quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Homenagem à Filosofia - Nietzsche 01

Amigos! Depois de um sono revigorante me surgiu uma ideia. Sim. Uma grande ideia! Vou homenagear os grandes filósofos que construiram um pouco do meu carater ao longo desses anos, com passagens que me marcaram. E nada melhor do que começar com Friedrich Nietzsche, em seu maravilhoso trabalho intitulado "Além do Bem e do Mal", que perscruta nas entranhas da psique humana. É linda toda a agressividade que ele demonstra no texto, toda a estruturação do criticismo. Poucos conseguem admirá-lo, mas quem o admira, o admira com vigor. Bom segue a passagem.

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"Além do bem e do mal - Parágrafo 25 - Friedrich Nietzsche"

Deixando este alegre intróito, gostaria que se prestasse atenção a uma palavra a sério, destinada aos mais sérios. Sede prudentes, filósofos e amigos do conhecimento, e preservai-vos do martírio! Preservai-vos do sofrimento "por amor à verdade"! Preservai-vos da autodefesa! A vossa consciência perde com isso toda a inocência e a naturalidade hábil, tornando-vos obstinados perante as objeções e o pano vermelho. Tornar-vos-eis estúpidos, bestas e touros quando, na luta com o perigo, a difamação, a suspeita, o ostracismo e consequências ainda piores da inimizade, tiverdes por fim que acabar por desempenhar o ingrato papel de defensores da verdade na terra, como se "a verdade" fosse uma pessoa tão inocente e tão inepta que precisasse de defensores! Principalmente de vós, cavaleiros de tristíssima figura, vós, meus senhores escondidos nos recantos, tecelões das teias de aranha do espírito! Porque sabeis perfeitamente que é indiferente que sejais vós quem tem razão e igualmente que nenhum filósofo teve ainda razão e que cada pequeno ponto de interrogação que colocais à frente das vossas palavras e doutrinas favoritas (e ocasionalmente à frente de vós mesmos) encerra uma veracidade mais digna de louvores que todos os vossos gestos solenes e argumentos invencíveis apresentados perante os vossos acusadores e juízes! Ponde-vos antes de lado! Fugi para a solidão! Conservai a vossa máscara e perspicácia para que vos confudam! Ou, quem sabe?, para que vos receiem um pouco! E não esqueçais o jardim, o jardim de grades douradas! Cercai-vos de homens que sejam como um jardim ou como música soando sobre as águas ao cair da noite, quando o dia se converte em recordação. Escolhei a boa solidão, a solidão livre, frívola e ligeira, aquela que vos dá o direito de permanecerdes bons, num sentido qualquer!

Ora, como nos torna pérfidos, manhosos e maus qualquer longa guerra que não possa travar-se utilizando abertamente a força! Como nos torna pessoais qualquer longo receio, uma longa atenção a inimigos, a possíveis inimigos! Todos esses párias da sociedade, longamente perseguidos e duramente acossados, como também os eremitas à força, os Espinosa ou os Giordano Bruno, acabam sempre por se tornar refinados vingadores e envenenadores, seja qual for a mascarada espiritual, e talvez mesmo sem o saberem (que se experimente exumar o fundamento da ética e da teologia de Espinosa!), para já não falar da idiotice da indignação moral que é, num filósofo, o índice infalível de que o humor filosófico o abandonou.

O martírio do filósofo, o seu "sacríficio pela verdade", faz transparecer o que nele havia de agitador e de comediante. Admitindo-se que até agora só tenha sido contemplado com uma curiosidade artística, pode compreender-se, a respeito de certos filósofos, o desejo perigoso de ver-se também alguma vez na sua degenerescência (degenarado em "mártir", em clamador do palco e da tribuna). Porém, perante tal desejo deve-se ter a consciência daquilo que, quando muito, se chega a ver. Somente uma sátira, uma farsa-épilogo, apenas a demonstração contínua de que a longa verdadeira tragédia terminou. Admitindo que toda filosofia tenha sido originalmente uma tragédia prolongada.

Zaratustra

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