domingo, 30 de junho de 2013

Notas de um jovem frustrado



Eu tinha um litro de alcool para matar e muita vontade de desabafar com qualquer coisa que não fosse um ser humano. Os erros estavam se tornando repetitivos, ao menos comuns, e isso pra mim não valia a pena ser exposto para uma outra pessoa que não eu mesmo. Pois bem, tudo se tratava de desabafos. Não perdia mais tempo em textos reflexivos, em tentar salvar a humanidade ou expor uma ideia filosófica nova, uma vez que isso pra mim se tornava cada vez mais e mais desnecessário e inútil. As tremedeiras, as bebedeiras, os pensamentos ruins, tudo aumentava, as vontades cresciam mais do que eu podia suportar e isso dificultava muito as coisas pra mim. Tudo não passava de um chororô juvenil e sem sentido algum, um mimimi que eu sempre repudiei, mas porra, será que meu drama era demais mesmo? Será que eu estava exagerando, sendo muito moleque e rejeitando qualquer tentativa da maturidade se adentrar no meu ser? Os verdadeiros homens tem maturidade pra lidar com as coisas, mas ao mesmo tempo, os verdadeiros homens assumem seus erros, e tem respeito aos seus pontos fracos e ao que pensam e sintam. Não tem medo de zerar uma garrafa de vodka, apagarem e fazerem merda. Caralhos, a vontade de matar essa garrafa deve ser respeitada, o seu interesse deve prevalecer ao interesse de manter um bom emprego, ou de ser bonito, ou bem visto socialmente, ou de ter amigos, ou família ou inimigos, ou um teto e dignidade. Se o homem quer beber, ele tem que beber, sem pestanejar! E ultimamente a filosofia era essa, eu queria beber eu bebia, mesmo que fossem às 6h da matina, ou ainda, às 22h da noite. Pra mim era indiferente essa porra toda, o tempo era relativo demais, eu somente queria que EU me respeitasse acima de tudo, acima de qualquer outra coisa, pessoa ou  status.

O rótulo da garrafa dizia "Evite o consumo excessivo de alcool", mas os fabricantes não sabem pra quem são feitas essas garrafas. Eles não sabem, que pena, eles não sabem! Somos os jovens, os frustrados, os bonitos e feios, os pobres de dinheiro e ricos de transtornos psicológicos, as pedras nos sapatos dos pais e de si mesmos, os isolados, os ruins de alma e os comedores de putas. Não temos nada, não queremos nada e o suicídio soa chato. Pensei em comprar meus três metros de corda, da bem resistente, mentir na loja que iria fazer rapel, me pendurar numa barra de ferro e colocar fim em tudo isso, tudo isso que somente eu sei, e que somente eu vou saber, só eu sei o que tenho que passar, os problemas de adultos que eu tenho que resolver, a questão de ter um bom teto, dar comida e abrigo pra quem você gosta. Aquilo me pesava demais, eu via os jovens da minha idade de carro importado e os pais bancando as contas, as roupas, os cursos, as baladas, os pãezinhos pela manhã, o controlar da prefeitura, as multas de estacionamento, os óculos da Rayban. Eu nem carteira tinha, não tinha porra nenhuma, bancava a casa e o resto gastava em alcool, mesmo sabendo que morreria daquilo, assim como meus parentes morreram, sem poderem doar nem o fígado, nem os rins e às vezes também o estomâgo, todos mortos pelo mesmo motivo, todos carregando o mesmo fardo, e comigo não seria diferente, eu seria somente mais um a carregar um grande peso nas costas num momento errado da vida. E eu reclamava dos meus quinze anos, como eu era ingênuo, como eu era ingênuo! Queria eu hoje estar com quinze, beijar menininhas, estudar pras provas e ter férias duas vezes por ano, além do futebol e do video-game pela tarde. Mas eu não tinha isso, eu só tinha frustrações e realidades cinzas e nada me tirava dali e nada queria me tirar dali e tudo somente me afundava ainda mais ali, por mais que eu tentasse sair, por mais que eu tentasse ser um cara comum, isso era utopia, isso não aconteceria nunca.

A bebida estava já no fim, eu estava ficando com sono, acho que apagaria fácil naquele domingo às 11h da manhã, acho que o sono viria, juntamente com a dor de cabeça por causa do alcool. Mas o alcool era o remédio, o remédio pras frustrações, e pras pressões, e pros erros dos pais, e pros meus erros e também pelos meus acertos que me levaram aos erros, e como todo remédio tinha seus efeitos colaterais. O vômito sai, a dor de cabeça passa, mas as frustrações ainda latejariam por muito tempo naquela cabeça jovem e doentia.

Zaratustra

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