sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reflexão Sobre Ferimentos e Perdão

Boa noite.
Esta noite, por volta das 21h eu me deitei para dormir, mas de uns tempos pra cá tenho sofrido um pouco de insônia. Uma grande pena, pois a hora de dormir é a hora que eu espero mais ansiosamente para chegar. Enfim, resolvi levantar e ir escrever um pouco enquanto tomava uma taça de vinho. O post se refere ao título, ou seja, ferimentos e perdão. Compartilharei com vocês o meu pensamento.

Assim como enxergamos os objetos, enxergamos os seres vivos. A visão funciona do mesmo jeito para tudo aqulo que enxergamos, ou seja, o nosso objeto emite luz que vai até nossa retina, transmitindo impulsos elétricos para nosso cérebro através do nervo óptico, e esses impulsos serão "traduzidos" resultando naquilo que nós enxergamos.

O mesmo acontece quando enxergamos pessoas, objetos, animais, paisagens, etc. Através de todo esse processo é possível a visualização da imagem que um certo corpo representa, porém, essa visualização só se dá através da superfície externa dos corpos. Tudo aquilo que enxergamos são meras representações.

Não discordo de Aristóteles quando ele diz que a verdade de um objeto está no próprio objeto; mas tambem não discordo de Platão quando o mesmo diz que a verdade de um objeto está em sua essência, em seu plano ideal.

Acredito que, no caso do ser humano, a essência e o físico ocupam o mesmo espaço (corpo); e deste modo, a verdade sobre cada um está na própria pessoa. Platão diria que cada ser humano é a reprentação imperfeita de um ser humano perfeito no plano das idéias; mas no momento não iremos tratar de como seria a verdade do ser humano, mas sim da essência individual que faz alguem ser diferente do outro. Afinal, por fora  somos todos feitos de carne, a mesma composição química. O que faz com que sejamos tão diferentes um dos outro é a nossa essência. Nossa alma.

Tendo em vista que a verdade de cada um acompanha o físico (não confundir com estética), tudo aquilo que acontece no físico tambem pode acontecer na essência. Por exemplo, quando nos cortamos, nossas células são lesadas, suas membranas se rompem, a pele e a carne se separam, ocorrendo muitas vezes o sangramento. Após algum tempo este ferimento passa por um processo de cicatrização, onde dependendo do grau do ferimento pode deixar uma cicatriz macro ou microscópica. Geralmente a cicatriz não dói, mas a marca permanece para sempre, e na memória sempre vamos nos lembrar de onde essa marca veio.

O mesmo processo ocorre para cortes, batidas,, ralados; ou seja, para machucar o corpo físico basta que haja uma lesão física. Uma lesão física, em si, não causa dano à essência, mas, se a essência e o físico ocupam o mesmo corpo, e o que acontece com o físico tambem acontece com a essência, como ela pode sofrer algum processo de lesão?

Para responder essa pergunta termos que definir alguns conceitos. Chamaremos de "plano sensível" o plano onde habitam as representações, ou seja, aquilo que vemos e sentimos.Chamaremos, tambem, de "plano ideal" aquele onde habitam a verdade absoluta e a perfeição, este é o plano onde fica o conhecimento supremo sobre as coisas, onde devemos ir para descobrir a verdade absoluta sobre algo ou conceito. E chamaremos de "plano real" onde habita a verdade individual existente em cada corpo, ou seja, em cada essência. Como podem notar, o plano real é um intermediário entre o sensível e o ideal, pois ele não é tão perfeito e universal para fazer parte do ideal, mas tambem não é tão imperfeito para fazer parte do sensível. A verdade sobre cada coisa não é a verdade absoluta sobre a coisa em si. Simplificando, a verdade sobre Sócrates não é a mesma verdade que a de Zaratustra, mas ambos somos humanos, e nossa verdade não é a verdade sobre o ser humano em si.

Estabelecidos esses conceitos, é forçoso dizer que cada plano não interfere no outro, ou seja, não é possível levar lesar algo no plano real através do plano físico. Sendo assim, para lesar a essência, a "alma", é necessário que seja uma fonte do plano real.

Palavras são capazes de lesar e machucar nossa essência e alma. As palavras, o ato de proferí-las e ouví-las situa-se no plano sensível, mas o que elas representam faz parte do plano real. O mesmo vale para as ações. As ações em si situam-se, assim como as palavras, no plano sensível, mas o seu significado faz parte do plano real.

Seguindo este raciocínio é possível concluir que palavras e ações podem machucar a essência de alguem, e essas fontes só podem ser provocadas por outra pessoa. Desse modo, apenas um ser humano é capaz de agredir a alma e essência de outro. Como tudo o que acontece no fisico tambem acontece na essência, a intensidade da agressão influencia diretamente na dor e na marca que irá se formar, e assim como no físico, essa cicatriz pode durar para sempre.

Uma característica notável do ser humano é sempre pregar e procurar o perdão, mas se formor parar para pensar, o perdão é algo que vem da alma, portanto, situa-se tambem no plano real.. Dizemos que perdoamos, mas qual o motivo disso? Perdoamos pois assim ficamos quites com as pessoas a nossa volta, com nossa consciência, com nosso agressor e até com a divindade superior de nossa religião. Porém, como no físico sabemos que nossas cicatrizes vieram de uma lesão, e sabemos qual foi essa lesão, o mesmo ocorre com a essência. Muitas vezes a dor passa, mas a marca fica. Uma essência lesada, uma alma lesada nunca será capaz de fornecer um perdão sincero, pois o simples fato da cicatriz existir nos faz lembrar que não sentimos a dor, mas que as marcas estão lá.


   

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