domingo, 29 de setembro de 2013

Um casal e uma cama



Não rolaria putaria naquela noite. Foi o que deu pra perceber quando Fernanda colocou seu pijama de flanela, que era confortável mas nada atraente. Jorge também parecia desanimado pra coisa, ele usava uma cueca samba canção e uma camiseta regata branca (roupa típica pra dormir). Estavam casados não havia muito tempo, se me lembro bem eram uns 8 anos, mas caralhos, o fogo inicial já havia passado né? Nem sombra de quando eles tinham acabado de casar, em que era sexo todos os dias, às vezes duas ou três vezes por dia. No fim das contas, conforme vamos envelhecendo, o sexo e a putaria acaba perdendo e muito a prioridade. Percebemos que a vida tem muito mais a oferecer e buscamos isso (visão otimista) ou simplesmente perdemos as esperanças e desistimos das coisas (visão pessimista) mas independente do que seja, é fato que a constância das relações diminui.

Pois bem, o que restava naquela quinta a noite era deitar na cama e esperar o último dia da semana de trabalho, no caso deles era sexta-feira, eles tinham empregos decentes (ao contrário do Carlos aqui hahahaha). Aí que Jorge deitou no lado direito da cama, com o abajur aceso e um livro nas mãos, era um daqueles livros clichês de evolução pessoal, O Monge e o Executivo. Já ela, romântica incorrigível, preferia ler revistas femininas, daqueles "Perca X quilos em X dias com a dieta X", e que falava sobre auto-estima para mulheres sem auto-estima. Sim meu caro leitor, era um casal típico. A mulher insegura com o casamento e o homem cansado, mas ao menos por causa do cansaço, ele era fiel. Dava muito trabalho trair ela, era no máximo uma brincadeirinha com os colegas de trampo quando passava aquela secretária gostosa, em que ele dizia "Caraio, que mulher gostosa ein! Se eu tivesse dinheiro eu comia sem dó!" Mas era só falastrice mesmo, todos nós sabemos que se dependesse dele seria difícil de rolar, e se dependesse da secretária era impossível de rolar.  Fernanda olhava pra ele incessantemente, e ele despreocupado prosseguia com a sua leitura.

- Jorge, precisamos conversar! - ela disse de repente.
- Ih caraio... - ele disse como reação.
- Que que foi?
- Nada, nada.

Jorge disse que não era nada, mas convenhamos, nunca ouvimos isso quando elas querem conversar coisas boas, era certeza que era problema. E ele estava cansado, que merda, as mulheres escolhem mesmo as piores horas para conversar sobre problemas.

- Pois bem Fê, pode dizer - Jorge falou, olhando nos olhos dela e fechando seu livro.

Ela, ainda meio sem reação, ficou em silêncio por alguns instantes. Depois prosseguiu.

- Sei lá Jorge, só acho que nosso casamento não é mais o mesmo, e isso me preocupa de verdade. Sabe, antes a gente falava mais, era mais carinhoso um com o outro, trocava elogios, e agora é sempre assim, cada um pro seu lado da cama, sem o toque, sem nada. Nem transar a gente transa mais. Eu estou gorda demais pra você?
- Meu Deus Fernanda, quantas vezes eu vou ter que lhe dizer que está tudo bem entre nós. Nosso casamento não é mais o mesmo, isso é fato, mas as pessoas mudam, as relações mudam, e eu ainda te amo. Isso não é o suficiente?
- Ok, se você diz ok - ela prosseguiu - mas eu me sinto carente sabe, e vejo que você não faz nada pra mudar isso. Parece que caiu na mesmice sabe?
- Fê, não quero discutir, estou cansado, amanhã eu trabalho o dia todo, você trabalha o dia todo. Podemos conversar disso outra hora? - ele disse já virando de lado.
- É sempre assim! Você não quer mais nada comigo, aposto que tem outra! - ela disse já com os olhos marejando.
- Nem falo nada sobre isso... Boa noite! - Jorge fechou os olhos pra não assistir a cena.

Fernanda começou a chorar. Jorge simplesmente pediu desculpas e tentou dormir enquanto ouvia o choro soluçante dela. É maldade pra caralho, mas porra, quanta insegurança numa mulher! Parece que elas não pensam no coletivo, não pensam que as pessoas tem que descansar. Jorge tinha perdido sua compaixão, e isso faz parte do casamento.

Zaratustra


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O ultimato de Carlinha ("Não vai rolar!")



Uma pincelada de felicidade correu por aquela tela branca, e os testes de psicologia que eu estava aprendendo pra comer mulheres estavam sim fazendo efeito. Tinha algumas aos meus pés, outras eu não tinha nem perto dos meus pés, sim, assim é a vida, se ganhamos num dia, perdemos no outro, mas hey, não podemos nos abalar por causa disso! Se uma mulher você não pode ter, ao menos umas outras vinte você tem pra escolher, e sim, com certeza alguma delas será mais foda do que essa que não te quer, mais bonita, mais inteligente e com um futuro ainda mais promissor. Não desista de insistir, e sim, aguente meus otimismos neste momento, aguente sim, é tudo o que eu tenho, e graças a ele as coisas estão caminhando um pouco melhor do que sempre caminharam. Foda-se se você não gosta, foda-se se isso te incomoda, eu queria era mais de tudo, e mais da vida.

