sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Muito estranho meu caro, muito estranho!



Eu estava longe de ser ativista ou revolucionário. Talvez se eu fosse mais ignorante a minha saúde mental e física e digo mais, minha reputação, ainda estariam intactas. Eu não era um daqueles caras dos livros românticos, não assistia Sex and the City, não entendia mais de mulheres do que eu entendia de copos, não rasgava notas de 2 pratas em botecos enquanto tomava marias-moles às 11h30 da manhã, esperando que um raio caisse e tudo se resolvesse. Não conversava mais com as pessoas do que eu conversava comigo mesmo, não fazia o viés de anfitrião quando tudo o que eu queria ver era a escuridão do meu quarto e a melancolia do meu copo e dos meus textos. Eu não andava com os ratos e as baratas que surgiam no meu quarto após um mês sem limpeza, e nem lambia as crostas de sujeira das paredes, nem tinha saco pra recolher os 8 pratos e talheres diversos que se acumulavam no criado-mudo. Eu simplesmente ria, e me sociabilizava como uma adolescente de 14 anos, com relações que nunca prosseguiam e com lágrimas e copos nos dias seguintes às frustrações. Fracasso? Talvez! A sinceridade era minha melhor amiga e minha pior inimiga, eu deveria mentir mais, aliás, eu TINHA que mentir mais, porém isso era díficil, muito difícil mesmo. A verdade saia dos meus lábios mais fácil do que a garrafa esvaziava nas minhas mãos, e ainda assim, ainda assim eu julgava que tudo estava muito estranho, tudo estava estranho demais! Por Deus, tomei um chá, acendi um baseado e comi uns 3 pacotes de Trakinas, enquanto ria do teto que tinha uma cor diferente da cor da parede... Acho que no fim das contas, o estranho era eu, e se eu mudasse pra outra dimensão eu tornaria o mundo menos pesado!

Zaratustra

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Só um cuspe no ralo



Algumas coisas realmente não significam nada e isso me surpreende algumas vezes, outras não. Se pararmos mesmo pra pensar, e isso é muito ruim, por isso sempre aconselho o contrário, veremos que cada atitude que temos, mesmo que sejam leves, acabam modificando pra sempre o seu futuro de forma monstruosa. Lembra da sua ex-mulher, que te traiu e te fodeu e tudo mais? Quando você a conheceu, você poderia ter dito simplesmente "olá", ao invés de dizer "olá, podemos sair qualquer dia desses pra tomar um sorvete ou pegar um cinema?" E porra, isso alterou o curso de sua vida pra caralho. A faculdade que você fez, meio sem ter certeza, é agora o que você fará pro resto da sua vida. É isso, sem tirar nem pôr, que altera muita coisa e nunca paramos pra pensar "E se eu tivesse feito diferente, como eu estaria hoje?" Tudo é importante. Menos um cuspe no ralo, no fim das contas ele é só um cuspe no ralo e nada mais do que isso...

Zaratustra

sábado, 24 de agosto de 2013

E agora Bonitona?



Me lembro dela balançando o cabelo na minha frente, era um cabelo vermelho, mais pro vermelho do que pro ruivo, e por Deus, na época eu a amava demais, me dedicava a ela, mas nunca, nunca rolou nada. Podemos dizer que eu fui culpado nisso também, uma vez que ela me tratava como amigo e eu aceitava tudo de forma complacente. Pois bem, o mundo seguia aos trancos e barrancos naquela época da minha vida, parecia que nada se encaixava e eu penava com as coisas que ocorriam na minha mente e na minha maldita existência. Eu era somente um degenerado e alcoolátra, ela era uma boa garota, tinha um grande futuro, e no fundo no fundo, me parecia certo que eu não tivesse nenhum envolvimento amoroso com ela.

Certo dia, quando passeavamos pelo shopping, me deparei com uma vontade súbita de me declarar a ela, e porra, foi isso que eu fiz caralhos, me deixei levar.

- O lance é o seguinte... Gosto de você, não como amiga, mas quero um lance diferente com você, manja? - por Deus, foi um fracasso de xaveco.
- Entendi Carlos - ela me olhou já desapontada por ter que me decepcionar - mas acontece que você é louco demais, você bebe demais e se droga demais, nunca daria certo entre nós. Se você fosse menos doido, eu te daria uma oportunidade, pois sei que você é um cara bacana no fundo...
- Ok - fui seco e aceitei a derrota.

E ai que depois disso se passaram meses, quase um ano, e adivinhem, eu estava nas nuvens, estava regenerado do alcool e das drogas, já nem era mais inconsequente e maluco, era um sujeito normal, com bom peso e boa altura e que bebia socialmente, além de estar muito bem sucedido no meu trabalho. Pois bem, encontrei ela na rua uma vez, sim, a mesma garota do cabelo vermelho.

- Carlos! Quanto tempo! - ela disse, me abraçando
- Sim sim flor, muito tempo hahaha... E ai, tudo bem?
- Tudo sim, e com você?
- Tudo ótimo, tudo ótimo... E as novidades, me conta - demonstrava interesse REAL no que ela tinha de novidades.
- Ahhh sabe como é hihihi, nada de novo, e com você?
- Então, parei de beber e de me drogar e tudo mais... e outra, tô muito bem no trabalho, além de estar fazendo exercícios regularmente, e me alimentando bem e tudo mais, sabe como é né hahaha - balbuciei um pouco minha falta de modéstia.
- Nossa!! - ela disse extasiada - Reparei que você tá diferente mesmo hihihi. Podemos marcar de sair qualquer hora né?
- Vamos ver, vamos ver hahaha - não queria dar esse gostinho a ela - agora tenho que ir chuchu, depois nos falamos.
- Ok, beijos e me liga - ela me piscou o olho e eu saí em direção ao trabalho. Estava atrasado.

