segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A despedida de solteira



Uma festa na Augusta era tudo o que eu queria e tudo o que eu não queria ao mesmo tempo. Porra! É incrível como as pessoas gostam de me arrastar pro caminho do mal. Mas não era culpa dela. Thais era somente mais uma das minhas amigas de trabalho que gostavam de sair comigo pra beber umas e outras de vez enquando, e o fato é que ela estava pra casar, e estava organizando uma "despedida de solteira". Coloquei entre aspas porque não era bem uma despedida de solteira, uma vez que não tinham somente mulheres, nem gogo boys, nem nada que vemos naqueles vídeos do xvideos, em que senhoras de meia idade chupam paus de garotos bombados em ambientes como o clube das mulheres. Era simplesmente um rolê comum com seus amigos de sempre, antes de se despedir da vida boa, quer dizer, da vida em geral, pois quando casamos jogamos os nossos sonhos no lixo (me desculpem os casados, talvez eu seja traumatizado demais pra isso, e por isso que fico de chorôrô, culpa da minha ex, a Angélica, mas isso seria assunto pra outro texto...) O que quero dizer é que a vida de casado é bem diferente da de solteiro, existem mais responsabilidades, você passa a foder somente uma pessoa, e tem que aceitar isso de bom grado, fora a convivência, que é o que mais destrói, como quando você está tomando banho e sua mulher entra pra dar aquela mijada matinal, sem nem se preocupar se passou a maquiagem no rosto. É foda, mas se isso é o que a maioria faz, deve haver algum sentido não é mesmo!? Sim sim, o óbito do ser humano é nossa única certeza, e o casamento, que possui muitas semelhanças com o óbito, acaba sendo quase inevitável na nossa sociedade, exceto pra gênios como Bukowski, que casam aos 65, já sabendo que a morte está próxima mesmo.

Pois bem, seria num sábado à noite, num barzinho em que tocava de tudo, tudo mesmo, e por isso que ela queria lá, pois possuia amigos ecléticos demais, desde funkeiros (que NÃO é meu caso) até os rockeiros (que É meu caso), passando também pelas vadias de vestidos curtos que gostam de sertanejo "universiótario", isso sem falar nos pagodeiros, que não podem ver uma mesa e começam a batucar, e a encher o saco com seus porres de cerveja Brahma (sempre de 600ml) e a maldita mania de palitar os dentes pra parecer um pouco mais homem e safado. Era gente demais, tanta gente que eu estava longe de conhecer todos, eu diria que conhecia 1% da festa (a Thais), mas não, isso seria humilhante até pra mim, que acabara de operar das hemorróidas (o que foi sim, de fato bem humilhante, abrir o cu pra um cara de branco catucar lá e tirar um "bolinho" de sangue e pus), eu ainda não era o cara mais anti-social do rolê, ainda tinha alguns amigos... Vamos dizer que eu conhecia uns 5% da festa, o que é um bom número. Amigos demais significam inimigos demais (já dizia um filósofo famoso, no caso eu), e por isso me satisfazia em não ser tão popular. Ahhh, esqueci de falar que o nome do bar era "Pecado", nominho sugestivo pra caralho, mas na real pecamos todos os dias, não faz diferença nenhuma o bar ter esse nome. Precisei me manter sóbrio até o horário da festa (21h), o que pra mim sempre foi um esforço enorme. Mas consegui me manter, e, como de praxe, eu sóbrio sou chato pra caralho, por isso nem vou falar o que fiz naquela tarde (além de jogar Pokemon a tarde toda... Mas o resto é segredo).

Eram mais ou menos 21h quando fui tomar banho. Peguei meu melhor jeans, minha camiseta do Frank Sinatra (esse cara é um gênio... acho que todo cara que bebe whisky puro enquanto canta merece ser taxado de gênio, assim como o Jim Morrison, que era um pouco menos recatado e tomava direto da garrafa), coloquei meu sapato social. Pensei em colocar meu chapéu de mafioso, mas o astro da festa seria ela, não tem porque eu tentar chamar mais atenção, até porque ficaria de canto com meus 5% de conhecidos. Desenhei bem a barba, se existe algo que eu prezo é a barba. Uma barba é o sinal maior de virilhidade do homem, sem a barba o homem parece só mais um moleque que toma leite Ninho de manhã e come pão de leite com manteiga no café da tarde enquanto assiste desenhos na TV Cultura (me desculpem os homens sem barba, é somente a minha opinião). O cabelo deixei bagunçado mesmo, não faço questão de gel nem nada do tipo, gosto dele natural. Pois bem, eu estava bem alinhado pra ocasião, eu achava que a Thais era uma garota bem bacana, e que merecia uma festa à altura dela, por isso que queria estar "top", como dizem os jovens hoje em dia.

