domingo, 16 de junho de 2013

Um casal jovem, uma noite monstra e a loucura



Estava casado com Angelica fazia pouco mais de um ano. Honestamente, amava ela, de verdade, me sentia muito bem com ela. Claro, tinhamos nossas briguinhas, mas como todo casal iamos nos ajeitando aos pouquinhos. Faziamos dezenas e dezenas de planos, planejavamos nosso futuro, não queriamos filhos ainda, afinal, ambos tinhamos 19 anos, e somente o fato de termos casado, já foi algo muito maduro e inconsequente para nossa idade. A grana era sempre curta, sempre muito bem contada. Faziamos as compras do mês, pagavamos as contas, que eram muitas, água, luz, telefone, internet, TV por assinatura, o cursinho de inglês dela, as aulas de ballet dela, o cursinho pré-vestibular, também dela, o aluguel e caralhos, me sinto incomodado só de pensar em quantas contas pagavamos mensalmente. A grana que sobrava depois disso, era escassa, portanto saimos bem pouco aos fins de semana, a gente preferia ficar em casa, ver um filme, fazer uma comidinha diferente, um bom ensopado de peixe as vezes, filé de merluza claro, que era o peixe mais barato que tinha. Não estavamos no céu, mas estavamos longe do inferno, isso com certeza. Viviamos de uma forma humilde mas bem honesta, eramos um casal ainda muito jovem, ainda com o brilho nos olhos, ainda com esperanças no casamento, e isso nos alimentava dia após dia.

Naquele sábado eu estava de folga. Ela ia trabalhar pela manhã, e a tarde iria assistir o jogo de futebol dos amigos da empresa. Marcamos de sair a noite, tinhamos pego uma graninha a mais naquele mês, pois eu havia feito hora extra o mês anterior inteiro no trampo, o que havia me rendido um ganho de cerca de 200 reais a mais do que eu costumava ganhar. Pensei em levar ela pra comer um rodizio de comida japonesa, esbanjar mesmo, comer até nos empanturrar, beber a vontade, e com alguma sorte, ainda chegariamos em casa e dariamos uma boa foda. Naquele sábado, estava de bobeira em casa, aproveitei pra limpar tudo, da cozinha ao quarto, passando pela sala e pelo banheiro. Ficou tudo muito arrumado. Durante a tarde, relaxei a mente, li um pouco de Nietzsche, naquela altura lia "Aurora", e isso me mantinha um pouco são ainda. Por volta das 18h, Angélica me ligou:

- Oi amor - eu disse
- Oi amor, tudo bem? - ela me disse
- Sim sim. Arrumei a casa, tava de bobeira mesmo. E hoje a noite vamos gastar minhas horas extras ein hahahaha
- Puxa amor, que legal que você arrumou tudo. Então, vamos sim, mas vai rolar um after do jogo. Acho que chego em casa no máximo umas 21h ok? É rapidinho.
- Hmmm... Beleza. Onde vocês vão? Só pra saber mesmo.
- Um barzinho ali na Barra Funda. Bebo umas brejinhas e volto pra casa.
- Ok amor. Se divirta. Te espero aqui pra sairmos mais tarde então.
- Beleza amor. Beijos.
- Beijos.

Desliguei o telefone bem tranquilo, bem tranquilo mesmo. Confiava nela, sei que ela não me trairia, eu a comia até que bem e era um sujeito bem bacana. Via a felicidade de estar comigo no rosto dela. Enfim, voltei ao meu livro. Pensei em ver um filme, mas decidi que não. Joguei um pouco de video-game e tudo andava bem tranquilamente, nem me preocupava.

Recebi uma ligação, acho que eram umas 19h40, sim, mais ou menos esse horário. Era um dos meus amigos de longa data, o Luis.

- E ai brother! Suave suave? - ele estava bem empolgado.
- Sim man, tranquilo, maciota.
- Owwww, to indo com o Pedro pra Augusta man! Vamos beber e falar merda? Quem sabe role um cigarro proibido hahaha
- Porra man, vou sair com a Angelica hoje, gastar as horas extras que fiz no mês passado hahaha
- Ahhh velho, cê só sai com ela agora... Esqueceu dos amigos?
- Não é isso... Casamento man, casamento é isso mesmo. Tenho que dar atenção pra ela, senão tô fodido. Outro vem e come.
- Caralho. Beleza man, respeito isso. Mas qualquer coisa liga nóis hahaha
- Beleza velho, té mais.

A proposta do Luis era muito boa, mas estava mais a fim de ficar com Angélica, fazer o rolêzinho de casal, dar umas risadas, uns beijos, e repito, quem sabe uma boa foda. Por volta das 20h30, ela me ligou outra vez.

