quinta-feira, 30 de maio de 2013

Soltar a corda e ver que merda acontece!



Eu estava bem cômodo naquela situação, naquele ponto da minha vida. Havia passado por maus bocados de verdade, meu emocional estava um lixo. Quando não bebia, chorava, quando chorava, às vezes bebia, e tudo prosseguia como um holocausto, como nuvens negras que me arrebatavam no céu, que me impediam de voar, cortavam minhas asas e olhavam como idiotas, rindo. Deus! Terminar um relacionamento era uma merda, até esses de 3 meses, terminar eles sempre fodem os dois lados, um mais, outro menos, mas ambos se fodem. Terminar um casamento era ainda pior, era ainda mais traumático. Era uma maldita viagem degradativa, em que você é dilacerado dia após dia que você tem que ver a cara daquela pessoa na sua frente... Doia demais, e por isso que esse divórcio havia me fodido. Pois bem, após isso estava bem cômodo, vivendo como um solteirão convicto. Transava com mulheres por puro interesse carnal. A grande maioria eu via como pedaços de carne, carnes gordas ou carnes magras, eram carnes, e me satisfaziam. No dia seguinte saia de fininho, deixava um dinheiro pelo motel e nunca mais olhava a carne na cara. Mas existiam aquelas, sim, as especiais, que me conquistavam com um bom papo e um bom drink. Eram abraços efusivos, conversas ao pé do ouvido, carícias, carinhos, beijos que transmitiam algo mais profundo. Essas eu costumava sair mais algumas vezes depois da primeira vez. Geralmente nos dávamos muito bem mesmo, sempre nos vendo pelo tempo de cerca de um mês, mais ou menos isso, sim, um mês saindo com aquela garota especial. Mas quando eu percebia a verdade, sentia que eu estava gostando dela, eu simplesmente puxava a corda, não me entregava. Ainda tinha pequenos resquícios da minha ex, que me fodeu, que me deixou somente com algumas roupas e 20% do meu amor próprio. Sim, eu era somente um medroso, não me entregava de jeito nenhum, por medo de que algo desse errado, que eu me fodesse como me fodi, que ela andasse em cima dos meus destroços num futuro próximo.

Estava a cerca de dois anos solteiro, dois longos anos, sem me aproximar de ninguém, sem dar chance pra ninguém, somente na minha rotina maluca de alcool, noitadas e fodas esporádicas. Não me orgulhava tanto disso quanto me orgulhava quando estava um ano solteiro. Quando se fica dois anos solteiro, se reflete muito, e eu via que essa solidão na noitada não estava me levando a lugar algum, a não ser mais e mais noitadas e transas vazias. Pode soar muito gay falar isso, mas é verdade. Tudo acaba perdendo o sentido. Precisava tentar criar raízes de novo, me estabelecer com alguém, voltar a fazer planos, pensar em dia dos namorados, chocolate, perfumes, flores e todas essas coisas que são gays pra caralho, mas que as garotas curtem a beça. Sair de fim de semana, ir ao shopping, cinema, comer um lanche e dar algumas risadas... Às vezes poderia rolar uma balada, mas coisa leve, bem de leve mesmo, sei lá, um barzinho. Algo sério me assustava, ouvia a palavra "namoro" e sentia um medo que subia pela espinha, vontade de correr, suor frio e tudo mais, "casamento" então, nem se fala, "filhos" nem fodendo mesmo, enfim, eram palavras que me assustavam, mas que, ao menos com a primeira delas eu precisava me defrontar. Querer? Até queria, mas era mais uma necessidade de provar pra mim mesmo que posso sair do lugar, posso não ser somente um alcoolátra inconsequente que fode todas as coisas que coloca a mão. Estava saindo com aquela garota fazia pouco menos de um mês. Tinhamos uma conexão, tinhamos algo, de verdade. Nos davamos bem na cama, no papo e na bebedeira. Liamos coisas semelhantes, tinhamos a mesma visão de mundo. Resolvi que com ela eu iria largar a maldita corda, sem pensar muito nas consequências. Se desse tudo certo, maravilha. Se desse tudo errado, teria que lidar com isso. E se não desse em nada, ué, não deu em nada e bola pra frente, como dizem, "bola pra frente", isso me ajudaria. Fazia frio, chovia. Soltei a corda e sentei na cadeira dos réus, aguardando o veredito.

Zaratustra

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