sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Um fora monstro, expulsão e vandalismo



Já estava solteiro havia alguns meses. Desde que me separei da minha ex-mulher, estava levando um estilo de vida pesado. Quase toda sexta-feira ia para Mogi, encontrava um amigo meu, o Luis e bebiamos, bebiamos muito. Geralmente era cerveja, mas muita cerveja, e assim ficavamos bêbados, e graças aos bons deuses do alcool chegavamos bem na casa dele e dormiamos em camas separadas, que fique claro que não éramos gays.

Era junho, época de festejos. Havia pego uma folga grande no trabalho. Três dias, sexta, sábado e domingo. Fui pra Mogi numa sexta a tarde, encontrei com ele. Fomos numa quermese, bebemos umas doses de vinho quente e dormimos. "Hoje fui suave!" pensei, satisfeito com o rolê de qualquer forma.

No sábado planejamos bem o que iriamos fazer. A ideia era beber e curtir um rock bar, muito famoso na cidade. A tarde fomos fazer as compras. Passamos no mercado, peguei uma garrafa de contini, algumas muitas latas de cerveja. Aproveitei e comprei um maço de cigarros e um charuto cubano. Aquela noite eu queria que fosse especial, diferente de tudo. Pois bem, compramos as coisas, já no caminho pra casa dele tomei uma cerveja, só pra ir preparando o fígado para o que estaria por vir. Na casa, dele, tomei um bom banho, me arrumei bem, coloquei minha melhor roupa e saímos. Levamos algumas latas de breja numa sacolinha de mercado, o contini, os cigarros e o charuto.

- Caraio mano... Estamos bem carregados! - disse Luis entusiasmado.
- Sim cara. Isso é pra economizar o dinheiro na balada, melhor chegar lá já bêbado!
- Verdade, verdade... Ou, vamos parar nessa praça e bebericar o alcool?
- Claro! - respondi com uma certeza incomum.

Paramos na tal da praça. Pegamos uma cerveja cada, demos uma boa golada. Resolvi acender o cigarro. Bebiamos, eu fumava e ele não, e conversavamos sobre a vida em geral, desde mulheres, passando por filosofia e diversos assuntos. Em determinado ponto, eu já estava bem ruim (foram muitas cervejas), e resolvi abrir a garrafa de contini e acender o charuto. Nessa hora fiquei com as mãos bem ocupadas. A cena era a seguinte: numa mão segurava uma lata de cerveja e o charuto. Na outra mão, segurava a garrafa de contini e um cigarro. E conseguia mandar tudo isso ao mesmo tempo. Bebericava um contini, aí ia na breja, uns pegas no cigarro, aí no charuto, e estava suave.

Com o término do charuto, das brejas e do contini, conseguimos ir para o tal rolê

- A gente... a gente HAHAHAHA carai... Eu tô muito ruim man! - eu falava já bêbado.
- Fala aí porra! - Luis resmungava, ainda mais sóbrio do que eu.
- Ahhh lembrei... Não vamos beber no rolê, já estamos muito ruins cara. Acho que vai dar merda.
- Putz man, beleza... Lá dentro do rock bar, seremos os senhores caretas!
- HAHAHAHA com certeza cara! - concordei com ele.

Chegamos no tal lugar. Era realmente um bar muito bonito. Só pra entrar eram 25 reais, a banda me pareceu ser muito boa. As pessoas lá dentro eram bem bonitas, o clima bom. Nos sentamos, resolvemos ver o cardápio.

- Man, vou pegar só uma breja! - impus minha ideia.
- Carlos, você tá zuado já... Cuidado man.
- Só uma Luis! Por favor, deixa mano!
- Beleza, mas é só uma ein.
- Ebaaaa - fiquei extasiado.

Pedi uma Stella, dei uma boa golada. Iamos conversando sobre groselhas, eu realmente estava ruim. Uma certa hora, Luis foi no banheiro. Aproveitei a falta de supervisão e peguei outra breja. Quando ele voltou do banheiro ele me lançou.

- Carai Carlos... Essa breja não acaba!
- Pois é Luis, tô bebendo pouco - menti na cara dura.

