sábado, 29 de junho de 2013

Santa do pau oco!



A única coisa que aumentava durante aquela crise econômica era a minha barriga. Mentira, e minha vontade de beber e também a de trepar. Havia sido demitido faziam uns 4 meses, a grana estava só diminuindo, e sim, minhas dívidas aumentavam, e os preços dos itens básicos no mercadinho do lado de casa. Ao menos a vodka ainda estava bem barata e isso ainda me animava. Enfim, muitas coisas aumentavam além da minha barriga. Mesmo desempregado eu prosseguia deteriorando, e ficando mais feio, e mais acabado e mais gordo e mais barbudo e com mais e mais problemas de ereção. Nada parecia se encaixar, o mundo finalmente entrara num colapso financeiro grande o suficiente pros Yankees ficarem cagadinhos de medo, os brasileiros ficarem amiguinhos de todos e os europeus se sentirem menos piores, principalmente a Grécia, que percebeu não ser a única na merda. Os empregos estavam diminuindo, e eu, a partir do terceiro mês de desemprego havia desistido de procurar, uma vez que o desemprego também aumentava e eu tinha a ficha suja, principalmente com crimes à ordem, badernas em bares, brigas e tudo mais que um alcoolatra costuma fazer... Ahh sim, fora as vezes em que fui preso por dirigir embriagado, e essas foram muitas vezes. Estava sem perspectiva, inerte a tudo e a todos, me restava ficar em casa bebendo e torcendo pra sorte sorrir pra mim, pra que o governo me desse uma bolsa-auxilio, eles bem que podiam inventar o "Bolsa-Alcool", isso seria muito bom pra mim. Acho que meu sonho, nessa altura, era ser pago pra beber, mas na crise em que estavamos, sabia que isso era utopia.

Era cerca de 15h naquele sábado, honestamente nem sentia mais o rosto de bêbado. O alcool exalava pelos meus poros como o pólen de uma flor, o cheiro era bem forte, minha expressão entregava que eu estava mesmo alterado pra caralho, que eu não estava nada, mas nada, mas nada mesmo sóbrio. Resolvi que ia sair pra tomar um ar, mas antes eu precisava de um banho bem gelado. Joguei minhas roupas na lavanderia, coloquei Raimundos pra tocar, enquanto eu berrava a letra de Nariz de Doze me sentei no vaso, dei uma cagada, limpei o cu, dei a descarga, lavei as mãos, entrei no chuveiro, regulei a temperatura, nem muito frio, nem muito quente, mais para o quente na verdade. Lavei o cabelo, sempre começo pelos cabelos, depois enxaguei, deixei a espuma cair pelo corpo. Peguei o sabonete, limpei o corpo, depois o rosto, juntamente das orelhas, depois o pau, juntamente com as bolas, e por fim o rabo. Sai, me sequei, coloquei a toalha na porta pra secar. Vesti uma cueca azul, estilo boxer, coloquei uma camiseta preta, uma calça jeans, uma meia cinza e meu tenis Nike, também cinza. Passei desodorante, me olhei rapidamente no espelho. Peguei minha carteira e sai de casa, ia tomar um ar, era isso. Aproveitaria e iria ao mercado, comprar uma garrafa de vodka.

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O mercado estava razoavelmente cheio. Merda, eu havia esquecido que era o sábado do pagamento, e aquelas famílias imensas com três ou quatro filhos se amontoavam nas sessões como a do arroz e a do óleo de cozinha, e a dos salgadinhos baratos e de bolachas. Eu queria ir logo pra sessão de bebidas, mas por alguma lei que eu não sabia a qual, em todos os mercados essa sessão estava quase que escondida! Parecia que eu ia alugar um filme pornô! Malditos os parlamentares que ficam esboçando leis inúteis... "Proteger as crianças do alcool", eles diziam no horário político. Balela! Conversa furada de pessoas furadas e burras. Meu Deus, sai pra tomar um ar e estava me irritando já. Enfim, cheguei na sessão de bebidas, e tudo parecia bem mais vazio. Acho que as pessoas, por causa da crise, haviam cortado o alcool das compras mensais, julgavam o alcool como superfluo, sendo que pra mim era como arroz! Precisava ter sempre. Havia uma mulher escolhendo cervejas caras. Ela usava um vestido decotado pra caralho, e curtinho, e tinha cabelos longos, até a bunda. Meio ondulados e castanhos. E seu vestido era de um azul turquesa bem forte, e quando ela olhava as cervejas de baixo seus peitos quase pulavam do vestido. E tinha um rosto bem bonito e desenhado, e coxas bonitas, mesmo não muito firmes, e sim, um belo rabo que fechava bem o pacote todo. Caralhos, eu estava apaixonado hahaha. Passei por ela, dei uma leve olhada. Ela segurava uma garrafa de Stella e outra de Heineken. Olhava compenetrada, meio que pensando em qual levaria. Peguei minha vodka (a mais barata com certeza), e lhe disse de forma bem gentil.

- Leve a Stella. Acho que combina mais com você.
- Porque você diz isso? - ela perguntou
- Acho que Stella tem um gosto melhor pras mulheres do que a Heineken. Não tenho argumentos, mas tenho anos de alcoolismo, isso deve servir de algo hahaha.
- Pode ser hahaha Cê bebe muito? - ela perguntou, agora sorrindo de leve.
- Levo a sério o alcool. Não bebo por prazer ou por esporte, mas sim porque alcool é um estilo de vida. Não é fácil ser alcoolatra! E você, bebe muito? - eu perguntei, e agora eu sorri.
- Bebo nada. Essa cerveja nem é pra mim, é presente, por isso que estava na dúvida - fiquei perplexo - Eu sou uma religiosa, frequento a igreja e não bebo.

Minha cara entregou o meu espanto de imediato. Como uma mulher daquelas, com um vestido daqueles, e uma cara de quem chupa a porra e engole, poderia ser crente? Fiquei quieto, sem reação...

- Ok, tenho que ir - sai de leve, ainda com cara de espanto.

Ela ficou me olhando de longe, sem entender porra nenhuma. Eu passei no caixa, e a fila infernal nem me incomodou, uma vez que tinha conhecido uma mulher daquelas e que era crente! Onde o mundo foi parar, onde ele foi parar? Me questionei enquanto pagava minha garrafa de alcool.

E depois desse fato bebi muitas vezes, muitas mesmo, e ainda assim não acredito que conheci uma santa do pau oco como aquela. Nem todo alcool do mundo me faria esquecer desse fato.

Zaratustra

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