Zaratustra

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Pais e filhos e um pouco de whisky



A esposa de Edu estava grávida de seis meses. Era uma boa garota, esforçada, inteligente, o tipo de mulher madura e independente, que sabe o que quer manja? Sim, ela era isso, e se não fosse o fato de estar grávida, ainda era bem bonita. E nem me venham com aquele papinho de "a mulher quando está grávida fica linda!" Todos sabemos que isso é mentira, ela fica enorme e inchada, como isso pode ser bonito? Sei lá, parece que dizem as coisas só pra elas se sentirem bem, e eu era realista, por isso preferia não me pronunciar. Edu era um cara bem bacana também, era bem esforçado, também, e estava num emprego fazia dois e pouco, estava se dando bem, iria ser promovido, isso é fato. Eram um casal feliz, moravam junto num apzinho ali em Itaquera, bem decorado até. Pequeno, mas bem bonitinho. Foi numa tarde em que eu estava em casa lendo sobre a arte da sedução quando meu telefone tocou.

- Alô, Carlos?
- Pois não! - eu disse com uma entonação firme.
- É o Edu cara. Como você tá?
- Não pior do que um mendigo nem melhor do que um milionário hahaha mas tô suave. E você?
- Hahaha tô bem de boa. Ou, queria te convidar pro chá de bebê do meu filho cara. Vai ser uma puta festa, você precisa vir.
- Sei lá, não gosto muito desse lance de pais e filhos, essa baboseira toda. Tu sabe que eu sou um solteirão convicto né? - olhei minhas unhas e emposei milenarmente.
- Eu sei cara, mas você é meu melhor amigo, e outra, terão drinks. Whisky.
- Estarei ai. Que horas?
- Por volta das 20h, no sábado! Conto com sua presença hahaha Abraços!
- Ok ok ok, valeu valeu valeu - desliguei o telefone.

Voltei pra garrafa e pra leitura da arte da sedução. Esse lance de rolês estava mesmo me enchendo, o lance da bebida também, mas um homem precisa se sociabilizar às vezes né? Deus, eu fazia perguntas retóricas e esperava chegar o sábado logo. Foda-se fui dormir. O resto da semana nem valeu a pena ser contado, vamos logo pro sábado.

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Pois bem, aí que chegou o sábado. Fiz a barba, coloquei uma das minhas cuecas não furadas, assim como minha única meia não furada, e uma das minhas camisas não furadas. As minhas calças ainda estavam todas intactas, e os sapatos, apesar dos buracos, estavam bem revestidos com jornal nas solas, isso evitava que minhas meias furassem ainda mais. Deus, eu precisava gastar menos dinheiro em alcool e mais em roupas hahaha. Estava apresentável até, me sentia bem. Cheguei no apzinho modesto deles. Tinham algumas pessoas por ali, muitos casais, muitos filhos, muitas crianças chorando e reclamando e me chamando de tio. Acho que se existe um inferno, aquele era o lugar. E as bexigas? Porra, criança tem uma mania de merda de ficar estourando bexiga, deixem as malditas bexigas em paz! Elas não fizeram nada pra ninguém, porque merecem morrer? Eu precisava de um trago, porque não me dava bem com pessoas e a bebida fazia eu esquecer que as pessoas estavam ali, com o alcool no sangue parecia que eu estava sempre sozinho, e isso era muito bom pra um cara misantrópico como eu. Encontrei o bar, e encontrei Edu e sua esposa Clarisse por ali, se servindo de cerveja e refrigerante, respectivamente.

- Que bom que você veio cara! - Edu me abraçou de forma cativante.
- Olá - disse de forma seca Clarisse.
- Olá, olá, olá Clarisse. E Edu, é uma honra comparecer em suas festas! - ele era um bom sujeito, merecia ser venerado por tudo o que fizesse, e isso que eu estava fazendo ué.

Clarisse não gostava muito de mim, e eu não a culpava por isso. Todas as namoradas/esposas dos meus amigos ou me odiavam ou me odiavam. Eu não era uma boa influência, afinal, eu era o solteirão alcoolátra que sempre fodia as coisas. Nada além disso. Me servi de um pouco de whisky e vi as pessoas passarem. Eu achava que eu era corajoso, mas eles que eram. Ter filhos é pra quem realmente quer se dedicar a algo, eu era muito imaturo pra isso. Eu não era nada perto deles. Se uma criança chorasse na minha frente, eu iria querer no mínimo esmurrar ela, e não poderia. Enfim, o whisky descia muito bem ainda, eu bebia como uma maldita esponja, sem me preocupar com muita coisa, aliás, já estava bêbado pra não me preocupar com mais NADA.

Alguns pais tentavam sociabilizar comigo, mas eu nem dava muita bola. Pensava no whisky. Transformei aquele chá de bebê num "chá de beber", e tudo prosseguia muito bem. Pois bem, chegamos numa hora em que ela abria os presentes, e isso foi um saco, uma vez que eram coisas de bebês e eu não vi graça alguma nisso. O Edu fez um discurso do qual não me lembro muito bem, ele falava da importância da família e talz, algo do gênero. Não lembro de tudo exatamente. Sei que dormi em cima da mesa, com a cara nos comes e bebes. Deus, passei vexame de novo. Estava eu, fadado ao fracasso?

Zaratustra

Substituições



Pois bem, ai que comecei a achar as coisas realmente estranhas. Naquele dia, normalmente, eu disse normalmente, e por isso entenda "o de sempre", eu acordaria com uma ressaca das fodidas, e nem pensaria em levantar da cama, a não ser que fosse pra vomitar, ou algo assim, algo relacionado com vômito, apesar que eu costumava vomitar no chão ou na parede mesmo. Então, esse era o meu comum, era o que eu sempre fazia, mas ao invés disso, levantei cedo, bem disposto, vi o sol nascer, depois disso lavei algumas roupas, sai pra correr, contemplando a natureza. Caralhos, eu estava mesmo estranho, eram substituições em cima de substituições. Ainda não sabia se isso era bom ou ruim, só sei que a cada dia que passava tudo ia se tornando mais fácil. O maior gênio da literatura disse uma vez que é necessário coragem pra ser alcoolatra e ainda mais coragem pra não ser. Pois bem, eu havia sido um alcoolátra, funcionou bem pra mim, mas agora estava não querendo ser mais. Ainda batia à máquina alguns textos, me divertia com as reflexões e os poemas, e também os desenhos, uma nova empreitada. Ao invés da garrafa, estava ao meu lado uma xícara de chá. Ao invés do cheiro do cigarro, estava o cheiro de incensos. Ao invés da música alta e depressiva, ouvia um som mais alegre e mais tranquilo, geralmente Tim Maia, Jorge Ben Jor e algumas outras bandas nacionais com positivismo em suas letras. Estava tudo estranho demais, caralhos, era estranho demais. O que eu havia me tornado? Pra onde eu estava indo? O que iria acontecer dali em diante? Honestamente não sei, nem queria saber. Acho que tudo tem seu tempo. Essas substituições iriam dar em algo, e esse algo seria uma nova lição. Foda-se. Bati mais na máquina, bebi mais chá, meditei e cai no sono.

