quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um rolê monstro!



Era mais um sábado normal. Em casa, suave, de boa, de bem com a vida. Tomava uma cervejinha e me arrumava pro rolezinho de mais tarde. O destino seria a Rua Augusta "Essa porra nunca é bom sinal, nunca dá certo, que caralhos!", pensava enquanto escolhia uma camiseta. Resolvi pegar um camisa preta velha, que sempre uso nos rolês grandes. Uma calça, não muito nova e um tênis pouco usado, mas nem tão foda assim. Sempre evito roupas bonitas nesses rolês, nunca se sabe quando você pode gorfar, quando pode perder a roupa por algum motivo X, portanto é bom evitar né? Dei a última golada forte na cerveja, matei a latinha (era só a segunda do dia), "acho que estou indo bem, só duas brejas num sábado de sol... tô tranquilo, essa noite vai ser sem exageros", tentava me confortar, tentava pensar que não ia dar merda.

Fui à caminho da nova Sodoma. Na condução ia suave, pensando em coisas idiotas da vida, em coisas bestas. Olhava as pessoas e pensava "Hahaha, seus putos de merda, hoje vocês jantam no inferno, seus merdinhas, hoje vocês esquecem de não pecarem!" Aquilo me fazia rir. Pensar que toda a pomposidade e pose das pessoas, por um dia é transformada em gorfos e transas erradas. Mas como me disse um grande pensador um dia: o mundo está em festa pois está acabando, vamos festejar e foda-se! E eu estava nessa pegada, queria muito festejar. Aquela semana no trabalho tinha me sugado, me mordido a cabeça do pau, precisava de um alívio, de uma lavagem, estava realmente estressado e querendo que todos tomassem nos seus malditos cus! E aquela merda era a oportunidade que eu tinha de manter a minha ideia de libertinagem a lots, de ver "o circo pegar fogo", e, porque não, ajudar a tacar uma porra de gasolina nesse cu! Hahaha, ia pensando groselhas, quando cheguei na estação Consolação.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Chegando lá, encontrei a Amanda. A Amanda era uma amiga minha, bem bonita até, cheia de tatuagens, magrinha, com um geral bem desenhado. Não era suuuuuperfoda, mas atraia alguns olhares, além de ser gente finíssima. Além disso, ela era lésbica. Ou não era? Dizia ela que era, mas quando bebia ficava com homens. Anyway, ela gostava de amar, independente da pessoa. Fiquei ali com ela, de boa, aguardando os outros.

- E aí Carlos, quais as novidades?
- Ahhh Amanda, o de sempre. Bebendo bem, me irritando no trabalho e é isso. E você?
- Eu também estou de booooa. Desempregada, curtindo a vida adoidado, bebendo bastante. Tô vendo se viajo e pans, sem roteiro nem nada. Esse é meu esquema!
- Porra, dahora mano! Vai mesmo, foda-se o resto hahaha

Aguardamos por uns quinze minutos quando o resto do pessoal chegou. Chegaram de metrô também um grande brother e uma grande brother. O cara era o Guilherme, amigo de longa data. Roqueiro, curtia uma bela duma farra. Gostava dele, porque era um dos poucos que me acompanhavam no meu alcoolismo inconsequente, gostava mesmo de fuder a porra do fígado, de gorfar nos chãos sujos e ver o sangue no cuspe! E ainda por cima, nos rolês, conseguia pegar umas vadias. Isso é louvável pra quem bebe. A garota era a Fernanda. Tinha belos peitos, isso merece destaque. Curtia um rock, bebia bem, adorava uma balada e era gente finíssima. Em tese, nós quatro adorávamos um rolê monstro, gostavamos de curtir a porra da vida, tinhamos a filosofia que a vida passa rápido e é dura, então é melhor estarmos bêbados no processo. Queriámos somente viver, sem nos preocuparmos com o amanhã, nem com o hoje.

Bom, nem conversamos nessa hora, somente os abraços de cumprimento mesmo. Fomos direto ao rolê.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Entramos no lugar. No panfleto prometia openbar beeeem barato, beeem barato mesmo e um rock pesado. Isso me atrai sempre "porra, beber a vonts e ouvir um rock! Que doente não curte isso?" pensei, passando pela pequena recepção. Após pagarmos pra entrar no local, percebemos que aquela porra cheirava a mofo.

- Caralho! Essa merda cheira a mofo - disse Guilherme.
- Isso é bom ou ruim? - perguntei meio sem me preocupar com a resposta.
- Isso é foda mano! Foda! Adoro cheiro de mofo nos lugares - me respondeu Guilherme, e todos olharam com uma cara "esse cara é doente, sem maldade"

Fernanda tomou as rédeas da situação e disse o que todos queriam escutar.

- Bom, vou no bar. Vamos começar logo essa merda!