Uma pincelada de felicidade correu por aquela tela branca, e as mulheres eram somente mais uma consequência de uma série de consequências boas que a mudança radical de vida havia me proporcionado. Nem as luzes apagadas do quarto, nem a garrafa de vodka que estava já mofando na minha geladeira havia quase dois meses, e nem o fato de a muito tempo eu não comer fast-food, nem nada disso me abalava. Porque eu iria me abalar por alguém como a Carlinha? Não, não valia a pena colocar tudo a perder por causa do ultimato dela... Doeu ouvir aquilo, mas ao menos ela foi direta "Olha, não vai rolar!" Ela me disse olhando bem nos meus olhos. Na hora bateu algo, mas depois relaxei, pensei que precisava ainda conseguir coisa pra caralho, como evoluir a minha meditação ou praticar telecinésia. Prometi que essa seria a última vez que eu falaria dela. Deitei e dormi muito bem.

Zaratustra

terça-feira, 24 de setembro de 2013

E os olhos dela marejaram...



Era isso. Enquanto ela contava a história do antigo casamento dela, que durou cerca de 18 anos, os olhos dela marejaram. Mesmo sem a lágrima efetivamente escorrer, não me senti bem com a cena toda, mas ainda escutava demonstrando frieza e auto-confiança. Tentei passar pra ela um sentimento de conforto, mas aquela mulher havia sido abalada fortemente com as cicatrizes daquele homem que um dia ela tinha chamado de "amor"

- E aí que ele tinha problemas graves de alcoolismo. Chegava em casa e me batia, aliás, ele usava outras drogas, mas acho que o alcool era a que deixava ele mais transtornado mesmo. Lembro de algumas cenas tais, como da vez em que ele atirou o copo de vidro na pia e despedaçou, ou quando ele quebrou a porta da cozinha, ou ainda, quando ele destruiu todos os móveis da casa num momento de loucura extrema. Não foi fácil, sim, nada fácil...
- Compreendo, compreendo - estendi minha mão, ela pegou e apertou firme, era o mínimo que eu podia fazer para confortar aquela mulher que desmoronava bem ali, na minha frente - Mas a vida é sempre um recomeço, é bom que agora vocês não estão mais juntos né?
- Sim, mas eu passei 18 anos sofrendo, não digo 18, mas pelo menos 15 anos sofrendo. Ok, agora estou bem, estou solteira, mas esses anos todos nunca mais vão voltar. Você acredita em reencarnação? - antes que eu pudesse responder ela prosseguiu - Pois eu não, e sinto que o tempo da vida que passa a gente nunca mais recupera, foi perdido, e por mais que tentemos compensar tudo o que perdemos, jamais vamos recuperar essas horas de sofrimento.

Olhei fixamente pra ela, essa afirmação me bateu na alma. Caralhos, eu havia perdido alguns poucos anos também, ainda dava tempo de "recuperar", mas foi como ela disse, os anos não voltariam, o que eu destruí não voltaria, as pessoas que eu fiz mal, essas com certeza não voltariam. Minha frieza, auto-confiança e conforto ruiram de repente. E então os meus olhos marejaram...

Zaratustra

domingo, 22 de setembro de 2013

Sentido? Pra que? Foda-se, o que importa é se reinventar!



Pintar o céu com as cores mortas das coisas abstratas que eu pego nunca é legal. Senti um arrepio na espinha, me virei, respirei, bebi (sim, somente nesse dia eu bebi[MENTIRA! EU BEBIA SEMPRE, CARALHOS!]) do elixir do mal, do destruidor de lares, e depois me mantive intacto perante todos que me circundavam. Eles riam e cuspiam na minha cara, falavam que a insanidade habitava meu corpo com violência, e que eu estava fadado ao fracasso espiritual. Bebi mais um pouco do elixir, joguei o copo no chão (era mesmo verdade que o alcoolismo não me levava a nada[MAS EU SEMPRE INSISTI NELE, CARALHOS!]), ele se partiu em pequenos cacos brilhantes como o sorriso de uma criança que é traumatizada pelos pais no dia do seu aniversário. O solo de guitarra do Gilmour ainda reverberava, e eles ainda cuspiam em mim, cadê, cadê a tal felicidade que todos haviam me dito que eu alcançaria? Ahhhh, respirei fundo de novo, fechei os olhos, a morbidez sim habitava o meu ser (e não a insanidade) apesar de que a violência e a intensidade eram semelhantes ao que os que me circundavam haviam dito. Inspirava e expirava, inspirava e expirava, inspirava e expirava... O processo todo durou cerca de 72 horas plutônicas, ou seja, quase uns meses quebrados no tempo terrestre. Eles ainda cuspiam e riam da minha cara, mas com o tempo isso foi passando, e isso foi passando, e me encontrei sozinho com o meu ser (meu inconsciente e meu consciente juntos e unificados) num grande espaço branco e vazio que gostaria de ser preenchido por novas memórias. Os risos morreram, os cuspes cessaram e eu, de olhos fechados dei ínicio a algo novo, algo que o elixir não podia me proporcionar. O mundo tinha muito mais a me oferecer do que uma garrafa!

