sábado, 22 de junho de 2013

Reflexões bobas e problemas de saúde



O lenço que usei pra cobrir a minha boca enquanto eu tossia ficou ensanguentado. Merda, minha tosse fodida estava progredindo, talvez eu tivesse tuberculose, sei lá, só sei que meu fígado insistia nas pontadas, tinha dores de estômago frequentes, fora dores nas costas, e os olhos que as vezes coçavam de forma excessiva, ou ainda, meu pau que estava todo machucado vai saber o porque, porque eu honestamente não sabia. Tinha certeza que não era DST, ele só estava machucado. Caspa e calvice me pareciam os menores dos problemas. Maldita seja a tosse, maldita.

Naquele sábado havia trabalhado por 11 horas, eu só tinha isso pra dar pro meu trabalho, meu tempo, que aliás é o que tenho de mais precioso. Fora que eu era sugado muito, eu sempre dava muito mais do que podia, e sempre chegava cansado de coisas e de pessoas. Resolvi que iria beber um pouco, mas não havia jantado, e comida nunca tinha em casa, mas foda-se, foda-se tudo, ia engolir algumas doses e ver se esquecia das 11 horas da minha vida que eu tinha perdido. Porra, vivemos para pagar contas, e isso é mesmo um saco, talvez fosse melhor estar morto, ao menos assim eu não pagaria conta alguma. Assim que o primeiro gole de vodka desceu, senti uma dor no fígado tremenda, pensei "Malditos problemas de saúde, devo estar fodido por beber de barriga vazia..." Desconsiderei minha conclusão dedutiva, mas que eu sabia ser óbvia. Continuei bebendo de barriga vazia e pensando nas pessoas. Já não escrevia muitos romances, acho que pequenos pensamentos sempre fluiam bem no papel, eu simplesmente ia jogando as palavras rapidamente e sim, funcionava, sempre passavam a mensagem certa pra pessoa certa, eu não queria enrolar por folhas e mais folhas o que gostaria que fosse dito.

Pessoas agitadas, extasiadas por tudo o que viam e ouviam, isso me incomodava, pois eu era na maior parte do tempo o apático e o alcoolátra e isso incomodava as pessoas, e nos incomodavamos mutuamente e tudo seguia na mais perfeita ordem. Os papinhos eram cada vez mais cinzas e enfadonhos, e tudo o que eu mais queria em toda a minha vida era esconder minha cara e me fechar num quarto, mesmo sem comida, desde que tivesse alcool (vai ver por isso que me fodia, uma vez que tinha o péssimo costume de beber de barriga vazia), e quem sabe, uma boa máquina de escrever e uma caixinha de som pra relaxar às vezes. Enfim, os pensamentos misantrópicos eram, além de repetitivos, muito bobos, e isso estava me estressando.

A tosse não passava, o sangue ainda saia, talvez eu tivesse que fazer transfusão, mas abandonei essa ideia dramática de transfusão e continuei bebendo até que eu esquecesse os problemas de saúde, o trabalho e os pensamentos bobos. Não esqueci, eu sabia que jamais esqueceria, mas naquela noite dormi tranquilo e suando cachaça no lençol branco do meu quarto sujo.

Zaratustra

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