domingo, 7 de abril de 2013

Boa música, bom whisky e bom cigarro!



Era mais uma tarde solitária de terça-feira. Estava em casa inquieto, resolvi começar a beber. Havia parado com a vodka, mas o resto estava ainda liberado. Dei uma passada nos meus cds, resolvi pegar Dirt do Alice in Chains "que façamos dessa tarde solitária uma tarde um pouco mais mórbida", pensei. Mas antes de dar o play, resolvi beber um whisky. Eu tinha uma garrafa fechada de Jack Daniels e um maço de cigarros, Marlboro vermelho sempre, estava na maciota, de boas, a tarde seria agradável...

Peguei um copo tradicional de whisky, pensei em despejar o líquido malteado ali, mas desisti "só eu que sempre tomo dessa merda mesmo, vou tomar direto no gargalo" e fiz isso, exatamente isso. Retirei o lacre e despejei direto na garganta. Dei o play no CD do Alice. A primeira faixa já é Them Bones, e sim, uma das mais supremas da banda. Enquanto puxava forte o cigarro que havia acabado de acender, cantarolava um pouco do refrão da música

Told you bad dream come true
I lie dead gone under red sky
I feel so alone, gonna end up
A big 'ole pile a them...

A letra não era exatamente isso, mas sempre canto dessa forma, acho melhor. Enfim, a música se adequava à situação, aquela dor pesada, esquisita, aquela conflito interno, a crise existencial e de personalidade, e pensava em chorar às vezes, mas não conseguia. "Como as pessoas conseguer viver bem com tanta merda acontecendo?" era uma pergunta nunca respondida, afinal eu perguntava sempre só pra mim mesmo, era muito solitário nessa época.

Prossegui minha tarde alcoolátra de uma forma bem agradável até, entre cigarros e whisky, e percebendo que quanto mais bêbado eu ia ficando, melhor ia me sentindo. Sei que isso não é o correto, mas encarava o alcool como um remédio, um "mal necessário", que assim como todos os remédios tem seus efeitos colaterais e quando são tomados em doses excessivas causam problemas para o paciente. Entre groselhas de pensamentos assim tragava meu cigarro e bebia meu Jack "caralho, bebendo direto do gargalo é foda... parece que bebemos mais rápido, economizamos o tempo do refil hahaha"

O som já tocava Down in the Hole... Aquela música sempre batia errado em mim. Me levantei do meu velho sofá e cantarolava a música, de olhos fechados e com a garrafa de whisky numa mão e o cigarro na outra

Down in a hole, feelin' so small
Down in a hole, losin' my soul
I'd like to fly,
But my wings have been so denied
Bury me softly in this womb
(Oh I wanna be inside of you)
I give this part of me for you
(Oh I wanna be inside of you)
Sand rains down and here I sit
(Oh I wanna be inside of you)
Holding rare flowers
In a tomb... In bloom
Oh I want to be inside

Minha ex mulher me disse uma vez que eu tinha muito potencial, mas que estava desperdiçando aquilo tudo por besteiras, estava muito fodido em alcool. Mas tudo o que eu fazia era consequência de como fui construído, fui moldado de uma forma que me deu sim um grande potencial, mas ao mesmo tempo me deu um grande fardo pra carregar... Era como se eu quissesse voar, mas minhas asas tivessem sido cortadas... (ok, gay demais!). Percebi que estava com pensamentos muito emotivos. Outra dose? Claro, porque não!? E entornei o malte mais um pouco na garganta, seguido de uma tragada no cigarro.

Acho que estava já na metade da garrafa e na metade do meu maço de cigarros, estava exagerando naquele dia, mas ainda conseguia somar bem as coisas, meu racíocinio ainda estava bem de bouas, portanto sem preocupação! Preferia beber do que ter que encarar a realidade, e sim, pra mim estava funcionando aquilo, sem aporrinhações e vivendo na solitária.

O telefone resolveu me incomodar com seu maldito toque. Eu estava bêbado "que não seja uma ligação pra entrevista de trabalho, que não seja!" me levantava e dava mais uma golada. Abaixei o som por um momento, atendi

- Alô - com uma sobriedade incrível.
- Opa Carlos e aí! É o Renatinho brother
- Fala Renatinho, beleza? - já não passava mais sobriedade.
- Beleza mano, beleza... Vamos fazer um happy hour aqui, depois do trampo... Quer colar mano?
- Ahhh nem mano, já estou bêbado aqui em casa. Até chegar aí vai ser foda... Nem vou man - em seguida dei outra golada.
- Eita porra! Quando você não está bêbado né hahahaha - ele insistia em falar sempre aquela maldita frase pra mim - Mas quem está aí?
- Ninguém mano! Na verdade estou bem acompanhado: boa música, bom whisky e bom cigarro!
- Cê vai morrer cedo assim, bebe demais... Anyway, de boa, abraços!
- Falou mano! - desliguei o telefone e, porque não, mais uma dose entornei.

Aumentei o som novamente, agora já tocava Junkhead... Ouvia aquilo com os olhos fechados, buscava sentir a música.

you can't understand a user's mind
but try with your books and degrees
if you let yourself go and open your mind
i'll bet you'd be doing like me
and it ain't so bad
what's my drug of choice?
well, what have you got?
i don't go broke
and i do it a lot

Na real, eu havia percebido que estava solitário porque eu buscava isso, essa solidão, esse malefício todo... Eu me afastava das pessoas, não sei exatamente o porque, mas caralhos, era isso o que eu fazia. Não ia em rolês mais, parecia mais fácil ficar em casa vegetando e pensando em me matar, e bebendo whisky e fumando cigarros e ouvindo boa música.

A garrafa estava chegando no final e eu ainda estava suave, suave suave mesmo é claro que não, mas imaginava que eu lembraria de tudo o que tinha acontecido naquela agradável tarde. A solidão nem sempre é boa, mas eu levava ela num estilo supremo, de uma forma que não me fodia.

Dei a última golada na garrafa de whisky e acendi o último cigarro quando tocava Would, sim a última música também, e quando ela bateu me bateu também um sentimento mórbido, uma vontade suicida mas me segurei. Lembro que deitei na cama enquanto ainda tocava a música, e acompanhei a letra, cantarolando bem baixo

Into the flood again
Same old trip it was back then
So I made a big mistake
Try to see it once my way
Am I wrong?
Have I run too far to get home
Have I gone?
And left you here alone

Zaratustra

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