quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Pais e filhos e um pouco de whisky



A esposa de Edu estava grávida de seis meses. Era uma boa garota, esforçada, inteligente, o tipo de mulher madura e independente, que sabe o que quer manja? Sim, ela era isso, e se não fosse o fato de estar grávida, ainda era bem bonita. E nem me venham com aquele papinho de "a mulher quando está grávida fica linda!" Todos sabemos que isso é mentira, ela fica enorme e inchada, como isso pode ser bonito? Sei lá, parece que dizem as coisas só pra elas se sentirem bem, e eu era realista, por isso preferia não me pronunciar. Edu era um cara bem bacana também, era bem esforçado, também, e estava num emprego fazia dois e pouco, estava se dando bem, iria ser promovido, isso é fato. Eram um casal feliz, moravam junto num apzinho ali em Itaquera, bem decorado até. Pequeno, mas bem bonitinho. Foi numa tarde em que eu estava em casa lendo sobre a arte da sedução quando meu telefone tocou.

- Alô, Carlos?
- Pois não! - eu disse com uma entonação firme.
- É o Edu cara. Como você tá?
- Não pior do que um mendigo nem melhor do que um milionário hahaha mas tô suave. E você?
- Hahaha tô bem de boa. Ou, queria te convidar pro chá de bebê do meu filho cara. Vai ser uma puta festa, você precisa vir.
- Sei lá, não gosto muito desse lance de pais e filhos, essa baboseira toda. Tu sabe que eu sou um solteirão convicto né? - olhei minhas unhas e emposei milenarmente.
- Eu sei cara, mas você é meu melhor amigo, e outra, terão drinks. Whisky.
- Estarei ai. Que horas?
- Por volta das 20h, no sábado! Conto com sua presença hahaha Abraços!
- Ok ok ok, valeu valeu valeu - desliguei o telefone.

Voltei pra garrafa e pra leitura da arte da sedução. Esse lance de rolês estava mesmo me enchendo, o lance da bebida também, mas um homem precisa se sociabilizar às vezes né? Deus, eu fazia perguntas retóricas e esperava chegar o sábado logo. Foda-se fui dormir. O resto da semana nem valeu a pena ser contado, vamos logo pro sábado.

--------------------------------------------------------------------------------------------------------

Pois bem, aí que chegou o sábado. Fiz a barba, coloquei uma das minhas cuecas não furadas, assim como minha única meia não furada, e uma das minhas camisas não furadas. As minhas calças ainda estavam todas intactas, e os sapatos, apesar dos buracos, estavam bem revestidos com jornal nas solas, isso evitava que minhas meias furassem ainda mais. Deus, eu precisava gastar menos dinheiro em alcool e mais em roupas hahaha. Estava apresentável até, me sentia bem. Cheguei no apzinho modesto deles. Tinham algumas pessoas por ali, muitos casais, muitos filhos, muitas crianças chorando e reclamando e me chamando de tio. Acho que se existe um inferno, aquele era o lugar. E as bexigas? Porra, criança tem uma mania de merda de ficar estourando bexiga, deixem as malditas bexigas em paz! Elas não fizeram nada pra ninguém, porque merecem morrer? Eu precisava de um trago, porque não me dava bem com pessoas e a bebida fazia eu esquecer que as pessoas estavam ali, com o alcool no sangue parecia que eu estava sempre sozinho, e isso era muito bom pra um cara misantrópico como eu. Encontrei o bar, e encontrei Edu e sua esposa Clarisse por ali, se servindo de cerveja e refrigerante, respectivamente.

- Que bom que você veio cara! - Edu me abraçou de forma cativante.
- Olá - disse de forma seca Clarisse.
- Olá, olá, olá Clarisse. E Edu, é uma honra comparecer em suas festas! - ele era um bom sujeito, merecia ser venerado por tudo o que fizesse, e isso que eu estava fazendo ué.

Clarisse não gostava muito de mim, e eu não a culpava por isso. Todas as namoradas/esposas dos meus amigos ou me odiavam ou me odiavam. Eu não era uma boa influência, afinal, eu era o solteirão alcoolátra que sempre fodia as coisas. Nada além disso. Me servi de um pouco de whisky e vi as pessoas passarem. Eu achava que eu era corajoso, mas eles que eram. Ter filhos é pra quem realmente quer se dedicar a algo, eu era muito imaturo pra isso. Eu não era nada perto deles. Se uma criança chorasse na minha frente, eu iria querer no mínimo esmurrar ela, e não poderia. Enfim, o whisky descia muito bem ainda, eu bebia como uma maldita esponja, sem me preocupar com muita coisa, aliás, já estava bêbado pra não me preocupar com mais NADA.

Alguns pais tentavam sociabilizar comigo, mas eu nem dava muita bola. Pensava no whisky. Transformei aquele chá de bebê num "chá de beber", e tudo prosseguia muito bem. Pois bem, chegamos numa hora em que ela abria os presentes, e isso foi um saco, uma vez que eram coisas de bebês e eu não vi graça alguma nisso. O Edu fez um discurso do qual não me lembro muito bem, ele falava da importância da família e talz, algo do gênero. Não lembro de tudo exatamente. Sei que dormi em cima da mesa, com a cara nos comes e bebes. Deus, passei vexame de novo. Estava eu, fadado ao fracasso?

Zaratustra

Nenhum comentário:

Postar um comentário