terça-feira, 24 de setembro de 2013

E os olhos dela marejaram...



Era isso. Enquanto ela contava a história do antigo casamento dela, que durou cerca de 18 anos, os olhos dela marejaram. Mesmo sem a lágrima efetivamente escorrer, não me senti bem com a cena toda, mas ainda escutava demonstrando frieza e auto-confiança. Tentei passar pra ela um sentimento de conforto, mas aquela mulher havia sido abalada fortemente com as cicatrizes daquele homem que um dia ela tinha chamado de "amor"

- E aí que ele tinha problemas graves de alcoolismo. Chegava em casa e me batia, aliás, ele usava outras drogas, mas acho que o alcool era a que deixava ele mais transtornado mesmo. Lembro de algumas cenas tais, como da vez em que ele atirou o copo de vidro na pia e despedaçou, ou quando ele quebrou a porta da cozinha, ou ainda, quando ele destruiu todos os móveis da casa num momento de loucura extrema. Não foi fácil, sim, nada fácil...
- Compreendo, compreendo - estendi minha mão, ela pegou e apertou firme, era o mínimo que eu podia fazer para confortar aquela mulher que desmoronava bem ali, na minha frente - Mas a vida é sempre um recomeço, é bom que agora vocês não estão mais juntos né?
- Sim, mas eu passei 18 anos sofrendo, não digo 18, mas pelo menos 15 anos sofrendo. Ok, agora estou bem, estou solteira, mas esses anos todos nunca mais vão voltar. Você acredita em reencarnação? - antes que eu pudesse responder ela prosseguiu - Pois eu não, e sinto que o tempo da vida que passa a gente nunca mais recupera, foi perdido, e por mais que tentemos compensar tudo o que perdemos, jamais vamos recuperar essas horas de sofrimento.

Olhei fixamente pra ela, essa afirmação me bateu na alma. Caralhos, eu havia perdido alguns poucos anos também, ainda dava tempo de "recuperar", mas foi como ela disse, os anos não voltariam, o que eu destruí não voltaria, as pessoas que eu fiz mal, essas com certeza não voltariam. Minha frieza, auto-confiança e conforto ruiram de repente. E então os meus olhos marejaram...

Zaratustra

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