terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Marionete



Era muito difícil não poder ser eu mesmo, nem poder ser sincero com as pessoas, nem poder falar o que eu queria para as pessoas que mereciam. E a garota que flertei por um dia se sentiu incomodada quando eu disse que era contra o feminismo atual. Porra! É só expor a opinião que as pessoas somem, elas respeitam através do silêncio, as pessoas te respeitam fugindo de você e da verdade que você fala. É tão difícil assim manter uma relação com pensamentos divergentes!? "Ela só tem 16 anos e não conhece nada do mundo" Eu pensei enquanto pigarreava meu cigarro e tomava aquela vodka que paguei cinco pratas numa garrafa de um litro. Detalhe: garrafa de plástico. Eu precisava ser algo a mais, eu precisava ser a contracultura, nadar contra a corrente e ser um militante de uma revolução que só eu mesmo acreditava. Bukowski fizera isso! Nietzsche o fizera também! Até o próprio Descartes também o fez! Eu era um gênio somente pra mim mesmo, porque do "lado de fora" do meu mundinho de textos, eu era somente um cara comum que nada tinha a acrescentar a porra nenhuma. E na verdade, isso me sufocava. Odiava ser uma marionete, alguém com os passos ensaiados numa dança de merda, em que não existem certos ou errados, somente passividade e tortura temporal. Porra, os meus planos precisavam seguir a massa? Eu teria que ser somente mais um que casava e tinha filhos e planos e juntava dinheiro pra comprar um carro, uma casa ou uma viagem pra Austrália!? Me digam qual é o problema de não ter ambição. Me digam. Falta de objetivo na vida!? Oras, eu vivia muito feliz, sim, eu estava feliz com isso, com o fato de trabalhar 10h por dia, pagar minhas contas e beber todos os dias. Não via problema nisso. Porra, eu pagava minhas contas e bebia, e alguma hora a morte iria me pegar, e independente do número de carros que eu tenha na garagem, ou das casas que possuo em meu nome, ou da gostosura da esposa que eu tenha, ou do número de filhos que criei... No fim somos todos a mesma merda. Eu poderia acrescentar algo ao mundo, poderia me tornar um gênio, poderia escrever textos bons e ser venerado na minha morte, mas eu tinha que me esconder, eu tinha que ser aquele cara que respeita a tudo e a todos e não poderia tacar o foda-se às coisas. Eu só queria meu pagamento e tomar um porre. Nada de mulheres, ou filhos, ou casas de veraneio, nada disso, me satisfazia com pouco. Mas não, eu somente poderia desabafar por aqui (e usando um heterônimo), e somente isso que ainda me libertava de uma certa forma. Quando a vodka batia, eu batia nas teclas do computador, e as palavras fluiam, mas eu achava isso pouco, eu queria mais, eu queria que o mundo soubesse que eu não sou um cara normal, que sou transtornado, e tenho problemas psicológicos, e bebo como uma esponja, e não ligo a mínima se Drummond ou Vínicius eram românticos e eu via a mulher como uma buceta. Mas isso iria demorar, acho que isso aconteceria depois da minha morte (de cirrose, claro), e eu seria ovacionado pelos bêbados e fracassados em praça pública, por textos de latrina que fodem qualquer coisa que possa ter te deixado bem. Andaria pela sombra por mais algum tempo, mas eu juro, que se essa bebedeira me matar, eu juro que deixo que ela faça isso. Não quero me adequar a nada, eu não ligo pra mais nada, e acho que enquanto eu não puder ser eu mesmo, enquanto eu estiver aprisionado, minha felicidade não será plena.

Ainda bem que naquele dia havia recebido meu pagamento e pude me embebedar na varanda enquanto ouvia o som do Tool. "Ahhh Deus, o alcool me manterá são por enquanto" Ri, dei uma golada e a noite estava esfriando.

Zaratustra

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