Todos gritamos "Vamo aeee caralho!" e fomos para o local. Lá encontramos um monte de amigos do Guilherme. Não lembro de todos, mas o que marcou foi o Pedro. Não é papo de gay, mais pra frente vocês entenderão.

- Ou amigo, me vê o cardápio - pedi educamente pro cara que estava no balcão.
- Aqui não tem cardápio amigo, as coisas que tem pra beber estão em cima da mesa - me respondeu ele, meio com cara de cansado por estar ali.

Olhei atentamente em cima da mesa. Sem mentira, tinham as seguintes merdas: uns licores de uma marca que nunca ouvi falar, umas quatro garrafa de conhaque Dreher, umas garrafas de Dolly limão e Dolly laranja e várias, acho que eram umas dez ou quinze garrafas de uma tal vodka Kiev. Eu sabia que aquela porra não era russa. Devia ser a filha bastarda da Balalaika. Parecia ser uma merda mesmo.

- Bom amigo, nesse caso, monte pra mim uma vodka com dolly limão, bem forte por favor.

Todos pediram drinks, mas o meu parecia ser o mais forte com certeza. Aquela porra estava clara pra caralho, acho que o filho da puta só colocou vodka naquele caralho. Fomos para o local do show, onde tocava uma banda cover do ACDC. Eles tocavam Highway to Hell.

Hey Satan! Paid my dues
Playin' in a rockin' band
Hey mama! Look at me
I'm on my way to the promise land
I'm on the highway to hell
Highway to hell
I'm on the highway to hell
Highway to hell

Fizemos um grande brinde, com todos ainda prontos para a noite. Naquele momento, naquele pequeno momento, podiamos ser quem quisessemos, não tinhamos nenhuma amarra social, não tinhamos problemas, não tínhamos ninguém que nos segurasse. Éramos solteiros, nada de relacionamentos. Nossos pais já não ligavam pra nós. Éramos só nós e nós no mundo. Sem dúvidas, estavámos no topo do mundo. O sorriso de todos era muito sincero. A risada era espontânea. Haviamos alcançado o que chamamos de alegria. Por um momento, e isso já é muito!

Brindamos, demos uma grande golada. Infelizmente, não pude evitar a careta depois de tomar aquilo. Sério, comer a filha de Satã e morrer no inferno estuprado por bodes com tridentes e jirombas mágicas como punição era melhor do que aquilo. Doia o fígado. Doia o pulmão e o estomâgo. Acho que deu pra entender que aquela porra era ruim né? Bom, eu não tinha muita opção, era isso ou conhaque, e puta merda, conhaque me rói o cu, de tão ruim.

Ficamos bebendo ali, suaves mesmo. Arriscavámos uns passos, uns pulinhos, mas estávamos bem de leve, bebendo devagar, tentando curtir a noite sem destruir ela. Isso durou o show todo do ACDC. Fiquei bebericando a vodka ruim com o refri ruim, no máximo uma brejinha ou outra que compravam, e estava bem assim. E ninguém aparentou estar mal. Amanda ficou meio alterada, estava exagerando no conhaque, e quando vimos estava derrubando bebida nas pessoas, mas ainda era sem querer, então não me preocupei.

Começou então o segundo show, do Runaways. Era uma bela banda, somente mulheres, quase todas bem bonitas, com exceção da baixista. Ela era meio gorda. O local era escuro, só sei que ela era gorda. Com o começo do segundo show, acho que o diabo começou a assoprar na nossa orelha, como quem diz "agora vocês vão se fuder, chega de caretice por hoje", e como por um passe de mágica, todos foram subindo um degrau. Os que estavam no refri foram pro licor. Os que estavam no licor, foram pra vodka com refri. Os da vodka com refri, pediam aquele drink forte de vodka e com pouco refri. Os que estavam no drink forte - como eu - foram pra vodka com contini. Na verdade só eu fui, o pessoal ficou na vodka com refri mesmo. A Fernanda, do nada, resolveu virar duas doses de vodka pura, como quem diz "quero ter apagão, a noite foi boa... beijos e abraços!" e a Amanda continuou nas doses de conhaque. Nessa hora comecei a ver que ela bebe bem mesmo.

Queria colocar mais diálogos no texto, acho que isso deixaria ele melhor, mas infelizmente não tenho uma frase construída pra poder colocar aqui. Sei que em um dado ponto, pulavámos como loucos, berrávamos, girávamos e nos abraçavamos, e abraçavamos todo mundo. Eu lembro que parecia um retardado, pulava como um bicho. Eu tentava pular mais alto que todos, essa era minha vontade. A cara das pessoas rindo, e pulando comigo eram impagáveis! E foi bom, até o tempo fechar e apagar tudo da minha memória.

....

Quando volto a mim, estou sentado no chão, beijando a baixista da banda (isso mesmo, a gorda), e falando qualquer merda no ouvido dela, do tipo "queria te comer, vamos sair daqui". Aí o tempo apaga de novo, mais um apagão.

....