Morava ainda ali no meu ap. perto da estação Paraíso do metrô, eram cerca de três quadras, "puta merda, eu moro bem pra caralho", pensei eu todo orgulhoso e pimpão quando sai de casa pra poder ir pra festa. Não tinha carro, mas isso nunca foi problema, eu pagava barato no ap, nas urgências usava taxi e sempre tinha o metrô por ali, não precisava me meter em 60 prestações por puro status social. Já disse isso em um texto e repito: me falaram que com carro eu pegaria mais mulher, e sim, eu pegaria mais mulher, mas sinto lhes informar uma verdade. Mulher = Dor de Cabeça, e dores de cabeça eu já tenho várias (vodka, cigarro, o trabalho de 10h ao dia, as contas, os problemas com a família, o aumento da passagem pra 3,20, o retorno pra 3 reais, o Cidade Alerta, o Instituto Royal, o Rei do Camarote e afff, só de lembrar já me canso), portanto não preciso de mais dores de cabeça, já estou tentando com muito custo eliminar as minhas atuais. Peguei o metrô da linha verde e em menos de cinco minutos cheguei na estação Consolação. Nisso eram umas 21h45. Na porta da estação, encontrei uns hipsters tatuados e cheios de piercings cheirando umas linhas de cocaína. "O de praxe, o de praxe", pensei ao chegar à Sodoma.

No local fui logo abordado pelo segurança. Me revistou igual ele revista o cu da mulher dele (o que quero dizer é que ele não come a mulher dele no cu, nem enfia um dedinho lá de vez enquando, o que quero dizer é que ele não revista a mulher dele no cu, ou seja, ele não me revistou), na verdade deu uma apalpada aqui e outra ali, se eu estivesse armado ele perceberia, mas acho que nenhum imbecil entraria armado numa balada, é muita betice, é coisa de moleque. Mas se eu estivesse com droga até não querer mais, ele nunca pegaria, eu poderia entrar com mais cocaína do que o Al Pacino no Scarface que ele só perceberia se eu tivesse com o nariz esbranquiçado, caso contrário deixaria passar. Enfim. Peguei minha comanda, vi que a consumação mínima eram 30 pratas, "Não é um lugar tão chique assim, até que está bem barato", pensei enquanto subia umas escadas olhando pras vadias do lugar com tanta fome que comeria uma zebra (ou uma vaca), e pude sentir a música aumentando conforme eu chegava no "pico" do local.

Chegando lá, fui abordado por Thais, que estava linda com seu vestido azul piscina (mentira, ela parecia uma piscina, e das grandes. Desculpa Thais, mas você é gorda, mas ainda assim bem apetitosa hmmmmmmmmm, que delícia cara!), que já veio me abraçando enquanto segurava seu copo de vodka com energético.

- Carlos! Você veio!
- Sim! Eu vim! - eu disse, retribuindo o abraço dela.
- Que bacana! Conheça minhas amigas.

Nisso ela foi apresentando uma por uma, eram garotas de todos os tipos, que mal me recordo os nomes, no geral nenhuma delas me atraiu, sou um cara que julga demais por estereótipos, e todas pareciam chatas PRA CARALHO e patricinhas PRA CARALHO e frescas PRA CARALHO, e tinham aquele rosto de quem foi criada a base de leite Ninho e com os pais pagando bons planos de saúde e levando no hospital a cada dor de cabeça... Fora o lance de ser criada em apartamento fechado com tudo dentro, e ter o quarto todo rosa e pintado com a decoração da Barbie ou da Hello Kitty, e terem tudo na mão ao abrir o berreiro, fora ainda a empregada negra que dava Biotonico Fontoura pra fazer ela comer os vegetais e os legumes (e que hoje a vadia não come). Me desculpe quem foi criado assim, sei que vocês não tem culpa de terem nascido em berço de ouro, mas a revolta de alguém que se fode pra pagar uma garrafa de Natasha é alta demais pra ser mantida em silêncio! Chamem de preconceito, mas me desculpem, acho que as pessoas tem que passar a imagem de acordo com as suas personalidades, caso contrário vamos todos usar roupa social como uniforme e fodam-se as convenções sociais. Enfim, estava cansado de ver rostos semelhantes na minha frente. Me sentei à mesa (minto, era um sofazinho, muito comum hoje em dia nas baladas), chamei a garçonete, uma morena alta, linda.

