terça-feira, 25 de setembro de 2012

Insomnia!



Pedro era como qualquer cara por aí que tem uma vida agitada. Trabalha em horário comercial, estuda durante a noite e almeja quem sabe, conseguir um emprego melhor, para assim conseguir ter sua casa e uma família estável. Habitante da grande metrópole São Paulo, nunca tem tempo de analisar as coisas e pensar a vida, devido ao seu estilo de vida frenético e instantaneo.

Pois bem, era uma noite de quinta-feira quando Pedro chegou em casa, por volta das 0h. Visivelmente cansado, janta a comida deixada pela sua atenciosa mãe, toma um banho, lê algumas coisas rápidas para o trabalho e parte para a cama, por volta da 1h, para seu merecido descanso até as 7h, quando levanta e se arruma para ir para o seu trabalho. Luzes apagadas, Pedro deita na cama:

- Ahhh, que bom poder deitar. Essa semana me destruiu, e ainda tem amanhã pra aguentar. Pelo menos amanhã é sexta, dia de matar aula na faculdade e sair para beber com o povo.

Olhos fechados, aguardando somente o cérebro se desligar daquela atormentadora realidade. É curioso como quando vamos dormir, sentimos que o corpo apaga antes do que o cérebro. Justo na hora em que o cérebro tem que parar, para o corpo descansar. E sempre que estamos cansados durante o dia, o cérebro falha. E o que fode é que ele falha de dia, porém a noite está completamente elétrico, com as ideias borbulhando sem parar. E exatamente isso que acontecia com Pedro naquela noite. O seu corpo, obviamente cansado, já não se movia mais. Os músculos pareciam pesar toneladas, exigiam um esforço tremendo para serem deslocados. Mas seu cérebro, jovem, fulgaz, sonhador e, por que não, idealizador, não parava um minuto. Pedro não tinha muito para se preocupar. Estava numa boa faculdade, seu trabalho era cansativo, mas não era de todo o mal... Fora que ele namorava uma garota... Que beleza de garota! Recém-completados seus dezoito anos, corpo magro com seios redondos e firmes, além de ser muito inteligente também. O sonho dela era ser uma grande médica, e estava no caminho certo para isso, estudando dia após dia para conseguir uma boa faculdade. Enfim, a vida de Pedro estava boa. Por isso que ele, tentando dormir, se perguntava:

- Caralho... Porque meu cérebro não para? Ele parece querer criar inquietações desnecessárias, preocupações inexistentes. Preciso dormir! Amanhã é um dia cheio!

Mas é exatamente isso que ele faz. Parece querer te falar algo do tipo "Olha, tá tudo muito lindo agora, mas isso passa! Abre teu olho! Mantenha a guarda sempre alerta!" Mas ele não diz dessa forma. Ele implicita esse pensamento com outros pensamentos que não possuem relação alguma com a real ideia. O que vem na cabeça é um misto de coisas que é impossível separar, impossível que sejam pensadas de formas avulsas. Essa mistura toda atinge seu cérebro, que acaba querendo ficar acordado na hora errada. Pedro olha no relógio, preocupado:

- Puta merda, já são 2h e nada...

Numa noite de insônia, quando você começa a olhar o relógio, significa que fudeu. Pode ter certeza que se você está olhando o relógio você não dorme tão cedo. Essa olhada no relógio, mesmo que sutil, acaba refletindo de uma forma catastrófica. Parece que o cérebro pensa "Ei, olha no relógio. Sei que você está curioso para saber as horas." Mas essa curiosidade acaba nos fudendo. Porque olhamos para o relógio, vemos as horas e nunca falamos "Puxa que bom que ainda são 3h!" Sempre pensamos "Puta que pariu, já são 3h!" E esse sentimento começava a corroer Pedro. Sempre que ele lembrava da hora que ele viu no relógio, ele pensava que já era mais tarde do que a hora que ele realmente havia visto no relógio. E nunca é um chute pra menos, é sempre pra mais:

- Porra, se aquela hora olhei no relógio e eram 2h, agora já devem ser 2h15. Certeza!

Ele se vira na cama e pensa de novo:

- Mas será que são 2h15 mesmo? Agora não sei...

Ele vira para o relógio, olha o marcador e vê que são 2h10. E isso acaba se tornando um círculo vicioso, você não sai disso. Tá sempre pensando nas horas. O que começou com uma inquietação de sabe-se lá o que da sua vida, acaba se tornando uma preocupação com as horas. Malditas horas! Malditas! E o que parece a solução simples, acaba se tornando impossível:

- Oras, é só parar de pensar nas horas. Vou só fechar os olhos e dormir.

Parece fácil, mas seu cérebro não obedece. Ele insiste em pensar nas horas. Parece que o cérebro é ramificado em duas partes: a parte que você manda e a parte que ele manda. Soa como idiotice falar isso, mas acho que deu pra entender o sentido da coisa. Por mais que você queira fazer algo, parece que fica impraticável. E isso acaba te corroendo também... Esse sentimento de impotência, de não conseguir mandar em si mesmo. São várias e várias reflexões filosóficas que acabam surgindo em uma noite de insônia.

Após muito se virar na cama, olhar para o teto, tentar fechar os olhos, se revirar de novo, Pedro decide se levantar:

- Vou beber um copo de água. Vai ver estou com sede.

