quarta-feira, 3 de abril de 2013

Apaixonado pela vodka!



Eu estava bem melhor naquele domingo em que fazia muito sol em SP. Havia largado quase tudo, era elogiado por todos, as mulheres diziam que eu estava mais bonito, honestamente eu não sei se isso era verdade ou somente algo motivacional, mas anyway, estava mais careta do que um monge. Não bebia nada de alcool faziam uns 7 meses, na real, 7 meses e 13 dias.

Fui chamado pra ir no bar com um amigo, o Luis, grande amigo. Fazia muito tempo que não nos víamos. Na verdade, eu não via ele desde a época em que eu ainda me drogava e bebia feito uma esponja. Marcamos ali no Puppy, em frente à TV Gazeta. Era um bom bar, bem frequentado durante a semana, mas aos domingos era dominado pelas moscas, portanto estávamos suaves ali.

- Vai de que hoje Carlos? Vodka com Contini? Hahaha sua mistura fatal... Ou tá na maciota e vai de St. Remy? - ele perguntou me instigando.
- Nem um nem outro brother. Hoje vou de Coca-Cola. Parei de beber - disse, acendendo um cigarro (não havia largado os cigarros AINDA).

Luis me olhou espantado, com a cabeça pra trás, bem assustado com aquilo tudo.

- Como assim mano? Parou meeesmo de beber, é sério isso?
- Parei mano... Tava foda, tava bebendo um litro de vodka por dia e usando muita cocaína. No ritmo que estava ia fuder tudo muito cedo na minha vida, infelizmente tive que parar totalmente. - eu disse com um ar triste.

Não era fácil pra mim não beber, eu adorava aquilo, o alcool era o meu melhor amigo, na verdade foi, por muitos e muitos anos, mas ele estava me fodendo, tive que largá-lo. E assim minha vida ia prosseguindo, eu tentando me acostumar com a ideia de não beber, e o alcool chorando de saudades de mim. Traguei o cigarro e disse:

- Pede ai brother. Brejinha?
- Isso - ele ainda estava embasbacado quando acenou pro garçom - Campeão, me trás uma Brahma e uma Coca-Cola!

O garçom trouxe nossas bebidas, brindamos, não tinha a mesma graça brindar com refrigerante, parecia pior do que ser chupado com camisinha, parece que seria melhor nem fazer... Mas brindamos, e nossa conversa prosseguia bem, com o assunto de sempre, mulheres oras, que é o que os homens mais falam, mais do que futebol e cerveja, isso é fato!

- ... aí que eu mandei ela tomar no meio do cu dela e sair do meu apartamento! - eu esbravejei enquanto falava de uma mina bêbada que eu tinha comido e depois ela gorfou em cima do meu travesseiro.
- Hahahahaha cê é foda Carlos! Porra, uma vez eu comi uma mina, aí que na hora da foda descobri que ela tava de chico - ele deu um gole na breja - Até aí de bouas, eu não tenho nojinho, mas saiu um jato de sangue no meu lençol... Eu não tive culhões de mandar ela tomar no cu e sair fora, mas fiquei puto, mesmo com ela pedindo desculpas a rodo!
- Mas tem que ver brother - bebi um gole da Coca e traguei o cigarro - ela estava bêbada?
- Tava, tava sim, completamente louca de vodka mano.
- Porra, é a mesma coisa que eu. Fiquei puto, mas já contava que esse tipo de coisa poderia acontecer hahaha isso que fode de mina bêbada.
- Pois é mano, mas já que não comemos elas sóbrias, pois somos zuados demais, temos que ficar com as bêbadas né? hahaha
- Exato mano, exato! - puxei uma tragada forte e joguei o cigarro no chão.