Zaratustra

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Qual é o limite entre a falsidade e o respeito?



Hey, hey, hey, mas vejam só quem resolveu aparecer por aqui... Sim, o Carlos, o alcoolátra degenerado com seus problemas de inconsistência psicológica vai embora (talvez apenas por esse texto) para dar abertura pro já sumido Zaratustra, o filósofo racional e pensante que não escrevia desde o ano passado. O lema do momento é: como as coisas são! E acreditem, se Zaratustra está na área, é sinal de que as coisas realmente mudaram. Pois bem, após essa pequena introdução (enrolação), vamos ao tema da reflexão "zaratustriana" de hoje.

Venho reparando em minhas análises sociais que o ser humano é muitas vezes falso. Mas quando saber o limite entre a falsidade e o respeito. Afinal de contas, é injusto ser rude ou grosseiro com uma pessoa simplesmente pelo fato de você não gostar dela. Educação é sempre bom, e os seres humanos mais sensatos prezam por isso, é a base das coisas, a base de todas as coisas. O que me intriga mesmo é que, muitas pessoas não são simplesmente respeitosas com as outras, elas são falsas descaradamente. Um exemplo ajuda a mostrar meu ponto de vista. Vamos supor que exista uma pessoa que eu não goste, nem meus amigos gostem, nem muitas pessoas gostem. Porém sempre a respeitei, sempre tivemos um acordo justo e de cavalheiros. Acho que cada um na sua funciona muito bem nesse caso. E sempre foi assim. E tenho amigos que falam mal demais dessa pessoa, muito mal mesmo, pelas costas, o que é óbvio, porque é bem mais fácil. A questão é que na frente dessa pessoa, que ele fala muito mal, existe um diálogo eu não diria profundo, não digo como melhores amigos, mas como pessoas que gostam de compartilhar interesses. Lembrando que eu trato a pessoa bem, mas não fico puxando assunto, pra mim não passa de um bom dia, uma boa tarde ou uma boa noite. E pior: esse meu amigo que trata muito bem a pessoa que ele fala mal pelas costas, diz que apenas "a respeita" e que se conversa com ela é porque ela dá assunto, ela puxa o assunto. Ok, tem alguma coisa de coerente nesse argumento, mas caralhos, quando uma pessoa não quer conversar, dois não mantêm um diálogo. Isso pra mim é pura falsidade, uma vez que eu não dou trela para pessoas que eu não quero ou não consigo conversar.

Será que eu sou insano ou insensato de não querer parecer "bonzinho demais" com as pessoas que eu julgo que não merecem isso? A linha entre a falsidade e a educação é deveras tênue, mas julgo, modéstia a parte, que eu consigo conciliar bem na maioria dos casos. Afinal de contas, ser falso com as pessoas não é mentir pra elas, é mentir pra si mesmo.

Zaratustra

Como elevar a auto-estima de um homem



Como elevar a auto-estima de um homem.

1. Ouvir de uma mulher que transou com ele que ele é pauzudo. Mas não vale quando a mulher fala diretamente pra ele, ela tem que contar para as amigas e ele ficar sabendo por acidente.
2. Comer uma puta e fazer ela gozar (sabemos que as putas mentem e tudo mais, e que elas gemem de forma falsa, mas cá entre nós, um homem de verdade sabe quando uma mulher goza).
3. Estar andando na rua, desarrumado, suado da sua corrida noturna e passar um carro com três belas mulheres dentro e elas gritarem "Heeeyyy gatinho!"
4. Se olhar no espelho sem roupa e falar "Caralhos, como estou gostoso!"

Coisas simples, mas que fazem a diferença hahahaha

Zaratustra

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A visita da ex-mulher



Parecia que sempre que me preparava pra algo bom, algo ruim acontecia. E não é que naquela tarde de domingo não tinha sido diferente? Pois bem, eu já havia corrido por uma hora, caminhado mais uma, feito umas flexões e uns abdominais, tomei banho, coloquei um shorts sem a cueca, me senti confortável. Liguei o som, coloquei o album Animals do Floyd pra tocar, preparei um chá de erva-cidreira, acendi um incenso de limão e bolei um baseado. Quando eu ia acender, eis que a campainha me irrita com seu barulho infernal

BRIM! BRIM! BRIM!

- Já vou! - gritei - Caralhos, viu! - falei baixinho.

Escondi o baseado na gaveta, deixei minha xícara de chá descansando na mesinha de centro da sala e fui atender a porta. Quando abri me deparei com uma mulher que não queria exatamente ver.

- Oi Alice, que surpresa! - eu arregalei os olhos em espanto.
- Oi Carlos, tudo bom?
- Tudo ótimo, e com você?
- Também, também, tudo indo... Posso conversar com você um minuto?
- Claro, pode sim, entra por favor - fui solícito e deixei ela entrar, conduzindo ela pro sofá.