Zaratustra

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Balbuciei um pouco de babaquice...



- Hey cara, pare o carro, pare o carro da sua vida, hey cara, HEY CARA! Você me ouve?
- Sim, e não! - eu balbuciei um pouco de babaquice - Quero que você se foda!
- Isso não é muito legal de se dizer CARA!
- Foda-se, foda-se e foda-se mais ainda e quero que você se foda... e aliás, já disse que quero que você SE FODA! - balbuciei um pouco de babaquice (de novo) - É isso aí CARA!

Ele me olhou um pouco perplexo, digo, um muito perplexo e visivelmente irritado com a minha atitude infantil, mas ainda assim pareceu mais preocupado do que irritado. Ele sabia das verdades, merda, é sempre ruim uma pessoa te conhecer bem demais, ela sabe seus pontos fracos e pode te derrubar mais fácil do que Davi derrubou Golias.

- Ok, você é um maldito de um ALIENADO DE MERDA, você é um adolescente de merda que chupa um pau de merda, seu merda do caralho!
- Pode ser, pode ser... Estou cansado de ser um nada. Sim, sou um alienado, mas prefiro que você MORRA! Isso, vê se MORRE, por favor - balbuciei um pouco de babaquice (pela terceira vez em menos de cinco minutos) - Isso me faria feliz, ver você MORTO como um canário que leva uma pedrada na PORRA DA CABEÇA!

Eu não queria ter sido tão babaca. Pedi desculpas, ele sabia de todos os meus segredos, poderia me derrubar facilmente, seria melhor eu baixar a minha bola, como dizem. Deitei sob o sol e parei de balbuciar minha babaquice, ao menos por aquele dia.

Zaratustra

Dormi e não acordei mais



Esse lance de criar expectativas não estava dando certo, mas se não fosse isso, porque eu ainda estaria vivo ouvindo Jorge Ben Jor? Havia algo além de criar expectativas e esperar um retorno de tudo isso? Se existia, eu não sabia, e por isso ainda eu respirava fundo todos os dias e queria parar de beber, eu esperava algo da vida, oh meu Deus, isso era muito raro, esperar algo. Eu bebia porque eu não esperava nada da vida, nem fazia planos, nem pensava em casar e essa baboseira toda que todos amam, e que todos planejam. A vida parecia ser mais fácil quando se pensa que sempre se fracassará, aceitamos mais as coisas e sua cara inchada por causa do alcoolismo não incomoda.

Abri uma garrafa de vodka e troquei a estação de rádio.

E entornar alcool pela goela não é a única coisa que eu fazia, parecia que as palavras escorriam pela máquina de escrever com uma facilidade única, aliás, única não, digo, comparativa com outras coisas mais, como tirar doce de uma criança, ou ainda, mais fácil do que ser um ídolo do sertanejo e comer bocetas de mulheres sem auto-estima. Isso, as palavras eram meu escape, e as garrafas, e resolvi que prosseguiria assim e sem expectativas, "Isso sim, isso sim, isso sim é o mais sensato de tudo" eu pensava alto, realmente pensava alto enquanto eu batia as palavras na máquina e via a coisa toda tomando forma, num lapso quase que dadaísta da coisa, ou simbolista. Eu pensava que as obras de arte eram somente o reflexo de muito desespero humano acumulado.

Continuei com a minha garrafa aberta, mudei a estação de rádio de novo.

A natureza não cria expectativas. Expectativas são os maiores males, no fim morremos sozinhos, e lutamos contra isso a vida toda, mas sabemos que nossa luta é vazia e efêmera e fulgaz. Seria melhor aceitar as coisas e engordar e beber, e ter uma saúde de merda, e começar a cheirar cocaína todos os dias, o dia todo, e perder os dentes, e assoar sangue do nariz, e estar sempre chapado, e saber que seu coração teria o triplo do tamanho num espaço de 10 anos, sim, por causa da cocaína sim! Merda, a garrafa de vodka estava chegando no final, e meu texto estava cada vez pior, mas as palavras saiam com (ainda) facilidade. Respirei fundo, olhei o que havia escrito, odiei, resolvi amassar e jogar no lixo e desisti daquele lance todo, não iria criar expectativas nem pelos meus textos!

Dormi e não acordei mais.

Zaratustra

domingo, 18 de agosto de 2013

O encontro e algumas coisas sem sentido



O frio e a TV estavam me incomodando, o que me fazia bem naquele dia é que eu havia marcado um encontro, sim, eu teria um encontro e isso seria muito bom, era algo que eu não tinha fazia muito tempo. E os caras falavam "hey mano, você tem que amar mais, hey cara, você tem que jogar mais e se aplicar mais e fazer elas se apaixonarem por você e você não se apaixonar por elas, e ler livros de sedução" "hey cara, seja homem, cara, HEY CARA, SEJA UM MACHO ALFA!" E as garotas, as minhas amigas garotas, elas me diziam "Carlos, seja você mesmo, seja você mesmo, sendo você mesmo vai dar certo!" E eu só pensava que eu estava sendo eu mesmo a malditos 23 anos e nunca tinha dado certo, porque daria certo agora? Isso não fazia nenhum sentido, ser eu mesmo definitivamente era estar fadado ao fracasso, mas ser o que então? Eu não sabia o que ser, e os caras diziam "Hey cara, você escreve bem até, tem um bom futuro, se dedique a isso!" E eu somente pensava numa garrafa de vodka e um fardo com 12 latinhas de cerveja, o resto era perda de tempo, assim como o tempo que eu perdia enquanto esperava chegar meu prato feito que eu havia pago 8 pratas e 90 cents. Depois que eu comi, ainda reclamando do frio, olhei os garotos na pracinha fumando maconha e pensei "Deus, o mundo está perdido! Eu ser eu mesmo num encontro me parece ser o menor dos males" Sim, as coisas não faziam sentido, eu simplesmente jogava no papel e esperava pra ver o que daria.

