terça-feira, 2 de julho de 2013

E tudo parecia ainda mais simples do que realmente era



As meias que estavam jogadas pelo chão, a cama desarrumada e fora do lugar, meio torta pra esquerda, ou pra direita, nem sei ao certo. Num quarto com pouco mais de vinte metros quadrados, a geladeira, mini geladeira, ainda tinha comida estragada, acho que eram frios, presunto, queijo e mortadela, que eu achei que comeria. As roupas estavam em todos os cantos, nas janelas, em cima da mesa, em cima da cama e da máquina de escrever. Nao via futuro ali, não via nada a não ser o caos. O banheiro estava um nojo, o vômito de semanas ainda estava respingado no vaso, na privada. Sem chuveiro, com as roupas sujas, vestido aos trapos eu insistia em pensar que meu mundo não estava ssim tão ruim, apesar da solidão e do alcoolismo. Essa ideia de beber todos os dias estava me fodendo. Ensanguentei uma velha blusa com o que engoli do veneno. Dormi em encostos das cadeiras, em cima da mesa e inclusive, em cima da máquina de escrever. O fracasso ainda era mais digno do que aquilo que eu, somente eu, sabia e enfrentava. Não tinha rotinas, não tinha amigos, nem dinheiro, nem sucesso, nem futuro, nem esposa, nem filhos, nem conta no banco, nem titulo de eleitor, ou ainda, a reservista do exercito. Perante a sociedade eu não era nem um número. O sorriso, apesar de tudo, mesmo com as garrafas entornadas, e a solidão, e as meias jogadas, e as roupas sujas, e o cheiro de mofo e bolor da geladeira, mesmo com isso tudo, o sorriso por vezes insistia em me dizer um leve "olá!" Eu o agraciava, gracejava ele, o sentia, e sim, o sentia com intensidade. E tudo parecia ainda mais simples do que realmente era.

Zaratustra

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