Alice era minha ex-mulher. Começamos a namorar ainda aos 15 anos, éramos duas crianças, o namoro foi evoluindo, as brigas foram começando, o namoro acabou, voltou, acabou de novo e voltou de novo. Casamos, deu uma ajudada, transavamos todos os dias (precisa de mais coisa pra fazer um homem feliz?) e por isso que ia bem. Mas casamento é foda demais, eu comecei a beber pesado, as brigas ficaram recorrentes e o fim foi inevitável. De ínicio tive raiva dela, mas agora eu havia superado, e quando vi ela na minha porta não me bateu vontade alguma de voltar com ela, mas também não me bateu raiva pelo nosso passado, apesar de que no divórcio ela levou tudo, me deixou com algumas roupas e dez por cento do meu amor próprio.

- Cê quer alguma coisa, um chá, uma água, um suco?
- Quero não Carlos, valeu... Fiquei sabendo que você parou de beber. Fico feliz por isso, de verdade. Acho que você merece ser feliz no fim das contas. - ela disse, sorrindo e me olhando no fundo dos olhos.
- É verdade, diminui com o alcool em pelo menos oitenta por cento, estou muito feliz e confiante mesmo, obrigado! - eu disse, com uma cara assim ^-^ - Mas me diga, porque você veio aqui? - perguntei, quando já tocava a música Sheeps (uma das minhas favoritas do Floyd)
- Então, o que acontece... O Alê, meu marido, me chutou de casa, e pior ainda, ele me chutou com o nosso filhinho, que acabou de fazer um ano. Desculpa chegar assim, mas você é o único que me resta a recorrer, minha familia sumiu, e você sabe que nunca fui boa em fazer amigos... Me ajuda, estou desesperada - nisso percebi os olhos dela marejarem.

Olhei pra ela, pensei, e não sei se isso é bom ou ruim, mas apesar de não ter raiva nenhuma dela, eu também não tinha compaixão alguma, portanto as lágrimas dela em nada me afetaram.

- Olha Alice... - respirei fundo e prossegui - Olha Alice, você é uma mulher bacana, acho que cresci demais enquanto estavamos juntos, mas infelizmente não posso te ajudar. Acho que você escolheu o seu caminho, e devia saber as consequências dele. Me desculpe mesmo...

Os olhos, que já estavam marejados, deixaram uma lágrima desabar, não me senti confortável com aquilo, mas ela tinha que saber que não podemos mais ter um relacionamento, o nosso tempo já havia passado e estava na hora de cada um se virar sozinho no mundo.

- Agora eu preciso que você vá embora, tenho muito a fazer ainda hoje - me levantei e conduzi ela à porta.

Ela não disse nada, somente chorava, me olhava bem lá no fundo e chorava, mas resisti bravamente, e quando tranquei a porta respirei fundo... e respirei fundo mais uma vez... Agora tocava Dogs, é uma bela canção, tem longos dezessete minutos. Voltei pro chá, o incenso ainda impestiava o local com seu aroma cítrico. Peguei meu baseado na gaveta, acendi, traguei, coloquei no canal japonês, dei umas risadas com as coisas non-sense que eles produzem. Realmente eu tive uma excelente tarde! Quanto a Alice, infelizmente não sei falar se ela pode dizer o mesmo...

Zaratustra

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Não fazer as coisas no impulso!



Eu pisquei e ela sorriu. Eu sabia que eu poderia foder ela quando eu quisesse, e por mais que eu bebesse como uma ESPONJA eu ainda era visto como um bom moço, e sim, ela tinha afeto por mim, e ela sabia que jamais encontraria um cara foda como eu, uma cara fodido, um cara com o melhor futuro que ela podia esperar. Eu era o prêmio e nada me tiraria isso, eu estava mesmo na crista da onda e o lance do tempo acabaria por colocar os pingos nos is. Já meio mole pelas cervejas baratas que eu tinha tomado, saquei o telefone, pensei em ligar pra ela, mas respirei fundo e pensei que todas as merdas que eu fiz foram no impulso e estava determinado a não fazer mais isso, eu só faria as coisas com total certeza de que eram o que deveriam serem feitas. Um beijo, um carinho ou uma simples mensagem de texto eram calculadas, digam que sou frio e calculista, foda-se, eu estava na crista da onda e não vocês hahahaha. Cansei de canalhice e fui me deitar...