Zaratustra

sábado, 17 de agosto de 2013

Tudo foi racionalmente calculado meu amigo...



Eu era tudo aquilo que eu podia ser naquele exato momento. Estava mesmo no auge, estava "na crista da onda" como dizem. Estudava a arte da sedução como se fosse uma maldita matéria para o vestibular, meditava, tomava chás, tocava gaita e estudava a bolsa de valores, além dos exercícios físicos, que ufa, esses me pegavam mesmo, me sentia extremamente cansado. Isso me fazia dormir melhor, tinha um fôlego maior e além de tudo não bebia mais todos os dias, estava bebendo bem menos. Me dedicava às garotas e à mim mesmo, e tudo parecia ir muito bem naquela altura da minha vida.

Meu apartamento havia se tornado um reduto para os degenerados. Sim, o que eu mais tinha eram amigos degenerados, os que ainda se afundavam em alcool e em cocaína e queriam sair dali, como eu havia saído. Ahhh, e fora meus amigos que eram viciados em remédios controlados, esses também me preocupavam, afinal, uma overdose dessa merda só dependeria deles, e a mim restaria encontrar o corpo jogado em cima da cama sem ouvir a respiração, e o caos da ambulância chegando, e só de pensar nisso já me batia um desespero. Pois bem, exatamente por isso, todos que quisessem chegar à minha humilde residência para conversar, pedir conselhos ou simplesmente desabafar eram bem vindos. E naquela tarde fria de quinta-feira, em que eu relaxava tomando um chá de capim cidreira, me bateu à porta o Augusto, sim, aquele mesmo dos tempos de noitadas. Ele estava um caco, a roupa estava encardida, a barba mal feita, o cabelo despenteado e as olheiras de quem não dormia direito desde o ínicio de sua maldita existência. Ele era um cara comum, nem muito bonito, nem muito feio, mas aquela sua situação atual desmoralizaria qualquer auto-estima.

- Posso entrar Carlos? - ele me perguntou com os braços em volta do corpo, apreensivo.
- Claro que sim mano, entra ai - fiz um gesto convidando-o a entrar.

Aí que ele sentou no sofá, eu ofereci um chá pra ele, ele não aceitou. Me sentei, continuei bebendo de forma bem tranquila mesmo. Ele me olhou por alguns instantes e lançou

- Qual foi a sua mágica Carlos? Que droga que cê tá tomando? - ele me perguntou com os olhos completamente arregalados.
- Não existe mágica, e você sabe disso... Tudo foi racionalmente calculado meu amigo... Tudo está na ponta da caneta, eu pensei DEMAIS pra ter os resultados que estou tendo.
- Pois bem, me explique então.

Augusto parecia estar bem fodido, e eu não me importava de partilhar a minha fórmula com os outros, então resolvi abrir pra ele o que eu fiz.

- Então mano, seguinte. Primeiro de tudo, você tem que querer mudar o seu antigo eu, você tem que estar completamente cansado de ser o traste degenerado que você é atualmente. Sem essa força de vontade, você sabe que não vai rolar. Vou mostrar pra você os escritos que eu fiz, talvez assim fique mais fácil de entender.

Peguei uns papéis que estavam na gaveta do armário da sala. Coloquei em cima da mesa.

- Veja bem, coloquei num papel todos os meus problemas que o alcool e as drogas sanavam, e a partir daí busquei alternativas

ALCOOL: AUTO-ESTIMA
                  INSÔNIA
                  ANSIEDADE
                  CANSAÇO
                  ESTRESSE
                  SOCIABILIDADE
                  SOLIDÃO
                  TÉDIO

- Esses que eu pontuei - prossegui - são só os mais importantes pra mim. Existem muitos outros, mas pensei em arrumar esses primeiros. Ai pensei num papel o que resolvia cada um desses problemas. Houveram tentativas, acertos e erros, mas no fim cheguei nessa conclusão.

AUTO-ESTIMA: EXERCÍCIOS FÍSICOS, CUIDAR MAIS DA APARÊNCIA, APPROACH NAS GAROTAS
INSÔNIA: CHÁS DIVERSOS
ANSIEDADE: MEDITAÇÃO E TAMBÉM OS CHÁS
CANSAÇO: MEDITAÇÃO
ESTRESSE: MEDITAÇÃO, CHÁS, EXERCÍCIOS FÍSICOS
SOCIABILIDADE: PROCUREI SAIR MAIS COM PESSOAS E FICAR MENOS TEMPO               SOZINHO
SOLIDÃO: SAIR MAIS COM PESSOAS E MANTER A CABEÇA OCUPADA, ALÉM DE PRATICAR APPROACH NAS GAROTAS
TÉDIO: COMECEI A ESTUDAR COISAS DIVERSAS, TOCAR GAITA, MANTER A CABEÇA   OCUPADA 24H POR DIA

- Não existe segredo, como você mesmo pode ver - eu disse, com ar de sabedoria milenar
- Não sei Carlos, parece ser díficil isso... Não sei se posso...
- Isso só você que pode saber. Eu ainda tenho garrafas de bebida em casa, isso me ajuda a ficar ainda mais focado, uma vez que não adianta eu me livrar de todas as garrafas sendo que no mundo real as pessoas bebem o tempo todo. O segredo é a moderação. Sabendo beber você vai longe.

Ele me olhou como quem realmente precisa de ajuda, eu queria muito poder ajudar, mas ele sabia que isso só dependia dele. Se despediu de mim, e saiu pela porta frontal. Eu querendo que ele largasse o inferno e ele... bem, eu não sei exatamente o que ele queria.