- Oi amor - eu disse
- Oi amor - ela disse - então, vou dar uma atrasada... O povo tá enrolado aqui, não sei que horas eu saio.

Percebi que ela estava bem bêbada

- Porra, e nosso rolê?
- Hmmm não sei amor... - ela disse
- Bom, beleza. Luis me ligou, me chamou pra sair. Se você não estiver aqui até as 21h30, saio com ele e que se foda. - fui ríspido
- Eu vou, eu vou sim.
- Beleza.

Desliguei o telefone e me agitei. Liguei o som no talo, tocava Metallica, mais especificamente o album Kill Them All. Os riffs de guitarra me agitaram. Fui tomar um banho, óbvio que ouvindo o som, ainda no talo. Coloquei uma roupa estilo roqueiro, uma camisa do Metallica, fechei a cara e sai de casa. A noite estava no começo, e eu mal sabia que ela seria muito longa.

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Encontrei Luis e Pedro na estação Consolação do metrô. Via o brilho nos olhos deles, caralhos, e eu também tinha brilho nos olhos. Fazia tempo que eu não saia com os brothers, queria me divertir mesmo. Colamos num bar, ali na "média Augusta", acho que era por volta do número 1.100. Os drinks pareciam baratos e tocava um forrozinho bem mequetrefe. Bebiamos e falavamos merda, colocamos o assunto bem em dia mesmo. Luis estava comendo a melhor amiga do seu chefe. Pedro ainda fumava maconha diariamente e estava comendo duas irmãs gêmeas. Porra, a vida deles tinham belas aventuras, ficava até sem graça de contar da minha vidinha de homem casado e responsável. Mesmo assim contei, falei que ia tudo muito bem e talz, e eles ficaram felizes, e eu estava feliz e por isso bebiamos ainda mais maria-mole.

Acho que por volta das 23h o telefone tocou. Vi que era ela. Porra, ela teve culhões de me telefonar, maldita Angélica, maldita!

- Carlos? - ela disse
- Oi - eu disse
- Onde você está?
- Augusta
- Fazendo o que?
- Bebendo
- Com quem?
- Luis e Pedro
- Quem mais?
- Ninguém mais
- Porque você não está em casa?
- Fiquei de saco cheio de te esperar... Se você pode sair com os amigos pra beber, acho justo que eu possa também ué - eu disse gesticulando de raiva
- Foda-se, volta pra casa!
- Nem vou
- Se você não voltar agora, coloco suas coisas pra fora
- Foda-se - eu disse, bem displicente mesmo.

Enfim, o bate-boca prosseguiu por cerca de 30 minutos, minto, foram 25 minutos mais ou menos. Por fim desliguei na cara dela, alegando que "minha bateria estava acabando", sendo que era mentira, sendo que era minha paciência que estava acabando. "Foda-se, a noite é minha" pensei com vontade de fazer merda. Luis e Pedro me apoiaram na decisão de fazer merda, por isso decidimos entrar nos puteiros do local.

Vinhamos de baixo para cima da famosa rua, entrando em todos os puteiros possíveis. Afinal, pagavamos 10 pratas e ainda ganhavamos uma breja, ou seja, sucesso na certa. Entramos no primeiro puteiro, era um lugar bem agradável, eu diria até familiar. Tinha uma garota no pole dance, ficamos de pé assistindo o show e tomando nossas brejas. Garotas bem bonitas colaram na gente, mas gentilmente demos o fora nelas e saimos assim que a cerveja acabou.

O puteiro número 2 parecia um deserto. Não se via mulheres no local. Lembro que eu vi duas, com um monte de macho em cima tentando foder. Fomos para o balcão, comer uma puta seria difícil, ainda mais num puteiro deserto daqueles. Pegamos a breja e sentamos do lado de um sujeito estranho. O cara até que era bonito, mas assim que abriu a boca vimos que era retardado.

- Cês vão tentar também? - ele disse com ar de segredo.
- Tentar o que mano? - eu disse espantado
- Comer uma dessas putas em casa oras!
- Nem vamos man... Só entramos pelas brejas mesmo.
- Entendo... Eu tô duro de grana, só como uma puta se for no meu ap... Mas tem que ter cuidado hoje em dia né?
- Cuidado com o que man? - eu disse espantando de novo.
- Cuidado com AIDS, gonorréia, sífilis, HPV, hepatite e etc. Essas minas são sujas. Vou foder elas de camisinha.
- Acho uma boa - eu disse espantando ainda - mas tenho que ir mano. A noite é uma porra de uma criança.