Zaratustra

Eu não morri de overdose (Parte 2)



Eu não morri de overdose. Fiz de tudo pra isso. Já fumei maconha. Já cheirei cocaína. Já cheirei heroína. Já fumei crack. Já tomei doze rivotrils, seis oxicodinas e cheirei duas cápsulas de fluoxetina. Já bebi quinze litros de vodka em trinta dias. Já coloquei traficantes armados no meu carro. Já misturei drogas e senti meu coração acelerar e meu cérebro doer. Já tentei me jogar da ponte quando estava chapado de heroína. Já me escondi embaixo de carros. Já tentei beber todas as bebidas do cardápio. Já tirei a roupa no meio da rua e na frente da polícia. Já coloquei a arma engatilhada de um policial no meu peito e pedi pra ele atirar, mas ele não atirou. Já tentei me matar umas duas vezes. Já pensei em comprar uma corda, inclusive estava olhando em qual lugar da casa a corda não iria estourar com o meu peso. Sim, pensei na forca. Já fiquei três dias acordado direto. Já me puxaram pro abismo e pro paraíso. Já tomei porre por mulheres. Já fiz escândalo e quase perdi meus amigos. Já transei com mulheres lindas, mas também com mulheres feias. Já me apeguei à algumas garotas e já rejeitei algumas que se apaixonaram por mim. Trombei de frente com a morte, cheguei a conversar com ela. Pensei em tomar chá de fita. Pensei em começar a cheirar cocaína todos os dias. Bebi todos os dias por praticamente dois anos. Sim, eu não morri de overdose.

Se nada disso me matou, nada pode me matar. Nada mesmo, nem o desemprego, nem a solidão, nem as mulheres e nem meus problemas familiares. Nada pode me matar, nem mesmo o alcoolismo, nem a falta do alcoolismo, nem mesmo o fato de recusar drogas quando me oferecem. Nem a maconha que eventualmente eu fumo. Nada pode me matar. Abri minhas asas e cheguei no céu, no paraíso. Por favor, não me desçam daqui!

Zaratustra

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Um cara foda (Parte 1)



Não bastava o que muitas vezes bastou, era preciso mais do que um sorriso para atrair aquela garota sensacional que media cerca de 1,70m e tinha belos seios e belas coxas, e bunda razoável e um rosto bonitinho também. E todos os carinhas pagavam um pau pra ela, e ficavam querendo cheirar o seu cabelo, dando desculpas do tipo "Posso sentir o seu cheirinho pra poder saber se teu shampoo é bom pra minha priminha?" Conversinha furada, e claro que ela não caia, ela era o prêmio, ela era superior a todos os carinhas da região e talvez até mesmo de fora da região. Nem os maços de cigarro que ela fumava até ficar exausta deixavam ela mais feia ou pior ou com o cabelo fedido. Pra ela tudo estava muito bem, ela estava na crista da onda, como dizem, e ninguém poderia derrubá-la.

Seu nome era Daniella, chamada mais como Dani, e sua vida era bacaninha. Estudava publicidade, tinha um bom dinheiro e sabia curtir a vida, e bebia e fumava e às vezes, cheirava uma cocaína de leve ou fumava um baseado de leve mas sem se viciar em nada disso. Ela era mais alcoolátra do que qualquer outra coisa. Era uma raça superior, e conhecia muita gente interessante na maldita faculdade que ela frequentava, muitos carinhas legais e que se declaravam e diziam que fariam tudo por ela. Mas infelizmente a vida é assim, temos que aprender que as mulheres são os nossos cachorros, se agirmos como ratos elas nos esmagam, temos que dar as ordens, e isso eles não sabiam. E por isso sofriam por ela, e ela ria, ela só ria, ela podia ter qualquer cara que ela quisesse. Será mesmo?

Pois bem, aí que nessa mesma faculdade tinha um carinha comum, ele não era mais bonito, nem mais pauzudo, nem tinha mais dinheiro do que os outros carinhas. Era tranquilo, mas demosntrava muita segurança em tudo o que fazia, era um cara mesmo bem confiante. Sociável e acima de tudo com certeza das coisas que ele queria. "Evolução pessoal é outra coisa" ele sempre pensava nisso e ria, afinal a vida é como um video-game, se algo dá errado você simplesmente aperta o start e recomeça sem chororô nem mimimi. E era isso que ele fazia, inclusive com as garotas. Se uma desse errado, ok, ele sabia que tinha várias outras que ele poderia ficar e que a que não quis nada se arrependeria profundamente, ou não, isso faria diferença mesmo? Claro que não! E acreditem que ele conseguiu contornar Dani logo na primeira vez em que se encontraram. Ele estava tranquilo, olhava o quadro de anúncios da faculdade, sem se preocupar muito, um cara quando é seguro de si não demonstra estar preocupado com as coisas, ele simplesmente está sempre transmitindo boas energias.

- Oi - ele disse.
- Oi - ela disse.
- Cê faz que curso? - ele perguntou
- Publicidade, e você? - ela retrucou a pergunta
- Faço engenharia...
- Legal.
- Tenho que ir agora, até mais - ele disse e se virou, saindo sem pressa.

Por Deus, acreditem, ela ficou encucada com isso tudo. Ele demonstrou o que ela merecia, colocou ela no lugar dela, ou seja, ele mostrou que quem mandava na coisa era ele, e que ele era melhor do que ela. Hahahah, isso é malvado, mas seu jogo estava começando de uma maneira sensacional. Acreditem, ele pegaria aquela garota algum dia. Aliás, seu nome era Luis, sim, esse era o nome da vitória, Luis. O cara que trata as mulheres como devem ser tratadas.

