terça-feira, 14 de maio de 2013

A morte cheirava à whisky



Ernesto estava bebendo todos os dias já faziam 135 dias. Um cara meio fechado, sem muitos amigos, sem festas, sem sociabilidade. Sua vida se resumia em beber todas as noites quando chegava do seu emprego, que aliás, ele detestava, então melhor nem falar disso. Durante a semana bebia somente de noite, aos finais de semana costumava começar a beber logo pela manhã, e ficava assim, bebia e se dedicava a beber.

Seu corpo porém não queria muito lhe ajudar, e no dia número 136 teve um colapso. Seus vizinhos ouviram ele gritando de dor, acharam estranho, invadiram o apartamento dele e o levaram ao hospital o mais rápido possível enquanto ele gorfava mais sangue do que um ser humano possa imaginar que tenha dentro de si. Ficou em repouso no hospital, desmaiado por 4 dias. No quinto ele acordou, e viu o médico vindo em sua direção, com um conjunto de papéis na mão.

- Vou ser direto Ernesto. Seu fígado está um lixo! Acho que é o pior que já passou por aqui - o médico disse, balançando a cabeça negativamente.
- Quem diabos é você? - Ernesto questionou ainda com os olhos meio fechados.
- Ahhh sim, desculpe. Sou o doutor André, médico responsável por você... Muito prazer! - André esticou a mão.
- Tá tá tá bom - Ernesto bateu na mão de André sem o cumprimentar - cadê meu drink?
- Por Deus! Você não me ouviu!? Seu fígado está completamente fo-di-do!
- E daí? Vou embora dessa merda! Tô ótimo e não tô bebendo aqui, melhor ir embora - Ernesto foi se levantando da cama.

André tentava impedir Ernesto de colocar suas roupas e pegar suas coisas, mas em vão. Ernesto assinou a papelada pra sair de lá quando André tentava impedir de novo que ele se fosse.

- ME ESCUTA ERNESTO! - Ele gritou atônito.

Bem tranquilo, Ernesto parou na frente de toda a pomposidade daquele médico. Olhou ele nos olhos e disse:

- Tá bom... Que que você quer me falar?
- É sério! Se você beber qualquer coisa, mas qualquer coisa, você morre! É verdade!
- Hmmm... Até whisky? Morreria se eu bebesse whisky? Não posso mais beber pro resto da vida?
- Sim! Nunca mais você pode beber! - Andre disse apreensivo.

Ernesto olhou pro chão, reflexivo... Ainda bem tranquilo disse:

- Bom, se eu não posso mais beber o resto da minha vida, aí sim, tenho um bom motivo pra beber. Tchau doutor. Abraços!

Ernesto foi saindo e deu leves tapinhas nas costas de André.

- Tá bom, só não diga que não avisei! Seu louco! - André saiu, jogando o conjunto de papéis pro alto.

Saindo do hospital, Ernesto passou num belo bar, localizado ali na alameda Lorena, especializado em bebidas caras. Sentou no balcão, acendeu um belo charuto, que havia comprado há umas 3 quadras atrás. Chamou o garçom.

- Escute aqui... Qual é o whisky mais caro que você tem?
- Temos um whisky Chivas de 68 anos de idade.
- Hmmm... Mais velho do que eu. Ok, me traga uma dose por favor... Mas eu pago só depois de beber né?
- Sim. O senhor pode tomar a dose e pagar na saída.
- Perfeito! Pode trazer então!

O whisky foi trazido pelo garçom rapidamente, não deu tempo de Ernesto pensar muito. Quando o copo chegou, foi olhado cuidadosamente. Olhou o líquido no copo, o admirou bastante. "A morte cheira a whisky agora..." Ele pensou e deu uma risadinha. Virou a bebida goela adentro numa única talagada. Colocou o copo na mesa. Sim, era o melhor whisky da vida dele, nunca bebia coisa cara, só cachaça Corote e Bavárias. Não, ele não morreu. "Droga! Vou ter que pagar a bebida!" Apesar de irritado, saiu de lá feliz e fumando seu charuto. Pagou a conta, parcelou em algumas vezes no cartão de crédito. Foi pra casa, bebeu mais um pouco e dormiu como um anjo, feliz por saber que ainda poderia beber pro resto da vida.

Zaratustra

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