Zaratustra

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A cura para alguns males!



Eu ainda estava naquele apartamento pequenininho ali na rua do Arouche, ainda vivia num cubículo, tinha pouco espaço, mas estava bem melhor, muito melhor mesmo. Já não bebia em excessos, nem me drogava, nem fazia inconsequências com boletas, fazia tempo que não passava na farmácia e comprava uns Rivotrils e umas Oxicodinas e também as Fluoxetinas. Tinha um bom trabalho, me adequei às rotinas, aliás, à minha rotina. Comecei a malhar, na verdade a correr, estudava meditação, relaxava a mente, tomava chás diversos e estudava as coisas quando o tempo não queria passar mais. Caralhos, eu estava muito diferente, até demais, e isso me preocupava de verdade, eu não me reconhecia mais e nem as pessoas que sabiam quem eu era me reconheciam. Geralmente nos fins de semana eu saia pra beber, mas bebia bem menos, comecei a ir nos rolês pra pegar garotas e dançar, a bebida ficava em terceiro plano. Deus, o que havia acontecido comigo? A crise de identidade neste caso era positiva, e sim, estava nas alturas.

Naquele sábado apareceu no meu apartamento uma garota, assim como várias que apareciam sempre lá. O nome dela era Rosa, mas chamavamos ela de Candy, dos tempos de noitada na Augusta, em que ela dançava freneticamente àquela música "Candy, Candy, Candy, dont let yourself go!" Acho que era assim a música. Enfim, era uma garota tatuada, bem bonita, dos cabelos vermelhos não naturais. Tinha um corpo magro, com uma bundinha meio quadrada, mas com uns peitinhos que mereciam respeito. Eu já havia transado com ela em outras oportunidades, mas agora éramos apenas bons amigos (mas isso não impede que eu transe com ela, se ela estiver a fim, é claro).

- Você está muito esquisito Carlos... O que diabos está acontecendo? Tu tá doente? - ela perguntou, e eu vi uma preocupação na cara dela que era real.
- Sei lá, cansei de ser o que eu era. É muito díficil ser um fracasso e um alcoolátra, fora as decepções com os amigos, fora os problemas que eu criava na família, enfim - dei mais um gole no chá e prossegui - é tão errado assim tentar ser uma pessoa melhor?
- Não não, acho isso ótimo, mas sei lá, é tudo meio repentino demais, você não tem medo de voltar a ser o que era?
- Medo todos temos. A questão é não deixar o medo nos impedir de tentar. Estou tentando, se der errado mais pra frente, paciência. Ao menos sei que tentei, e isso que importa pra mim Candy. E espero que algum dia você também saia dessa vida de noitadas inconsequentes.
- Você tem razão Carlos, a questão é que ainda não estou pronta pra isso... - ela me disse, abaixando a cabeça.
- Relaxa, eu também demorei muito pra encontrar a cura pra alguns males... É mesmo muito difícil, mas alguma hora vai acontecer. Candy, tudo tem seu tempo e sua hora, e se for pra você morrer e voltar a viver, que seja assim! Eu mesmo morri demais até chegar aonde estou, e me orgulho de tudo o que passei.
- Ok Carlos. Ainda podemos sair né?
- Claro, claro que podemos... Gostaria muito de dançar com você ainda! Não deixei de me divertir, apenas parei com os exageros. Essa é a política!
- Excelente Carlos - ela abriu aquele sorriso bobo com covinhas nas buchechas que sempre me conquistava e me tirava um sorriso igualmente bobo - Que bom que ainda pense assim! Vamos sair amanhã à tarde, ir no parque e conversar um pouco vendo as plantas e as crianças?
- Sim, porque não? Claro que vamos.

Ela saiu na sequência, eu lhe dei um beijo molhado no rosto e um abraço efusivo. Sim, eu estava nas nuvens, o céu era o limite, eu havia finalmente me regenerado, estava ganhando mais uns anos de vida e isso era muito bom mesmo. A vida parecia fazer algum sentido. Apaguei as luzes, desliguei o celular, a TV e todo e qualquer barulho inconveniente. Meditei por 30 minutos, senti meu corpo nas nuvens e dormi como um anjo.

Zaratustra

domingo, 11 de agosto de 2013

Coming back to life!



Eu havia chego no limite. Sei que repito isso quase sempre, quase sempre mesmo, mas agora sim, agora sim eu percebi de verdade que o fundo não poderia ficar mais fundo, que de onde eu cheguei não tinha mais escapatória. Era a minha realidade cinza (que nem era assim tão cinza) contra alguma outra coisa que eu ainda não conhecia. Eu havia finalmente cansado de ser o que eu era, de ser aquele traste inconsequente que sempre fodia as coisas. Havia cansado mesmo, estava mesmo motivado a não refazer esses erros que eu sempre refazia após as bebedeiras. Pois bem, o limite apareceu na minha frente. Topei de frente com a morte. Não é uma boa ideia tomar 12 pilulas, entre anti-depressivos e calmantes. Honestamente, acho que não iria morrer, aliás, certeza que não ia morrer, e isso que aconteceu, acabou que eu sobrevivi. Lembro que tudo naquele dia cinza começou de forma tradicional. Bebia pra esquecer alguns problemas que apareceram, e bebia e bebia e bebia ainda mais, quando tive a ideia de começar a tomar pilulas. Tomei e tudo estava prosseguindo muito bem, e fui tomando mais, e tudo o que lembro antes de apagar era o som alto, que tocava Alice in Chains, uma garrafa de vodka e pilulas. Acordei assustado, com um dos meus amigos me acordando da minha cama, apagado. Eu estava completamente chapado, ele achou que eu poderia estar morto e invadiu meu quarto, de forma bem altruísta mesmo, demonstrando como sou amado por eles, os amigos em geral. Ainda chapado estava conversando com os meus amigos, e comecei a chorar, e a falar dos problemas e tudo mais, acho que no fim das contas eu só precisava de alguém pra me ouvir. Sim, encarei os fatos de que eu tinha o emocional de uma garotinha de 14 anos. Era uma merda. Quase fui, eu quase coloquei fim em tudo, mas era uma atitude completamente egoísta, e foi bom que não deu certo. Percebi que pelo menos 90% das pessoas que me conheciam gostavam de mim, eu tinha pouquissimos inimigos, eu diria que eu não tinha inimigos. Era adorado pelas pessoas que me rodeavam, e isso não é falta de modéstia. Conclui que o problema não eram as pessoas. Não. A culpa não era de Angélica (minha ex-mulher), ou de Alice (a asiática virgem), ou de Lisa (a ruiva), ou ainda de Cupcake (a última delas). Sim, elas não eram o problema, o problema era eu, isso estava claro. E estava por vir a Joy, não sei o que daria com ela, só sei que eu tentaria fazer diferente. E se desse errado eu tinha que ter consciência de que eu precisava mudar e melhorar.