Zaratustra

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Precisava dizer "eu te amo"



Eu estava precisando de alguém pra me ouvir reclamar das coisas e das pessoas e quem sabe da sociedade atual e talvez ainda dos protestos e da guerra da Síria. Precisava abraçar alguém, precisava recuperar minhas coisas, precisava ser decente e beber menos. Precisava não ser falso e controlar minha mente. Caralhos, eu precisava de coisa pra porra! Sei lá, a carência não é um sentimento muito bom de ser externado, mas às vezes se torna incontrolável.  Eu precisava mesmo, enfim, de alguém pra simplesmente desabafar as coisas e ser amigo e dar um abraço. Isso era gay, isso não só soava gay como externava boiolice, mas foda-se, o que se passa dentro de mim não pode ser julgado por ninguém, nem por mim mesmo. Apesar disso eu estava tranquilo, isso era só um detalhe, os amigos me ajudavam nisso pra caralho e tudo ainda prosseguia muito bem naquela altura da minha vida. Precisava de alguém pra dizer "eu te amo", sem ser julgado com terceiras intenções, sem que pensassem que eu queria comer ela, ou que queria namorar ela. Era simplesmente vontade de ser agradável com os outros e de compartilhar a minha felicidade. Precisava dizer "Eu te amo" e naquela tarde eu disse.

Zaratustra

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Pela dor que eu vejo nos outros



O som estava alto no meu carro, eu ia a milhão pela avenida amarela, na verdade o asfalto era escuro, mas o amarelo só representa o fato de ter esperança nas coisas (alguma alusão ao filme/livro Mágico de Oz). O carro "voava" e eu estava bem a beça, ouvindo uma das melhores bandas que existem no metal atual, Opeth, a gritaria mesclada com a calma sempre me relaxam. Parei num posto 24h pra tomar um café e depois continuar correndo na estrada amarela.

- Por favor, me veja um expresso e um pão de queijo - eu disse cordialmente
- Claro chefe!

Desnecessário me chamar de chefe, sou só um proletário como ele, mas enfim, isso é o menor dos males da humanidade, e também era desnecessário eu ficar pensando nisso. Meu cafezinho chegou, puxa vida, a fase estava muito boa, a vida estava ótima, eu estava nas nuvens! Meu telefone tocou, não sou de receber muitas ligações...

- Pois não! - atendi de forma seca, mas ainda assim tranquila
- Oi Carlos, é a Diana! Tudo bom?
- Oi Diana tudo ótimo! E aí, o que você me manda?
- Vai ter uma festa na casa da Gabi no sábado, queria saber se você vai... Se fossem outros tempos eu tenho certeza que sim, mas agora que você é um cara que não toma porres eu não sei né hahahaha
- Claro que eu vou! Só porque eu parei com os excessos não significa que não quero curtir mais hahaha...
- Beleza... Vou colocar seu nome na lista então... Mas e de resto, como você está?
- Tô ótimo, ótimo mesmo! Hahaha
- Puxa, que bom, fico feliz por você - não vi o rosto dela, mas senti um sorriso assim (:
- Sim sim, e você?
- Tô indo, acordei meio triste hoje, mas ok...
- Homens? - eu disse quase que interrompendo ela
- Sim, o Fabinho me procurou hoje, abalou um pouco...
- Escuta, isso é mesmo necessário? - meio que interrompi de novo - Tu sabe que o cara namora, que ele é canalha, interesseiro e que só quer te comer, e ainda assim você se abala!
- Eu sei Carlos, eu sei, mas não consigo controlar... Acho que pelo fato de ele ser canalha, isso mostra que ele tem atitude, e isso gera uma atração em mim que não sei explicar.
- Ok, isso até aceito, mas você precisa se valorizar mais! Evolução pessoal é outra coisa! Você não sabe o quanto isso me ajudou...
- Beleza Carlos, beleza, juro que vou melhorar... - ela disse, eu não vi o rosto dela, mas senti um rosto assim =/
- Ok chuchu, tenho que ir agora, estou na minha estrada amarela, não posso ficar muito tempo parado... Depois nos falamos, beijos!

Desliguei o telefone, terminei com o meu café, que já estava frio e o meu pão de queijo, que já estava duro, mas nem me importei muito com isso, acho que no mundo existem males muito maiores do que um pão de queijo e um café que não estão "frescos".

Voltei pra estrada, o meu carro ainda "voava" e eu ainda estava nas nuvens, o som continuava sendo Opeth, a música era By the pain I see in others, acho que as pessoas mostravam suas dores pra mim naquela altura principalmente porque eu cheguei no fundo do poço e me salvei, e agora estava na estrada amarela. Eu poderia estar morto mas era símbolo de redenção. Sabem o quanto é dificil isso? Pois bem, é mesmo dificil. Nada me segurava e de quebra ainda ajudava outras pessoas. Acelerei um pouco mais...