Nossa tarde de domingo prosseguia muito bem, sempre nos demos bem, o papo fluia, mas que fique claro que não éramos gays, somente dois bons amigos que bebiam bastante nos bons tempos. Em determinado momento Luis disse:

- Brother, porque você não bebe cerveja sem alcool? Ao menos é cerveja né?
- Mano - acendi outro cigarro e traguei - isso é zuado demais. Vou filosofar sobre a bebida...
- Caraio, lá vem! - ele disse, puto e interessado ao mesmo tempo.
- Lembra o que eu sempre te disse sobre beber vodka barata? Quando todos falavam "você tem que beber algo decente e mimimi, essa vodka pura tem um gosto horrível e bla bla bla"... Cê lembra o que eu sempre falava? - aproveitei minha pergunta e dei um gole na Coca e traguei o cigarro.
- Sim, você dizia que alcool não é pra ser gostoso, não é pra te fazer bem ou feliz. Alcool é pra ficar bêbado, nada mais do que isso.
- Exato! Cerveja sem alcool é a pior invenção da humanidade, uma vez que tem gosto de cerveja, mas não te deixa bêbado. Oras, se for pra beber algo pelo gosto eu bebo suco... ou Coca-Cola - levantei o copo e dei uma golada.
- Ok, te entendo. Mas ao menos com a breja sem alcool você se sentiria um pouco mais "sociabilizado" com seus amigos que bebem. - ele retrucou.
- Sóbrio? Nem fudendo! Já que é pra ficar careta, que seja 100% - eu estava me irritando e traguei ainda mais forte aquele cigarro.
- Tá bom, tá bom, fica suave... - ele tentou me acalmar.

Mas agora eu estava irritado. Num dos meus lapsos bi-polares loucos, decidi que naquele dia iria tomar um porre, claro, sem beber vodka, pois sei que ela iria me foder. Decidi pelo whisky "já que eu nunca bebo, que quando eu beba tenha um pouco de classe"

- Campeão, me trás uma dose de Black! - acenei pro garçom.

Luis me olhou espantado, ele estava confuso. Uma hora não bebo, uma hora vou de whisky... Caraio... Mas ele me conhecia muito bem e há muito tempo, entendeu qual era a minha pegada.

- Hahaha Carlos, cê precisa tratar sua bi-polaridade mano... - ele disse de forma repreensiva.
- Ou, vai se fuder sem maldade. Vou te mostrar como ficar bêbado! - eu estava me mostrando superior naquele momento.
- Hahaha, quero só ver seu puto...

A primeira dose tomei numa única golada, das grandes. Desceu rasgando, mas me senti homem novamente, me senti vivo. O alcool entrou no meu sangue como uma pica entra numa gorda de 40 anos que mora com 5 gatos. Me sentia jovem, me sentia o super-homem de novo. Pedi a segunda dose na sequência, e a terceira, e depois a quarta. Matei todas numa única golada. Não estava nem tonto.

- Mano, cê tá bebendo muito rápido - Luis alertou.
- Tô suave - traguei aquele que era meu terceiro cigarro já - nem tonto eu tô brother. Acho que não vou ficar bêbado no fim das contas...

Fui pra quinta dose, pra sexta e pra sétima. Essas eu bebi mais devagar, mas ainda assim estava de boa. Confesso que na metade da sexta dose me bateu uma leve tontura, mas coisa leve, bem leve mesmo. Parecia que a única coisa que me deixava bêbado era a vodka, ela era a única que me fazia me sentir bem, que me dava aquela sensação de alegria e felicidade nas suas mais completas formas. Era como aquela garota que amamos. Nós podemos comer outras, mas não vai ser a mesma coisa. Sim, eu estava apaixonado pela garrafa de vodka barata! Isso foi algo assustador, mas compreensível.

- Cara, acho que não consigo ficar mais bêbado... Estou decepcionado. - eu disse em tom triste.
- Relaxa mano, bebe mais, tenho certeza que cê fica bem louco. - Luis tentou me motivar.
- Beleza, vou pedir mais três doses e vemos no que dá.

Bebi a oitava, a nona e a décima dose. Sim, nada de ficar bêbado. Estava meio tonto, isso é fato, mas conversava de boas, compreendia bem o que acontecia à minha volta. Estar "bêbado" daquela forma não era nem sombra de quando eu ficava bêbado de vodka, que quebrava as coisas, mandava todo mundo tomar nos seus malditos cus e me divertia.

Pagamos a conta. Ele foi pra casa dele, eu também resolvi ir pra minha, o dia havia sido um fracasso, quebrei minha contagem de caretice e nem bêbado havia ficado. Para dias ruins não existe nada melhor do que deitar a cabeça no travesseiro e torcer pra dormir logo. E foi exatamente o que eu fiz.

Zaratustra

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