Resolvemos ir para a pista de dança. A banda havia começado a tocar, e o som era interessante. Os caras iam de AC/DC, passavam por Aerosmith, Bon Jovi, as clássicas dos Beatles e muitas outras, muitas outras mesmo. Não sei porque caralhos, sempre que estou bêbado tenho vontade de subir na porra do palco. E eu estava bem bêbado. Já nem mentia mais pro Luis, ia no bar, pegava uma breja e ficava ali, do lado da caixa de som, bebendo, balançando a cabeça com a guitarra e curtindo. Mas eu queria subir na porra do palco, queria. Luis me segurava, e ele é um cara que respeito, então de bouas.

Eu dançava de forma frenética, inconsequente, sem medo de esbarrar em nada, completamente bêbado e feliz por estar ali. Eis que esbarro em uma garota que bebia cerveja. O copo dela foi pro chão, e inevitavelmente foi destruído e a breja morreu também.

- Puta que pariu cara! Olha o que você fez porra! - ela gritou comigo.
- Desculpa, desculpa, desculpa! Eu resolvo. Peraí.

Virei pro Luis e pedi um favor.

- Cara, compra uma breja pra ela. Tá aqui minha comanda.

Ele foi lá, pegou a breja e me deu. Eu passei a breja pra ela e ela aceitou na hora, sem falar nada. "Carai, se aceitou a breja deve estar a fim de mim né?" pensei, com o alcool nível hard no sangue. Beleza, todos dançavámos de boa. Resolvi chegar nela, que ainda estava bebendo a breja que eu lhe paguei.

- Ou, ou, ou! - eu disse, visivelmente bêbado.
- Que foi cara? - ela me disse com aquela cara de paty.
- Eu sei que o mundo é uma bosta, mas se você quiser dar a buceta pra mim, eu como! - falei, sem entender o porque falei isso.

Ela me olhou, fez uma cara de cu, mas não de qualquer cu, um cu imundo de mendigo largado na sarjeta. Acho que ela não esperava esse tipo de cantada, acho que ninguém havia chego nela assim.

- Idiota! Afff - ela me disse, já se virando e indo pra longe do palco.
- Ahhh eu nem queria essa buceta suja mesmo! - gritei pra todo mundo ouvir.

Luis, que assistia a tudo de camarote, veio rindo na minha direção.

- HAHAHAHAHA caraio mano, agora você exagerou.
- Tô suave, tô suave, essa porra que se foda. Vamo curtir o show!

Curtiamos o show. Os caras começaram a tocar um pouco de trash, no estilo de Megadeth, Metallica, esboçaram um pouquinho de Iron Maiden. Realmente os 25 cinco conto pra entrar ali havia valido a pena. Eu curtia pra cacete, tentei subir no palco. Luis me segurou, mas a porra do maldito segurança viu tudo e chegou na gente pra dar esporro.

- Ou, ou! Sem subir no palco cara!
- Desculpa - respondi de forma sincera.

O segurança vira pro Luis e pede um favor.

- Ou, segura esse seu amigo aí. Eu tô vendo que você está de boa, mas ele está muito zuado cara.
- Beleza, pode ficar sussa man... Eu cuido dele aqui. - Luis respondeu com uma sobriedade enorme.

O segurança saiu, mas eu sabia que aquela porra ficaria de olho na gente. Seríamos vigiados a noite toda, estavamos mesmo fudidos. Mas eu não ligava EU QUERIA SUBIR NA PORRA DO PALCO! CARALHO! Mas Luis me controlava, ele ficava na minha frente, e estavamos suaves. Eu bebia breja atrás de breja, não parava, já Luis estava curtindo bem o show, percebi que ele estava ficando sóbrio, mas nada contra.

Em meio a uma das músicas fodas que os caras tocavam, Luis me olha com cara de preocupado. Ele tinha um problema.