Agora estou já de pé. A balada está bem vazia. A tal baixista sumiu. Meus amigos, sumiram também. Lembro que fiquei andando por lá por um tempo e pedi duas doses. Lembro de ter tomado a primeira, a segunda eu não sei. O tempo apagou de novo e minha memória morreu.

....

Agora estou já saindo do rolê. Eis que encontro Guilherme e Pedro (isso, aquele Pedro), do lado de fora do rolê, sentados. Não sei o que estavam conversando. Começamos a descer a Augusta, meio que sem rumo.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Paramos numa biqueira. Dei todo meu dinheiro pra eles. Me voltaram com um pino de cocaína e três baseados. Se não me engano, eu tinha cinquenta ou sessenta reais no bolso. Enfim, foi tudo. Lembro da gente ter fumado os baseados, e trocado ideia. Mas o que conversamos mesmo, isso é impossível lembrar hahaha. Mandamos o pino, mas queriámos mais. Sempre queremos mais, isso que fode nesses malditos rolês. Andamos. Não lembro o que aconteceu direito. Sei que estava com uma garrafa na mão, acho que era vodka. E sei q dei meu celular pra alguém. E se lembro direito, quando dei meu celular, peguei cinco pinos de cocaína com a pessoa que eu dei meu celular. De qualquer forma, esse tipo de história a gente nunca lembra exatamente.

Sentamos nós três, mandamos os pinos e eu continuei bebendo da garrafa, eles não. Lembro de uma frase, acho que foi o Pedro que disse.

- Para de beber mano! Já deu!
- Vai se fuder seu caralho de merda!

Continuamos a conversar não sei o que. Lembro que pedi licença pra eles, pois ia mijar. Estava mijando e o tempo fechou de novo, outro apagão.

....

Agora estou de volta à parte de cima da Augusta, de pé. A garrafa sumiu, estou sozinho. Minha carteira estava comigo, o celular não. "Caralho, que merda, perdi meu celular, sou um bosta mesmo". Resolvi prosseguir, já que estava fudido acho que não tinha como piorar. Descendo, achei um cara bem pobre, ou era bandido ou era morador de rua, ou ainda, era os dois. Tava fumando um baseado. Não lembro o que ele veio me perguntar, mas sei que pedi um trago do baseado e ele me deu. Ficamos de canto fumando uma erva, quando apareceu um gay, acho que era amigo dele. Sei que esse gay me pareceu um cara gente fina "quem sabe ele acha meu celular", pensei, mas agora eu acho que estava pensando merda. Enfim, resolvi descer a Augusta com ele.

Estávamos descendo, suave, só trocando ideia de bobagens mesmo, sem alcool nem drogas, somente como dois caras que se conheceram agora e que queriam alguém pra conversar groselhas. Eis que passamos por um puteiro, e ele avista uma amiga dele, que já me olha como uma presa fácil.

- Hey baby, quer gozar hoje?
- Quanto que você cobra - perguntei já abraçando e beijando o pescoço dela.
- Cem reais por um hora.

Nesse momento eu parei, desabracei. Fiquei sério.

- Nem fodendo! Você vai cobrar cem conto e quando der quinze minutos vai me expulsar dessa merda! Já não acredito nesse papinho, vocês são todas iguais! - disse eu, histérico
- Não é assim baby, vai ser uma hora mesmo!
- Deixa ele em paz Fulana (não lembro o nome dela) - disse o gay, me puxando.

Continuamos descendo, peguei mais uma garrafa, não sei como, acho que peguei com um cara na rua, acho que pedi pra ele, não sei ao certo, e fui bebendo. Passamos por um grupo de caras. Do nada, o gay embaçou, e resolveu brigar com os caras.

- Seus filhos das putas! Para de ser homofóbico! Me respeitem! - falou o gay, já indo pra cima dos caras.
- Calma mano, calma! - apartei a briga e dei um gole na garrafa de sei lá que diabos estava bebendo
- Você não entende Carlos, esses caras são fodas!
- Não vale a pena, relaxa... Vamo embora! - disse eu, já arrastando o gay pra ir embora.

Por sorte esses caras são suaves, senão estaríamos fodidos. Bom, continuamos andando. Lembro que ele disse que tinha que ir embora e me colocou sentado na sarjeta, em frente à uma padaria. Acho que cochilei...

Quando voltei a mim, estava lá, caído na sarjeta, sem a garrafa na mão, mas com a carteira. Mas ainda estava puto pelo celular "alguma hora eu aprendo, sempre perco celular no rolê, sou um bosta mesmo hahaha" Pensei, rindo sozinho. Subi a Augusta inteira, cambaleando e trançando. Os bons deuses me fizeram acordar no dia seguinte na minha cama, com o meu cuzinho bem pregado e ainda bêbado, portanto sem ressaca! "Foi um rolê monstro!", pensei no dia seguinte de manhã.

Zaratustra

Nenhum comentário:

Postar um comentário