Zaratustra

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Ei, não fique assim, triste



Eles estavam atrás da banca de jornais, com suas roupas rasgadas e suas caras tristes, e suas gesticulações completamente e exageradamente elaboradas, e eu vi que eles estavam no inferno e não sairiam dali tão facilmente. O que havia feito eles se foderem assim meu Deus, porque isso, porque isso MESMO? Olhei por um segundo para eles, eu estava muito bem naquela época da minha vida, eu estava mesmo com tudo, abraçado a uma mestiça, curtindo a noite fria e esperando pra voltar pra casa e dormir depois de tomar um chá. Mas eu vi eles, com suas carteiras de couro falso, e em cima delas linhas de cocaína de 10 pratas por 1,5 grama, e suas notas de duas pratas enroladas, e suas narinas abertas e os olhos arregalados e os dentes rangendo e se sentindo imortais e sem pudor, muito menos medo, muito menos pavor. Descarregavam tudo por ali, os traumas e as frustrações, e a falta de futuro, a falta de perspectiva. E eu ali, acariciando a mestiça assistia a tudo sem poder fazer nada. Me senti triste, sim, fiquei triste por eles, eles precisavam sair dali, mas isso dependia principalmente deles.

Cheguei em casa, já sem a mestiça. Fiz um café, perdi o sono, assistia a TV quando ainda lembrava dos garotos perdidos atrás da banca de jornais, e de suas narinas abertas, e do barulho que a cocaína fazia quando era aspirada pra dentro do septo. Tudo isso era pesado demais pra mim, mas ainda assim pensei "Ei, não fique assim, triste. Isso é uma fase, isso vai passar" Esperava estar certo, mas isso eu jamais teria certeza. Talvez eu nunca mais os visse, talvez eu voltasse ao inferno e sairia com eles pra foder com a minha vida. Eu não sei. Queria o bem deles, mas isso não dependia de mim. Tentei esquecer a cena que eu tinha visto, me deitei e acabei pegando no sono.

Zaratustra

sábado, 7 de setembro de 2013

Orgulho e Coragem, dois irmãos



Andei no centro da cidade a procura de um bar
Não encontrei nada
As ruas já estavam com as luzes apagadas
O som dos carros era inexistente
Andei ainda mais um pouco
Vi dois irmãos, eram dois garotos jovens
Muito bonitos aliás
Um deles se chamava Orgulho
O outro se chamava Coragem
E levei eles ao bar
E estava fechado - ainda
Mas eu estava tranquilo, muito tranquilo mesmo
Não passavam carros
Eu ainda tinha metade de uma garrafa de conhaque
Chamei eles pra beber comigo, não quiseram
Acenei com a cabeça em respeito "Ok ok ok..."
Meu fígado ainda aguentava mais um pouco
Mais um pouquinho só, somente isso, coisa pouca
E o Orgulho me deu um tapa no rosto
E o Coragem me puxou pelo braço
Me levantei, sorri
A garrafa ainda estava ali, fiquei triste
Não iria terminar com ela, ao menos uma vez
O Orgulho ainda me feriu de novo
Com uma garrafada na cabeça
O Coragem me pegou no colo
Limpou meus ferimentos
E as luzes acenderam
E os carros voltaram
E os bares abriram
E as pessoas me olhavam e sorriam
E eu acenava "Ok ok ok..." Sempre em respeito
Deus, Deus, Deus
Ele existia?
Não sei, naquela tarde Orgulho ficou no bar e o Coragem me arrastou pra casa...

Zaratustra

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

E respirei fundo



Quase fraquejei, quase! Por um momento eu pensei em tomar um daqueles porres monstros, sim, aqueles mesmos. Pela primeira vez eu pensei em fazer uma merda dessa nesse período de um mês. Não foi tristeza, foi cansaço. Sei lá, de repente me bateu, só isso. Respirei fundo, lembrei que todas as grandes merdas da minha vida foram feitas no impulso. Respirei fundo de novo, eu havia desistido de caminhar, desisti de desistir, fiz uma longa caminhada. Tomei um bom banho, já não pensava mais nas merdas. O dia estava pra acabar, amanhã seria melhor, eu não precisava de uma garrafa, do alcool ou ficar triste por coisa pouca, por impulso. Coloquei a água do chá pra ferver, escrevi esse texto e logo logo iria dormir. O sol ainda nasceria amanhã cedo.

Zaratustra

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Virei a esquina e apaguei o meu cigarro...



Virei a esquina e apaguei meu cigarro, uma vez que o cheiro estava insuportável e a cocotinha que usava uma saia de rendinhas, com pequenas bolinhas azuis num tecido vermelho rouge carmim piscava para mim. Eu poderia chegar nela, bater um bom papo, perguntar se ela tinha ouvido aquele album sensacional do Tom Zé, ou dos Mutantes, mas não estava muito a fim disso naquele dia. Não queria saber de conselhos, nem de flertes, parecia que naquela noite as luzes dos postes me fariam companhia. Dei um sorriso bobo e um pequeno pulo de alegria, socando o vento. Não precisava de consolos, nem de alegrias, o fato de estar vivo já me bastava. A cocotinha piscou de novo pra mim, eu dei outro sorriso, ela mexeu nos cabelos. Eu não me perdoaria se eu não conversasse com ela, a saia dela era muito bonita, e aquele cabelo escuro lambido na testa, aquela carinha de hipster vanguardista ainda me atraia. Aiii, estava apaixonado, eu acho... Passei por ela, evitei me aproximar demais. Nem olhei pra trás. Virei a próxima esquina e acendi um novo cigarro. Traguei, ainda alegre, a noite seria sensacional enquanto eu vadiava pelas ruas escuras da cidade de São Paulo.