A reação mais clássica é beber água. Todo mundo se levanta para beber água quando está com insônia. Arrasta aquele corpo cansado até a cozinha, pega o primeiro copo que vê, enche de água e bebe rapidamente, sem ao menos sentar. Coloca o copo na pia, arrasta o corpo até a cama e se deita de novo. Eu não sou um grande entendedor da parte biológica do corpo humano, mas que diabos levantar pra beber água vai ajudar?! Pensem bem: você levanta, você acende a luz, seu corpo ingere um líquido e depois se deita. Ao meu ver você está mais incitando a insônia a continuar do que o sono a vir. Tudo bem que isso tudo que falei tem relação direta mais com o corpo do que com o cérebro, mas a não ser que você tome um remédio para dormir, não entendo como esse processo todo vá desligar seu cérebro.

Pedro deita, olha para o relógio: 2h45. O tempo continua avançando rapidamente. E de olhos abertos, ele fica admirando o passar das horas. Parece que a preocupação faz você meio que desistir da merda toda. Você pensa "Ah que se foda. Vou ficar de olho aberto até conseguir dormir!" Ideia de gênio, né babaca?! Sim sim, uma hora você dorme de olho aberto né?! Pedro olha para o relógio por exatos 15 minutos. Inerte. Fica 15 minutos sem tentar nada. Quando o relógio bate o ponteiro nas 3h, ele tem outra ideia:

- Já sei! Vou bater aquela punheta! Com certeza vou ficar cansado e o sono vem!

Na hora ele não pensa que tem que ligar o computador, conectar a internet, caçar um bom video. Mas mesmo assim ele vai. Levanta, liga o computador, conecta a internet e caça seu vídeo. Só nesse processo todo já se perde mais uns 15 minutos, com certeza. Não é fácil achar um bom video que te anime às 3h da manhã de uma madrugada insone. Fora o trabalho da "punheta em si", se assim posso dizer... Não é um processo muito demorado geralmente, mas consome ao menos 5 minutos da sua miserável vida. E depois tem que apagar o histórico, desligar a internet e o computador... Mais 5 minutos. Agora percebam: 25 minutos. Malditos 25 minutos que você poderia ter dormido. E Pedro lá, batendo punheta como uma obrigação, achando que expelindo porra o cérebro expelirá sonífero nele. Pobre coitado. 25 minutos para nada. Não deu cansaço, não deu sono... O cérebro continua agitado, pensativo, ligeiro, só esperando a hora certa para continuar com pensamentos contraditórios e atordoantes.

Pedro vai se deitar novamente. Obviamente, ele ainda está sem sono. Parece que esse sexo braçal não surtiu efeito algum. Deitado, continua se remexendo na cama. Vira para um lado, vira pro outro e nada. Olha frequentemente no relógio, sempre atônito com as horas. Até que as 4h30 ele decide se levantar de novo:

- Foda-se, vou virar nessa merda! Vou jogar video-game até as 7h da manhã! Foda-se!

É por volta do meio pro fim da madrugada que bate aquele sentimento de revolta. É como se você estivesse se rendendo, como se tivesse perdido uma batalha contra si mesmo. Aí você decide virar a noite. O curioso dessa hora é que tudo o que pensavámos na primeira hora de insônia morre. Você já não pensa mais que tem que levantar cedo amanhã, que tem um dia cheio. Você pensa que no momento não consegue dormir. Foda-se o amanhã. Não passa nem de leve pela sua cabeça que se você virar, estará realmente fudido por um dia inteiro. Seu trabalho não vai render, o seu sono vai te deixar mais irritado... Talvez até cometa um erro grave, possibilitando demissão. Fora as olheiras. Fora ter que falar com todo mundo "Então, não dormi nada essa noite. Tô só o pó!" É realmente uma merda ter que falar pra TODO MUNDO que você encontra a mesma coisa "Não dormi direito!" É igual motorista de ônibus que fica andando em círculo, ou operador de telemarketing que fica repetindo a mesma merda umas 200 vezes todos os dias. Ficar explicadando a mesma merda repetidamente, com sono, estressado, irritadiço... Acho que isso é a definição do que é o Inferno.

Video-game ligado. Pedro começa a jogar. Optou logo pelo jogo de tiro, meio que pensando "Tô puto mesmo, vamos matar esses caralhos desses cus!" E não demora para isso acontecer. Logo ele já está fudendo o cu de todo mundo. Detalhe pra coca-cola que ele pegou na geladeira. Já que é pra virar a noite, melhor que faça essa porra bem feita né. Da-lhe tiros e coca-cola! E assim Pedro vai passando a madrugada, parecendo que a ideia de virar em claro será concretizada.

Porém, o que todos nós sabemos, e que talvez Pedro não saiba é: se for para virar a noite, você vai estar mal no dia seguinte. Mas se você dormir uma hora a madrugada toda, você vai estar muito pior... E não é que as 6h, o filho de uma puta virgem aidética, que é virgem, mas pegou aids da mãe quando estava sendo amamentada, do nosso cérebro decide que é hora de dormir?! Tomara que tenha sífilis esse cu desse cérebro! E Pedro, coitado, vai dormir exatamente as 6h... E quando dá 7h, o relógio desperta, e sua reação instantânea é:

- CARALHO, PORRA, CU, GONORRÉIA!

Zaratustra

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