segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Traição



Me pendurando no trem, brincando de equilibrista na academia do povo. "Puta merda, pegar essa porra lotada por 600 conto, seis dias por semana. Caralho, sou o cara mais azarado de todo velho oeste", resmungava em pensamento, querendo que todos tomassem no meio dos seus cus sujos de mendigos velhos. Não me restava outra opção, sempre temos malditas contas para bancar, pequenos luxos, não é mesmo? Tinha acabado de arrumar um emprego, telemarketing. Vendia cartões de crédito, e é assim que a maioria dos jovens começam a trabalhar. Nosso trabalho era fazer as pessoas pegarem o que não querem e nem precisam, portanto não é simples. Ao menos persuasão eu tinha, era razoavelmente bom com palavras.

A melhor parte daquela merda de trabalho era a Gabi. Ahhhh, a Gabi, que mulher sensacional. Rosto bem alinhado, estilo modelete mesmo. Não era muito gorda, nem muito magra, era "no ponto", como dizem. Os seios não eram grandes e redondos como malditas bolas de boliche, mas bem desenhados, firmes para ficarem numa boa altura por alguns longos anos ainda. A bunda também bem desenhada, com um formato redondinho, mas sem parecer estranha. "Caralho, essa mina é sensacional... Porque diabos ela está nessa caralha de lugar?", pensava indignado de ver uma mulher como ela se fudendo como eu me fodia naquele manicômio dos infernos!

Bom, tirando essa mulher, meu dia seguia da mesma forma maldita de sempre, queria muito, muito mesmo, que eu fosse violentado por um padre, seria menos pior do que ver minha vida naquele lugar. Não estava feliz, por isso sempre que chegava em casa, tomava umas doses, já começava na vodka com coca, depois vodka pura, e muitos cigarros (quase sempre sem filtro). Sabia que aquela rotina de merda ia me fuder, mas eu não tinha outra opção, sabia que viver sóbrio me deixaria mais maluco ainda, e sabia que não ia conseguir lidar com isso. E assim os dias passavam, seguia minha vidinha de merda de forma simples, sem querer fuder com ninguém, de forma humilde.

Um belo dia, quando estava um dia de merda, chovia pra caralho, encontro a Gabi em frente à empresa. Não é papinho maroto, mas aconteceu dela pegar um cigarro e estar sem isqueiro. Eu, especialista em fumos, sempre ando preparado. Ela me viu tragando meus últimos suspiros de felicidade antes de ir pro tronco me fuder mais um dia.

- Oi, você me empresta o isqueiro?
- Opa, oi, empresto sim.

Ela acendeu o cigarro, deu uma boa tragada, vi que ela entendia do assunto. Ficamos ali, meio quietos, um com cara de cu pro outro, somente fumando. Não sou do tipo que chega na mulher e puxa qualquer assuntinho pra tentar furar "Nossa, tá uma puta chuva hoje!" puta assuntinho lixo, pensei enquanto tragava meu cigarro. Tentando evitar um desconforto maior, ela me pergunta.

- Você trabalha aqui também?
- Sim sim, vendo cartões pro Itaú. E você? - perguntei já sabendo a resposta.
- Ahhh, eu também hahaha que coincidência né?
- É verdade... Não sei se já te vi lá, sabia que você não me era estranha.
- Pois é, a equipe é enorme né? É difícil conhecer todo mundo mesmo...
- Sim sim hahaha

Mais um momento de silêncio constrangedor. Ela joga a bituca dela fora, ainda na metade, pisa em cima, joga a última nuvem de fumaça pro alto.

- Eu vou lá - ela me diz aparentando pressa - minha pausa está acabando. Até mais.
- Beleza, vai lá... Bom trampo aí - respondi meio tímido.
- Ahhh sim, obrigada, você também.

E lá se foi Gabi. Não teve como não olhar a bunda dela, aquela porra tinha uma coisa hipnótica. "Bom, valeu o dia já. Um papinho suave e uma boa visão da bunda. Meu dia está completo!" pensei, com um sorrisinho safado no rosto.

Subi, e fui trabalhar normalmente, naquele cu de empresa de merda filha da puta, onde ninguém, ninguém mesmo é feliz. Quando ia no banheiro, e passava por Gabi, dava aquela olhadinha do tipo "Opa, beleza?" em que levantamos a sobrancelha.

Chegando em casa, bebi mais, a velha rotina de sempre. "Sou muito romântico, puta que me pariu. Mal falei com a mina já fico pensando centenas de merdas!" E fiquei nisso a noite toda, o que, de certa forma, tornou minha noite um pouco menos pior.

