Ah sim, eu dizia estar bucólico, esse sentimento corria numa péssima fase da minha vida, eu estava cheio de dívidas, mulheres e bebidas e baladas me consumiram como o fogo consumia meu cigarro naquela noite em que eu estava no interior, num sítio de um amigo meu, era mato e mais mato (entenderam agora o bucólico hehe), e isso era bem legal pra pensar na vida, nas dívidas e no que fazer pra mudar essa porra toda.

Hey, eu abria a sexta latinha de cerveja e estava quase no fim do meu maço de Derby (eu havia esquecido de comprar cigarros, o único que arrumei no meio do mato foi o Derby... Sim, isso é triste), e estava de boa por ali, gastei pouco nas bebidas, comi de graça e por um momento consegui esquecer dos meus quase 20 mil reais de dívidas no banco, do meu desemprego, meus problemas dentários, meus gorfos de sangue, das vadias que me chutaram, da pipoca doce que eu derrubei no chão... Caralho, como eu tinha (e tenho) problemas! Vai ver por isso que eu estava mesmo irritado. A trilha sonora era Pink Floyd, tocava nesse momento Poles Apart, do album The Division Bell. Eu sempre fico igual uma menininha virgem ao dar um beijo no cara mais gatinho da escola quando escuto esse album, eu fico mesmo feliz, empolgado e excitado.

Pois bem, a sexta latinha estava já no final, eu já pensava na sétima, sim, eu sempre bebo pensando na próxima garrafa ou lata, por isso eu bebo rápido, é como numa corrida, eu quero alcançar logo meu limite. Vejo garrafas como adversários, tenho que eliminar eles o mais rápido possível! E no dia do lixeiro, sinto vergonha quando coloco somente garrafas do lado de fora de casa, e vejo vizinhos com lixos decentes, com embalagens de comidas decentes, sujeira de uma família decente, quando tudo o que tenho são garrafas barulhentas. Foda-se. Sei que antes da sétima lata, meu celular tocou.

- Alô - eu disse secamente.
- Oi Carlos! Sou eu, a Juju! Tudo bom aí no sítio? hihihi
- Oi Juju, tudo ótimo, e por aí?
- Também hihihi. Tô chegando na cidade em que você está. O Pedro me convidou hihihi. Cê pode me buscar no centro? hihihi
- Ok, de boas - acreditem, eu estava irritado PRA CARALHO com esses "hihihis", tanto quanto vocês. Parece que cheirou pó de mico! Pra que tanta graça!? Porra!

Me levantei, constatei que as cervejas não haviam me fodido tanto, acho que eu estava bem pra dirigir. E outra, precisava buscar cigarros mesmo, dessa vez Marlboro vermelho, e ia pegar uma garrafa de vodka pra dormir sossegado (vodka pra mim é o melhor remédio pra insônia). Peguei as chaves e o documento do meu carro e sai.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Acreditem, eu estava individado, mas o meu carrinho popular ainda estava comigo. Eu fatalmente perderia ele também (não pagava a prestação faziam uns cinco meses), mas enquanto o banco não colocasse uma arma na minha cabeça exigindo que eu o devolvesse, ele estaria comigo e seria usado. Prossegui por aquela estrada de terra, sem cinto e bebendo a lata número sete, acho que eu não ligava muito para as regras do trânsito, acho que eu não ligava pra PORRA NENHUMA, e xingava todas as pedrinhas que batiam na parte traseira do meu veículo.

Após uns vinte minutos cheguei no centro, a latinha número sete tinha virado história. Encontrei Juju, sentada em um dos bancos da rodoviária. Ela era mesmo bonita. Belas pernas, seios médios e carinha de anjo. O cabelo tinha uma mecha azul, que dava um ar mais especial a ela.

- Oiiiii Carlos hihihi - ela me abraçou efusivamente.
- Oi Juju. Bom te ver - eu disse, só pra ser educado - agora vamos no mercado comprar VODKA. Ah, e cigarros também.
- Beleza hihihi

Passamos no mercado mais próximo. Comprei uma garrafa de vodka, da mais barata (isso é tão óbvio quanto dizer que o mar é salgado), umas cervejas, também da marca mais barata, isso seria o suficiente. Ela foi fresca, comprou uma garrafa de licor de menta e uma cerveja artesanal. No caixa, peguei dois maços de Marlboro vermelho e pedi CPF na nota. Pronto, ganhei meu centavo do governo. Eu não paguei os drinks dela (tá tirando que eu vou pagar coisas pra mulheres!) Ela pagou o dela e também pediu CPF na nota, e sim, mais um centavo do governo foi retirado. Colocamos tudo dentro do carro, e é lógico que peguei uma latinha de cerveja pra ir bebendo no caminho (tá tirando que vou esperar chegar em casa!) Assim que liguei o motor do carro eu dei a primeira golada.

- Carlos, acho que não é uma boa você beber enquanto dirige. Tem muito acidente.
- Hey, valeu a dica. Agora olha lá fora.

Abri o vidro, ela olhou pro lado de fora e se voltou pra mim com cara de interrogação.

- Olhar o que? - ela disse.
- Lá fora - apontei pra um lugar qualquer e distante - lá tá escrito FO-DA-SE! - eu disse assim mesmo, pausadamente.
- Como você é grosso! - ela disparou, batendo no meu ombro.
- Não encosta na mercadoria... chuchu - eu disse, fechei o vidro, virei mais uma golada na breja, atento com as pedrinhas da estrada, e as xingando mentalmente.
- Hihihi, seu besta! - ela disparou e cruzou os braços, emburrada.