Saimos do puteiro 2, rumo ao 3, e no caminho arrumamos um cigarro de maconha pra cada. Claro que fumamos ali na rua mesmo, e foda-se, ali é Amsterdã, podiamos fumar a vonts. Claro que paramos num buteco pra comer um X-Bacon cada, afinal a larica havia atacado. Aproveitei e bebi outra maria-mole.

O puteiro 3 foi o que ficamos mais tempo. Puta lugar bacana, era apertado, sim, era um corredorzinho minúsculo, mas era legal pra caralho. As putas até que eram bem bonitinhas, nada assim "Noooossaaa que puta linda!", mas davam pro gasto. Enfim, dessa vez pegamos nossas brejas e nos sentamos no sofazinho. Logo colaram três putas conosco. Sentaram no nosso colo, deram risada, eu disse que era casado, elas disseram que assim era ainda mais gostoso. Claro que nos chamaram de pauzudos e gostosos, isso é ÓBVIO, mas por nós estava bem de boa que tudo continuasse assim. Decidimos que essas iriamos comer, eu nunca havia traido minha mulher, não me sentia confortável, mas estava irritado e foda-se. Pedro se ofereceu pra pagar no cartão de crédito, estavamos todos quase duros de grana já. Quando vi na máquina o valor de 360 reais me assustei. Porra, 120 conto cada puta. Como eu explicaria pra minha mulher um gasto desses? Torci pro cartão não passar, e sim, os bons deuses do alcool sempre me acompanham e dessa vez não foi diferente. O cartão não passou, e eu e Luis caimos fora. Pedro ficou lá, pagou os 120 contos e foi pro quarto com a sua puta.

Mal eu e Luis haviamos entrado no puteiro número 4 quando recebemos uma ligação. Era Pedro, avisando que seu programa já havia acabado e que queria nos encontrar em algum lugar que não fosse um puteiro.

- Porra man, acabei aqui... - Pedro disse
- Como assim mano? - retruquei
- Ué, gozei na mina brother... Acabou.
- Porra! Parece que cê tem 15 anos mano hahaha mas ok, nos encontre ali na estação Consolação.
- Beleza - ele desligou o telefone.

As putas do puteiro 4 ainda se apresentavam pra nós quando tivemos que sair. Encontramos Pedro de novo, estavamos duros de grana e ainda eram umas 2h30 da manhã. Teriamos que esperar o metrô abrir ainda por cima. Merda! Deitamos na sarjeta e esperamos até as 5h da manhã.

O metrô já estava aberto quando todos seguiram seus rumos, satisfeitos com a noite, a bebedeira, o cigarro proibido e as putas. Me restava chegar em casa e ver que merda que daria com Angélica.

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Cheguei por volta das 5h40, com a cara suja de glitter, cheirando a mulher, maconha e alcool. Excelente, se eu estava fodido antes, imaginem agora. Mal chego na porta de casa e avisto duas malas, imaginei que fossem minhas roupas. Tentei entrar em casa, ela segurou a porta.

- VOCÊ NÃO ENTRA NEM FODENDO CARLOS! PEGA SUAS ROUPAS E SAI FORA! - ela gritava alto pra cacete.
- Eu pago a porra do aluguel dessa merda, entro e saio quando eu quiser porra!!! - eu também sabia falar com violência.

Ficamos brigando, eu pra entrar e ela pra não me deixar entrar... Por fim consegui entrar. Ela pegou minha camiseta favorita, cortou toda. Pegou meu cartão do banco e quebrou em dois. Quebrei o cartão dela e rasguei a roupa do ballet. Ela pegou meu Nintendo DS, um martelo e a porra ficou séria.

- Calma!! - gritei - Vamos conversar!!
- Não tem conversa, vai embora!! - ela disse histérica.
- Ok! Eu vou, mas antes vou dormir uma cota, estou com sono.

Me deitei na cama, mas ela não se daria por vencida tão fácil. Pegou uma jarra de agua e jogou no meu rosto, molhando inclusive a cama. Me levantei puto.

- FODA-SE!! - gritei - Eu vou embora dessa merda.

Me levantei, peguei minhas malas. Quando estava quase saindo de casa, ela vem na porta e começa a chorar.

- Volta Carlos!! - ela chorava.
- Porra nenhuma que eu volto, pra mim chega!

Nisso ela foi na cozinha correndo, pegou uma faca e ameaçou se cortar. Merda, se ela ia fazer isso ou não, eu honestamente não sabia. Que ela era louca eu tinha certeza, mas será que praticaria tal loucura? Preferi não arriscar. Voltei, pedimos desculpas e dormi no sofá, pois o colchão estava molhado demais.

Zaratustra

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