terça-feira, 16 de abril de 2013

Estresse, discussão e "a culpa é do alcool"



Não sei exatamente porque eu insistia em me meter em festas, em eventos sociais, em relacionamentos. Estava difícil de compreender o porque eu fazia isso, uma vez que eu não estava a fim de falar com ninguém, eu já não via sentido algum em me preocupar com as pessoas, e muito menos ter algum tipo de afeto. Parecia que eu vivia 24hs na falsidade, e isso me irritava, me rasgava os culhões. Eu prefiria ficar deitado na minha cama o dia todo, olhava para o teto e ficava ouvindo música. Às vezes eu lia alguma coisa, mas claro que não lia essas coisas falsas, somente as verdades de Ernest Hemingway, Charles Bukowski, William S. Burroughs entre tantos outros.

Mas como eu era um COMPLETO IDIOTA, eu insistia em me manter informado, entrava na internet, via sites de notícias, redes sociais, enfim, de uma certa forma eu ainda me mantinha informado sobre o ser humano e sobre tudo o que ele pensava e/ou fazia. Mas pra que, CARALHOS, pra que!? Se eu ficava somente cada vez mais e mais estressado com aquela merda toda. "Se o jeito é esse, vamos tentar sermos melhores né, vou dar soco na faca de ponta até essa merda quebrar!" insistia, repito, insistia em respirar o ar da falsidade. Tocava O Pouco que Sobrou do Los Hermanos

Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
O pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia
Manda essa cavalaria
Que hoje a fé
Me abandonou

Uma das manchetes falavam de mais um atentado terrorista que assolava os Estados Unidos. "Toda essa comoção, fotos de pessoas chorando, pêssames nos jornais, homenagens, investigações do FBI e o caralho todo, por mortos? Os Estados Unidos só pagam o preço de quem tem muito dinheiro, a falta de segurança! Oras, eles foram filhos das putas o século passado inteiro, agora estão colhendo os frutos por isso porra! AHHHHH!" Eu respirava fundo, mas o estresse não passava. Eu sabia que eles mereciam aquelas mortes, na verdade eles mereciam mais e mais mortes, de preferência queda de aviões, atentados em lugares da alta classe, em que morresse muita gente rica, bem rica de preferência, sim, no Brasil morrem centenas e centenas de pessoas nas favelas e todo mundo acha que estão morrendo somente bandidos, mas como já dizia Lênin, o verdadeiro ladrão não é o que rouba o banco e sim o que abre o banco. E sim, eu preferia que morressem 220 loiros de olhos claros com sobrenomes estrangeiros e pomposos em atentados terroristas em aviões, ainda mais nos Estados Unidos, que mataram tanto em guerras, como Golfo, Iraque, Afeganistão, Vietnã e a Segunda Mundial, do que morrer aqui no Brasil um monte de Silva que vivem entre os ratos e o esgoto a céu aberto e que, se fumam crack e cheiram cocaína e roubam pra sustentar o vício, com certeza é o menor dos culpados disso tudo.

Naquele dia eu tinha que sair, tinha uma "festa" vamos dizer assim, que não podia recusar. Tive que deixar meu estresse de lado e ser falso por mais algumas horas, perguntar pras pessoas se elas estavam bem, sendo que na real tanto faz, na real se elas estivessem todas mortas, ou com cancêr, ou com AIDS, ou viciadas e sem perspectiva, sem dentes e cegos, isso pra mim era realmente indiferente, eu não sentiria tristeza, muito menos pena. Seria pra mim um dia comum, como todos os outros. Pois bem, tomei meu banho, dei uma cagada meio parada, quieta, mas ainda assim importante. Demorei uns bons 20 minutos no banho, ainda irritado com a atenção que um maldito atentado terrorista tem! Me vesti com uma camiseta de uma boa banda, Judas Priest, na real eu não era muito fã, mas merecia respeito. Saí e fui rumo ao local da "festa", que ficava a uns 15 minutos a pé do meu ap ali na Alameda Santos. Ah sim, antes que me esquecesse, levei uma garrafa de vodka, Orloff.

-------------------------------------------------------------------------------------------

Cheguei no local da "festa" sim, sempre com as aspas, uma vez que era mais uma reuniãozinha mesmo, nem música tocava. Mal cumprimentei o anfitrião e fui direto pra cozinha. Eu precisava beber. Nos últimos tempos estava bebendo pouco, e talvez por isso estava estressado. Na cozinha tinham várias garrafas de vodka, algumas de Contini e uns refris, além de incontáveis brejas. Me servi de um drink composto por 70% de vodka e 30% de Contini, além de pegar uma latinha de cerveja. Decidi que ia beber aquilo a noite toda, sempre que eu pegasse um drink, seria a combinação dessas três coisas. Ainda na cozinha fui abordado por um amigo meu

- E aí Carlos, como você está mano? - Luis perguntou meio sério.
- Eu estou bem mano, bem... Cê tá sério mano.
- Nada, é falta de alcool hahaha
- Ah sim. Pois beba então, porra! - eu disse levantando o copo e a lata pra cima
- Demorou, caralhos!