Os dias foram se passando como se eu fosse um judeu no holocausto, mas não sei como caralhos, eu consegui me aproximar até que bem da Gabi. Ela era uma mina fodida, manjava de uma par de coisa, bebia como uma esponja, bom gosto musical, papo firmeza. Ela só tinha um problema manja? Ela namorava um maluco. O cara até parecia ser gente fina, mas, cá entre nós, sempre para os homens que estão apaixonados por mulheres comprometidas, o namorado dela nunca presta "Porra, o cara pega quem eu quero pegar! Com certeza é um babaca!" Essa é uma das maiores verdades universais criadas pelos homens, nunca se pensa o contrário dessa porra. Anyway, ela estava namorando o cara, mas passava por problemas de relacionamento e talz, o cara fodia o cu dela da forma ruim da coisa. Eu via que ela estava mal, mas tinha um acordo justo e de cavalheiros, eu não chego nela, ela não chega em mim e nossa vida seguia bem dessa forma. Trabalhava, falava com ela, bebia nas noites, e prosseguia, esperando o dia da minha morte, e torcendo pra ela não ser muito lenta e cruel.

Certo dia, estava em casa. Era sexta-feira, e nessa semana folgava no sábado. Geralmente, quando ia folgar no dia seguinte, dobrava a quantidade de alcool que bebia e de cigarros que fumava, e achava isso perfeitamente normal. Pois bem, estava me matando quando recebo uma mensagem da Gabi, perguntando se eu estava em casa, que ela precisava conversar. Respondi que sim, se ela quissese conversar por mim suave.

Ela chega em casa. Era a cara da derrota. Meu pau sujo parecia menos pior do que ela. A maquiagem toda fudida, a aparência total de um caco de vidro de cerveja barata. Parecia que tinha dado uma merda monstra. Pedi que ela entrasse, sentamos na cozinha. Servi pra ela uma dose de vodka com coca e um cigarro. Ela aceitou. Deu uma grande golada na vodka, fumou aquele cigarro como se fosse o último, com tragadas fortes e continuas. Com o fim do cigarro ela começou a se explicar.

- Carlos, Carlos, deu uma merda - falava ela e chorava, chorava muito mesmo.
- Calma Gabizeira, calma! Respira e me fala que que houve.

Ela respirou, e ainda chorando, mas um pouco mais calma, conseguiu me explicar.

- Ele me traiu! Foi isso, o Ricardo me traiu. Peguei agora no flagra!
- Eita porra! - respondi realmente espantado. Sabia que o cara era filho da puta, mas não esperava essa atitude dele. - Mas me explica direitinho como que foi!
- Encontrei ele como uma garota, que eu não sei quem é, quando passei lá na casa dele, pra fazer uma surpresa, sair para um lugar especial, que a gente não costuma ir. Mano, não tive nem reação de bater boca, já saí chorando pra caralho e quis passar pra trocar uma ideia.

Nessa já abracei ela, sério mesmo, não tentei nada. A amizade ali era importante também, não vou me aproveitar da fraqueza, do sofrimento, pra me dar bem. Foi realmente um longo abraço. Sei que isso é gay pra caralho, mas me senti em outro lugar, fora da minha realidade de merda, fora do meu trabalho, da bebida, dos cigarros... Ali eu estava abraçado com o Paraíso, e ao mesmo tempo que eu confortava ela, me sentia confortado também.

Ficamos ali, conversando. Começamos com o assunto da traição, mas o alcool fez a gente dar uma divagada. Falamos de vários assuntos na real, rimos pra caralho, e ela parecia bem melhor no fim das contas. Num dado monento, ficamos os dois naquele velho silêncio constrangedor, e meio que como um milagre, ela me deu um beijo. Mas daqueles beijos fodas, franceses, com a pegada certa. E, puta merda, ela tinha uma pegada foda, e eu na empolgação acho que não decepcionei também. Senti que foi muito bom para ambos. "Bom, uma traição justifica a outra?" pensava, sem muito foco na real nesse pensamento, mas com o maldito do anjinho na minha orelha lutando contra o diabinho, buscando me justificarem o porque parar com aquilo e o porque continuar com aquilo.

De qualquer forma, estavámos muito bêbados, aquilo deveria servir de desculpa não é mesmo? Nesse momento já não sabia mais o que era certo e o que era errado, qual moral seguir "Fazer o que quero ou fazer o que é certo?" Bom, isso foi meio inútil de pensar no fim das contas. Demorei muito, dei tempo pra ela pensar, sendo que ela desistiu. Ficamos somente nos beijos mesmo.

Ficamos o final de semana sem nos falarmos. Na segunda-feira, quando nos encontramos, nenhum dos dois teve coragem para tocar no assunto. Ela acabou ficando com o babaca. Ele pediu as velhas desculpas falsas e acabou funcionando (quase sempre funciona, que porra!) Eu até poderia tentar ser o seu "caso", mas pensei que talvez a minha velha rotina de trabalhador de merda, bebida e cigarros fosse o melhor para ambos. E nisso permaneci pelo resto da minha existência medíocre.

Zaratustra

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