O
dia estava garoando e
ele
pensou
“Sorte
ou revés?
Dessa
vez era sorte”
Pensou,
e resolveu
se
levantar
Tomou
um bom banho e
aparou
a barba
passou
gel nos cabelos
Se
olhou no espelho e
transpirava
confiança
E o
dia estava frio
(além
da garoa)
“Tem
dias que não
é
bom nem
sair
de casa”
Um
mal pressentimento
lhe
bateu,
mas
ele ainda estava confiante
Pegou
o ônibus
pegou
o trem e é mesmo
incrível
como a sorte
vira
revés de uma hora
Pra
outra
e
ele pensou nas garrafas
que
ele não havia
tomado
na noite anterior
E
ficou triste
por
estar sóbrio naquele
exato
momento
Bom,
mas já que estava
por
ali
Passou
em um shopping
num determinado
bairro
que lhe causa
Más
recordações
(mulheres)
É
curioso o fato de que
todas
as grandes mulheres
da
vida dele
Haviam
passado por ali
por
aquele shopping
Pediu
um chopp
viu
pessoas
Teve
uma idéia
Foi
cortar o cabelo e ficou
mais
apresentável
Recebeu
um telefonema
“Filho,
estou sem
dinheiro”
disse
sua mãe
“Tudo
bem, tudo
bem”
Ele
engoliu a seco
ele
também não tinha
e
nem seu pai
e
nem ninguém
E
mais uma vez ele
tinha
que carregar o mundo
nas
costas
Pegou
o trem de volta
pra
casa
(estava
cheio)
Mas
tudo bem
Voltou
a pé pra casa
debaixo
da chuva
Acho
que uma gripe
era
o menor dos seus
problemas
E
ele tomou mais um
banho
(o
segundo do dia
o que
de fato
pra
ele era recorde)
Colocou
um tênis bem bonito
Uma
das suas melhores
calças
jeans
Uma
camiseta do
Pink
Floyd
penteou
os cabelos
que
estavam recém cortados
Pegou
uma corda
escondida
Arrumou
uma boa viga
no
seu quintal e
subiu
numa cadeira
Amarrou
a corda na viga
e a
outra ponta ele fez um nó
que
envolvia o seu pescoço
Ainda
em cima da cadeira
deu
um último gole
no
seu vinho barato
Não
teve medo
nem
fechou os olhos
nem
pensou muito
Apenas
chutou a cadeira
e
não se lembra mais
de
nada
Carlos Reis
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