quinta-feira, 9 de agosto de 2012

E essa olheira nos olhos?



E esse olheira nos olhos? Me perguntaram outro dia. Não sei se cabe uma das minhas boas e velhas divagações filosóficas sobre o assunto, mas foda-se, sei que isso só será lido ou divulgado após a minha morte, ou, não será jamais lido por ninguém, como imagino que tenha acontecido com vários aspirantes a filósofos. Portanto, vou falar um pouco sobre essa externação da qual não pude me evadir.

O reflexo de uma olheira às vezes é algo muito mais profundo do que se vê em um simples olhar. Muitas vezes é o seu estado de espírito refletido sob os seus olhos. Analisando biologicamente o fato, constatamos que uma olheira denota o cansaço de alguém, geralmente o cansaço físico. Mas, como é na maioria dos casos, comigo não é simplesmente um cansaço físico, e sim um cansaço mental. E lá vem Zaratustra de novo com suas groselhas sobre a sociedade, e de estar cansado dela, e que nada nessa porra de mundo faz sentido... Eu faria isso, mas hoje estou com uma ideia um pouco diferente. Vou tomar eu mesmo como uma peça social, e me usar como exemplo desse cansaço todo.

Hoje foi uma data marcante para mim. Não gostaria de explicar muito, pois não vem ao caso. Aliás, minto. Seria uma data muito especial, mas acabou por não sendo. Isso por vários motivos. Mas enfim, chega de confusão e vamos direto ao ponto.

Creio que todos tenhamos aqueles momentos de análise, de recapitulação, uma tentativa de compreender como estamos, aonde estamos, para onde estamos indo, aonde vamos chegar. E, com base nessa data, hoje foi esse dia para mim. Compartilhei até esse pensamento com Sócrates, que, por vezes na conversa, me deu razão e concordou com o que eu disse, até mesmo se identificou com algumas das minhas palavras. Como já disse aqui antes, apesar da minha pouca idade, já passei por algumas experiências na vida. Coisas boas, coisas ruins, mas todas foram experiências. E me lembrei de quatro anos atrás. Exatamente o dia 09 de agosto de 2008. E me perguntei o que mudou de lá pra cá, comecei a raciocinar e a lembrar de como me imaginava no futuro e como estou.

Lá estava eu, em 09 de agosto de 2008. Um garoto, óbvio. A imaturidade tinha seus benefícios. Cazuza disse uma vez que quando você é jovem, você sonha em querer mudar o mundo, e eu não era diferente. Analisava a filosofia, a sociologia e todas as ciências humanas como instrumentos para tentar mudar o mundo. Mudá-lo para algo melhor, mudar a política do ser humano, a forma como ele pensava. Já nessa época eu sabia que infelizmente não seria dessa forma. Mas a ânsia de ajudar era tão forte, que eu imaginava que poderia, ao menos, ajudar as pessoas que estavam à minha volta, agindo de forma direta na vida delas. Tratar meus amigos de uma forma que pudesse ajudá-los a reconstruir seus traumas passados, torná-los pessoas melhores, não só para mim como para todas as outras pessoas. E me esforçava para isso. Tentava construir neles a felicidade, a alegria, a força para acordar todos os dias. Me mostrava presente, ouvia seus problemas, tentava resolver... E isso, de uma certa forma, construia a minha força, minha vontade de lutar pelas coisas. E procurava estudar as ciências humanas, para não somente conhecer o ser humano, mas para ajudar a todos com os problemas que poderiam aparecer. E fiz isso, e muito, com várias pessoas. Reergui muitas pessoas. Por vezes, sem querer, destruia algumas, mas isso fazia parte do processo, era às vezes, inevitável. Enfim, sentia que o meu papel, como aprendiz de filósofo, era o de esboçar teorias que pudessem ser úteis a várias pessoas "necessitadas". E me orgulhava disso. Me sentia colocado socialmente.

Havia um criticismo que era somente meu, que eu não explicitava com ninguém, a todos que queriam fugir do meu ideal, a todos que pregavam o egoísmo, o ódio, a lúxuria, a ganância. E projetava tomar isso para o resto da minha vida, como um combustível para me manter focado nas coisas, para não desistir. A crença no ser humano era o que alimentava meu dia. A felicidade nas pessoas era o que me fazia sorrir. Por vezes me sacrifiquei por pessoas, que na hora julguei importantes, e me senti feliz por isso. Sabem aquela velha máxima do "O que eu faço chorando só pra te ver sorrindo?" Isso foi constante há quatro anos atrás. Fiz isso pra caralho. E jamais reclamei, não tinha motivos.

Esse lance de querer mudar as pessoas é muito louco. Você acredita que você, sendo somente você, ninguém além de você, consegue mudar a forma de um outro ser humano, que é totalmente independente, mudar a forma de pensar e(ou) agir. Quanta ingenuidade da nossa parte acreditar nisso... A doação da sua vida para a de outro ser humano pode parecer utopia, mas é praticamente isso que acontece.

Fora a questão de julgar os outros. Qualquer atitude que não soe altruísta, lhe causa repulsa, beirando o nojo ás vezes. Via os jovens na rua, com a minha idade (da época), sendo falsas, rudes, egoístas, reclamando por coisas bobas, e pensava "Puta merda! Olha o sol, que coisa bonita. Tomar no cu! Bando de gente amarga, desgostosa com a vida. Não vejo motivo para a reclamação deles. A vida é algo que deve ser contemplado e valorizado."

Agora, quatro anos passados, somente quatro anos, paro, olho para trás e penso, tomando outra frase de Cazuza emprestada: "Meus heróis morreram de overdose." E começo a finalmente entender essas pessoas. Pessoas que com suas olheiras nos olhos, esqueceram dos próprios valores, crucificando a moral, e cuspindo no bom senso. Há quatro anos eu não tinha olheiras, e hoje, quando me perguntam sobre essa quase explícita doença, simplesmente respondo "É o cansaço, somente isso." E, de um lado é verdade. O cansaço se apoderou de uma forma que parece assentado intrinsecamente no meu ser. Parece que é algo que será levado por toda a vida, algo que eu jamais vou conseguir arrancar de mim, por mais que eu lute. E, essas mesmas olheiras, me impedem de lutar. O conformismo é algo que aparece com a idade. Por isto que existe uma massa de gente velha ranzinza no mundo. Eles estão em um ponto tão elevado desse conformismo, que sentem que, com a idade avançada, já não há forças ou vontade de lutar. E assim me sinto, ainda no "auge" da juventude. Cansado de lutar, de tentar melhorar as pessoas. Agora eu quero somente o que é meu e nada mais. Lutar para que o meu egoísmo vença e só. Foda-se o resto, porque todos, uma hora ou outra acabam assim. E é por isso que as olheiras tendem somente a crescer, e jamais a diminuir.

Zaratustra

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