“O
início de toda loucura acaba sendo imperceptível” Renato havia lido essa frase
em algum livro de algum filósofo/sociólogo/antropólogo/cientista político/intelectual
chato, desses que só sabem falar de política e debater assuntos, geralmente com
uma posição esquerdista, tentando te jogar goela abaixo o que pensam, e quando
você simplesmente taca o foda-se e diz “Ok, você está certo”, eles sentem um
certo orgulho nisso, como se tivessem dado uma boa foda, ou comprado um carro,
ou como eles gostam de fazer, sentarem em poltronas com chapéus extravagantes
bebendo vinhos caros e se achando os grandes conhecedores de vinhos importados.
“Porque mesmo eu estava lendo essa merda mesmo?” ele não se lembrou, e também agora
pouco importava isso. No fim das contas, esse intelectual de merda estava
certo. O ser humano oscila mais do que a inflação do país oscilava na época do
Collor (também sei pagar de gênio imbecil, e honestamente, eu tenho o total
direito de ir me foder por isso), e Renato nessa altura percebeu isso. É
curioso, as pessoas fazem tudo no impulso, tanto as coisas boas como as ruins,
ele havia feito muitas coisas boas, e agora estava prestes a tomar algumas
atitudes que foderiam não somente ele, mas outras pessoas. E ele ia se
arrepender disso, ou não, não dá pra saber. Não adianta olhar pra frente, não
tem nada ali pra ser olhado. Renato olhava o momento, se ele fosse se
arrepender disso, seria apenas o preço pago por arriscar. Seu nome do meio era “inconseqüência”.
Sempre foi assim. Sempre seria assim, ele julgava que seria assim, todas as
pessoas esperavam isso também. A sobriedade havia tornado ele chato, não para
os outros, sim para si mesmo. Ele gostava das pessoas quando estava
transtornado, fedendo mais do que um gambá, quando ficava por dias sem tomar
banho e usava o seu chinelo surrado e uma bermuda velha. Mas quando ele estava
mais calmo, preferia a solidão. Preferia sair sozinho, andar por aí, ler uma ou
outra coisa. O problema de fazer as coisas em grupo é que sempre vai ter que
existir um meio-termo de tudo o que é feito. Relações humanas não passam de trocas.
Você dá um pouco, espera receber um pouco de volta. Quando você dá muito,
espera muito em volta. Nem sempre isso acontece. E por isso que a solidão acaba
sendo uma alternativa sempre.
“Merda,
estou pensando demais!” Renato estressado tomou uma dose de vodka com água,
como nos velhos tempos, ele abriu um leve sorriso. Pode sentir seu gosto. Não
colocou gelo, isso era o alcoolismo em sua essência, quase como a arte de um
pintor. Apesar de ser abstrata, acaba tendo suas razões. Ninguém julga um
quadro quando são vários rabiscos coloridos. Isso era arte. Acendendo um
cigarro, retornou ao copo. Não sabia se era o certo, se era o errado, mas como
foi dito antes, no fim das contas apenas pagamos preços pelas atitudes (corretas
ou não). E Renato não estava nem aí pra nada e nem pra ninguém naquela noite
solitária e fria de sábado invernal.
Carlos Reis
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