“O
que você está escrevendo, me deixe ler”
“Não,
saia daqui!”
Eu
disse, mas ela insistia em ficar por cima dos meus ombros
enquanto
eu batia na máquina
Queria
ver o que eu escrevia, mas eu odeio isso
“Por
favor amor, por favor, me deixe ler!”
“Não,
não está pronto!”
“Quando
estiver eu poderei ler?”
Ela
disse e eu ri
ri
demais, e quase me caguei de rir
“Claro
que não, ninguém lê as merdas que eu escrevo”
“Você
é muito chato”
ela
disse, cruzando os braços
“E
você é muito curiosa”
Ela
me deu um sossego, mas voltou a olhar por cima dos meus ombros
Eu
queria lhe dar um tapa, mas não posso
Pensei
em esfaquear, mas isso sujaria meu quarto
“SAI
DAQUI, PORRA!”
Berrei,
mas ela queria mesmo ler o que eu escrevia
“NÃO!
EU QUERO VER O QUE VOCÊ ESCREVE!”
“SÓ
ESCREVO MERDA! VAI DEITAR E NÃO ME ENCHE!”
Ela
recuou, se deitou, se cobriu com um lençol
Estava
mesmo uma madrugada quente
Eu
prosseguia bebendo e batendo na máquina
Nada
contra, nada contra quem lê as minhas merdas
Mas
odeio quando estou no meio de um texto e ficam em cima
Apenas
me deixem trabalhar, tem tanta coisa pra fazer e
meu
único momento de paz é quando eu bato nessas teclas
Sim,
o texto se tratava dela, ela jamais leria
Ela
se levantou, foi na cozinha, pegou um copo de água
Bebeu,
foi ao banheiro, ouvi ela mijar
Voltou
pra cama e desistiu de ler minha merda
Eu
ainda tinha uma garrafa de vinho cheia e
mais
idéias pra um conto
em
que eu falaria mal dessa vadia
Carlos Reis
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