sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A namorada do melhor amigo



Renatinho acabara de arrumar uma namorada. Era uma mulher dentro dos padrões, tranquila, nem muito bonita, nem muito feia. Tinha um sorriso bem desenhado, peitos médios, uma boa bunda e uma cintura um pouco mal desenhada, mas ainda assim era atraente. E Renatinho gostava dela, ela fazia ele se sentir bem. Haviam se conhecido na faculdade, faziam os trabalhos juntos. Renatinho era muito medroso pra tentar algo, mas sempre achou ela interessante, até que um dia ela foi pra cima dele, tascou aquele beijo francês bem molhado, e ele, que não é idiota, retribuiu o gesto de afeto dela. E assim foram ficando, e ficando, até que um dia, numa festa, na minha casa inclusive, ele pediu ela em namoro.

- Carlos, Carlos, o que você acha de eu pedir a Mari em namoro? - me perguntou ele, aflito.
- Ahhh cara, pede e foda-se! O que der deu! - respondi, falando meio mole pelo alcool em excesso.
- Sei lá cara, tô nervoso... Como que eu faço?

Eu, apesar do meu alcoolismo, tinha alguma experiência em situações difíceis. Dei um grande gole na vodka pura, depois um gole macio na cerveja, puxei uma tragada do meu charuto Davidoff e lhe disse.

- Faz assim Bonitão: chama ela de canto, na miúda. Não é uma boa ideia fazer isso na frente de todos... Vai que dá uma merda né?
- Man, se isso acontecer fode o rolê todo!
- Pois é coisa linda, e não queremos que nada foda nada, além de você foder a Mari né? Pois bem, chama ela de canto - interrompi para matar a cerveja - e manda a real. Fala que vocês estão ficando faz um tempo, e que você gosta dela e quer ter um lance sério. Aí é só torcer porra! - exclamei levantando os braços de êxtase.
- Beleza cara, valeu mesmo! - me agradeceu, todo entusiasmado.

Pois é, ele só precisava de motivação, o resto ele sabe como fazer. A festa continuou rolando, eu já estava na minha segunda garrafa de Contini e ainda bebericando as vodkas e as cervejas. O charuto havia acabado, mas eu ainda tinha dois maços cheios de Marlboro vermelho. Renatinho vem e me chama pra trocar ideia. Pelo sorriso no rosto dele, eu já imaginava as novidades.

- Ela aceitou Carlos! Ela aceitou porra! A gente tá namorando oficialmente agora caralho! - me disse Renatinho, visivelmente feliz.
- Aeee caralho! Agora você tem uma buceta fixa! Uma dose pra comemorar!

Pegamos dois copos, enchemos de vodka e viramos, alegres. Eu via nele um brilho no olhar, algo que não vejo sempre nas pessoas, algo que está em extinção. Mas nada como se apaixonar não é mesmo? É como uma sobrevida, um novo começo, dezenas de planos, sonhos, vontades, desejos... E sim, nesse momento Renatinho tinha isso, ele tinha tudo isso, fresquinho.

A festa acabou, todos foram pras suas casas. Renatinho e Mari dormiram no meu sofá, acho que transaram, mas isso não importa, pois estava desmaiado na minha cama, eu não ouviria ou veria nada de qualquer forma.

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Já haviam se passado longos quatro meses desde aquela festa, e o namoro dos dois ia muito bem. Sempre vinham juntos em casa, nas nossas festas. Eu tinha percebido que Renatinho estava bebendo bem ainda, mas menos do que quando era solteiro. Isso é compreensivo, uma vez que a mulher dá uma endireitada no homem, e ele parecia feliz. Mas não sei porque caralhos, ela não me passava muita confiança. Sim, a garota era de boa, curtia um alcool, uma farra de leve, mas eu não sei, estava com um mal pressentimento. Tinha sonhos em que o Renatinho estava caído no chão com gorfo na cara, as calças sujas de bosta, todo cagado, chorava e gritava "MARI! MARI! PORQUE VOCÊ ME FODEU ASSIM MARI!?" Juro que não sei porque isso acontecia, eu não sou paranormal, mas acontecia e pronto porra.

