segunda-feira, 29 de julho de 2013

Isso faz alguma diferença?



- Veja bem chuchu - eu disse tentando apontar pra ela, apoiando o braço no apoio (redundante?) da minha poltrona de couro, meio desequilibrado - você não sabe nada da vida!
- Acho que você bebeu demais Carlos. Você bebe muito, vai morrer cedo. - ela me disse, ainda sóbria.
- Eu sei chuchu, sei bem - eu disse já virando mais uma dose de cachaça barata - mas aprendi com o maior gênio da literatura: encontre o que você ama e deixe isso te matar. E é exatamente o que estou fazendo - e dei outro gole na cachaça.
- Sei disso Carlos, eu sei disso, mas me preocupo sei lá...
- Relaxa chuchu, morrer seria fácil demais pra mim, acho que não quero isso, aliás, é certeza que não quero isso. Quero viver, porque quanto mais eu vivo mais eu posso beber, e isso é muito bom.
- Promete que você não morre? - ela perguntou e me olhou com aqueles olhos enormes, que aliás eram castanhos.
- Prometo sim chuchu - sorri levemente e entornei mais cachaça ainda.

Naquele dia nada estava ruim, parecia que eu estava no paraíso, onde as flores me acariciavam com suas pétalas e toda a minha melosidade poderia ser justificada. Inclusive essa garota, chamada Fê, mas que eu chamava de chuchu mesmo sem comer ela, inclusive ela estava bem, e ambos estavamos bem e conversavamos trivialidades enquanto assistiamos as tragédias no programa do Marcelo Rezende (acho que o nome dele é com "z" mesmo... Isso faz alguma diferença?) e eu bebia, ela não, mas ela ria das minhas piadas e das tragédias e das crianças que eram arrastadas pelos cintos dos carros, e dos padrastos que violentavam garotinhas de 11 anos que nem tinham a buceta completamente formada. Isso soa meio doente, mas a vida é amarga demais pra ficar se preocupando com o que te faz bem, simplesmente faça e pronto!

- Bom, eu tenho que ir embora Carlos - ela me disse, já levantando da poltrona
- Isso, faça como as outras, simplesmente se vá chuchu - eu disse, já completamente bêbado
- Estou com seu cheiro hihihi - ela disse enquanto passava a mão no cabelo.
- Isso faz alguma diferença?
- Nossa, como você é grosso! Vou embora.
- Vai lá, vai lá - eu disse já assentindo com a cabeça em direção à porta.

Ela saiu, me deixou lá, bêbado. Pensei que a presença dela era bacana, mas em seguida repensei comigo mesmo (redundante de novo?) "Isso faz alguma diferença?" A presença dela não me fez diferença alguma e o mundo prosseguiu girando numa espiral sem fim enquanto eu chegava ao fim daquela garrafa de cachaça.

Zaratustra

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