segunda-feira, 21 de abril de 2014

Pequena e dolorosa reflexão sobre a morte



Esses dias sempre me fodem. Dias frios, pessoas famosas que morrem. Eu penso demais na morte. Esse texto vai ficar péssimo, é mais um desabafo. Acabei de ver um filme completamente imbecil (minha mãe estava assistindo, e eu não tinha nada melhor pra fazer), que era sobre umas garotas, e um jeans, enfim, era filme de adolescente de quatorze anos, em que no fim tudo dá certo. Na verdade nem tudo, e isso me inspirou a escrever esse texto, que espero que seja o último que fale sobre o assunto. No filme, uma das personagens secundárias morre. Não lembro exatamente o motivo da morte, tudo o que sei é que ela tinha uns doze anos. Morte prematura. Aí comecei a pensar na minha morte. Todos os dias acordo com uma dor de estômago terrível. Costumava tomar remédios, mas eles não estão mais funcionando. Vomito sangue quase todos os dias. Vomito todos os dias. Eu não sei, eu sou muito novo pra morrer, mas a gente nunca sabe o dia de amanhã. Eu acho que ainda vou ser internado com hemorragia interna, ou com cirrose antes de morrer. Mas eu posso simplesmente cair duro e não ter ninguém pra me socorrer. Encontrarão meu corpo alguns dias depois, cagado e vomitado no banheiro. Eu não tenho medo de morrer. O que me amedronta é o processo todo até lá. Prefiro morrer com um tiro na cabeça do que numa cama de hospital. Eu não quero sentir muita dor, não quero sofrer. Mas medo do desconhecido, eu não tenho. Acho que eu já sofri tanto fisicamente, acho que isso seria indiferente. Mas eu não quero ter que passar por isso. Ter que ver pessoas me visitando nos hospitais, perguntando em qual quarto estou internado, dormindo em sofás, me assistir morrer. E médicos atônitos, loucos pra tentar resolver um problema. Ou ter câncer, ter que aguardar um transplante. Puta merda, isso seria mesmo uma bosta.


Estranho pensar na minha morte. Sei lá, acho que eu penso que ela está próxima, por isso é melhor deixar esse texto batido (mesmo que eu não publique, sei que Luís vai pegar ele). Muitas dúvidas me perseguem. Quantas serão as pessoas que irão ao meu enterro? Quantas serão as que realmente vão chorar, de forma honesta, assim que eu morrer? O que vão fazer com meu quarto, com minhas coisas? E meu emprego, eles vão se virar sem mim por um tempo? E minha namorada, será que vai ficar muito traumatizada? Meus pais, não sei como eles vão reagir a tudo isso, meus amigos, enfim, todas as pessoas. Eu não quero machucar elas, eu não posso machucar elas, de jeito nenhum. Elas não merecem ficar com esse monte de nada. Não merecem ficarem de luto. O mais bizarro é pensar que o mundo vai seguir do mesmo jeito. O lixeiro vai pegar o lixo, o porteiro ainda vai abrir seus portões, os jovens vão estudar pra entrar na USP. Tudo vai ser igual. Mas e as pessoas que gostam de mim, o que elas farão? Com quem vão beber quando quiserem conversar? Eles vão sair de carro, vão buscar cocaína, e eu não estarei lá, eu não vou falar com o traficante. Eles jamais ouvirão minhas histórias vindas direto da minha boca. Talvez eles se reúnam, e lembrem “Porra, lembram quando o Carlos fez isso? Lembra quando ele fez aquilo? Ele foi uma lenda...” E talvez alguém chore ao se lembrar de mim, ao ouvir minhas histórias. Quem vai ocupar o quarto lugar no carro do meu amigo policial? Quem vai abraçar minha namorada? Sei que ela vai arrumar outro cara, afinal ela é sim diferente de todas as outras. Mas não vai ser a mesma coisa. Cada pessoa tem suas características próprias, seus trejeitos únicos. Espero que ela não sofra muito. Espero que a morte me abrace antes de me levar. Que eu possa olhar pra ela e chorar de emoção. E que tudo se torne melhor do que é. E que as pessoas não fiquem de luto. Coloquem uma garrafa de vodka na minha lápide. Independente de qualquer coisa, eu vivi no limite, e jamais me arrependerei disso.

Carlos Reis

Nenhum comentário:

Postar um comentário