Pois bem, o fim quase chegou, eu decidi que precisava de uma mudança. Algumas coisas eu já havia feito, havia largado as drogas, eu diria que definitivamente, pois já tinha tido ofertas e não usei. Estava me dando bem com meu pai, estava quase perdoando ele por tudo, conversavamos muito bem, ele até que estava me ajudando muito com meus problemas, principalmente os emocionais e os de relacionamento e talz. Isso já era uma puta evolução, já estive muito pior do que aquilo, portanto estava bem, só precisava acertar alguns detalhes. Conclui o simples e o óbvio: eu bebia para o tempo passar, oras, eu poderia fazer milhões de coisas pra fazer o tempo passar, que não fosse beber, ou fazer merda. O mundo era vasto. Meditação, corrida, desenho, xadrez, cozinha, estudar a bolsa de valores, ler sobre os reptilianos. Sim, isso é doideira, eu sei que isso é doideira, sempre que eu estava em algum lugar, de bobeira e pensava em algo que eu quisesse fazer mais tarde, eu anotava e depois fazia caralhos. Precisava ser mais calmo, precisava mudar as coisas, eu ia mudar, cansei de foder as coisas. Chega. Coming back to life!

Zaratustra

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Auto-estrada



O caminho para o fim muitas vezes era mais largo do que o caminho para um novo começo. Não falava da minha vida (apesar de estar relacionado) mas sim da auto estrada em que eu voava naquele carro 2.0 de um amigo meu, enquanto ainda bebíamos e usavamos drogas químicas em geral, com mais preferência pra metanfetamina, mas brincando também com ópio. A nossa rotina estava mesmo passando dos limites, as minhas tremedeiras e minhas demência física e mental não me colocavam em posição de tentar ser um cara melhor, ou pior. Porra, eu havia chego aos 30 e pouca coisa tinha mudado de quando eu era só um adolescente irresponsável. Ainda fazia tudo aquilo que eu achava errado, e só não estava morto por algumas mulheres que passaram em minha vida, que me deram mais uns anos, pois sim, uma mulher sempre te faz diminuir com os excessos (apesar que quando ela vai embora, você acaba recuperando todos os "excessos perdidos" e isso acaba não significando muita coisa) e por isso ainda tinha uma boa saúde, mesmo tomando várias boletas por dia, e eventualmente passando muito mal do estômago.

E estrada era infinita, e o meu bafo estava cheirando a cu de mendigo "Isso que dá ficar 3 dias sem escovar os dentes" pensei arrependido. Eu precisava sair dali, mas como, como eu iria sair dessa vida, da vida que me projetou, que desenhou a minha personalidade. Precisava não enlouquecer (digo, não enlouquecer mais!) e respirar um pouco fora desse fracasso que eu chamava de diversão. Dependência nunca é bom, seja de alcool, cigarro, mulheres ou chocolate, e ao menos eu tinha consciência disso. Mas não é só da consciência que vive um homem. É preciso muito mais do que podemos lutar e oferecer para poder conquistar as coisas, sempre temos que dar algo a mais, e falar com as pessoas certas, e nos controlar dentro do possível (e do impossível também). Foda-se, estava saindo da estrada, eu iria para um novo começo. Paramos o carro, eu desci, limpei o rosto e resolvi que ia tentar ser melhor pela trigésima quinta vez, que iria ser melhor por mim, que iria ser alguém mais decente com os outros. Que Deus me dê consciência e paciência.

Zaratustra

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Eu não morri de overdose



Ir e voltar do Inferno é para poucos, para os fortes, os que sabem o que é o caos e ainda assim ficam de pé ao lado do hálito quente do demônio chamado sentimento. E por mais que tentemos ir para uma outra realidade, nunca saimos e nunca morremos. Eu não morri de overdose, não vou morrer de overdose, mas a destruição do que existe de interno é pior do que qualquer exagero. Que os anos passem de forma mais calma e tranquila, que o arrependimento sirva pra algo, que tudo que existe de ruim seja morto e restem apenas vagas lembranças de quando quase morri de overdose.

Zaratustra

domingo, 4 de agosto de 2013

Caixa de bombons



Para todos os lados que eu olhava haviam latinhas de cerveja amassadas, garrafas vazias e cinzas de cigarro. Meu quarto estava um verdadeiro caos e você viria me ver, eu sabia que você iria me ver naquela tarde de domingo. Eu não tinha nada além do que podia oferecer, e as latinhas amassadas, mas ainda assim você viria chuchu. Estava muito romântico naquela época da minha vida, queria lhe dar pequenos agrados, diria pequenos mimos, eu dizia que o que importava era o gesto e não o que realmente acontecia. Lembra disso chuchu, você lembra dos pequenos gestos, dos pequenos agrados que eu lhe dava, das pequenas coisas? Eu lembro do seu sorriso bobo quando você via o que eu tinha feito, aquele sorriso inocente, com vontade de querer bem, com carinho e afeto. Te comprei uma caixa de bombons, estava lacrada, não havia comido nada, você curtia uns bombons caros, eu comprei, mas nem liguei pro lance de dinheiro, o que valia era o gesto. Você não veio no domingo, nem na segunda, nem na outra semana, nem no outro mês e nem nunca mais. Aquela caixa de bombons acabei dando pra outra, mas a sua falta foi sentida. Caralhos, como eu estava romântico naquela época!