Luis montou um drink de vodka com coca (na real tinha mais coca naquilo), ele estava na maciota, estava tentando largar a cocaína e sempre que ele bebia muito ele cheirava muito e isso deixava ele mal depois. Eu até brincava com drogas, já brinquei de forma errada e irresponsável, mas estava há um mês limpo e me manteria, não estava bem pra mandar uma linha naquele dia, eu sei que ia só me estressar mais. Enfim, fomos pra sala, aonde rolava umas conversas chatas. Eu honestamente só observava tudo e de tempos em tempos ia pegando o meu "drink" na cozinha.

Já era a sétima vez que eu voltava da cozinha com um copo na mão e uma breja em outra, mas ainda me sentia bem, sim, estava meio tonto, isso é óbvio, uma vez que estava ingerindo alcool caralhos, era impossível ficar 100% sóbrio! A discussão na sala dessa vez era sobre amor, e repito, SOU UM COMPLETO IDIOTA, só pode, pois insisti em abrir a boca e me arrependi profundamente.

-Ahhh os homens hoje em dia são foda... Não acho um que presta hihihi - Renatinha disse inconformada, mas com um risinho no final
- Que isso, as minas que só ficam com os babacas - Luis, estando sóbrio, disse.
- Os que prestam estão namorando! Aí fode tudo né meu?! - Valéria participava da conversa.
- Eu presto! Sou um cara bacana, que trabalha e razoavelmente bonito hahaha - Luis disse com um ar de garanhão.

Eu ainda assistia a tudo, com um sorrisinho no rosto e bebendo, sim, eu bebia pra ver se aquela porra começava a fazer algum sentido, mas não, ainda não fazia sentido algum. Eu viajava em pensamentos, acho que eu preferia estar em casa lendo Hemingway, bêbado, ouvindo uma boa música e depois escrevendo groselhas e pensamentos. Mas enfim, estava ali, me restava ao menos beber!

- Ahhh, mas você é meu amigo, seria no mínimo estranho hihihi - Valéria disse com um ar de friendzone.
- Caralhos... por isso que tá foda hahaha. Friendzone! - Luis levou na brincadeira, mas eu sabia que aquilo havia irritado ele.
- Concordo com a Valéria hihihi - Renatinha disse com um ar de friendzone também.
- Posso falar o que eu acho? - eu disse, já pensando "Carlos e suas ideias de gênio..."
- Fala aí mano! - Luis me incentivou, dando tapinhas nas minhas costas.
- Vocês perceberam a falta de sentido nisso tudo? Perceberam o quanto isso é inútil, o quanto discussões como essas não fazem sentido algum, que por mais que discutamos isso, as coisas vão ser sempre iguais? O fato é que as mulheres reclamam dos homens, os homens reclamam das mulheres, e ninguém mais fica sério com ninguém, na real por medo de não dar certo e se frustrar e ficar chorando de noite e depois ter que beber pra esquecer, e medo de perder a sua liberdade, medo de não poder ficar com qualquer bêbado ou bêbada por aí.

Eles olharam estranho pra mim, mas já que havia aberto a boca eu não ia parar mas nem fodendo, estava desabafando.

- O que quero dizer é que as mulheres sempre vão ficar sim com os babacas, pois elas gostam de quem as despreza, e esses são os babacas, e os garotos bons, que prestam, como o Luis aqui - dei um abraço lateral nele - vão sempre gostar de garotas razoavelmente bonitinhas como vocês duas, e vai gostar mais ainda porque não conseguem pegar. Mas uma garota mais feia, caras bacanas como o Luis - dessa vez só apontei pra ele - não querem nem fodendo, portanto, sempre vai ter alguém reclamando de amor. Pra que tentar ganhar um jogo que se perde sempre? Amor não vale a pena!

Respirei, dei uma golada forte na breja, matei a latinha, amassei ela e atirei ela no chão de forma violenta. Matei o copo quase cheio de vodka com Contini, decidi que ele eu não ia atirar, os cacos poderiam voar. Me olhavam perplexos, mas na real aquilo não me incomodava nada.

- Acho que você bebeu demais Carlos hihihihihihi - Renatinha não levou nada do que eu disse a sério.
- Brother, cê tá ruim ein hahahahaha

Valéria me olhou rindo e também concordou com os dois. Percebi que era melhor ter ficado quieto, uma vez que a minha verdade é a mentira deles. As pessoas são hipócritas porque querem, e não porque são ignorantes. É mais fácil discutir as coisas que não tem solução, que não mudam nunca, como os relacionamentos, de uma forma hipócrita. Não podia culpar eles, o errado ali era somente eu. O que me restava era ir pra casa, e foi isso que eu fiz.

- Hahaha verdade, acho que eu bebi demais. Melhor ir pra casa. - eu disse, me despedindo deles.

Cheguei em casa, joguei a roupa pra lavar, fiquei somente de cuecas, montei uma dose de vodka com coca, acendi um cigarro, liguei o som, ainda tocava o album Ventura dos Los Hermanos, agora tocava De Onde vem a Calma. Ri da ironia do nome da música com a situação toda, deitei na cama e me senti aliviado e vivo de novo!

Zaratustra

Nenhum comentário:

Postar um comentário