Consegui chegar sem problemas ao sítio, não havia perdido nada, Pedro ainda tomava Bacardi Big Apple com sua esposa. Fui na cozinha, coloquei as bebidas na geladeira, e sim, a latinha número oito havia virado história. Montei uma dose de vodka com água e sentei na varanda, acendendo um Marlboro vermelho. Ia pensar um pouco mais na vida, honestamente não acho bom pensar na vida, mas se eu não pensasse ao menos dessa vez, eu me foderia ainda mais. A vodka com água desceu bem macia, e a cada tragada o cigarro ficava melhor "caralho, isso sim que é boa compania hehe", pensei com um sorrisinho canalha no rosto.

Eu estava mesmo no céu, mas Juju me queria no inferno. Certeza. Ela chegou, tomava sua cerveja artesanal, sentou do meu lado.

- Você quer cerveja Carlos? - ela perguntou me empurrando o copo.
- Quero não, valeu - nisso levantei o copo de vodka com água, mostrando pra ela que eu estava bem acompanhado.
- Hihihi, entendi. Beleza. Posso ficar aqui?- ela perguntou com cara de cão sem dono.
- Ok, tanto faz - eu disse de forma indiferente e emborcando mais vodka com água.

Ficamos sentados um do lado do outro uns bons cinco minutos em silêncio. Mentira, havia ainda o som do bom e velho Floyd pra tentar me ajudar (e me animar) a pensar. Tocava nesse momento Sheep, do (injustiçado) album Animals.

- Você está muito quieto Carlos! Aconteceu alguma coisa? - ela disse, emborcando cerveja artesanal.
- Não, só pensando na vida - eu disse, acendi mais um cigarro, emborquei mais do meu drink, e pensando "aconteceu a PORRA DA MINHA VIDA DE MERDA, só isso!"
- Entendi. Vou deixar você sozinho então, beleza?
- Beleza Juju, beleza - eu disse, puxando mais tabaco tostado pra dentro do pulmão.

Ela se foi, pude voltar à paz dos meus pensamentos. Fiquei umas boas duas horas pensando, bebendo e fumando. Desculpem, mas é impossível detalhar o que eu estava pensando. São coisas demais, e tudo deveras complexo, e isso é confusão em excesso, é tanta confusão que palavras não comportam isso tudo. Enfim, depois dessas duas horas pensando, vamos pular pro fim da porra toda.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Entrei e fui tomar um banho. Peguei a toalha, sentei no vaso, dei uma boa cagada das brejas e das vodkas que tomei durante o dia, me levantei, me limpei, liguei o chuveiro, medi a água, estava na temperatura ideal, entrei no chuveiro, tomei um bom banho, me limpei com uma tenacidade clínica, fiquei até mais leve e mais sóbrio. Estava pronto pra uma noite decente de sono.

Fui ao quarto de hóspedes, haviam duas camas de solteiro, Juju estava em uma, eu fui pra outra. Quando me deitei, mal fechei os olhos e ela pulou em cima de mim (Juju, não a cama). Tomei um puta susto com aquilo, e gritei, atônito.

- CÊ TÁ LOUCA!? CARALHO!
- Vamos ficar Carlos! Vamos! Hihihi
- Porra nenhuma, saí daqui, caralho! - eu disse, empurrando ela pra fora da minha cama.

Ela me olhou, perplexa.

- Porque você não quer me comer, Carlos!?
- Sei lá caralhos, eu tô cansado. Sou obrigado a transar sempre que me pedem?
- Não... Mas é estranho um homem não querer comer uma mulher.
- Vocês mulheres são fodas, exigem uma porrada de coisa, fazem revoluções, escrevem em cartazes, pintam o corpo, e ainda tem a tal da marcha das vadias, mas acham que nós homens temos que foder sempre que uma mulher nos pede. Vai se foder na tua cama e me deixa dormir, porra! - eu disse, virando pro lado e cobrindo meu rosto.

Ela não insistiu mais. Arrastou os pés de volta pra sua cama e dormiu. Caralho, ela era uma mulher bonita, mas eu estava cheio de problemas, não estava a fim de me meter com uma mulher. Um homem tem que muitas vezes fazer o que ele quer, e não o que lhe pedem. Talvez me chamassem de gay, mas eu estava, como sempre, me lixando pra isso. Dormi como um bebê, estaria pronto pra mais um porre e pra mais pensamentos no dia seguinte.

Zaratustra

Acordar cedo e música ruim



Como diabos pode um ser humano gostar de acordar antes do meio dia!? Eu acho impossível uma coisa dessas, e é por isso que sempre acordo por volta das 2h da tarde. Mas naquele dia eu tive que me levantar cedo, tive uma certa "situação" familiar, me vi obrigado a levantar mais cedo, acordei eram 8h da manhã. O que me fode é que quando acordo cedo perco todo o ânimo pra beber, e eu odeio ficar desanimado pra beber, porque quando não bebo eu fico mal humorado PRA CARALHO! E sim, meu dia não estava nada bom, eu estava preso num lugar em que fui obrigado a ouvir péssima música, e sim, isso também me desanima pra beber. Se tem uma coisa que não entendo é o gosto das pessoas, que dizem gostar de putz putz mas não ouviram Sinatra sequer uma vez na vida. Sim, Sinatra era um gênio, reconheçam isso, reconheçam quando alguém tem talento. Empurrei meu Contini goela abaixo pra tentar me animar a beber, mas realmente estava difícil. Eu estava rodeado de pessoas mortas, pessoas gananciosas e que achavam que se embriagar todos os dias é crime contra si mesmo e contra a sociedade. Eu precisava empurrar mais contini, e então tudo seria um pouco mais fácil. Caralho, que dia de merda!

Zaratustra