Zaratustra

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Uma mamãe com a boceta ainda firme



Eu não transava haviam alguns anos, acho que uns 4 anos, isso, no mínimo eram quatro anos que eu não metia. Nem batia mais muita punheta, eu estava nessaa altura com 57 anos, estava começando a me tranquilizar com esse lance de sexo, bem contrário de quando eu era jovem, de quando eu comia uma mulher por mês (exagero? talvez) e a vida era bem mais interessante. Mas agora com 57 anos eu tinha preguiça demais do lance do flerte, e de ser responsável por ela, e de beber socialmente. Eu ainda bebia como quando eu era moleque, sem me preocupar muito. Bebia todos os dias, fumava cigarrilhas na varandinha do meu ap e a vida estava passando bem rápido até para um velho como eu. Não me sentia tão fracassado nesse ponto, havia finalmente me tornado um bom escritor, e era adorado por todos os que se arriscavam a ler o que eu publicava, das minhas aventuras de quando era mais moleque, das drogas, do alcool e do sexo inconsequente.

Naquela tarde de 03 de agosto eu daria autógrafos na livraria Cultura, ali na região da avenida Paulista, era recém lançamento do meu último livro "Eu não morri de overdose", em que eu contava em forma de contos algumas noitadas que eu passara quando moleque, nada muito demais, mas ainda assim boas histórias, que, por Deus, era inacreditável como eu ainda havia sobrevivido à aquilo tudo. Se eu não era o super-homem, ao menos eu tinha uma boa genética e ainda conseguia beber com 57 anos. Estava sentado na mesa, bebia umas cervejas e eventualmente uns goles de vodka barata, era Balalaika e as cervejas eram Bavárias, nunca tive um paladar muito afinado, digo, refinado, isso faria minha criatividade ir para o saco, e eu teria que voltar a me sujeitar a trabalhar 12 horas por dia num emprego de merda. A grande vantagem de ser escritor é que podia acordar ao meio dia e beber sem parar, não existe profissão em que possamos fazer isso além dessa. Eu prosseguia divagando e assinando livros, quase sempre sem olhar muito para os transeuntes que me sorriam quando eu escrevia meu nome na contracapa com uma dedicatória especial e uma eventual cinza de cigarro que caia na folha. Tudo prosseguia bem, as cervejas faziam efeito, a vodka também, além de ficar bêbado, eu ia mijar bastante, e ainda tive que ir dar uma cagada de breja daquelas fedidas. Limpava o cu e voltava aos autógrafos e tudo parecia que ia se tornar somente mais um dia alcoolátra padrão pra mim.

Estava saindo da livraria, não usava carro, não tinha seguranças, simplesmente era um cidadão comum que por direito bebia todos os dias, nada além disso. Já acendia um cigarro quando rumava para o metrô quando fui parado por uma mulher. Era alta, tinha um corpo avantajado, mas com belas curvas. Cabelos enrolados e castanhos, olhos claros, lábios grossos e orelhas e nariz comuns. Um sorriso meio sem vida, as mãos gastas e um belo rabo. Parecia ter uns 35 anos, por aí, ela me abordou com aquela voz que me encheu de tesão de imediato.

- Adoro seu trabalho! - ela me disse e sorriu
- Legal, valeu.
- Como você compreende tanto as coisas? Não é possível!
- Eu não compreendo nada chuchu - eu disse, já tragando o cigarro - simplesmente bebo e as coisas parecem fazer sentido quando as jogo para o papel. Não sou nada além de um bêbado
- Sou sua maior fã - ela me disse extasiada.
- Legal, legal mesmo... Agora tenho que ir chuchu, foi um prazer.

Eu já ia embora, tragando novamente o cigarro e preparado pra pegar o cantil de vodka no bolso, quando ela me puxou pelo braço direito.

- Espere! - ela ficou queita, me olhou e disse - podíamos sair né?
- Hahaha chuchu, não pense nisso, você não me conhece, só conhece meus textos.
- Mas eles te refletem... E admiro isso
- Sim sim, mas vamos evitar um foder a vida do outro manja? Acho que não seria bacana pra ambos.

A deixei na rua e fui ao metrô, fui pra casa, bebi mais um pouco e fui escrever. Estava escrevendo um dos maiores romances de todos os tempos, e pra que ele ficasse bom eu bebia vodka durante a noite toda, na espera de que escrevesse algo decente.

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 No dia seguinte acordei com o toque infernal da campainha e com a fresta de luz que veio direto no meu olho. Praguejei por não ter fechado a janela de forma decente, deveria estar bêbado demais pra pensar nisso, sim, com certeza isso. A campainha insistia em gritar, eu simplesmente gritei "JÁ VAI CARALHO!" e ela me deu um descanso. Coloquei uma calça, acendi um cigarro e peguei uma cerveja. Abri a latinha, tomei metade numa talagada, abri a porta com uma cara fechada.

- Oi Carlos!

Era a mesma moça de ontem, sim, aquela que me parou e que queria sair comigo.

- O que você está fazendo aqui? - perguntei enfesado
- Oras, vim te ver, queria conversar com você
- Você é doente! - eu disse, e quando ia fechar a porta um gorfo me subiu pela garganta, tive que sair correndo.

Fui ao banheiro, vomitei, bebi mais brejas, vomitei mais um pouco. Limpei a boca, lavei as mãos e verifiquei minha roupa, pra ver se eu havia sujado ela. Por sorte estava intacta. Nisso, ela já estava na minha sala de estar, sentada no sofá e me aguardando.

- Você está bem? - ela me perguntou
- Sim sim, isso é comum pra mim, faço todas as manhãs, é minha rotina... É como tomar café da manhã, só que colocando comida pra fora, não pra dentro.
- Puxa, que foda ein... - ela disse e continuou me olhando com aqueles olhões enormes, como o de um porquinho da India com fome.
- Ok chuchu, agora saia daqui... Tenho muito o que fazer - eu disse, acenando com a mão pra que ela saisse.
- Me deixe ficar um pouco, por favor. Prometo que vou embora logo, só queria conversar contigo algumas coisas, entender seu mundo.
- Ok - eu disse, sabia que não ia adiantar ficar espantando ela - pode ficar, mas não muito ok chuchu? Tenho um porre pra tomar e um livro pra escrever.