Um dia, Renatinho percebeu meu incômodo com ela. Acho que naquela noite eu fui frio demais, sei lá, ela falava e eu ficava "aham... aham... aham..." Mas é que ela me dava nos bagos e estava cansado da voz dela. Enfim, ele percebeu e me chamou pra conversar.

- Carlos, você tem algum problema com a Mari?
- Eu respeito ela.
- Sempre que você diz que respeita algo é porque não gosta.
- Pois bem, eu respeito ela.
- Mas porque isso caralho? Qual é o seu problema com a Mari, Carlos?
- Ahhh cara, sei lá... Meio empapuçado e talz. Tipo, não acho que ela seja mal carater, na real, o carater dela é foda de bom.
- Porra Man, então o que que foi?
- Essa tal de Mari me fode porque ela tem várias coisas que acho uma merda. Sabe quando uma pessoa carrega sozinha tudo o que te fode o cu? Não tem nada na personalidade dela que eu goste. E digo mais, preferia que ela fosse mal carater, combinaria mais com o resto do pacote e eu aceitaria melhor o fato de odiar essa puta.
- Olha como você fala dela Carlos! Ela não é puta não, é uma mina bem séria.
- Calma, calma caralho. Puta é modo de dizer. Eu só quis dizer que não gosto dela, relax.
- Tô começando a achar que você está a fim da minha mina ein... - me disse ele desconfiado
- Afff velho, não curto ela não. Se eu gostasse dela eu te falava. Porra, você é meu melhor amigo!
- Ok ok Man. Mas dá uma chance pra ela, sei que vocês vão se dar bem.
- Beleza cara, vou ver o que consigo.

Encerramos nossa conversa. Mari ligou e eles saíram juntos naquela noite. Foram no cinema. Me peguei pensando se eu estaria com ciúmes dele. "Porra, isso sim, claro, eu meio que perdi um amigo pra uma garota, isso é natural, os ciúmes são naturais." Mas não era isso. Renatinho já tinha namorado outras garotas, e eu não tinha ficado encanado como fiquei com a Mari. Bom, resolvi tomar uma dose e outra dose e outra dose... Foram várias doses, até que adormeci.

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No dia seguinte, recebo uma ligação, por volta das 12h. "Caralho... Quem me liga essa hora? Cedo pra carai, que merda" Resmungando, consegui com muito esforço abrir meus olhos. Vi o celular, era Renatinho.

- Alô - respondi com dificuldades
- Carlos, Carlos, a Mari terminou comigo Carlos! - Renatinho falava enquanto chorava.
- O que!? - perguntei espantado e mais desperto já.
- Foi agora agora. A gente ia almoçar, mas quando encontrei com ela, ela simplesmente terminou!
- Mas e ontem caralho, vocês não tinham ido no cinema?
- Sim, e foi de bouas, tava tudo certo mano! Aí hoje, do nada, ela me fala isso! - contiuava chorando.
- Caralho... Quer tomar umas doses pra conversar sobre o assunto?
- Quero quero sim. No mesmo bar de sempre daqui uma hora?
- Isso, pode ser... Mas relax Man, vai dar tudo certo! - afirmei, tentando ajudar ele.
- Valeu mesmo cara! Abraços.

Desliguei o telefone. Me levantei, fui no banheiro, caguei as doses de ontem, me limpei, tomei um banho, coloquei uma cueca furada, uma bermuda velha e uma camiseta qualquer. Calcei os chinelos e fui em direção ao bar. Nos encontramos lá, começamos na cerveja, depois doses de Jurupinga, passamos pelo St. Remy, entramos na vodka e encerramos na tequila. E aquela imagem dos meus sonhos, do Renatinho destruído no chão, todo cagado, chorando e gritando pela puta da Mari, isso aconteceu, e então eu aprendi que não tenho sexto sentido, mas conheço um pouquinho das coisas e tenho que ajudar mais meus amigos nisso. "Maldita, maldita Mari! Puta e vadia!" Só pensava nisso o tempo todo.

Zaratustra

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