terça-feira, 13 de agosto de 2013

A cura para alguns males!



Eu ainda estava naquele apartamento pequenininho ali na rua do Arouche, ainda vivia num cubículo, tinha pouco espaço, mas estava bem melhor, muito melhor mesmo. Já não bebia em excessos, nem me drogava, nem fazia inconsequências com boletas, fazia tempo que não passava na farmácia e comprava uns Rivotrils e umas Oxicodinas e também as Fluoxetinas. Tinha um bom trabalho, me adequei às rotinas, aliás, à minha rotina. Comecei a malhar, na verdade a correr, estudava meditação, relaxava a mente, tomava chás diversos e estudava as coisas quando o tempo não queria passar mais. Caralhos, eu estava muito diferente, até demais, e isso me preocupava de verdade, eu não me reconhecia mais e nem as pessoas que sabiam quem eu era me reconheciam. Geralmente nos fins de semana eu saia pra beber, mas bebia bem menos, comecei a ir nos rolês pra pegar garotas e dançar, a bebida ficava em terceiro plano. Deus, o que havia acontecido comigo? A crise de identidade neste caso era positiva, e sim, estava nas alturas.

Naquele sábado apareceu no meu apartamento uma garota, assim como várias que apareciam sempre lá. O nome dela era Rosa, mas chamavamos ela de Candy, dos tempos de noitada na Augusta, em que ela dançava freneticamente àquela música "Candy, Candy, Candy, dont let yourself go!" Acho que era assim a música. Enfim, era uma garota tatuada, bem bonita, dos cabelos vermelhos não naturais. Tinha um corpo magro, com uma bundinha meio quadrada, mas com uns peitinhos que mereciam respeito. Eu já havia transado com ela em outras oportunidades, mas agora éramos apenas bons amigos (mas isso não impede que eu transe com ela, se ela estiver a fim, é claro).

- Você está muito esquisito Carlos... O que diabos está acontecendo? Tu tá doente? - ela perguntou, e eu vi uma preocupação na cara dela que era real.
- Sei lá, cansei de ser o que eu era. É muito díficil ser um fracasso e um alcoolátra, fora as decepções com os amigos, fora os problemas que eu criava na família, enfim - dei mais um gole no chá e prossegui - é tão errado assim tentar ser uma pessoa melhor?
- Não não, acho isso ótimo, mas sei lá, é tudo meio repentino demais, você não tem medo de voltar a ser o que era?
- Medo todos temos. A questão é não deixar o medo nos impedir de tentar. Estou tentando, se der errado mais pra frente, paciência. Ao menos sei que tentei, e isso que importa pra mim Candy. E espero que algum dia você também saia dessa vida de noitadas inconsequentes.
- Você tem razão Carlos, a questão é que ainda não estou pronta pra isso... - ela me disse, abaixando a cabeça.
- Relaxa, eu também demorei muito pra encontrar a cura pra alguns males... É mesmo muito difícil, mas alguma hora vai acontecer. Candy, tudo tem seu tempo e sua hora, e se for pra você morrer e voltar a viver, que seja assim! Eu mesmo morri demais até chegar aonde estou, e me orgulho de tudo o que passei.
- Ok Carlos. Ainda podemos sair né?
- Claro, claro que podemos... Gostaria muito de dançar com você ainda! Não deixei de me divertir, apenas parei com os exageros. Essa é a política!
- Excelente Carlos - ela abriu aquele sorriso bobo com covinhas nas buchechas que sempre me conquistava e me tirava um sorriso igualmente bobo - Que bom que ainda pense assim! Vamos sair amanhã à tarde, ir no parque e conversar um pouco vendo as plantas e as crianças?
- Sim, porque não? Claro que vamos.

Ela saiu na sequência, eu lhe dei um beijo molhado no rosto e um abraço efusivo. Sim, eu estava nas nuvens, o céu era o limite, eu havia finalmente me regenerado, estava ganhando mais uns anos de vida e isso era muito bom mesmo. A vida parecia fazer algum sentido. Apaguei as luzes, desliguei o celular, a TV e todo e qualquer barulho inconveniente. Meditei por 30 minutos, senti meu corpo nas nuvens e dormi como um anjo.

Zaratustra

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