Fomos na cozinha, preparei umas fatias de bacon e um queijo quente. Abri outra lata de cerveja e ela ficou ali me observando. "Por Deus, só atraio mulheres completamente insanas" ela tinha cara de maluca, começou a fazer perguntas inúteis que nem vale a pena citar, pois minhas respostas era ainda piores.

Num dado momento, quando me levantei, fui ao banheiro, mijei mais um pouco, e abri mais uma latinha de cerveja, ela foi para o meu quarto e se deitou na cama. Olhei ela ali, deitada, ainda com a calça jeans, mas já com o sutiã um pouco mais folgado. Não estava na pegada de transar, mas pensei, "Foda-se, foda-se, foda-se" E fui pra cima dela. Beijava ela já mirando com a mão esquerda na calça, desabotoando com violência. Ela me parou, me olhou séria e disse

- Peraí... Tenho um problema.
- Qual?
- Sou mãe, tenho a boceta frouxa. Tive dois filhos.
- Que nada chuchu, deixe-me ver.

Fui tateando e tateando e tateando e para mim a boceta dela era bem comum, bem padrão, não entendi o porque da preocupação dela. Senti que ainda estava bem apertada, apesar dos filhos, e que a foda seria muito boa, meu pau cortaria ela como uma faca corta um pedaço de margarina, ou seja, de forma rente e sem muitos atritos.

Metemos de forma violenta, parece que emagreci uns 4 quilos depois que gozei na cara dela, despejei muito tempo de porra acumulada. Quando terminamos ela se vestiu e foi embora, dando razão ao que eu achava desde o começo. Ela queria dar pra mim só pra dar pra mim, só pela fama de ter dado pra mim, e poder contar pras amigas dela de meia idade e divorciadas que ela havia transado com o famoso escritor Carlos Reis. Pois bem, por mim foda-se. Peguei outra garrafa de vodka, comecei a beber e voltei para a minha escrita bêbada e solitária. A madrugada seria exaustiva e com apagões, como sempre.

Zaratustra

Como uma pessoa comum



Se levante da cama, tome um bom banho, analise a temperatura do chuveiro antes de entrar, jogue suas roupas sujas no cesto, dê uma boa cagada enquanto mexe no seu smartphone, limpe o rabo, lave as mãos, entre no chuveiro, comece jogando água no corpo, lave o cabelo, enxague-o, depois pegue o sabonete, limpe muito bem o corpo todo, com atenção especial pro rosto e pras axilas (que é por onde você mais transpira alcool), mas não se esqueça do resto, limpe as bolas, e o pau, e as costas também. Não se atenha muito aos pés, mas limpe-os também. Deixe a água escorrer um pouco mais antes de sair do chuveiro, sinta sua energia, relaxe. Desligue a água, pegue uma toalha e se enxugue, começando pela cabeça e depois indo para o resto do corpo. Enrole a toalha na cintura, abra a porta do banheiro, isso evita que ele se torne uma sauna. Pegue uma gilete, passe creme de barbear no rosto todo, faça a barba sem pressa (isso evita que você se corte desnecessariamente) comece pelo lado direito do rosto, depois o esquerdo, depois o cavanhaque e por fim o bigode. Limpe a gilete, tire os excessos de creme, guarde a gilete, lave o rosto, passe loção pós barba. Lave as mãos, passe desodorante, escove os dentes, coloque uma camiseta limpa, uma calça decente. Passe gel nos cabelos, arrepiando-os. Lave as mãos novamente. Saia do banheiro, calce um tênis. Olhe a garrafa em cima da estante e passe direto. Se mantenha sóbrio por pelo menos algumas horas, como uma pessoa comum. Saia de casa e respire ar puro.

Zaratustra

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O amor é só outra dose



Eu e meus textos cada dia piores, cada dia mais inúteis e cada dia menos proveitosos à sociedade em geral. O caos que se instala numa alma feliz e insana e alcoolatra, muitas vezes é menos pior do que a passividade que um corpo sóbrio degusta enquanto escreve, enquanto punheta algumas palavrinhas tentando comer algumas mulheres com auto-estima baixa. Eu não tenho isso. Nem mulheres, nem vontade de conquistá-las. No fim acabamos da forma como começamos, e o amor é só outra dose de bebida barata que te levará à insanidade e à uma boa ressaca no dia seguinte. E por mais que você chore e gorfe e tudo parece que vai passar, você sabe que nada passa de um mero placebo insône, uma vontade infinita de que tudo seja mais simples e que as pessoas sejam minimamente complexas para que possamos ler elas com mais facilidade e sermos ao menos satisfeitos com os resultados. Uma garrafa sempre te leva ao céu num momento e ao inferno e outro, e aos momentos de reflexão que te veem uma pessoa gorfar e te fazem pensar que o amor acaba sendo somente mais uma dose de uma garrafa que vai te fazer perder a vida a qualquer momento. Amigos, familia e mulheres acabam sendo sempre os mais afetados em tudo o que façamos e por mais que as garrafas fiquem pela metade a perda é por completo. Foda-se. Que a morte seja melhor do que isso.

O fim estaria bem próximo se o desejo apocaliptico fosse só mais uma poesia barata de um escritor barato. Mas eu tenho a mais, eu vejo além, eu sou mais foda do que os demais. O frio que ronda a minha casa não invade a minha janela de vidro, o que tinha que ser já foi e o passado não voltará mais, a não ser que eles venham em forma de traumas e garrafas. Andamos devagar tentando não chegar em lugar nenhum e considerando o alcoolismo uma diversão. Ingenuidade. Somos todos meros fracassados no jogo da vida, e temos demasiado medo de assumir isso. O amor é outra garrafa. Me abram outra garrafa, talvez assim me sinta melhor. Uma garrafa doce, com boas doses e um baseado pra acompanhar. Foda-se. Que a morte seja melhor do que isso.

Zaratustra