terça-feira, 8 de abril de 2014

Formalidades



“Você só fica aí
dia e noite
batendo nessa máquina
coisas que ninguém
sequer ler
ou melhor
que ninguém
nunca vai ler”
Ela me disse
irritadíssima
“Tudo bem amor
tudo bem...”
Eu disse sereno
e entornando mais
uma
garrafa de vodka
“E não para de beber
Você só sabe fazer
isso:
beber e bater nessa
máquina”
Ela ainda irritada
pelo fato de que
realmente era
isso o que havia
acontecido
Era isso o que acontecia
Há anos
“Tudo bem
tudo bem...”
Repeti sereno e tomei
vodka barata
direto do gargalo
Não uso copos
nunca usei
odeio copos
É mais fácil ir
direto do gargalo
“Vamos sair
hoje, só hoje
tem uma festa bacana
você vai se
divertir”
Ela me disse
“Vão ter pessoas lá?”
Questionei, virando outro
longo gole
“Óbvio, é uma festa!”
“Então não vou
me divertir”
“Para de ser tão chato
e anti social
larga essa máquina
seja um bom marido
apenas essa noite”
Ela disse, já levantando
não me dava outras
opções
“Tudo bem, tudo bem”
Me levantei e
tomei um banho
Peguei a primeira
roupa que eu
vi
Enquanto ela se maquiava
e demorava
horrores
Enquanto isso
eu seguia bebendo
E batendo meus
poemas
e bebendo do
gargalo
Ela estava pronta e
me tirou no meio de um
poema
de frente da máquina
Senti que trepei e
não gozei

Cheguei a tal festa e
vi muitas pessoas
me senti como um rato
acuado
num canto
com medo
pessoas me dão muito
medo
E todas sorriam e
bebiam drinks
chiques e caros
Fui ao bar e
peguei uma dose de
vodka pura
Ela pegou uma dose de
Sex on the Beach
Me apresentou amigos
um por um
vi várias pessoas
mas nenhum ser humano
todos sem brilho
nos olhos
Todos vagando como
almas já mortas
Como vagalumes
apagados
Como cachorros doentes
em sarjetas
Todos representavam
felicidade
mas no fundo era tristes
“Porque isso, por quê?”
Eu me perguntava
“Vou ali com umas
amigas
Já venho amor
vá dar uma volta
na festa
tenta se divertir”
Ela me deu um beijo
no rosto
e saiu
Fiquei sozinho
entre muitas pessoas
ainda me sentia sozinho
Estava com saudades da máquina
estava com saudades
de beber do gargalo
Eu odeio copos

Um sujeito me parecia
bem bêbado
e com os olhos ainda
brilhando
e ele trazia uma garrafa
de vodka barata, escondida
E bebia direto do gargalo
Me juntei a ele e pensei
“Afinal, pra que tantas

formalidades?”

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