Zaratustra

Um imã natural das mulheres



Meu pau não tinha crescido (sim, ele ainda estava a cerca de 2,5cm do tamanho perfeito, apesar que muitas mulheres sempre diziam que eu era bem dotado, não sei dizer se era por carinho a mim, ou simplesmente era verdade ué) e meus dentes ainda estavam amarelos e tortos. O cabelo ainda caia, o corpo continuava fora de forma, o dinheiro continuava contado e os olhos continuavam cansados. Mas eu não sei exatamente o porque, nem como, mas parece que as mulheres estavam mais próximas de mim, parece que eu de verdade era bom pra falar com elas, e pra entendê-las. Elas se sentiam confortáveis e seguras pra falarem comigo, e se eu não pegasse elas, sempre me indicavam pras amigas, e isso era bem legal mesmo, me possibilitava conhecer novas garotas e possíveis novas fodas, ou novos relacionamentos sérios.

Me sentia muito bem e muito superior aos outros carinhas, sim, aqueles que eram tímidos e retraídos e que não queriam falar com garotas que não fossem suas mães e suas irmãs. Eu era um imã natural das mulheres, isso era fato. Com mais um pouco de trabalho e leitura de livros eu iria torna-las algo além de amigas. Eu estava prestes ao sucesso e nada me tiraria disso.

Zaratustra

domingo, 1 de setembro de 2013

Como as coisas são!



Hoje fazem 4 meses que eu não cheiro cocaína. Esse é de longe o maior tempo que fico sem desde que comecei com a merda toda. Como as coisas são! E pensar que o inferno estava dentro de mim cerca de um mês atrás, e agora está tudo tranquilo. É incrível como eu não sinto falta das linhas, ou de ficar com a cara dormente por uma semana, nem nada dessas palhaçadas todas. Mas isso é só a menor das vitórias, pois sim, acreditem, vocês que são os espectadores do meu sofrimento nos quase dois anos de blog, quase dois anos que eu relato o caos e o inferno por aqui, finalmente tomei um rumo com a bebida. Sim, não bebo mais todos os dias, e é isso que faz quase um mês! Parece que agora é pra valer mesmo, pela primeira vez minha felicidade não depende de outras pessoas, pela primeira vez estou bem comigo mesmo, e espero que nada, nada tire de mim o que eu tenho agora. Nem as frustrações do meu casamento fracassado, nem os traumas paternos de infância, nem as pilulas maternas, nem o desemprego, nem o fato de eu estar escrevendo isso do banheiro, pois os ratos dormem em cima da minha cama e as baratas fazem a festa em cima da minha escrivaninha. Não, nada pode me tirar de onde estou. Vocês sabem o que é ficar um mês sem se sentir triste? Pois bem, é isso o que acontece. Estresses são normais, mas são curados com 30 minutos de meditação e um bom chá, ou erva-cidreira, ou camomila, ou ainda um amargo chá verde. Tudo acaba se resolvendo de forma rápida e fácil, e nada que qualquer um possa fazer vai estragar isso, espero que, se exista um Deus, que o meu ateísmo cético não me deixa acreditar, se ele existe, não me tire daqui. Não precisa me dar mais do que eu tenho, nem precisa tirar nada. Vamos combinar de manter meu estado de espirito intacto, vamos continuar fazendo eu escrever textos somente no tempo em que meus dedos batem às teclas. Eu poderia estar numa sarjeta agora, eu poderia estar usando crack e caído no chão, eu fiz de tudo nesses dois anos pra perder tudo o que me fazia bem, eu estaria sem amigos agora, mas por um milagre da natureza, apesar de eu ter feito TUDO para perdê-los, ainda os tenho. Como as coisas são! E digo mais. Sempre disse que o tempo não passava quando eu não bebia, que o dia tinha 48horas, e que tudo era muito chato. Pois é, incrível entender que agora eu quero essas 48horas, estou sem tempo para nada, não consigo fazer todas as coisas boas que a vida pode me proporcionar, inclusive esse texto está sendo escrito rapidamente, pois tenho compromissos logo mais. No ínicio eu me forçava a gastar o tempo, agora as coisas fluem de uma forma natural que nem a métrica da minha escrita importam mais. É indiferente separar em parágrafos, uma vez que a mensagem está captável. O mundo é muito maior do que uma garrafa pode me mostrar, e volto a repetir, não me tirem de onde estou, acho que é a melhor fase da minha vida, não quero que isso acabe, isso realmente não pode acabar. Faço de tudo, dou meu reino, pra não voltar a ser um alcoolátra e degenerado que decepcionava as pessoas, que fodia tudo e chegava no trabalho cheirando a conhaque nas axilas. Nada me fere agora, estou num caminho para o sucesso... Como as coisas são!

Zaratustra