O
ano era 2010 e
a
crise econômica era mesmo
pesada
Tive
que cortar meu whisky
os
charutos
as
cigarrilhas
Comprava
salsichas ao invés
de
carne ou frango
O
dinheiro era contado
e
mesmo assim Angélica insistia
em
comprar roupas
Na
C&A ou na Renner
E
comer McDonalds
Ao
menos três vezes na semana
Eu
pagava três empréstimos
e
ainda tinha mais três
cartões
de crédito
Eu
sempre quis dar o melhor
pra
ela
Mas
naquele momento eu
e
ela
precisávamos
dar uma segurada
Logo
logo a maré passaria
e
tudo voltaria ao normal
Só
pedia um pouco de
compreensão
naquele
momento
“Por
favor Angélica,
vamos
segurar um pouco
só
até a poeira baixar”
“Não,
o seu salário
você
usa como quiser
o
meu vou continuar
gastando
assim”
“Tudo
bem, vou passar no
mercado
e comprar uma garrafa
de
Natasha
E
fingir que não ouvi isso
de
você, como sempre faço
E
espero que alguma hora
você
compreenda que
Por
vezes não podemos fazer
o
que queremos fazer”
“Isso,
bebe. Quem sabe isso resolve”
Ignorei,
passei no mercado, comprei uma garrafa de vodka
e
prossegui assim por ainda mais um tempo
e
naquele mês de setembro
em
que estava frio
Ela
chegou em casa
percebi
que ela estava
pálida
Ela
percebeu que eu
estava
bêbado
Me
beijou de leve
e se
sentou ao meu lado
Ouvi
o estômago dela roncar
“Hey,
vai jantar”
“Eu
não tenho dinheiro
mas já
passei fome
relaxa,
sei como é”
“Mas
ainda faltam
exatos
onze dias
até
cair seu pagamento
Vai
ficar onze dias sem comer?”
“Bom,
a não ser que apareça
um
maldito duende
com
um pote de ouro
Creio
que sim”
Dei
mais um gole na vodka
pura,
mas com cubos de gelo
“Escute,
eu comprei salsicha
Prepare
um macarrão
não
tem molho e nem
queijo
ralado
Mas
temos óleo, sal e orégano”
“Mas
você comprou com o seu dinheiro
você
sempre me criticou
por
torrar o dinheiro
Não
quero
encostar
nas suas coisas”
Dei
outra golada e disse
“Jamais
vou deixar você
passar
fome
Posso
não te dar luxos
mas
quando casamos eu prometi
pra
mim mesmo
que
nunca você passaria
fome
de novo
Estaremos
sempre juntos
mesmo
comendo macarrão
sem
molho
E
que a morte (ou a bebida)
nos
separe
Amém!”
Carlos Reis
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