quarta-feira, 14 de maio de 2014

O preço



“O início de toda loucura acaba sendo imperceptível” Renato havia lido essa frase em algum livro de algum filósofo/sociólogo/antropólogo/cientista político/intelectual chato, desses que só sabem falar de política e debater assuntos, geralmente com uma posição esquerdista, tentando te jogar goela abaixo o que pensam, e quando você simplesmente taca o foda-se e diz “Ok, você está certo”, eles sentem um certo orgulho nisso, como se tivessem dado uma boa foda, ou comprado um carro, ou como eles gostam de fazer, sentarem em poltronas com chapéus extravagantes bebendo vinhos caros e se achando os grandes conhecedores de vinhos importados. “Porque mesmo eu estava lendo essa merda mesmo?” ele não se lembrou, e também agora pouco importava isso. No fim das contas, esse intelectual de merda estava certo. O ser humano oscila mais do que a inflação do país oscilava na época do Collor (também sei pagar de gênio imbecil, e honestamente, eu tenho o total direito de ir me foder por isso), e Renato nessa altura percebeu isso. É curioso, as pessoas fazem tudo no impulso, tanto as coisas boas como as ruins, ele havia feito muitas coisas boas, e agora estava prestes a tomar algumas atitudes que foderiam não somente ele, mas outras pessoas. E ele ia se arrepender disso, ou não, não dá pra saber. Não adianta olhar pra frente, não tem nada ali pra ser olhado. Renato olhava o momento, se ele fosse se arrepender disso, seria apenas o preço pago por arriscar. Seu nome do meio era “inconseqüência”. Sempre foi assim. Sempre seria assim, ele julgava que seria assim, todas as pessoas esperavam isso também. A sobriedade havia tornado ele chato, não para os outros, sim para si mesmo. Ele gostava das pessoas quando estava transtornado, fedendo mais do que um gambá, quando ficava por dias sem tomar banho e usava o seu chinelo surrado e uma bermuda velha. Mas quando ele estava mais calmo, preferia a solidão. Preferia sair sozinho, andar por aí, ler uma ou outra coisa. O problema de fazer as coisas em grupo é que sempre vai ter que existir um meio-termo de tudo o que é feito. Relações humanas não passam de trocas. Você dá um pouco, espera receber um pouco de volta. Quando você dá muito, espera muito em volta. Nem sempre isso acontece. E por isso que a solidão acaba sendo uma alternativa sempre.

“Merda, estou pensando demais!” Renato estressado tomou uma dose de vodka com água, como nos velhos tempos, ele abriu um leve sorriso. Pode sentir seu gosto. Não colocou gelo, isso era o alcoolismo em sua essência, quase como a arte de um pintor. Apesar de ser abstrata, acaba tendo suas razões. Ninguém julga um quadro quando são vários rabiscos coloridos. Isso era arte. Acendendo um cigarro, retornou ao copo. Não sabia se era o certo, se era o errado, mas como foi dito antes, no fim das contas apenas pagamos preços pelas atitudes (corretas ou não). E Renato não estava nem aí pra nada e nem pra ninguém naquela noite solitária e fria de sábado invernal.

Carlos Reis

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