- Chuchu, me vê uma vodka com coca, por favor - e lhe entreguei a comanda.

Enquanto ela anotava o meu pedido, eu a olhava como um cão olha o frango girando no forno na padaria, com excessão da língua pra fora (mentira, eu coloquei a língua pra fora em alguns instantes, mas retornei ela à minha boca antes que ela percebesse tal ato doentio). Ela me olhou com uma cara estranha, saiu da mesa e foi buscar meu pedido, que chegou rápido pra caralho. Agradeci ela somente com o piscar do olho esquerdo e dei a primeira golada, ela havia caprichado, por Deus, do jeito que eu gosto (80% vodka, 20% coca), e me senti no paraíso. Nisso, Thais se sentou ao meu lado, junto com dois outros amigos meus, o Dudu e o Vinicius.

- Ai Carlos, eu vou casar, o que eu faço? hihihi Aiinnn, tô tão nervosa hihihi - ela me disse e ria com a mão esquerda na boca.
- Se mata hahahahaha - eu disse e dei outra golada no drink (puta que pariu, aquilo estava mesmo bom!)
- Aiiinnn seu bobo hihihihi... É sério, tô nervosa, será que escolhi o homem certo?
- Olha Thais, falando sério agora. Você só vai saber se escolheu o homem certo com o tempo, não dá pra saber assim, de cara. Só o convívio entre vocês que vai dizer isso. O Beto me parece um bom sujeito, apesar de eu mal conhecer ele, me parece ser trabalhador.
- E é sim Carlos. - Dudu, um dos amigos de Beto, me disse.
- Pois é, se Dudu está falando não tem engano.
- Eu também mal conheço o cara, mas ele me parece boa praça - Vinicius se pronunciou, enquanto tomava sua dose de whisky.
- Eu sei meninos, mas é que eu sempre fico com um pé atrás por causa do Carlos... O lance da Angélica e tudo mais... Não quero que isso aconteça comigo - Thais pediu desculpas e encostou a mão no meu antebraço, em sinal de carinho.
- Relaxa Thais, eu já superei. Mas não pegue as minhas histórias como padrão, você sabe que eu tive culpa no meu divórcio também... Mas puta merda, que assunto chato - eu disse, olhando com cara de cu pros três que estavam à mesa - vamos falar de coisa boa! Bebam mais!
- Vamos falar de coisa boa, vamos falar de TekPix - Vinicius me lançou a piadinha marota e levantou seu whisky como se brindasse sozinho.

Thais e Dudu entraram na brincadeira, pegaram seus copos de vodka com energético e brindaram. Eu, pra não ficar de fora, levantei meu copo e brindei, seguido de um gole de todos na mesa. Começamos a falar das trivialidades da vida, eu disse que estava mudado, que trabalhava 10h por dia, fazia exercícios, e que estava "de bem com a vida" como dizem. Thais me olhou diferente naquele momento, mas desconsiderei, éramos amigos há muito tempo, devia ser o efeito do meu drink batendo. Dudu ainda tretava com seus pais e queria fazer medicina, e mesmo com 25 anos insistia em fazer seu cursinho no Anglo regularmente. Vinicius continuava o mesmo, fumava maconha demais, mas ganhava uma boa grana com seu estúdio de tatuagens na zona norte, e a vida dele prosseguia de forma bem honesta ao lado da sua namorada, uma gata toda tatuada e com seios lindos (não que eu estivesse cortejando ela, é proibido elogiar uma mulher?). Rimos demais por alguns instantes.

