quarta-feira, 9 de abril de 2014

Hipóteses, e mais hipóteses



Não sei ao certo como começar com esse texto. Ontem saiu um poema e um pequeno conto. Hoje não vai sair nenhum dos dois. Não sei se o leitor sabe, mas sempre inicio meus textos com o título, e daí eu tiro o resto. Penso num título, e meu trabalho se baseia em pegar esse título e ir dissecando ele (pra não usar a palavra enrolar), e aí acaba saindo alguma coisa. Mas este, este especificamente, eu não sei o que fazer. Talvez outro desabafo, mas todos já estão cansados de me ouvir choramingar. Acho que o efeito do vinho está forte demais. Vai ver o fato da minha internet estar ruim contribua também, pra eu voltar a bater nessa máquina. Bom, mas já que eu comecei, que vá até o fim. Buk disse que se for pra não tentar, nem comece. Já que eu comecei, vou tentar.

Estou há muito tempo desempregado. Por um lado é ruim, porque eu não tenho dinheiro. Mas me peguei pensando hoje. E se eu tivesse alguém pra me bancar? Podia ser uma vadia velha. E se? O “se” é sempre uma merda, pois não passa de uma hipótese, e ninguém vive somente de hipóteses. Uma vida cheia de incertezas me parece rotina. Eu nunca tenho certeza se vou estar trabalhando. Nunca tenho certeza se vou morrer amanhã. Nunca tenho certeza se uma garota vai ficar comigo por muito tempo. Eu nunca tenho certeza de absolutamente nada. As pessoas costumam trabalhar, organizam as férias, viajam, tem uma rotina, namoram e casam, tem filhos, compram casas e carros, e isso eu não tenho (apesar de que estou namorando de novo, torcendo pra que dê certo, somente desta vez). Vai ver eu precisava de rotina, mas na minha área, mesmo minha rotina pode ser incerta. Droga! Um pouco de estabilidade cairia bem agora. Enfim, e se eu não trabalhasse, arrumasse uma boa mulher pra me bancar? Eu viveria em noitadas, bebidas, drogas, baladas, e talvez fosse bom. Mas eu sou muito elétrico, eu não agüento ficar parado. Talvez eu entrasse em depressão, talvez não. Esse lance hipotético é um cu. Nunca se dá pra saber nada.

Estive com um amigo outro dia, é um bom amigo, mas vamos manter a identidade dele intacta (e sim, uso nomes falsos pra todos eles, mas esse eu não quero nem isso), vamos chamar ele de “amigo”, pois é isso que ele é, e isso não é hipótese, é certeza. Batíamos papo e tomávamos cervejas, como sempre fazíamos.
- Porra Carlos, você não se cansa de ficar em casa? Porque eu cansaria – ele disse.
- Por vezes sim, por vezes não. Estou pensando aqui amigo, e se eu arrumasse alguém pra me bancar, o que você acha que aconteceria?
- Ela iria bancar seu álcool e suas drogas? A vonts?
- Sim, ela bancaria tudo.
- Sua morte aconteceria em menos de dois anos, certeza! – ele disse, virando a cerveja – Porque o fato é que você só não extrapola mais por causa de grana. Você é um cara desconsertado, aliás – outro gole – desculpe, que não tem conserto.
- Tu acha mesmo que vou ser assim pra sempre?
- Sim. E com dinheiro tudo iria piorar. É até bom que você não tenha dinheiro.
- Porram – respondi, meio desanimado, mas aceitando a opinião dele.


Enfim, ele foi embora na sequência, continuei pensando nisso. Se eu vou ser assim pra sempre, o que fazer? Não acho errado viver como eu vivo, mas uma morte prematura me esperaria, certamente. Eu estava fadado a ser todo aquele fracasso que eu sempre jurei que seria. Minto, eu tinha muito potencial, mas joguei tudo pela janela. Dias sem tomar banho, cabelos bagunçados, dentes sujos. Eu era o retrato de tudo o que há de errado. Um gole de veneno cairia bem após essa reflexão maldita.

Carlos Reis

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