quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A Montanha (2008)



Parte 1 - A entrada
  

Meus olhos não mentem
Vejo tudo exatamente
Da forma mais fechada
Da maneira equivocada

Parado
Sem atitude alguma
Não aguento mais isso
Vou fugir pra sempre

Vejo um raio de sol
Um lampejar de calor
Parece distante
Forte e brilhante

Meus olhos doem
Não sei aonde vou
A vida me cegou
Mas quero fugir

Saio com receio
Sinto o calor de veraneio
Não sei da onde veio
A voz que me tirou do estaleiro

Após uma profunda reflexão
Saí da minha profundidade
Busco uma realidade
Que seja melhor que a solidão

No caminho para fora
Deixo coisas para trás
Uma garrafa de Natasha
E alguns cigarros a mais

Não quero ver isso
Tão cedo
Assumi um compromisso
De encarar meu medo

Coloco a cabeça para fora
Olho a redondeza
Com um tom de surpresa
A vida começa agora

Repentinamente exclamo
- Tem alguem aí?
E a imensidão responde
- ...

Não há nada a fazer
Vou fugir da caverna
Conhecer o mundo
E parar de sofrer


Parte 2 - A escalada
  

Meus olhos não mentem
Via tudo exatamente
Da forma mais fechada
Da maneira equivocada

Do lado de fora
Tudo é tão diferente
Vejo muitas verdades
E poucas pessoas inteligentes

Isso me deixa assustado
Talvez não esteja preparado
Pra que algo dê errado
E eu seja o culpado

Que calor
Tudo belo, tudo vivo
Avistei uma flor
Cercada de amor

Sou mais comum agora
Avisto uma andorinha
Fazendo seu voô rasante
Batida de asas constante

Falo sozinho:
- Isso é a montanha...
Algo que se deixamos de escalar
Um dia vai nos derrubar...

Foi um belo raciocinio
Nada mais lógico
Pra definir algo tão ilógico
No fator psicológico

O caminho é longo e ingrime
Meus pés queimam
Meu corpo pesa
Minha cabeça dói

É deveras complicado
Pegar o caminho inclinado
Fugir do mundo fechado
Frio, temeroso e apagado

Conforme subo
Tudo vai se expandindo
O mundo vai de abrindo
E a felicidade se construindo

Já vejo o topo
Vou dar tudo de mim
Quero que tudo fique bem
E que nada mais seja ruim


Parte 3 - A vista
  

Meus olhos não mentem
Vejo tudo exatamente
Da forma mais aberta
Da maneira esclarecida

Estou no ponto mais alto
Também o com menos solo
Nada é tão grande
Tudo ficou menor

Olhando para baixo
Eu sinto vertigem
O sol reluz com força
Sinto o início da ensolação

Mas continuo firme
Lutando pelo meu espaço
O chão no alto é escasso
Sem pensar no fim

As nuvens...
Escondem sem misericórdia
Toda a discórdia
Que assombra a humanidade

Não soprarei a fumaça
Que mantém a graça
De uma vida sem graça
Pra quem está na desgraça

Prefiro ver tudo de cima
Fito vagarosamente
Toda a corrente dos escaladores
Que seguem no caminho indolente

Tudo está tão reduzido
Diria até inferiorizado
Essa vida nova
Me deixa embasbacado

Tudo mantém a rotina
Distrai minha retina
Minha cabeça está ocupada
Pra não ficar desmiolada

Agora ainda mais eu verei
Através das nuvens eu soprarei
Tudo que me cerca
E os perigos que me afrontam


Parte 4 - A queda



Eu sabia
Era bom demais para ser eterno
Não queria
Voltar a viver no meu inferno

Mas covardemente
Eu fui derrubado
Pisoteado pelos que sobem
Humilhado pelos que olham

Sou só um trapo no chão
Observando os que sobem
Alertando os perigos
Retornando à solidão

Depois da subida
Perde a graça tentar de novo
Vejo aquele povo
Com a escalada decidida

Vou reprisar o momento da queda:
- AHHHHHHHHHH
- AHHHHHHHHHH
- AHHHHHHHHHH

Foi algo mais triste que isso
Mas com palavras não sei dizer
Que o manto do sofrer
Me cercou sem misericórdia

O caminho até o chão foi demorado
Minutos pareceram horas
Parecia interminável
O chão parecia inalcançável

Meu rosto está arranhado
Meu corpo está quebrado
Minha mente está confusa
Tudo está rodando

Preciso de um rumo
Algum caminho escuro
Não me importo com o futuro
Vou procurar um chão

Me levanto e saio sem olhar pra trás
Está frio e o sol se foi
As nuvens voltam a neblinar a paisagem
Olho para frente sem medo

As consequencias virão
Sei que vou sofrer
Talvez não sobreviva
E tente novamente morrer...


Parte 5 - As consequências
  

Meus olhos não mentiram
Vejo tudo exatamente
Da forma mais triste
Da maneira deprimida

Após o violento choque
Chamei um reboque
Pra levar minha alma
Me deixar na calma

Mas ele não veio
Quer me ver sofrer
A solidão chegou
A ambição me abandonou

Deitado em meio
Ao meio que me largou
Tudo o que eu sinto
É triste e mórbido

Rumo sem rumo
Ao desconhecido
Sem a minha armadura
Me sinto desprotegido

A proteção é passado
De um plano ambicioso
Mas que deu errado
Por motivos intrinsecos

Pela terra que pisei
E a vida que vivi
Nunca mais eu sairei
Do buraco que me inseri

Já vi que a moeda
Tem seus dois lados
Quanto maior a altura
Maior é a queda

Sofro em silêncio
Para não acordar os mortos
E não atrapalhar os vivos
Mutilação em silêncio

Rasgo minha carne
Na parede da caverna
Furei meus olhos
Cortei minhas pernas

Volto ao meu ponto de partida
Será daqui mesmo a minha despedida
Digo adeus aos que ficam
Boa sorte aos que vão
Até logo aos suicídas
E pro inferno com a salvação...


Zaratustra

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