Quando eu já estava no meu terceiro drink, acho que Thais estava no seu quarto, ela na vodka com energético e eu na vodka com coca, e os caras estavam mais na maciota, nessa altura já nem bebiam mais. Por alguns instantes, Thais foi fazer uma social com os outros convidados da festa, e eu saí pra ver o movimento do local. Detalhe que já havia tocado de tudo, e sim, nesse momento tocava rock, a música de fundo era Break on Through to the Other Side, do Doors.

We chased our pleasures here
Dug our treasures there
But can you still recall the time we cried?
Break on through to the other side
Break on through to the other side

Ouvia aquele som e pensava em "Querer passar pro outro lado" (super clichê, mas me desculpe, preciso de alguns clichês pra preencher minha vida, não consigo ser sempre original), e era isso que eu fazia, eu rondava por alguns locais da festa buscando ver novas pessoas, ver o que eles faziam por ali. Cheguei num grupo de amigos que percebi debater sobre política. Não prestei atenção no que eles falavam, mas vi que tinham esquerdistas demais, e esses radicais barbudos acabam se tornando tão cegos quanto os fanáticos religiosos, é aquele lance de que quem vê "a luz" demais, acaba ficando cego. É bom não se afundar nisso, é bom ver os outros lados e não colocar Marx no pedestal com o pau duro esperando pra ser chupado por qualquer garoto que fuma um e usa camisa do Che Guevara (com o desenho com a concepção do Andy Warhol, só pra ficar mais fresco).

Continuei bebendo meu drink, o rock já havia acabado, mas fui ao êxtase quando tocaram o garboso Sinatra, com sua maravilhosa canção I've got You Under my Skin.

I've got you under my skin
I've got you deep in the heart of me
So deep in my heart that you're really a part of me
I've got you under my skin.


Dancei sozinho na pista, enquanto as pessoas me olhavam com uma cara de "Quem é esse retardado?" Eu honestamente não dei a mínima, não é em qualquer balada que tocam a música do gênio, por isso aproveitei e já pensei em voltar ali qualquer dia em que tivesse ânimo pra sair de casa.

Voltei à mesa de Thais, e nessa altura ela já estava bem bêbada. Ela "tropeçou" (vou usar o termo tropeçou pra falar que ela se jogou em mim, como uma vaca quando corre pro abatedouro só pra ter o prazer de apanhar de vara), e nisso me abraçou com força.

- Ai Carlos hihihi, eu estou muito bêbada! - ela riu de novo, com a mão na frente da boca.
- Percebi! Hahahah, vem cá, senta aqui. - eu disse, já levando ela pro sofazinho.

Depois que ela estava sentada, eu continuei bebendo, eu jurei que iria estourar naquele dia, por isso bebia como uma esponja... Ela, meio zonza, estava sem forças pra beber, mas não tirava a mão esquerda de mim, e passou pela minha perna, até que chegou no meu pau. Olhei pra ela espantado (olha eu sendo beta!), ela me olhou e molhou os lábios. Eu olhei e sorri. Peguei ela pelo braço, fomos ao banheiro. Entramos, e todos olharam o casal entrar correndo, mas eu não liguei a mínima pra isso, coloquei ela num reservado do banheiro, apoiei ela contra a parede, abaixei a calcinha, levantei o vestido e meti com tudo, ali mesmo, sem pensar em nada, sem pensar em traição, ou na nossa amizade. Eu não dava a mínima, e tudo o que passava na minha mente era "Foder, foder, foder", e foi isso que eu fiz. Ela gozou a primeira, e quando ela gozou a segunda eu gozei também, e caiu porra na calcinha que estava no chão, acho que a buceta dela não foi capaz de segurar a minha porra, mas foda-se, isso não importava naquele momento (e acho que nunca importou, não é mesmo!?).

Ainda no banheiro, enquanto recuperávamos o fôlego, ela me disse, em alto e bom som.

- Carlos, obrigada. Você me deu a despedida que eu queria. Estou pronta pra casar!

Sorri de leve, mas me senti tão foda que pra mim o rolê acabou por ali. Porra, às vezes o errado pode estar certo, e é bom ouvir elogios de vez enquando. Foda!

Zaratustra

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