- Carlos... Carlos... Olha bem pra mim, nos meus olhos. - ele pediu
- Fala mano! - respondi, olhando ele bem nos olhos.
- Cara, eu preciso ir dar uma mijada. Vai dar uns três minutos só. Você se comporta? Promete que não sobe na porra do palco?
- Man, relaxa! Eu sou uma esponja! Tô bebendo aqui, mas estou suave. Não subo em palco nenhum, vai lá e dê uma boa mijada! - respondi com uma certeza incomum.

Luis foi ao banheiro. Nesse momento, não lembro ao certo o que houve, mas sei que fui expulso da porra do rolê "Certeza que subi na porra do palco!" pensava, deitado na grama e fumando um Marlboro vermelho. Eis que avisto Luis, que veio me ver deitado na grama da praça, em frente ao bar.

- Caraio! Só fui no banheiro e você foi expulso!? Que merda cara.
- Desculpa man. A culpa foi da cerveja... - respondi, triste por ter desapontado ele.
- Mas o som lá está muito foda! Você fica aqui de boa enquanto assisto lá?
- VOCÊ NÃO VAI PEGAR ELA NÉ? - gritei, inexplicavelmente.
- Calma cara! Ela quem? - ele retrucou assustado.
- A FLÁVIA PORRA! A FLÁVIA! VOCÊ VAI PEGAR ELA LÁ NÉ SEU PUTO!

Flávia era uma garota asiática que eu gostava na época. Ela não estava no rolê, não entendo até hoje porque eu disse isso.

- Mas a Flávia não está aqui mano! - ele me disse de forma bem sensata.
- VOCÊ VAI PEGAR AQUELA PORRA DAQUELA FLÁVIA! ASIÁTICA GOSTOSA É MINHA PORRA!
- Tá caraio, tá! Eu não vou pegar ela porra! - ele me respondeu, percebendo que não dá pra argumentar com bêbados.
- Ahhh então sussa. Vá lá, assista o show. - eu bem mais calmo retruquei, enquanto acendia um cigarro.

Ele foi lá. Eu fiquei deitado na grama, de boa, pensando groselha e fumando cigarros atrás de cigarros.

Deu uns 30 minutos ele saiu. Me ajudou a levantar, assim prosseguiámos rumo a casa dele. A casa do Luis ficava a uns 15 minutos a pé do rolê. Ele morava por ali mesmo, aí fomos a pé pela madruga, falando merda, e eu fumando cigarros.

Não sei porque caralhos, eu estava com uma raiva grande. Estava querendo quebrar algo, atirar alguma coisa na parede. Estava destrutivo. "Talvez seja culpa da puta da Flávia", pensava. Todo carro que eu via estacionado, eu dava uma bica, mas uma bica forte mesmo. Tentava quebrar a porra do para-choque daquelas merdas, estava furioso.

- TOMA SUA PUTA, CARRO FILHO DA PUTA DO CARALHO! - gritava enquanto chutava as porras do carro.
- Calma Carlos HAHAHAHAHA Mano, cê tá ruim. - dizia Luis, tentando me fazer parar com aquele vandalismo barato.
- CALMA O CARALHO, FODA-SE MEU CU, PAU NO FUNDO! - gritava coisas sem sentido enquanto Luis me ajudava e ria.

Passamos em frente a um lugar. Me parecia uma imobiliaria, algo do tipo, que tinha uma porta de vidro. O estacionamento só era protegido por uma corrente, que impedia que qualquer carro entrasse ali. Eu pulei a corrente, subi as escadas. Fiquei de frente com a porta de vidro. Comecei a dar bicas na porta de vidro, de forma bem violenta.

- SOU UM VÂNDALO! PAU NO FUNDO, FODAM-SE OS CUS SUJOS! SEUS FILHOS DUMAS PUTAS VELHAS DO CARALHO!

Eu gritava muito alto e surrava a porta de vidro com meu tênis de forma bem violenta. Mas os bons deuses dos bêbados e degenerados evitaram que a porta se quebrasse, ou que o alarme disparasse, e não deu em nada.

Luis me conduziu para sua casa, onde deitei e dormi o bom e velho sono de alguém que bebe demais, faz merda demais mas que é uma boa pessoa.

Zaratustra

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