terça-feira, 23 de abril de 2013

O inferno é um cubículo



Quando abro essa garrafa de cachaça examente às 7h15 duma manhã de terça-feira eu finalmente percebo que sim, existe algo errado. De volta ao inferno, trancado sozinho num cubículo, tendo como companhias garrafas e textos. Penso nos grandes heróis da literatura mundial, que se isolaram e foram de uma certa forma esquecidos pela sociedade. Essa mesma sociedade que dia após dia cansa de lutar pelos trastes e degenerados presos em cubículos, e que são alimentados somente pelos seus péssimos textos, que acabam se tornando repetitivos, assim como suas vidas, os infernos nos cubículos. E por mais que tentamos achar algo prazeroso o suficiente para preenchermos nossas vidas, para tentar sair do cubículo e principalmente do inferno, nós, somente nós, sabemos que esse inferno todo é o que acaba salvando-nos do suícidio. Quando esvaziamos uma garrafa e escrevemos péssimos textos, sentimos que de uma certa forma somos exemplo para pessoas que ainda não entraram, somos apenas imagens, como placas, que mostram para não entrar nisso, não se trancar em cubículos, não escrever textos repetitivos e muito menos começar a beber às 7h15 duma terça-feira. Sim, destinados ao inferno cumprimos o nosso papel social, e de uma certa forma isso nos reconforta. Assim como nossos textos chatos e repetitivos e o alcool entornado em cubículos, e as garrafas vazias depois de um apagão ao meio-dia, e as vagabundas que nos chutaram, tudo isso nos reconforta e nos alimenta ainda mais para não sair do inferno, e muito menos se destrancar do cubículo.

Zaratustra

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