Não
sei ao certo como começar com esse texto. Ontem saiu um poema e um pequeno
conto. Hoje não vai sair nenhum dos dois. Não sei se o leitor sabe, mas sempre
inicio meus textos com o título, e daí eu tiro o resto. Penso num título, e meu
trabalho se baseia em pegar esse título e ir dissecando ele (pra não usar a
palavra enrolar), e aí acaba saindo alguma coisa. Mas este, este
especificamente, eu não sei o que fazer. Talvez outro desabafo, mas todos já
estão cansados de me ouvir choramingar. Acho que o efeito do vinho está forte
demais. Vai ver o fato da minha internet estar ruim contribua também, pra eu
voltar a bater nessa máquina. Bom, mas já que eu comecei, que vá até o fim. Buk
disse que se for pra não tentar, nem comece. Já que eu comecei, vou tentar.
Estou
há muito tempo desempregado. Por um lado é ruim, porque eu não tenho dinheiro.
Mas me peguei pensando hoje. E se eu tivesse alguém pra me bancar? Podia ser
uma vadia velha. E se? O “se” é sempre uma merda, pois não passa de uma
hipótese, e ninguém vive somente de hipóteses. Uma vida cheia de incertezas me
parece rotina. Eu nunca tenho certeza se vou estar trabalhando. Nunca tenho
certeza se vou morrer amanhã. Nunca tenho certeza se uma garota vai ficar
comigo por muito tempo. Eu nunca tenho certeza de absolutamente nada. As
pessoas costumam trabalhar, organizam as férias, viajam, tem uma rotina, namoram
e casam, tem filhos, compram casas e carros, e isso eu não tenho (apesar de que
estou namorando de novo, torcendo pra que dê certo, somente desta vez). Vai ver
eu precisava de rotina, mas na minha área, mesmo minha rotina pode ser incerta.
Droga! Um pouco de estabilidade cairia bem agora. Enfim, e se eu não
trabalhasse, arrumasse uma boa mulher pra me bancar? Eu viveria em noitadas,
bebidas, drogas, baladas, e talvez fosse bom. Mas eu sou muito elétrico, eu não
agüento ficar parado. Talvez eu entrasse em depressão, talvez não. Esse lance
hipotético é um cu. Nunca se dá pra saber nada.
Estive
com um amigo outro dia, é um bom amigo, mas vamos manter a identidade dele
intacta (e sim, uso nomes falsos pra todos eles, mas esse eu não quero nem
isso), vamos chamar ele de “amigo”, pois é isso que ele é, e isso não é
hipótese, é certeza. Batíamos papo e tomávamos cervejas, como sempre fazíamos.
-
Porra Carlos, você não se cansa de ficar em casa? Porque eu cansaria – ele
disse.
-
Por vezes sim, por vezes não. Estou pensando aqui amigo, e se eu arrumasse
alguém pra me bancar, o que você acha que aconteceria?
-
Ela iria bancar seu álcool e suas drogas? A vonts?
-
Sim, ela bancaria tudo.
-
Sua morte aconteceria em menos de dois anos, certeza! – ele disse, virando a
cerveja – Porque o fato é que você só não extrapola mais por causa de grana.
Você é um cara desconsertado, aliás – outro gole – desculpe, que não tem
conserto.
- Tu
acha mesmo que vou ser assim pra sempre?
-
Sim. E com dinheiro tudo iria piorar. É até bom que você não tenha dinheiro.
-
Porram – respondi, meio desanimado, mas aceitando a opinião dele.
Enfim,
ele foi embora na sequência, continuei pensando nisso. Se eu vou ser assim pra
sempre, o que fazer? Não acho errado viver como eu vivo, mas uma morte
prematura me esperaria, certamente. Eu estava fadado a ser todo aquele fracasso
que eu sempre jurei que seria. Minto, eu tinha muito potencial, mas joguei tudo
pela janela. Dias sem tomar banho, cabelos bagunçados, dentes sujos. Eu era o
retrato de tudo o que há de errado. Um gole de veneno cairia bem após essa
reflexão maldita.
Carlos Reis
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