“Você é meu raio de sol, meu tudo, minha vida, minha razão
de existir, eu arrisco a dizer que te amo”
Ela me disse, logo depois de uma boa noitada da Augusta,
em que ambos ficamos loucos demais pra saber o que era o certo ou o errado
De fato, não lembro muito daquela noite, o que sei é que
acordei de novo com ela, pelo quarto fim de semana seguido, sim, quatro
seguidos que ela passava ao meu lado
Vi uma garrafa de vodka no chão, outra na cama. A do chão
estava com um pouco mais da metade do seu conteúdo. A da cama estava vazia
Olhei em cima da cômoda do quarto, minha carteira e meu
celular estavam ali, me senti um pouco mais aliviado. Eu havia acabado de
acordar, ela me acordou
“Com licença” eu disse, correndo pro banheiro. Vomitei de
leve, mas de qualquer forma escovei os dentes, ela iria cobrar um beijo de mim
(no mínimo)
Voltei, olhei minha carteira, meu celular. Estava tudo
certo, meu bilhete único estava lá, meus cartões, algum dinheiro. O celular
estava com pouca bateria. O coloquei pra carregar e me deitei de novo
Ela me abraçou. Eu olhei pra ela, dei um beijo na testa
“Ouviu o que eu disse?” ela perguntou, sorrindo
“Ouvi sim Thainá” eu disse, dei outro beijo na testa e
peguei a garrafa de vodka do chão. Me sentei na cama, me desvencilhando de leve
dos braços dela. Dei uma golada, senti rasgar
“Inclusive a parte de que eu te amo?” ela disse, com os
olhos arregalados, e uma clara insatisfação, visível de uma forma completa em
seu rosto
“Sim Thainá, ouvi sim. Inclusive essa parte” dei outro
gole, aquilo não seria fácil pra nenhum de nós dois. Eu sofreria, mas pra ela
seria pior. Sempre é pior pra quem está na posição vulnerável
“Você não me ama?” ela me disse, com os olhos marejando.
Não entendi as lágrimas, afinal de contas ela não era nenhuma adolescente.
Tinha vinte e poucos e estava estudando em uma boa faculdade. Tinha um bom
carro e um bom futuro. Eu tinha um pouco de status e nada de dinheiro
“Desculpe, melhor ser direto. Não” outra golada
Ela pegou a garrafa da minha mão, achei que ela iria
atirar na parede. Já estive com mulheres mais loucas do que isso. Não temi
violência por parte dela. Mas ela estava em choque demais. Simplesmente deu
umas quatro goladas seguidas e desabou em lágrimas
“Vamos namorar, eu sei que posso te fazer me amar, juro.
Eu não sou bonita ou boa o suficiente?” ela não chorava pesado de soluçar,
apenas as lágrimas escorriam de leve, tocando seus lábios e por vezes o seu
pescoço.
“Desculpe Thainá. Não é isso. Simplesmente não quero
namorar com você” eu disse, já me levantando. Desci pra sala, peguei outra
garrafa de vodka que estava na geladeira. Ela não fez nada, ficou em choque por
uns dez minutos.
Desceu vestida, abriu a porta. Deixou a garrafa no
quarto. A vi sair pelo portão com a sua mochila e com os braços cruzados como
se estivesse sentindo frio. Passos rápidos, como se fugisse de um pesadelo.
“Merda” pensei. Voltei pra sala e continuei bebendo a
vodka do gargalo. Nunca mais a vi.
Carlos Reis
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