segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Ei, não fique assim, triste



Eles estavam atrás da banca de jornais, com suas roupas rasgadas e suas caras tristes, e suas gesticulações completamente e exageradamente elaboradas, e eu vi que eles estavam no inferno e não sairiam dali tão facilmente. O que havia feito eles se foderem assim meu Deus, porque isso, porque isso MESMO? Olhei por um segundo para eles, eu estava muito bem naquela época da minha vida, eu estava mesmo com tudo, abraçado a uma mestiça, curtindo a noite fria e esperando pra voltar pra casa e dormir depois de tomar um chá. Mas eu vi eles, com suas carteiras de couro falso, e em cima delas linhas de cocaína de 10 pratas por 1,5 grama, e suas notas de duas pratas enroladas, e suas narinas abertas e os olhos arregalados e os dentes rangendo e se sentindo imortais e sem pudor, muito menos medo, muito menos pavor. Descarregavam tudo por ali, os traumas e as frustrações, e a falta de futuro, a falta de perspectiva. E eu ali, acariciando a mestiça assistia a tudo sem poder fazer nada. Me senti triste, sim, fiquei triste por eles, eles precisavam sair dali, mas isso dependia principalmente deles.

Cheguei em casa, já sem a mestiça. Fiz um café, perdi o sono, assistia a TV quando ainda lembrava dos garotos perdidos atrás da banca de jornais, e de suas narinas abertas, e do barulho que a cocaína fazia quando era aspirada pra dentro do septo. Tudo isso era pesado demais pra mim, mas ainda assim pensei "Ei, não fique assim, triste. Isso é uma fase, isso vai passar" Esperava estar certo, mas isso eu jamais teria certeza. Talvez eu nunca mais os visse, talvez eu voltasse ao inferno e sairia com eles pra foder com a minha vida. Eu não sei. Queria o bem deles, mas isso não dependia de mim. Tentei esquecer a cena que eu tinha visto, me deitei e acabei pegando no sono.

Zaratustra

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